O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Confissão na era digital

O aplicativo começa com um exame de consciência personalizado para cada usuário e traz uma lista de possíveis pecados. Seu uso no Brasil é problemático, porque o programador não suspeitou que pudessem existir faltas tão cabeludas e inusitadas – das quais até o diabo duvida - como as cometidas por Sarney, Eduardo Braga e Amazonino. Por isso, tais faltas não constam explicitamente na lista, obrigando os pecadores a entrarem na janela com a denominação genérica de “pecados que bradam aos céus e pedem a Deus vingança”.

Por José Ribamar Bessa Freire (*)

Todos nós, agora, podemos ser perdoados, inclusive os senadores do PMDB (vixe, vixe). Estão absolvidos José Sarney - com um maranhão de pecados mortais, e Eduardo Braga - com um solimões de peso superfaturado na consciência. Até o prefeito de Manaus Amazonino Mendes (PTB vixe-vixe), que se confessou pela última vez em 1947, vai ser absolvido da pororoca de pecados cabeludos cometidos de lá pra cá, sem necessidade de encarar no confessionário o mau hálito do vigário de Eirunepé. Basta clicar na tecla enter.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Vaticano libera a camisinha


Vaticano libera a camisinha

Imagina-se que os próprios padres pedófilos passarão a usar preservativos nas suas atividades extra-religiosas e que diminuirá o número de afilhados de padres mais ardorosos nas regiões interioranas.

Por Rui Martins (*)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Atenção: é falso um e-mail que circula na rede usando o nome do PT para atacar a Igreja Católica

Acabo de receber do diretório do PT-SP :NOTA DE ESCLARECIMENTO
O presidente do PT do estado de São Paulo, Edinho Silva, em nome do Diretório Estadual PT-SP, vem a público comunicar que a assessoria jurídica do Partido está representando na Justiça Eleitoral e no Ministério Público, além de registrar Boletim de Ocorrência, contra e-mail que circula na rede usando o nome do partido para atacar a Igreja Católica, pessoas e práticas religiosas. A mensagem é assinada por um blog falso, que se identifica como vinculado ao PT. 

A Assessoria Jurídica da Campanha Dilma Presidente foi acionada para também tomar as medidas judiciais cabíveis.

A origem de tais mensagens é desconhecida e desautorizada pela direção do Partido. O PT-SP salienta que, além de não endossar esse tipo de conteúdo, repudia a propagação de quaisquer ataques pessoais ou direcionados a instituições religiosas, crenças ou práticas religiosas individuais.

Esse é mais um dos episódios da campanha disseminada no submundo do atual processo eleitoral que tem por objetivo atacar o PT e a imagem da candidata Dilma. Para nós, esse fato tem vínculo direto com todos os demais com intuito de propagar mentiras, calúnias e disseminar o ódio no atual processo eleitoral.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Era Lula mitiga adesão de bases católicas ao PT

Autor(es): Maria Inês Nassif, de São Paulo
Valor Econômico - 13/07/2010

O PT foi fundado, em 1980, de uma costela dos movimentos populares ligados à Igreja da Teologia da Libertação. A ligação entre ambos, todavia, não é mais a mesma. Houve uma "despetização" desses movimentos. O setor progressista católico botou o pé para fora do partido que hoje está no governo da União e se move com mais desembaraço nos movimentos sociais do que fora do circuito de poder, e nos movimentos políticos suprapartidários, como o que resultou na aprovação do projeto Ficha Limpa, no dia 19 de maio.

As bases católicas progressistas ainda votam de forma majoritária no PT, mas não se misturam com o partido e são proporcionalmente menores que nos anos 80 e 90. Primeiro, porque a própria instituição perdeu a sua centralidade, com a redemocratização. "Nos anos 70 e 80, a Igreja era o guarda-chuva para a sociedade civil na defesa de direitos, um abrigo para os movimentos sociais e um centro de atividade política. Quando abriu o regime, não precisou mais exercer esse papel, porque floresceram outras institucionalidades", analisa o padre José Oscar Beozzo, da Teologia da Libertação - o veio de reflexão da Igreja de esquerda latino-americana que foi condenado à proscrição nos papados de João Paulo II e Bento XVI, acusado de tendências materialistas, mas que resiste nas bases sociais católicas de forma mais tímida e "de cabelos mais brancos", segundo Beozzo, e com mais dificuldades de reposição de quadros, na opinião de Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, um de seus teóricos.

Na democracia, a atividade partidária não precisa estar mais abrigada na Igreja, nem a Igreja tem a obrigação de ser o grande protagonista de movimentos políticos civis: "No movimento do Ficha Limpa, houve um trabalho conjunto com setores laicos. É melhor trabalhar assim", afirma Beozzo. "Sem a capilaridade da Igreja, dificilmente o movimento conseguiria reunir 1,6 milhão de assinaturas para a proposta de iniciativa popular", relativiza o juiz Márlon Reis, um dos organizadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.

De outro lado, também foi gradativamente se reduzindo o espaço de atuação da Igreja progressista nas bases sociais. Isto se deve à evasão dos setores mais pobres das igrejas católicas, que rumam celeremente para templos evangélicos, e à política sistemática de esvaziamento dos setores católicos progressistas por Roma. A igreja da Teologia da Libertação ocupa um espaço, junto às classes menos favorecidas, a que os tradicionalistas não conseguem acesso. Quando esse setor tem seu acesso reduzido a estas bases, a adesão ao catolicismo também diminui. Segundo o Censo Demográfico do IBGE, 89,2% declaravam filiação ao catolicismo em 1980; em 2000, eram 73,8%. Em 1990, esse índice era de 83% - um ritmo de queda muito aproximado a 1% ao ano nos dez anos seguintes. As religiões evangélicas eram a opção de 6,7% da população em 1980; já trafegavam numa faixa de 15,4% dos brasileiros em 2000. Segundo dados do Censo, subiu de 1,6% para 7,3% os brasileiros que se declaram sem religião.

O IBGE parece confirmar a teoria de Frei Betto em relação à origem dos que saem do catolicismo em direção às igrejas evangélicas: enquanto, na população total, 73,8% se declaravam católicos no Censo de 2000, esse número subia para 80% nas regiões mais ricas e entre pessoas de maior escolaridade.

Segundo Beozzo, a Igreja Católica encolheu nas comunidades onde viscejava o trabalho pastoral da igreja progressista. "Hoje a igreja é minoritária nas comunidades. Para cada três igrejas católicas, existem 40 pentecostais." Além da perda de fiéis para as igrejas católicas nas periferias urbanas, a Igreja católica tem perdido também para os que se declararam sem religião. É a "desafeição no campo religioso" a que se refere Beozzo.

Para Frei Betto, todavia, as perdas respondem diretamente à ofensiva da hierarquia católica contra a Teologia da Libertação. Essa é uma posição que foi expressa também pelo bispo emérito de Porto Velho, dom Moacyr Greghi, na 12ªInterclesial, no ano passado, quando as comunidades eclesiais de base surpreenderam ao reunir cerca de 3 mil delegados num encontro cujo tema era "CEBs: Ecologia e Missão - Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia". "Onde existirem as CEBs, os evangélicos não entram e os católicos não saem de nossa igreja", discursou dom Moacyr.

