O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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domingo, 8 de agosto de 2010

As diferenças entre Lula e FHC diante das crises

Debate infrutífero

Debate infrutífero

Por Mario Augusto Jakobskind (*)

Agora o Brasil ingressou mesmo na campanha eleitoral que culminará no próximo dia 3 de outubro com a escolha de quem ficará no lugar de Lula nos próximos quatro anos a partir de 1 de janeiro de 2011.

O primeiro debate, na TV Bandeirantes, entre quatro candidatos – Dilma, Serra, Marina e Plínio – foi morno e sem grandes novidades. Faltaram alguns temas para serem esmiuçados, como, por exemplo, política externa, cultura e a questão da mídia, sendo este último quase desaparecido do cardápio político eleitoral.

Na verdade, as regras engessam os debates, que a seguirem dessa forma dificilmente trarão grandes novidades. Serra e Dilma polarizaram o debate que mostrou algumas poucas diferenças entre os dois, embora ambos representem projetos distintos.

Serra é a própria contradição. Ao mesmo tempo em que diz não estar disposto a olhar no espelho retrovisor, isso para evitar vir à tona o desastroso governo do prócer FHC, volta e meia fala do seu passado com presidente da UNE. E aprofundando ainda o retrovisor lembrava sempre dos “mutirões” na área de saúde, na verdade emergenciais e que não podem ser considerados soluções para os graves problemas do setor.

E Serra na maior hipocrisia fala que não aparelhará empresas do Estado se for eleito presidente. Pena que não houve oportunidade de perguntar como explica a nomeação do deputado pernambucano Roberto Freire como conselheiro de uma estatal paulista com um salário superior a 10 mi reais? Freire, o ex-comunista, no atual PPS, que entregou de bandeja os arquivos do antigo PCB para a Fundação Roberto Marinho, estava no debate a convite de Serra. O que teria a dizer o referido? .

Dilma tem a vantagem de apresentar fatos concretos relativos ao atual governo, como, por exemplo, o aumento no número de empregos, cerca de 14 milhões, quase o triplo da gestão Cardoso e assim sucessivamente.

Marina Silva, a ex-Ministra do Meio Ambiente poderia adotar como slogan de sua campanha algo na base do ”vamos dar as mãos”, como se fosse possível conciliar algo como água e azeite. Ela parece desconhecer o conceito de luta de classes e entende que apenas a preservação do meio ambiente, pelos detentores do capital e os trabalhadores, resolverá os problemas do Brasil e do mundo. Quer porque quer juntar todo mudo político no mesmo saco.

Plínio de Arruda Sampaio, que Raul Seixas classificaria como ”a mosca que pousou na sopa” dos três candidatos, falou uma linguagem que provavelmente os telespectadores não estão acostumados a ouvir. Demonstrou muita ironia e bom humor. O seu discurso em linhas gerais se aplicaria cem por cento se as mobilizações dos movimentos sociais estivessem em ascensão. Como isso não acontece, muito pelo contrário, as observações de Plínio acabam caindo no vazio de uma eleição e o seu partido, o PSOL (Partido do Socialismo e Liberdade), corre o risco de continuar nanico e sem base social de respaldo.

Trocando em miúdos, Serra, que tem como vice o deputado Da Costa, representa o retrocesso, não só para o Brasil como para a América Latina, pois ele se alinha no esquema Álvaro Uribe, Sebastián Piñera e outros do gênero. Como o candidato que leva de roldão os ex-comunistas do PPS (Partido Popular Socialista) e o setor mais a direita do espectro político brasileiro, o Demo, já disse em várias ocasiões a que veio, a derrota de Serra, a se confirmarem as pesquisas, será um verdadeiro alívio para o ideário da integração latino-americana.

Mas como eleição não se decide por pesquisas, e se fosse assim nem seria necessário ir às urnas, todo cuidado é pouco para evitar o pior.

Quanto a não realização por nenhum canal aberto de um debate com todos os nove candidatos, mesmo se sabendo que alguns deles estão lá apenas para marcar posição ou para que o nome fique conhecido para outra eleição qualquer, mais uma vez os meios de comunicação partem de antemão do princípio de fazer a triagem. Numa democracia, quem deve julgar é o eleitor e não os “iluminados” que controlam os meios de comunicação. E para que possa fazer o julgamento o eleitor precisa conhecer todos os candidatos, que os meios de comunicação se negam a apresentar.

