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Na imagem (retirada do Pablog do Sítio), Pedrinho foge dos monstros graças ao pó de pirlimpimpim, um presente de Peter Pan à Turma do Sítio. |
Nota do QTML?: É com muita honra que reproduzo aqui o texto abaixo, da Profª. Dra. Luci Ruas Pereira, publicado originalmente no site da UFRJ. Além de ter sido sua aluna na disciplina de Literatura Comparada, fui também sua orientanda em projeto de pesquisa sobre a obra de Eça de Queiroz. Gabarito ela tem de sobra e o texto está simplesmente magistral.
Ana Helena Tavares
Já vi Lobato ser acusado de tudo: de comunismo, de divulgar a droga, com o pó de pirlimpimpim.
Sempre li Monteiro Lobato desta forma: como escritor e homem combativo e visionário, polêmico e, muitas vezes, contraditório. Assim era e continua a ser, para mim, o seu Sítio do Pica-pau Amarelo: um lugar de aventura, de busca do conhecimento, de trocas e disputas, de discussão e de democráticas decisões (veja-se – ou melhor, leia-se nos livros quantas decisões foram tomadas a partir de plebiscitos). Essas características nunca me impediram de ler Monteiro Lobato, como nunca me impediram de ler nada. Fui compreendendo melhor o largo horizonte da obra de Lobato à medida que fui também amadurecendo e adquirindo novos conhecimentos. Não li Lobato pelas versões que a TV nos apresentou e agora mais uma vez nos apresenta. Por isso, é como leitora, e não como telespectadora, que posso me pronunciar.
Não estou de acordo com a decisão do Conselho Nacional de Educação – a meu ver equivocada – que acolhe por unanimidade o parecer da Conselheira Relatora Nilma Lino Gomes, ratificando a denúncia de Antonio Gomes da Costa Neto que entende Caçadas de Pedrinho como ‘manifestação de preconceito e intolerância de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas’; e aponta ‘menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos do livro analisado e exige da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura’. Espanta-me que desqualifique o professor na sua capacidade de refletir e de construir a leitura como objeto de reflexão e o leitor como sujeito crítico, capaz de refletir, subestimando, assim, o aluno, ao mesmo tempo em que o transforma em sujeito incapaz de se posicionar frente à realidade.