Segundo teólogos, padres e especialistas ouvidos pelo Valor, processos simultâneos mudaram as feições da ação política da igreja. A alta hierarquia católica fechou o cerco contra a Teologia da Libertação, quase que simultaneamente à redemocratização do país e à emergência de instâncias livres de participação democrática - partidos, sindicatos, organizações não-governamentais e movimentos organizados.

O PT, principal beneficiário dos movimentos de base da Igreja, se autonomizou e absorveu quadros originários das CEBs, das pastorais e das ações católicas especializadas (JEC e JUC, por exemplo). Ao tornar-se poder, pelo voto, incorporou lideranças católicas, mas também decepcionou movimentos que estavam à esquerda do que o partido conseguia ir administrando o país e mediando interesses de outras classes sociais. "As bases estão insatisfeitas, mas têm medo de fazer o jogo da oposição, que está à direita do governo", analisa Frei Betto. "Tem uma parte dessa militância que tem pavor da volta do governo tucano", relata o candidato do P-SOL à Presidência, Plínio de Arruda Sampaio.

O espaço do PT nas bases católicas ficou menor depois da ascensão do partido ao poder e da crise do chamado Escândalo do Mensalão, em 2005 - quando foi denunciado um esquema de formação de caixa 2 de campanha dentro do partido. Hoje, a relação dos católicos progressistas com a legenda não é mais obrigatória e os militantes de movimentos católicos de base são menos mobilizados e em menor número. Os partidos de esquerda acabaram incorporando um contingente da base católica que continua partidarizada, embora o PT ainda seja majoritário.

"O PT continua sendo o partido que tem mais preferência dos militantes das Comunidades Eclesiais de Base, mas existem partidários do P-SOL e tem gente que saiu do PT para militar com a Marina Silva, do Partido Verde", conta o padre Benedito Ferraço, um ativo militante . Em alguns Estados, como o Maranhão, onde existia uma militância histórica do antigo MDB autêntico, da época da ditadura, ainda se encontram bases católicas progressistas pemedebistas, segundo padre Ferraço. O candidato do P-SOL, Plínio de Arruda Sampaio, que milita junto a setores da Igreja na defesa da reforma agrária - e assessora a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre o tema - tem a adesão de líderes de movimentos da Igreja ligados à questão agrária. Contabiliza o apoio do ex-presidente da Comissão Pastoral da Terra, o bispo emérito Dom Tomás Balduíno. Marina - que, embora tenha abraçado a religião evangélica, tem na sua origem política a militância nas CEBs - recebeu a adesão do guru da Teologia da Libertação, Leonardo Boff.

Na avaliação do ex-vereador Francisco Whitaker, membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, as bases da igreja progressista têm saído da militância petista, mas engrossam mais as fileiras dos "sem-partido" do que propriamente as legendas mais à esquerda ou opções mais radicais pela ecologia, embora isso aconteça. "Hoje, a militância partidária é apenas uma das possibilidades", afirma Whitaker, que foi um dos líderes do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral que esteve à frente da campanha pelo projeto dos Ficha Limpa.

Whitaker e Frei Betto - este, junto com Boff, é um dos expoentes da Teologia da Libertação - apontam também um outro fator para a "despetização" das bases da Igreja: a absorção de quadros originários das CEBs e das pastorais sociais pelo próprio governo. "O movimento de base foi muito desarticulado, ou porque os seus líderes foram cooptados pelo governo do PT, ou porque foram incorporados à máquina partidária", diz Frei Betto. Isso quer dizer que o militante católico absorvido pelas máquinas partidárias e do governo deixou de ser militante e passou a ser preferencialmente um quadro petista.

A incorporação à máquina não é apenas a cargos de confiança em Brasília. "As representações estaduais do Incra e da Funasa, por exemplo, absorveram muita gente que veio dos movimentos de base da Igreja Católica", conta Frei Betto. Também a máquina burocrática do partido atraiu os militantes que antes atuavam nas bases comunitárias de influência católica.

A "laicaização" do PT foi mais profunda, todavia, após 2005. "O mensalão bateu forte nas bases católicas", avalia Whitaker. Sob o impacto do escândalo, centenas de militantes petistas aproveitaram o Fórum Social Mundial, que naquela ano acontecia em Porto Alegre, para anunciar a primeira debandada organizada de descontentes, que saíram denunciando a assimilação, pelo PT, das "práticas e a maneira de fazer política usuais no Brasil", conforme carta aberta divulgada por Whitaker. "Eu tomei a decisão de integrar o partido dos sem-partido", conta o ex-vereador. A aposta, naquele momento, era que esses dissidentes criassem um forte partido ligado à esquerda católica. O P-SOL nasceu, mas pequeno e fraco - uma reedição, em tamanho reduzido, da aliança entre esquerda católica e grupos marxistas que, 15 anos antes, havia criado o PT.

Os "sem-partido", no cálculo de quem saiu, são em maior número. Whitaker chama essa "despetização" de "saída para a sociedade": o contingente se incorporou ao movimento dos Ficha Limpa, agora reforça a briga pela aprovação da Emenda Constitucional de combate ao trabalho escravo e tem atuação na luta pela reforma agrária. Tem forte atuação também - e quase definitiva - na organização dos Fóruns Sociais Mundiais (FSM) que ocorrem todo ano, de forma quase simultânea ao Fórum Econômico Mundial de Davos, como uma opção de debate econômico dos excluídos das generosidades do capitalismo mundial. Exercem uma militância de certa forma invisível na política institucional, mas muito atuante nas bases, de questionamento da legitimidade das dívidas interna e externa.

O secretário-executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Daniel Seidel, afirma que esse setor católico vive hoje em estado de ebulição, depois de um período de recuo, imposto especialmente pela ofensiva de Roma contra os setores mais progressistas da Igreja da América Latina. No caso brasileiro, esse novo período de eferverscência é atribuído a Dom Dimas Lara, secretário-geral da CNBB, de um lado; e de outro lado, ao papel desempenhado pelas Assembleias Populares, um formato de organização das bases mobilizadas da Igreja. As Assembleias têm definido uma ação política fora dos partidos e engrossado as mobilizações dos movimentos populares. São um espaço para onde tem convergido a atuação da Igreja cidadã: é onde se definem questões de atuação conjunta com outras igrejas, leigos, movimentos sociais e partidos políticos, embora jamais vinculados a eles.

Embora a "saída para a sociedade" tenha se dado num quadro de frustração com o governo, existe cautela em relação a ações contra o governo Lula. "Tem uma parte das bases católicas que acha que, ruim com ele (Lula), pior sem ele. Essa parte tem pavor da volta de um governo tucano", analisa Arruda Sampaio. "Embora as bases estejam insatisfeitas, têm medo de denunciar o governo e fazer o jogo da oposição", diz Frei Betto. Isso ocorre também com os movimentos sociais que já estão descolados da Igreja, como o MST, que foram criminalizados nos governos de FHC, não concordam com os rumos tomados pelos governos de Lula, mas ainda assim preferem a administração petista, numa situação eleitoral de polarização entre o PT e o PSDB.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A condenação do Cristo marxista

A condenação do Cristo marxista

A coexistência de um papado ultra-reacionário com governos de extrema-direita, como foi o de Bush, implica uma luta mundial de idéias que, não duvidem, será muito intensa. A crítica a uma religião de mercado, que exige o sacrifício de vidas humanas e o aniquilamento da natureza é a batalha da esquerda de nosso tempo.