Na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos tomou posse no último sábado ficando no lugar de Uribe, que deixa de herança, entre outras, a maior fossa comum das Américas, com cerca de dois mil corpos, produzidos por paramilitares perdoados pelo governo que também é responsável por dezenas de sindicalistas assassinados. E isso sob total silêncio dos meios de informação conservadores.

A descoberta foi macabra e ocorreu quando a população de uma pequena localidade do interior do país começou a sentir a água das torneiras putrefata. A partir daí foi localizada a fossa comum com os restos de cidadãos assassinados por paramilitares apoiados pelo Exército colombiano.

*Mário Augusto Jakobskind é jornalista, mora no Rio de Janeiro e é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de S. Paulo e editor de Internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário Brasil de Fato. É autor, dentre outros livros, de “América que não está na mídia” e “Dossiê Tim Lopes – Fantástico / Ibope”. É colunista do site “Direto da Redação” e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

Balela, boato, bagatela e blablablá: o que mais envolve o estaleiro de Eike Batista?

O estaleiro de Eike Batista
Balela, boato, bagatela e blablablá:
o que mais envolve o estaleiro de Eike Batista?


Por Raul Longo (*)

Assinada por Simone Rabello como Relações com a imprensa OSX, uma resposta (em 26/07/10) ao artigo do leitor do Júlio César Cardoso do O Globo, com o título “Beleza ameaçada”:

http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2010/07/26/resposta-da-osx-artigo-de-leitor-917240276.asp

Comentando os argumentos da OSX, organizados pela Simone em três itens, nos estenderemos de um a um por partes. Nesta primeira, o item “A”, aqui transcrito:

A) Os impactos ambientais do empreendimento foram identificados no estudo do Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) disponível em nosso site, devendo ser objeto de medidas mitigatórias e compensatórias cabíveis, conforme a lei e os padrões de sustentabilidade do Grupo EBX.

Balela. O Relatório de Impacto Ambiental da OSX não é capaz de identificar nem mesmo as espécies de peixes que o empreendimento exterminará, conforme revela o oceanógrafo Leopoldo Cavaleri Gerhardinger, doutorando pela UNICAMP e com especialização na University College London, considerando o mesmo EIA/RIMA elaborado pelos especialistas arranjados pela OSX para envolverem os interesses do Eike Batista na região através de:

Um indicador da falta de cuidado e incompetência técnica dos meus colegas se percebe na lista total de espécies de peixes marinhos presentes na área. De um total de 52 espécies listadas no EIA (numero total certamente subestimado), 20 espécies (40%) tinham seus nomes científicos equivocados... Para mim ficou claro que estes fatos estão na superfície de um estudo de impacto ambiental feito no mínimo sem a pratica do cuidado e por profissionais sem competência na área.

Blábláblá descarado isso de “padrões de sustentabilidade do Grupo EBX” ou Eike Batista X. Beneficiado pelo programa de privatização do governo anterior (PSDX), Mister X estendeu a CIA Vale do Rio Doce mundo afora, inclusive Canadá. A VALE-INCO acaba de ser condenada pelo governo canadense a multas milionárias pela contaminação de cidadãos da mais populosa província do país: Ontário. Para os que escrevam em inglês, maiores informações e detalhes pelo endereço diana.wiggins@gmail.com.

No Rio de Janeiro, entre 12 a 15 de abril, ocorreu o I Encontro Internacional das Vítimas da Vale do Eike Batista. Se o megaestaleiro da OSX, empresa do mesmo grupo, for instalado em Biguaçu, os moradores daquele município e de toda a Grande Florianópolis já podem ir se informando como participar do próximo encontro pelo endereço: carvanaminas@yahoo.com.br, através do qual poderão conhecer, inclusive, quais são as ações mitigatórias e compensatórias incabíveis das empresas do grupo de Eike Batista.

Entre outras Bagatelas, a mais estúpida ameaça ambiental brasileira desde a Transamazônica da ditadura militar tem gerado muitos Boatos contra o Presidente Lula e a campanha à presidência de sua candidata Dilma Rousseff.

Nos próximos comentários aos itens da resposta de Simone Rabello ao leitor Júlio César Cardoso do O Globo, saiba como a oposição ao atual governo vem aproveitando a ameaça para tirar vantagem eleitoral em Santa Catarina. E como alguns Petistas manés (da Ilha, a antiga Desterro) e de outras regiões do estado, caíram nesta armadilha que poderá eliminar do mapa o mais importante polo turístico da região sul do Brasil e acabar com raça do PT na terra de Jorge Bornhausen.