Por Gilson Caroni Filho (*)

Que estranhos desígnios inspiraram o "L'Osservatore Romano" a atacar,em editorial, o escritor José Saramago, falecido recentemente na Espanha? Chamá-lo de populista extremista, que se referia “com comodidade a um Deus no qual jamais acreditou por considerar-se todo poderoso e onisciente” não revela apenas uma atitude fria e inflexível com um humanista ateu. Vai além. Reforça apreensões em relação aos objetivos políticos do Vaticano e suas consequências éticas.

Se a eleição do cardeal Ratzinger como supremo pontífice da Igreja Católica constituiu um acontecimento cuja gravidade poucos subestimaram, a superação integrista das contradições do Concílio Vaticano II já se delineava claramente no pontificado de seu antecessor, João Paulo II, quando as bases sociais da Teologia da Libertação foram firmemente atacadas.

Em 1983, ao visitar a América Central, suas homilias mantiveram fina sintonia com o projeto do governo Reagan para a região. Em Manágua, o papa não apenas não correspondeu às expectativas do povo nicaraguense de condenação clara às agressões incentivadas pelo imperialismo estadunidense, como também deu ênfase ao que mais dividia o governo sandinista e a hierarquia eclesiástica, à época: o da fidelidade dos sacerdotes e religiosas à igreja e à exigência de não participarem na responsabilidade da gestão governamental. Uma declaração de guerra aos partidários de um cristianismo progressista. Reafirmação classista de uma instituição multissecular.

Na Guatemala, um dos países em que a repressão dos governos militares fez mais vítimas entre os religiosos, João Paulo II não só visitou o presidente Ríos Montt, conhecido por ordenar massacres contra a oposição, como permitiu que o general lhe pedisse o afastamento de sacerdotes da política. Nos discursos papais não houve qualquer protesto contra fuzilamentos sistemáticos; apenas menções genéricas a Direitos Humanos. O Cristo do Vaticano, ao contrário do de Saramago, não deu ouvido a comunidades indígenas e camponesas tratadas como estrangeiras em seus próprios países.

Embora saiba muito bem que estão implícitas, na violência que se expande, a questão do poder, dos interesses econômicos nacionais e internacionais, além das considerações geopolíticas, o Jesus do "L'Osservatore" ignora que a promessa anunciada só se efetivará provocando uma transformação radical da condição social do homem. No livro de Saramago, Jesus, filho de José e amante de Madalena, vive a Paixão dos novos sujeitos. Seu sacrifício é a labuta das populações negras, o sofrimento das índias e o sangue camponês que jorra nos latifúndios.

A coexistência de um papado ultra-reacionário com governos de extrema-direita, como foi o de Bush, implica uma luta mundial de idéias que, não duvidem, será muito intensa. A crítica a uma religião de mercado, que exige o sacrifício de vidas humanas e o aniquilamento de natureza é a batalha da esquerda de nosso tempo.

Nessa guerra, ao contrário do que afirma o Vaticano, o Cristo de Saramago é aliado fundamental. Nas páginas do “Evangelho segundo Jesus Cristo", a grande heresia não está no fato de o personagem pedir perdão pelos pecados de Deus. O que o Vaticano não pode perdoar é a denúncia corajosa a um cristianismo imperial e colonialista. Um sistema de crenças que, para validar a opressão, necessita de uma metafísica negativa sobre os homens e sua história.

Saramago provocou a ira da cúpula da Igreja Católica ao reafirmar a modernidade e os valores de igualdade e liberdade. Foi isso que seu Cristo Marxista proclamou. Não de maneira idílica, mas de forma dialética, como reafirmação de vidas que devem transcender a si mesmas, eliminando práticas e relações que geram opressão e miséria.

*Gilson Caroni Filho é sociólogo e mestre em ciências políticas. Mora no Rio de Janeiro, onde é professor titular de sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). É colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?".

A charge é uma cortesia do cartunista Carlos Latuff, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

No vídeo abaixo, assista a José Saramago (em visita ao Brasil, no final de 2008), explicando, com extremo bom humor, o porquê da criação do pecado: "É um instrumento de controle".

segunda-feira, 21 de junho de 2010

"Populista extremista"

"Populista extremista"

Por Laerte Braga (*)

Arnold Toynbee entendeu, num determinado momento da guerra fria, que um confronto entre as duas grandes superpotências militares – EUA e URSS – seria inevitável. Para o historiador não havia sentido em todo aquele arsenal se não fosse a perspectiva real de guerra.



A partir daí, acreditou ele, que o mundo a renascer após o que chamou de “hecatombe nuclear”, teria um caráter puritano severo, regido por ditaduras tribais – os grupos sobreviventes –.



Os EUA engoliram a URSS. O caráter puritano severo é uma realidade na hipocrisia do capitalismo e as ditaduras não são tribais. Escoram-se no poder militar dos EUA e no que chamam de “nova ordem política e econômica”. A globalização, que não passa de “globalitarização”, máxima precisa do geógrafo brasileiro Milton Santos.



Há dias uma afiliada da REDE GLOBO mostrou o padre Fábio Melo, sucesso de vendagem em CDs religiosos, parabenizando os tantos anos de atividades da tal afiliada. Garoto propaganda no melhor estilo Renovação Carismática. A tentativa da Igreja Católica de reverter o avanço das seitas e igrejas neopentecostais, aproveitando e usando os mesmos métodos de “bispos” padrão Edir Macedo.



O jornal oficial do Vaticano L’OSSERVATORE ROMANO rotulou o escritor português José Saramago de “populista extremista”. É a típica linguagem que latifundiários, por exemplo, usam quando se fala de reforma agrária. Ou banqueiros, quando se critica o sistema financeiro internacional.



Um grupo de jogadores da seleção do Brasil fez chegar há cerca de duas semanas ao técnico Dunga que não estava mais suportando a pressão de jogadores e integrantes da Comissão Técnica evangélicos, para que aceitassem “Jesus em seus corações” e vestissem a camisa de “eu amo Jesus”.





Ganhariam a salvação e naquele momento um por fora para veicular a crença. Do jeito que as empresas de material esportivo pagam a atletas para que usem produtos de suas marcas.



Uma das idiossincrasias vaticanas em relação a Saramago está numa afirmação contida no livro do escritor português O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO. Ele, Cristo, teria perdido e com Maria Madalena a sua virgindade.



Sionistas enxergavam em Saramago um anti-semita.



A forma candente da crítica feita pelo jornal oficial da Igreja Católica a Saramago não é comum. De um modo geral o Vaticano trata mortes de críticos do catolicismo com notas frias, sem maiores considerações, notas assépticas.



O furor da crítica só faz acentuar o caráter fascista do papado de Bento XVI. É diferente do de João Paulo II. O papa anterior usava luvas para não sujar as mãos de sangue na tortura inquisitória perpetrada, por exemplo, contra o brasileiro Leonardo Boff. Ratzinger deixa a mostra seu coração suástico.



Não existe na história da humanidade ditadura mais cruel, perversa e duradoura que a Igreja Católica. A forma como são sufocados os que se opõem, por dentro, a essa barbárie religiosa, não difere da usada por ditadores clássicos se podemos definir Pinochet assim, ou qualquer outro. Trujillo assistia à missa todos os domingos.



Os militares golpistas que derrubaram o presidente de Honduras Manuel Zelaya o fizeram com as bênçãos do cardeal hondurenho e entraram no Palácio Presidencial carregando um imenso crucifixo. Como antes, em 2002, o cardeal venezuelano estava ao lado de Pedro Carmona e seu golpe macarrônico contra Chávez.



O avanço da seitas e igrejas neopentecostais em todo o mundo – se voltam agora para tentar chegar aos países islâmicos – tem a bênção dos senhores do mundo em Washington e Wall Street, embora boa parte das lideranças prefira ficar em Miami, caso do brasileiro Edir Macedo..



Os papados de João XXIII e de Paulo VI foram desmontados por seus sucessores (não estou levando em conta João Paulo I, vítima da burocracia fascista do Vaticano nas pressões “outra” Igreja, durou apenas um mês).



Na prática a nova ordem econômica, ou a globalização como chamam, é a nova ordem religiosa. O neoliberalismo. Como cruzados são os que na estupidez da barbárie, da tortura, de todas as formas de violência possíveis tentam “evangelizar” povos “pagãos”, na esteira do novo deus, o Mercado.



O que tudo regula, se auto regula inclusive.



No Brasil ganharam uma nova adepta, a senadora Marina da Silva. Fez tratamento para engolir e digerir sapos sem maiores danos ao seu estômago. Consciência já era.



“Evangelizam” no Iraque, no Afeganistão, em Honduras, na Colômbia, no Paquistão, tentam estender suas garras a outros cantos.



A Igreja Católica é como a Europa hoje. Um negócio assim de pedestais de ouro, erguido em barões, viscondes, condes, marqueses, duques, principes, reis e rainhas.



Fellini dimensionou isso com fulminante precisão em ROMA DE FELLINI. Nos vários modelitos capazes de encantar sua eminência e no brilho fascista de Pio XII. O tamanho do gênio, a capacidade da percepção do próximo capítulo nessa grotesca história de Marcelo Rossi salvando almas e vendendo CDs.



Se há luz, necessariamente tem que haver sombra. Os técnicos não entenderam assim. A luz de uma vela carregada por Roberto Benigno enquanto subia uma escada do lado de fora de um celeiro era insuficiente para gerar sombra. O gênio de Fellini quis a sombra e a sombra gerou todos os debates sobre esse lado sombrio da luz.



“Vocês são apenas técnicos, gênio aqui sou eu”. “Quero mar de papel crepon”.



Saramago, ao contrário do que dizem os porta-vozes da Igreja não hostilizou a convicção católica. Esse é um problema individual de cada um. E tampouco negou erros e crimes supostamente praticados por governantes da antiga União Soviética.



Ao contrário. Aceitou as evidências, as narrativas e os fatos apresentados, apenas reafirmou sua convicção. Um católico não tem culpa de Bento XVI. O caráter perverso do papa não pode ser estendido ao fiel. Nem o banditismo de Edir Macedo àquele que crê piamente que o dízimo constrói casa na vida eterna.



E nem a obra de José Saramago pode ser vista apenas sob esse ângulo. Não era um escritor que fazia do anti-catolicismo a razão de ser de sua obra. É pretensão demais cingi-la a isso. Apenas detectou um dos cânceres. Entendeu o mundo como um todo capitalista a subjugar seres humanos e transformá-los em objeto de uma engrenagem bárbara, “neomedieval” como dizia, mas recheada de tecnologia.



Transcende à dimensão anã do catolicismo de Bento XVI. Projeta-se na compreensão que vivemos o dilema extremo do ser humano.



Ou somos objeto dessa nova ordem, ou nos rebelamos e construímos outra ordem possível e desejável.



Daqui a mil anos, se alguma coisa e alguém ainda existir, com certeza, Saramago será lembrado. Bento XVI vai constar apenas daqueles almanaques em que se lista quem foi papa, ou a ordem dos papas desde a fundação da Igreja.



“Populista extremista”. Não pesquisei, mas se alguém o fizer vai encontrar a raiz dessa expressão em algum momento de Hitler. Com certeza.

*Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no “Estado de Minas” e no “Diário Mercantil”. É colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

Charge: Carlos Latuff

sábado, 17 de abril de 2010

Vaticano ataca homossexualismo para defender celibato



Vaticano ataca homossexualismo para defender celibato


Por Celso LungarettiO Vaticano está enredando-se cada vez mais nas suas contradições.


Sem conseguir justificar o fato de que muitos sacerdotes eram pedófilos, nem a omissão da alta hierarquia católica face a essa prática, agora resolveu abrir outra frente na batalha de opinião pública (que está perdendo de goleada!).




Parece que relações públicas não são o forte da Igreja, hoje em dia. Que idéia de jerico, já estando vulnerabilizado, comprar briga com um dos lobbies mais poderosos que existem!

Falando à imprensa em Santiago, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, zurrou:

"Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram que há entre homossexualidade e pedofilia".

Sendo ele o número dois da Igreja, não se trata de uma declaração impensada de quem estava num mato sem cachorro. É pior ainda.

Como sou um mero articulista que a grande imprensa discrimina, não me vejo na obrigação de ficar diplomaticamente pisando em ovos. Vou pegar o touro pelos chifres.

O celibato dos sacerdotes não tem nada a ver com os ensinamentos de Cristo.

Começou a ser instituído a partir do ano 300, quando o Concílio de Elvira, na Espanha, determinou sua obrigatoriedade para os padres e bispos da província. Depois, foi se generalizando.

Mas, naquele tempo a hipocrisia não ia tão longe a ponto de exigir-se que homens se comportassem como eunucos. Simplesmente, os varões de batina transavam à vontade, fecundavam as moças e deixavam crescer e multiplicarem-se os bastardos.

Pois a restrição aberrante, contrária à natureza, tinha o único e exclusivo objetivo de impedir que os filhos de sacerdotes reivindicassem bens da Igreja como herança paterna. O resto era conversa pra boi dormir.

Papas chegavam a ser temidos guerreiros.. Clérigos chegavam a ser insaciáveis garanhões. Tudo era bem diferente.

Corte para nossa época.

Um amigo espanhol me garante que, durante a Guerra Civil no seu país, os republicanos andaram invadindo conventos e encontrando muitos fetos enterrados.

Isto foi por eles interpretado como uma confirmação de que, em plena década de 1930, padres e freiras não fossem tão dóceis assim às imposições descabidas. Mas, pode ter também outras explicações.

E a Igreja acabou se tornando um refúgio para homossexuais latentes ou sem coragem para assumir a opção já feita.

O celibato tem algo a ver com isto? É óbvio que sim. Tem TUDO a ver.

Qual o melhor ambiente para homossexuais no pré-1968, aqueles tempos de zombarias, perseguições e discriminação, do que um agrupamento de homens privados do envolvimento amoroso com as mulheres? Onde poderiam encontrar com mais facilidade os congêneres e oportunidades para exercer discretamente sua orientação sexual?

Quanto à grita escandalizada contra a pedofilia sacerdotal, nem tanto ao céu, nem tanto à Terra.

Freud cansou de provar que a inocência angelical das crianças é um mito. Para quem quiser aprofundar-se no assunto, recomendo seus Três ensaios sobre a sexualidade infantil (1905).