*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis (SC), onde mantém a pousada “Pouso da Poesia“. É colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

Obs: O companheiro Raul está engajado nesta luta e estou com ele. Ele tem escrito uma série de artigos sobre o tema. Leia o anterior:

Estaleiro da OSX já provoca catástrofe

Quando o privilégio é privilegiar (minha homenagem aos pais)

Na foto de cima, meu irmão, Daniel, com pose e uniforme de He-man, aos 6 anos e eu aos 2, entre nós, nosso pai, Manuel. Na foto de baixo, quando eu tinha 6 meses, as mãos de meu pai me levantam no ar. Arquivo pessoal / Álbum de família
Na foto de cima, meu irmão, Daniel, com pose e uniforme de He-man, aos 6 anos e eu aos 2, entre nós, nosso pai, Manuel. Na foto de baixo, quando eu tinha 6 meses, as mãos de meu pai me levantam no ar.

Quando o privilégio é privilegiar


Por Ana Helena Tavares (*)


- Dedico esta crônica ao meu pai Manuel, esperando que todos os verdadeiros pais do mundo sintam-se homenageados.

Um herói sem fantasia, que jamais foge à luta, batalhando de forma incansável com todas as armas de que consegue dispor. Um herói que, se pudesse, requereria o privilégio de morrer antes dos filhos só para não ter que vê-los perder o privilégio da vida. E, se preciso fosse, não titubearia em morrer por eles, mas sonha mesmo é em poder viver para, com bandeirinha em punho, vê-los alcançar vitórias mais privilegiadas que as dele.


Todo pai a quem se possa chamar pai é herói. Os termos são quase sinônimos e isso não tem nada a ver com biologia. Assim como para ser mãe não basta colocar no mundo, um pai também não é simplesmente aquele que tem seu nome em nosso DNA. Certas vezes, esse é sim pai, mas há casos em que, infelizmente, não merece em nada o título. No entanto, ao nascer, todos mereceriam ter um pai. E há quem opte por criar os filhos renegados, são os pais adotivos. Mas adotar, paradoxalmente, também nem sempre significa dar amor. E um pai ama.


Há o caso do padrinho, que, escolhido para ser um segundo-pai, às vezes some do mapa, mas também acontece de se tornar o primeiro. E há ainda aqueles que com o tempo percebemos que podemos chamar de pai, mesmo que não seja padrinho, não haja certidão de adoção e nem compartilhem de nosso sangue, mas que compartilham conosco suas mais incríveis aventuras e tudo que a vida os deu de melhor. E um pai compartilha sua luz.


Vai daí que há muitos tipos de pais. Todos, por definição, igualmente heróis.


Aqueles que, além de pais biológicos, são também verdadeiros pais, ainda que sejam os mais completos, não são tão facilmente identificáveis. Numa praça que reúna os diversos tipos de pai interagindo com seus filhos, não pense que é assim tão fácil identificar quem tem laços sangüíneos com quem. As semelhanças físicas podem até ajudar, mas não se leve pelo jeito de ser – isso pode confundir bastante. Acredite, a convivência é capaz de tornar duas pessoas extremamente parecidas, há quem diga que até fisicamente. E um pai convive. Pode não ser uma presença diária, pode nem sequer ser mensal, mas, de longe ou de perto, um pai acompanha.


É fácil perceber dentre os vários pais a vontade de oferecer ao filho o privilégio de ir mais longe do que eles foram. Isso porque, dentro do espírito paternal, o maior privilégio é privilegiar. Ao pai biológico, porém, único capaz de ver crescer levando o seu nome um fruto de seu sangue (e quiçá de seu amor), reserva-se uma sensação de continuidade ímpar. Qualquer pai pode em muitos momentos olhar pro filho com esperança de que ele dê continuidade à determinada causa ou até, como tantas vezes acontece, sonhando com que ele siga a carreira que é tradição na família... Mas, se for mesmo um pai, certamente não fará disso uma imposição incondicional... Caso o filho não queira continuar nada, queira ir longe da sua maneira, criando tudo novo, esse pai, elogiando ou criticando, estará de alguma forma demonstrando apoio. Porque um pai sempre escolhe apoiar.


Escolha difícil e inusitada têm alguns pais adotivos. Um berçário repleto, um jardim cheio de crianças: – “E, agora, quem vou chamar de filho?”. Mas a vida, com sua sabedoria maternal, trata de indicar quem o vai chamar de pai.