No entanto, deve ser severamente punida a intromissão de adultos nessas primícias do erotismo, pois pode causar traumas terríveis. Os impúberes têm mesmo de ficar circunscritos a seu próprio universo. E as invasões desse universo têm mesmo de ser coibidas a todo custo.

A partir da puberdade, entretanto, a coisa muda de figura.

Muitas culturas admitem que moçoilas casem logo após a primeira menstruação. Geralmente não há problemas; vez por outra o resultado é ruim, como num caso recente de hemorragia fatal.

Quanto aos adolescentes, Freud também explica que neles coexistem os impulsos heterossexuais e homossexuais. Então, nesse período de indefinição, o assédio de um sacerdote pode mesmo ser um fator decisivo para que se inclinem na segunda direção.

Se este resultado é bom ou ruim, depende dos olhos de quem vê. No nosso planeta superpovoado, os conceitos mudaram um pouco desde aquele passado no qual prole numerosa era desejada pelas famílias e pelas nações, de forma que o desvio dessa obrigação constituía praticamente um crime. O preconceito mascarava uma conveniência.

Enfim, é tudo ambíguo e ambivalente, difícil de se destrinchar, um cipoal de ideologias e interesses.

Vai daí que só chegaríamos realmente à verdade analisando em profundidade cada caso de pedofilia sacerdotal. Extrair conclusões simplistas e genéricas, como está se fazendo, constitui postura das mais irresponsáveis, tendente à demagogia.

E é aqui que entram outras iniquidades atuais: o sensacionalismo e a avidez.

Folhetim medíocre é prato cheio para uma indústria cultural que, cada vez mais, serve para desviar as atenções do fundamental, superdimensionando as ninharias.

E salta aos olhos que a grande maioria dos queixosos superou essas experiências remotas e levava vida perfeitamente normal, até vislumbrar a chance de arrancar uma grana fácil da Igreja.

Causa-me extrema repulsa perceber que há pessoas expondo-se dessa forma por um punhado de notas.

Dá para simpatizarmos com os que se apresentaram na esperança de ver castigados os sacerdotes corruptores.

Mas, aqueles para quem um cheque apaga o passado e compensa o constrangimento de fazer tais revelações, não passam de oportunistas da pior espécie.


Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. É paulistano, nascido e residente na capital paulista. Mantém o blog “Náufrago da Utopia”, é autor de livro homônimo sobre sua experiência durante a ditadura militar e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”

domingo, 11 de abril de 2010

A igreja ainda tem futuro?

[caption id="attachment_5373" align="aligncenter" width="330" caption="O teólogo Hans Küng."]O teólogo Hans Hüng.[/caption]

A igreja ainda tem futuro?


Por Rui MartinsBerna (Suiça) - Quando tomei o trem para me encontrar com o teólogo Hans Kung (em alemão com trema no u), na cidade de Tubingen, via Zurique e Horb, tinha digerido um volumoso livro com mais de 700 páginas. Em alguns dias, minhas anotações e orelhas lhe deram uma feição de livro batido e envelhecido.


O título – Memórias, uma Verdade Contestada, uma foto de Hans Kung, ele sim um intelectual idoso de 82 anos, mas lúcido, vivo e de hábitos bem suíços, nascido que foi em Lucerna. Mal cheguei em sua casa, que é também sede do seu Instituto de ética planetária, já nos sentamos para a entrevista que gravei no meu digital mini-disk profissional, para evitar qualquer dúvida depois da publicação.


A quase íntegra ocupa uma página no Expresso, deste sábado, jornalão semanário de Lisboa. O título – O grande problema é o celibato dos padres, com um sobretítulo – teólogo reformador diz que é urgente agir. Kung queria que falássemos só do conteúdo do livro, respondi que para isso não precisaria ter viajado mais de quatro horas. Aceitou, me deu um máximo de 45 minutos, que acabaram sendo mais de uma hora e disparei – a Igreja ainda tem um futuro ?


Hans Kung é um teólogo contestador que se poderia também dizer provocador. Não foi proibido de falar, como aconteceu com o nosso Leonardo Boff, mas há vinte anos, a Cúria romana lhe tirou o direito de ensinar a teologia católica na Universidade de Tubingen. Naquela época não se falava em pedofilia, mas num dogma duro de se engolir, mesmo para um teólogo católico apostólico romano – o da infalibilidade papal. Kung escreveu um livro contestando, lembrando que, no primeiro milenário cristão, isso não existia, mas que o absolutismo da Igreja veio bem depois.


Ao lhe aplicar a punição, a Igreja pensava ter aplicado uma pena inquisitorial capaz de silenciar o irreverente e reduzi-lo a um padre anônimo. Nada disso aconteceu. Kung recebeu o apoio dos estudantes, do governo alemão revoltado com a intromissão do Vaticano numa de suas universidades e até de teólogos protestantes, não só alemães mas de todo mundo. Deixou de ensinar teologia, mas a universidade criou a cadeira de ecumenismo e, enquanto o novo professor de teologia católica ficava com a classe às moscas, as aulas de Kung eram disputadas, ainda mais por já não terem um cunho confessional.


Durante a entrevista, Kung lembrou-se dos brasileiros que encontrou durante o Segundo Concílio do Vaticano, convocado pelo Papa João XXIII, para uma grande reforma na Igreja; Paulo Evaristo Arns, Aloísio Lorscheider, Helder Câmara e Sérgio Mendes Arceu.


Em pouco tempo, logo depois da morte de João XXIII e a eleição de Paulo VI, a Cúria Romana reassumiu o controle da situação e todas as reformas foram esquecidas, cometendo-se ainda outros absurdos como a encíclica contra os anticoncepcionais, justamente quando as mulheres descobriam a pílula. A chegada do polonês João Paulo II foi ainda mais contundente, acentuando o reacionarismo, fundamentalismo e o mediavelismo de uma Igreja, hoje rejeitada pelo jovens e cedendo rapidamente terreno aos evangélicos na América Latina.


O livro de Hans Kung conta com pormenores a época em que Joseph Ratzinger, convidado por Kung, veio também lecionar em Tubingen. Ambos despontavam como jovens teólogos da Igreja, porém, pouco a pouco foram se distanciando ideologicamente a ponto de estarem, hoje em posições opostas.


O Papa Bento XVI nada tem a ver com o jovem Ratzinger que também participou com Kung dos encontro do Vaticano II. A Igreja Católica de hoje vive num impasse e para sobreviver precisa rever alguns de seus dogmas e posições, como o celibato clerical, o absolutismo Papal e sua pretensa infalibilidade, o dogma da assunção de Maria, a questão dos anticoncepcionais, sua posição diante do ecumenismo e o próprio papel da mulher dentro da Igreja.


Kung argumentou num artigo no jornal Le Monde que o celibato clerical criou problemas no clero católico e é uma das principais causas da pedofilia dentro da Igreja e das instituições dirigidas pela Igreja. Enfim, a Igreja – segundo ele – tem ainda seu futuro mas os bispos e os fiéis precisam agir, durante este Papado, ou na eleição do próximo Papa, a fim de se retornar aos princípios do Vaticano II.


Resumindo, a hora é grave para a Igreja, que insiste em não querer ver o mundo no qual vivem seus fiéis. Muitos bispos não estão dispostos a continuar aceitando os escândalos, mesmo se o Vaticano substituiu todos os cardeais e bispos reformadores por reacionários não só no Brasil mas em todo mundo.


Rui Martins é jornalista. Foi correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. É autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criador dos "Brasileirinhos Apátridas" e da proposta de um Estado dos Emigrantes. É colunista do site "Direto da Redação" e vive em Berna, na Suíça, de onde colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, e com o blog "Quem tem medo do Lula?"

sábado, 3 de abril de 2010

Não é diferente de nenhum deles - Tem apego ao poder e vaidade de ser Papa

Por Laerte BragaA imprensa alemã dispõe de depoimentos envolvendo diretamente o cardeal Joseph Ratzinger em casos de pedofilia ao tempo em que era apenas um sacerdote. São acusações graves e os jornais e revistas que receberam as denúncias (envolvem também o irmão do papa) decidiram apurá-las in totum e ter o mínimo de segurança para divulgá-las. Têm consciência do significado desse fato. Da sua gravidade


Ratzinger foi ordenado sacerdote em 1951 e sua participação na Juventude Hitlerista é apontada como tendo sido “obrigatória”. Os jovens alemães àquela época dentre eles os alunos de seminários teriam sido obrigados a ingressar já Juventude Hitlerista. O registro feito após a sua escolha para suceder João Paulo II dá conta que Bento XVI não era um participante “entusiasmado” do grupo.


Já o documento secreto do Vaticano que instrui bispos sobre como tratar a pedofilia na Igreja deixa claro que o então cardeal Ratzinger determinava que os casos fossem apurados, mas mantidos em sigilo. As punições ocorreriam no âmbito da própria Igreja e não implicariam em afastar os responsáveis do exercício do sacerdócio. No máximo suspensão por um determinado período.


O cerne do problema não está necessariamente aí. O caráter conservador de Bento XVI dá seqüência às revisões feitas em importantes decisões tomadas por João XXIII e Paulo VI.


A eleição do cardeal polonês Karol Wojtyla foi produto de um acordo da Igreja norte-americana através do cardeal Marcinkus com boa parte do Colégio Cardinalício diante da crise financeira que o Vaticano enfrentava e da necessidade de abortar a Teologia da Libertação em franco progresso numa América Latina de maioria católica e vivendo um período de efervescência política.


Padres e bispos envolvidos em processos políticos de transformações sociais não interessavam aos norte-americanos e um papa polonês (país então comunista) cairia como uma luva na ofensiva que acabou resultando no fim da União Soviética.


Os cardeais hoje celebram missas para golpistas que derrubam governos constitucionais, caso de Honduras, ou sorriem como aconteceu na fracassada tentativa de golpe contra o presidente Chávez na Venezuela, em 2002.


O favorito àquela época, a eleição de João Paulo II, era o brasileiro Lorscheider. Os progressistas entendiam que o Concílio Vaticano II abria as portas para um papa latino-americano.


João Paulo II iniciou um trabalho de desmonte da maior parte das reformas que ensejavam aberturas para a Teologia da Libertação na América Latina, juntou-se aos norte-americanos em ações coordenadas por Marcinkus para ataques frontais a União Soviética e uma inquisição comandada por Ratzinger afastou sacerdotes como por exemplo o brasileiro Leonardo Boff.


A imagem de “santo homem” de João Paulo II foi construída por um extraordinário trabalho de marketing.


Marcinkus terminou seus dias na condição de foragido. A justiça italiana decretara sua prisão por fraudes financeiras com o Banco do Vaticano e associação com as máfias italianas.


Joseph Ratzinger, em seguida à morte de João Paulo II, no discurso nas exéquias do papa, se impôs como seu sucessor e não deixou qualquer outra perspectiva para os cardeais. Foi o concílio mais rápido da história das eleições de papas.


O resultado disso é uma Igreja limitada a uma ortodoxia que dia a dia estreita seus caminhos e faz com que perca fiéis em todas as partes do mundo, mesmo porque os norte-americanos perceberam que é mais barato comprar pastores neopentecostais como o brasileiro Edir Macedo. Isso para a América Latina e países africanos. Macedo hoje é ponta de lança de uma ofensiva religiosa para tentar chegar a países árabes e diminuir o poder e a maioria dos muçulmanos.


A Igreja Católica Romana, pouco a pouco, vai se encolhendo e sendo acuada em escândalos que servem muito mais a interesses políticos que propriamente aos repugnantes casos de pedofilia ou abusos sexuais de qualquer natureza, levando em conta que uma ampla investigação sobre esse assunto terminaria em boa parte do atual Colégio de Cardeais, implicaria arcebispos e bispos, muito além de padres, sem falar nas denúncias feitas à imprensa alemã sobre o papa.


É bom comprar organizações semelhantes à de Edir Macedo, mas ter um contrapeso para evitar que o “bispo” se transforme em alguém com tal poder que fique difícil controlá-lo no futuro.


É interessante notar que a ofensiva contra a Igreja a partir da pedofilia partiu dos Estados Unidos.


O Vaticano não é mais um aliado importante e o papa é apenas uma lamentável figura tentando segurar um império em franca decadência.


O que era um instrumento de transformação política, econômica e social está tomando ares de seita, pois permanecem as perseguições a sacerdotes que se opõem ao nazi/fascismo da cúpula atual em Roma.


No Brasil, por exemplo, maior país católico do mundo, a criação de um grupo chamado Renovação Carismática é uma volta aos tempos da fé cega e sem sentido, desprovida de consciência, mas provida da alienação semelhante à imposta pelos neopentecostais.


No fundo uma tentativa de sobrevivência.


Bento XVI não vai renunciar, exceto diante de um fato de suma gravidade, mas certamente, vai viver dias de amargura e decepção. Não será reconhecido como um grande papa, apenas um desastre total e absoluto para a Igreja.


É simples entender isso. A mão direita escapa todas as vezes que o papa distrai e à semelhança do cientista no filme de Kulbrick, proclama Heil Hitler.


Se quisermos entender Bento XVI fazendo um paralelo com alguém no Brasil, podemos compará-lo a Fernando Henrique Cardoso. Uma figura montada em vaidade extrema, cheia de diplomas, mas pronto a qualquer negócio desde que renda poder e lucro. E principalmente capas de revistas como alguém que salva alguma coisa. Um enterra a Igreja Católica, outro enterrou o Brasil em seus oito anos de “papado”.


As acusações contra o papa à época que era um sacerdote na Alemanha devem terminar num grande acordo, caríssimo, uma cortina de silêncio em torno do assunto e o papa refém dos grandes grupos políticos e econômicos que controlam o mundo capitalista.


No fundo a máxima mafiosa, “nada pessoal, apenas negócios”.


Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no "Estado de Minas" e no "Diário Mercantil". É colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

PNDH-3: O Doce Cheiro do Incenso

PNDH-3: O Doce Cheiro do Incenso

Por Carlos Alberto Lungarzo


O PNDH-3 provocou pânico e desconforto não apenas nas casernas, mas também nos púlpitos. Esta é uma coincidência muito natural, pois, entre o século 4º e o século 19º, as forças armadas, a Igreja Católica e o poder político foram mais do que íntimos aliados. Foram três aspectos de uma mesma entidade, como na alegoria trinitária. Na Idade Média, os papeis de bispos, nobres, e chefes militares estavam misturados, e o próprio Papa era uma réplica do Imperador. Algo amortecida, esta fusão continuou na Idade Moderna. Richelieu tinha título de duque, chegou a cardeal, e foi o mais importante secretário de estado do Absolutismo.