Mais do que fazer escolhas, ser pai é renunciar às próprias escolhas. É escolher privilegiar e sentir-se privilegiado com isso. Não se trata de ser escravo, nem é isso que um bom filho quer do pai. Mas qualquer relacionamento sincero passa por saber ceder, passa por querer ceder, se isso for o melhor para o ente querido. E pais não poderiam agir diferente disso com seus filhos. Todo pai precisa se manter firme em algumas posições que lhe são caras, até por uma questão de coerência, mas também percebe a hora certa de ceder e ao fazê-lo por seguir seus sentimentos não fracassa, ao contrário, dá uma das mais altas e sublimes demonstrações de carinho, ao abrir mão de si mesmo para cuidar dos filhos. Sim, um pai cuida, e como cuida, e para fazê-lo bem, muitas vezes, é preciso deixar de lado antigas idéias e, em algumas situações, esquecer-se das próprias vontades. Na certeza de que, em certa altura da vida, os bons filhos se tornam pais de seus pais e acabam por fazer o mesmo.


Tá aí colocado um novo tipo: os filhos que se tornam pais de seus pais. Isso sem falar no avô-pai, tio-pai, irmão-pai, etc., aqueles outros familiares que às vezes também se tornam nossos pais. E há ainda o amigo-pai, a que fiz referência no início da crônica. Aquele que, sem nos ser ligado nem pelo sangue nem pela lei, nos olha com brilho paternal, sonhando com nossos vôos e voando com a gente.


Voar é sonho antigo do ser humano. Mas se você é um pai de verdade (de qualquer um dos tipos, ou até mais do que um, ou todos) suas asas, ainda que não apareçam, estão aí prontas para aconchegar e defender os filhos em qualquer perigo. Quer mais super-poderes do que isso? É melhor parar de esconder a fantasia, o mundo já sabe que você é um herói.



*Ana Helena Tavares é jornalista por paixão, escritora e poeta eternamente aprendiz. Editora-chefe do blog "Quem tem medo do Lula?". Escrito em 01/08/2008, mas eternamente atual.

O sorriso de Biondi

A Telebrás está de volta. Até hoje, a melhor forma de contar a história de estatais como a Telebrás e de travar a batalha da memória contra o esquecimento é revisitar o livro de Aloysio Biondi, “O Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado”.

Por Antonio Lassance*

A Telebrás está de volta. Desde o dia 3 de agosto, ela retornou às operações. Seus antigos funcionários foram reconvocados e têm pela frente o desafio de reerguer a empresa, demonstrar a excelência do serviço público e, mais especificamente, implementar o Plano Nacional de Banda Larga.

Quando se informou que a Telebrás seria reativada, houve uma grita de algumas empresas de telefonia e um ataque feroz da mídia tradicional. Ressuscitar a estatal foi tratado como verdadeira heresia. Na crítica mais amena, um disparate.

A volta da Telebrás não apenas provocou a ira do liberalismo como representou uma derrota amarga, pois incidiu no setor que até hoje é apresentado como modelo do processo de privatização e das benesses dele decorrentes. O tratamento dado ao tema mais uma vez foi acometido de uma patologia crônica, apontada por diversos estudiosos da mídia: a falta de contextualização ou mesmo a descontextualização de um assunto.

Uma falta de contextualização primária esteve na ausência de um diagnóstico sobre o setor, que sabidamente oferece serviços caros e de péssima qualidade. Suas empresas são campeãs de reclamações de usuários e de ações junto aos órgãos de defesa do consumidor.

Outra falta de contextualização, ainda mais importante, está em que poucos se deram ao trabalho de trazer à tona a história da Telebrás e de seu processo de privatização. Lacuna curiosa, pois, afinal, a quem interessaria relembrar tal passado? Resposta: interessaria à maioria das pessoas, aos que têm e aos que não têm acesso aos serviços de telecomunicação.

Até hoje, a melhor forma de contar essa história e travar a batalha da memória contra o esquecimento é revisitar o livro de Aloysio Biondi, “O Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado”. O livro teve sua primeira edição em 1999. Sua 11ª edição se encontra disponível, gentil e gratuitamente, no site da Editora Fundação Perseu Abramo:

http://www2.fpa.org.br/uploads/Brasil_Privatizado.pdf


Biondi, como se sabe, foi um monstro sagrado do jornalismo brasileiro, grande mestre do jornalismo econômico. Faleceu há 10 anos (em julho de 2000).