O poder absoluto e sem fissuras dos católicos foi afetado por vários processos. Houve a eclosão da Reforma Protestante, a filosofia da tolerância (representada especialmente pelo apelo de John Locke em A Letter Concerning Toleration, em 1689), as Revoluções Inglesas, o Iluminismo, a Revolução Francesa e, em seguida, a aparição da esquerda: socialistas, marxistas, anarquistas. As esperanças de uma reversão foram depositadas no bonapartismo e nos vários fascismos. Entretanto, quando Pio 12º viu a guerra perdida, o Vaticano se tornou mais negociador.

A crise atual é reconhecida pelos próprios fieis. Autoridades eclesiais de todos os escalões lamentam a fuga de católicos para outras seitas.. Na Europa, templos fecham por falta de público. A proporção de pessoas “sem religião institucional” aumenta em todo Ocidente. Muitos dizem que aquilo é obra do demônio, outros que a Igreja atua com soberba e vaidade, e alguns pensam que um catolicismo progressista, popular, de base, libertador, etc., acabará dando certo. (Algo que, meio século após Camilo Torres, a história não confirma.) Consciente da situação, porém discreto como sempre, Bento 16º viajou aos EEUU para uma safra de fé entre 30 milhões de latinos que, vítimas do racismo e da xenofobia, encontram na religião legada pela colônia sua principal consolação..

No Brasil, a presença de numerosos ritos africanos e o sincretismo próprio de um país miscigenado aberto ao Atlântico e montado sobre dois hemisférios, acalentaram durante muito tempo as esperanças de uma igreja revolucionária e humanista. Numa extensão difícil de controlar, habitada por uma população multicolor, era impossível pinçar as heresias como faziam os papas medievais. Assim, durante algum tempo, a teologia da libertação captou parte significativa do baixo clero e até ganhou as simpatias de vários bispos. Os militares brasileiros foram herdeiros de uma direita menos mística que o falangismo espanhol, o carlismo ou a ortodoxia pré-tridentina, e seus planos ditatoriais entraram em conflito com a Igreja. Este atrito teve várias fontes, mas existiu um sentimento protetor em alguns prelados. Mas isso é tempo passado.


A Rebelião dos Bispos


Há vários pontos do PNDH-3 que incomodam os católicos.  Um dos mais problemáticos é o inciso (g) do Objetivo Estratégico III (Diretriz 9, Eixo III): o direito ao aborto. Outro é o Objetivo Estratégico V, referido ao direito de orientação sexual e identidade de gênero, cujos incisos produzem pavor.

Já o inciso (c) do Objetivo VI da Diretriz 10, no Eixo III (“Desenvolver mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União”) parece gerado pela máquina do tempo. Há duas perguntas sobre isto que são igualmente arcaicas: (1) Por que esta questão não está ainda resolvida, depois de séculos de luta? (2) Por que a Igreja se incomoda tanto com a ausência de crucifixos nos juizados, na Receita Federal, nos ministérios, nas delegacias?

Sendo um problema menor, pode-se tentar uma resposta.  A Igreja se acha parte fundamental da história de Ocidente (como o pretendeu durante a fundação do Conselho de Europa) e defende esse privilégio por todos os meios. Sem dúvida, é; mas em que sentido?

No 03/02/2010, no Brasil, 67 bispos fizeram circular uma proclama na que reiteram críticas a estes pontos, que já tinham sido proferidas  pela CNBB no dia 15 de janeiro. Vamos nos deter apenas numa. O manifesto, segundo a imprensa, demoniza...

"...a criação de mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União, pois considera que tal medida, intolerante, pretende ignorar nossas raízes históricas".

Além disso, os piedosos debatedores acusam o governo de autoritário e “intolerante” , ameaçam com apocalípticos conflitos sociais, e mencionam em seu favor a rejeição destas propostas “por organismos legítimos”. Será um trailer de uma nova Marcha da Família com Deus pela Liberdade, como nos tristes anos 60? Analistas de esquerda talvez ridiculariziam essa hipótese, com base na situação mundial atual, radicalmente diferente daquela de 1964. E talvez eles estejam certos. Mas, como sabemos, a evolução futura da sociedade, que é um sistema aberto, só pode ser prevista com alguma vaga probabilidade. Ou, para quem não goste desta apreciação científica (que nos pode levar ao mesmo banco dos réus que a Galileu), usemos expressões mais elevadas: O futuro a Deus pertence.



Raízes (e Forestas) Históricas


Em tempos modernos, a Igreja tem utilizado, tanto nas Américas como na Europa, o argumento das raízes históricas. Quando Vaticano exigiu que as declarações da UE sobre suas origens e seus objetivos incluíssem o papel da Igreja, apelou às raízes históricas muito mais que a suas tarefas atuais.

Apesar da influência da Igreja nos governos, exércitos, economias e partidos de vários países, o poder terreno do clero parece esmorecer. Hoje, achamos cômica a pretensão de Churchill de perturbar Stalin usando as opiniões do Papa sobre a Guerra.

É claro que ninguém acha que possa entender-se a história sem a Igreja Católica. Mas, esta afirmação objetiva parece pouco relacionada com a necessidade de exibir estátuas, crucifixos, quadros moralizantes e coisas do gênero nos edifícios da União.  No Brasil, onde a memória histórica é muito baixa, sendo poucas as pessoas que reconheceriam efígies de personagens como Tiradentes, é supérfluo que a história da Igreja, tantas vezes celebrada nos muitos feriados, seja recriada também nos prédios públicos.  Aliás, a reivindicação do catolicismo como “raiz” da cultura brasileira e latino-americana, coloca vários problemas.

Uma tradição histórica nem sempre é positiva para a felicidade da sociedade. Quem pode negar a enorme influência histórica do nazismo? São poucos os fenômenos internacionais que ainda hoje podemos explicar sem nos referirmos à Segunda Guerra Mundial, e as truculências do Reich que a deflagraram. Depois de séculos tentando refutar o verdadeiro efeito da Igreja nos valores e direitos humanos, finalmente, na virada do milênio, um Papa decidiu adotar uma estratégia mais arguta.

No domingo 12 de março de 2000, João Paulo 2º, secundado por seus homens de confiança, investiu várias horas de orações numa pitoresca “autocrítica” pelas vítimas da Igreja no passado. Todos foram contemplados: os judeus; os inimigos da fé; os membros de outras religiões; os emigrantes; as mulheres; os membros de outras raças; os menores abusados; os pobres, marginalizados e abandonados; as “vítimas” do aborto e da biotecnologia (sic!); os prisioneiros; os indefesos; as vítimas do poder econômico; etc. Veja o script completo, com a entrada e saída dos atores, e a descrição do cenário:


O pedido de perdão mobilizou em seguida a totalidade da mídia, que falou dos “pecados da Igreja”, e até influiu em veículos católicos. Com a mesma rapidez, todos os teólogos revelaram a interpretação “correta”: o Papa, dando grande mostra de humildade, tinha admitido, em nome da Igreja, os “pecados” dos católicos, humanos imperfeitos. Mas a Igreja, como ente supranatural, eterno, regido por Deus e alguns santos homens, não podia ter pecados. O resumo da ópera é que o Vaticano reconheceu, pelos menos, o envolvimento dos “pecadores que estavam dentro da Igreja” em todos os grandes fatos sangrentos, com exceção dos que provinham do comunismo (stalinismo e maoísmo). Foi o maior golpe de efeito do intelectualizado Papa, mas nem isso resolveu a crise da instituição.

Como no resto da América Latina, no Brasil, a conquista, a colonização, o extermínio de índios e a escravidão precisavam um fundamento teológico. O avanço sobre novos territórios, ao preço humano que fosse necessário, garantia a extensão da fé católica, aumentava as riquezas da Igreja, e alargava o poder político internacional do Papa. Além disso, a religião também atuava como causa. Apesar de que a cobiça, o sadismo e a luxúria foram fortes motores para os militares colonizadores, uma experiência tão cheia de perigos e privações exigia uma consolação cuja intensidade estivesse à altura do sofrimento. Não existindo nenhuma causa nobre para justificar aquelas aventuras, a fé em Deus, a crença em sua proteção, o temor ao inferno, a promessa do paraíso, atuaram como incentivos. Houve algumas contradições entre os padres solidários com os índios e aqueles que escreveram códigos de tortura para que os laicos utilizassem. Contudo, essas discrepâncias eram pequenas, se comparadas com a unicidade do projeto de conquista, que elevaria a glória de Deus e encheria os bolsos dos aventureiros.

Tem-se argumentado, muitas vezes, que a colonização dos países anglo-saxões foi energizada da mesma maneira pelo clero protestante. O assunto é complexo, mas vale mencionar que a grande divergência entre as seitas reformadas, tornava mais fácil o surgimento de grupos humanitários, mesmo que os dominantes fossem puritanos cruéis e doentios. Assim, na conquista dos EEUU teve um peso (talvez pequeno) a ideologia progressista dos Levelers, os Ranters, os Quakers, os Amish e até de setores humanitários dentro das correntes tradicionais (batistas, metodistas, etc.).

Por outro lado, sendo mais práticos e menos metafísicos, os protestantes fazem pouca questão de serem incluídos (através de testemunhos físicos como ícones ou monumentos) na história dos países a cuja opressão contribuíram. A pretensão católica de ostentar os símbolos religiosos como representação do passado coloca várias dificuldades insuperáveis.

(1) A exibição agressiva nos edifícios públicos, não é apenas uma violação do “direito formal de opinião religiosa”. É uma ferida na carne daqueles que sofrem ou sofreram pela perseguição eclesial (que ainda hoje são muitos). (2) Obviamente, esses ícones não mantém viva a história da Igreja, como o faria um museu do catolicismo (o que seria uma iniciativa correta). O que eles conservam é o temor e o constrangimento. (3) Mesmo se a história pudesse ser narrada por meio de cruzes e estátuas, será que a lembrança permanente dessa história é boa para alguém? Não seriam os católicos os primeiros prejudicados de que sua história fique conhecida?

Por sinal, talvez por ignorância, não entendo muito esse fetichismo simbólico. Por exemplo, se Cristo tivesse sido enforcado, em vez de crucificado (uma forma de execução já conhecida na época), seus fieis carregariam “maquetes” de cadafalsos?


Intolerância?


O sentimento religioso é um fenômeno (positivo ou não) muito estendido e natural em grande parte de nossa espécie. Ainda hoje, as pessoas que prescindem de todo tipo de fé religiosa, são minoria a escala mundial. De acordo com o prestigioso Eurobarômetro da Comissão Européia, a proporção dos que acreditam em alguma religião ou força transcendente, varia muito de um país a outro. Os seguintes dados são de 2005.

Os que não acreditam em deuses, nem em forças sobrenaturais, nem na vida eterna, em fim, os céticos incuráveis, perfaziam o 1% dos turcos, 6% dos portugueses, 6% dos italianos, 18% dos espanhóis, 20% dos britânicos, 23% dos suecos, 25% dos alemães, 27% dos holandeses e 33% dos franceses, para mencionar as nacionalidades mais conhecidas para nós.


Os ateus radicais são sempre minoria, atingindo um terço apenas na França, mas isso não prova que o catolicismo seja esmagadoramente majoritário. Denominações protestantes e correntes cindidas do catolicismo formam um grupo importante na Europa. No entanto, a maioria das pessoas acredita em forças superiores, destino, deuses, mesmo que não se submeta à disciplina de uma seita. Isto mostra que, mesmo nos países mais desenvolvidos e educados, a existência humana gera inquietações que nem a vida prática nem a ciência resolvem totalmente para todos os habitantes..

Aliás, o sentimento religioso, seja individual ou compartilhado, não precisa ser alienante, desde que o sujeito o separe de suas decisões práticas (moral sexual, idéias políticas, valores sociais), e não o confunda com fonte de conhecimento. Imagino que, para alguém que acredita saudavelmente em entes sobrenaturais, deve existir um prazer análogo ao que fornece o amor da família e dos amigos, o gosto pela natureza e pelos animais, a solidariedade, a devoção por causas humanas, e possivelmente, o deleite estético. (Por sinal, a crença de muitas pessoas, inclusive de esquerda, de que o marxismo defende um “ateísmo científico” é leviana. No marxismo, nem a religião nem o ateísmo são problemas científicos; o combate à religião institucionalizada é estritamente social.)

Portanto, é negativo (porém não surpreendente) que os bispos acusem aos autores do PNDH-3 de intolerantes . Se tivessem tido coragem, teriam proferido as palavras nas quais estavam pensando: o plano deve ser considerado depravado, dissoluto, escandaloso, lascivo, despudorado, solidário demais (muito além da caridade condicionada da Igreja). De fato, o que eles criticam é a tolerância do plano com as religiões não católicas.

Por razões genuínas ou populistas (isso tanto faz), o plano pretende que também os não católicos sejam respeitados e tratados como humanos.. É sadismo excessivo que um favelado que foi tomado preso porque a polícia precisa manter seu treinamento em tortura, seja ainda humilhado observando a tortura de Cristo, que a Igreja atribui ao pecado original daquele pobre diabo.

A exibição discreta por particulares de símbolos como cruzes, crescentes, estrelas de David, mandalas, relicários com fotos de Chico Xavier, medalhas de Zoroastro, e assim em diante é legítima. A imposição de símbolos soturnos em espaços institucionais, onde algumas pessoas são constrangidas pela permanente lembrança de que está fora daquela seita triunfante, é nada mais que agressão, tanto como a burqa ou o chador.

Não há dúvida que a ideologia nazista misturou, junto com o idealismo alemão e o racismo, crenças religiosas cristãs e pagãs que acabaram dotando ao movimento de certo perfil místico. Será que aceitaríamos que bairros habitados por nazistas possam ter em suas prefeituras e outras instituições cruzes suásticas? Afinal, antes de Hitler, essa cruz não era o símbolo da cobiça germânica, mas apenas uma alegoria da pureza indostânica.

Carlos Alberto Lungarzo é professor e escritor, autor do livro "Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti". Para fazer o download de um resumo do livro, disponibilizado pelo próprio autor, clique aqui. É membro da Anistia Internacional e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"
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