“O Brasil privatizado” abria seu capítulo “As estatais: sacos sem fundo?” justamente falando da Telebrás. Biondi relembrava que, entre 1996 e 1997, a empresa teve um salto de 250% em seu lucro, desmentindo categoricamente a mensagem fabricada de que as estatais só davam prejuízo. No livro que tornou-se um clássico para a compreensão sobre o que fizeram com o Brasil nos anos 90, Biondi contextualizava que tanto os prejuízos quanto os lucros das estatais tinham sido fabricados para atender a interesses muito bem identificados.

Dizia ele: “Os prejuízos que o achatamento de tarifas e preços trouxe para as estatais teve efeitos que o consumidor conhece bem: nesses períodos, elas ficaram sem dinheiro para investir e ampliar serviços. Explicam-se, assim, as filas de espera para os telefones, ou as constantes ameaças de “apagões” no sistema de eletricidade. Ou, dito de outra forma: não é verdade que os serviços das estatais tenham se deteriorado por “incompetência”. Como também é mentira que “o Estado perdeu sua capacidade de investir”, como diz a campanha dos privatizantes. O que houve foi uma política econômica absurda, que sacrificou as estatais.” (pág. 30).

Lembrava ainda de uma decisão incrível: em 1989, um decreto do presidente da República proibia o BNDE (hoje BNDES) de realizar empréstimos a empresas estatais.

Biondi era um “antifukuyama”. Só para lembrar, Fukuyama foi um dos garotos propaganda do neoliberalismo, muito badalado durante o Governo Reagan, autor de uma tese espalhafatosa sobre o “fim da história” e da vitória do capitalismo sobre tudo e sobre todos. Hoje, se alguém fizer um Google sobre os “francis” existentes na face da Terra, Fukuyama sequer aparece nas sugestões do motor de busca. Fica atrás de Francis Bacon, Francis Ford Copola, Francisco Cuoco e Francisco Alves. Indício de que quem corre o risco de desaparecer é o próprio Fukuyama.

Enfim, Biondi desmentia a tese do fim da história, mostrando que a moda era tentar “cancelar” a história. Contextualizava a esdrúxula decisão que proibia o BNDES de financiar empresas estatais lembrando ter sido ele criado “exatamente com o objetivo de fornecer recursos para a execução de projetos de infra-estrutura, que exigem desembolso de bilhões e bilhões – e precisam de alguns anos para sua execução” (pág. 30).

A memória do texto de Biondi é mais uma vez útil a um momento em que o BNDES também se tornou alvo de ataques violentos e virulentos à gestão de Luciano Coutinho, veja só, por fazer exatamente aquilo para o qual o banco existe: levantar investimentos e fazer financiamentos.

Biondi também usou o exemplo da Telebrás para relembrar uma diferença básica do setor público em relação ao privado: além de prestar serviços, as estatais deveriam ser utilizadas com o objetivo de justiça social. Tais empresas não têm como objetivo fundamental o lucro, nem têm como sina acumular prejuízos. Seu objetivo fundamental é garantir o atendimento à população em serviços essenciais. O fato de que muitas vezes acumularam prejuízos, além das malversações que acompanharam algumas de suas gestões, decorria das condições de desigualdade do país. A pobreza criava um obstáculo sério ao modelo de negócio de muitas estatais. Milhões de brasileiros excluídos do mercado interno de massas por um modelo de desenvolvimento excludente não tinham como contratar serviços em níveis que garantissem a rentabilidade de certas empresas estatais.

Por isso, na atual situação do país, de expansão acelerada do mercado interno de massas, de ascensão de um contingente expressivo de pessoas à classe média e da tendência de crescimento da economia, do emprego e da renda dos brasileiros, o discurso contra as estatais está obsoleto. É como o relógio quebrado que homenageia a nostalgia e a ostentação, mas é incapaz de fornecer uma informação correta.

As estatais, diante do novo quadro econômico, já podem se dar ao luxo de serem extremamente lucrativas. Mas estão longe de constituir uma ameaça ao setor privado. Elas podem atuar em atividades nas quais empresas privadas têm demonstrado dificuldades crônicas em dar conta do recado ou, como no caso da Petrobrás, podem funcionar como grandes alavancas do crescimento econômico, responsáveis por irrigar inúmeras cadeias produtivas que sequer existiam, ou que tinham sido desativadas.

Passados dez anos desde que perdemos Aloysio Biondi, tem-se a exata dimensão da importância daquilo que ele nos mostrou e de sua contribuição para reverter a cegueira que tomava conta do País.

Me arrisco a dizer que, se vivo estivesse, o autor daquele texto célebre e indignado estaria tomado por um sorriso satisfeito com a volta dos elefantes. Até porque, “três elefantes incomodam, incomodam…. incomodam muito mais”.


*Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política.

FONTE: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4730

Súplica do eleitor brasileiro


Súplica do eleitor brasileiro

“Oh Deus, perdoa esse eleitor coitado / que nas ‘Diretas Já’ gritou um bocado / pedindo urnas pra poder votar./ Oh Deus, será que o Senhor se zangou / e só por isso se arretirou / deixando a bandidagem se candidatar. / Oh Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe / eu acho que a culpa foi / deste pobre que nem sabe fazer oração”.

Por José Ribamar Bessa Freire (*)


Oh Senhor, queríamos tanto votar, que em 1984 saímos às ruas no movimento ‘Diretas Já’, rezando e clamando pela aprovação da Emenda Dante de Oliveira. Lá, nos comícios, enquanto os fartos seios da Fafá de Belém arfavam cantando o hino nacional, o nosso peito varonil, bem sintonizado, elevava preces aos céus, implorando que chovessem candidatos em nosso roçado eleitoral. Se fossem muitos, poderíamos escolher o melhor para nos governar.

As nossas súplicas foram ouvidas. Choveu. Mas choveu além da conta. Uma tempestade de candidatos espertalhões, malandros e ruins de rima inundou o país, afogando os eleitores nas urnas, confundindo-os. Oh Senhor, nós pedimos pra chover, mas chover de mansinho, pedimos pra ditadura sair de fininho, pra ver se nascia democracia com a eleição. Mas veja, Senhor, o que está acontecendo em todos os cantos do país.

Alagoas - Elle outra vez? Não, Senhor! Piedade! Clemência! Conquistamos o direito de votar e logo na primeira eleição escolhemos um filhote da ditadura que o pariu, travestido de ‘caçador de marajás’. Erramos. Corrigimos o erro, derrubando o esquema PC Farias, que recolhia a bufunfa através de ‘contas fantasmas’. Agora, elle volta pelo PTB (vixe) pra governar Alagoas, purificado pelo jingle cujos versos cantam: “É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma pelos mais carentes. E os três pelo bem da gente”. Um escárnio! O PT local conseguiu vetar a rima duvidosa. Elle mudou, mas continuou desafiando com a rima fácil do Egberto Lurian Batista e o jingle ficou assim: “Não adianta, o povo sabe quem tá apoiando quem. O povo tá decidido e vai apoiar também”. Oh Senhor, por que nos castigas assim? Envia-nos, Senhor, o Espírito Santo e junto com ele o motorista Eriberto França para refrescarem a memória do eleitor.

Com elle, vem o candidato ao senado, Renán Calheiros (PMDB, vixe), o do Renan-gate, o das rádios em nome de ‘laranjas’; o traficante de influência junto à Schincariol; o usuário de notas fiscais frias em nome de empresas fantasmas; o da montagem de um esquema de desvio de dinheiro público em ministérios comandados pelo PMDB. Não permita, Senhor, que Collor e Renan se reelejam. Chama os cara-pintadas, Senhor, e contrata um poeta que pelo menos rime “quem” e “ também” com “homem-de-bem”.

Brasília – Oh, Senhor, a democracia fica ferida com Joaquim Roriz (PSC vixe!), 74 anos, quanto mais velho, mais escândalos: acordo com bicheiro, desvios de verbas, superfaturamento da merenda escolar, cinco inquéritos no STJ, seis notícias crimes, improbidade, falsidade ideológica, crimes contra a fé pública. Governador de Brasília nomeado por Sarney, em 1988, ele foi reeleito três vezes com o voto popular. Nós te suplicamos, Senhor, se for tua vontade punir o eleitor, cegando-o uma vez mais, elege o Roriz, mas retira antes sua cueca e suas meias, deixa-o despido, nu, e tapa o seu fiofó com cimento como se fosse um poço de petróleo no Golfo do México, para que ele não tenha nenhum buraco onde esconder o caixa dois. Faz o mesmo, Senhor, com Agaciel Maia (PTC, vixe), candidato a deputado distrital.

Maranhão – Oh Senhor, quanto mais rezo, mais assombração me aparece. Lá vem, outra vez, Roseana Sarney (PMDB, vixe), filha do atraso e do coronelismo, das 15 mil marmitas, de R$ 1.340.000,00 não-declarados, acusada em escândalo de corrupção com a empresa Lunus Participações da qual é sócia, de peculato, de estelionato e de formação de quadrilha com Jorge Murad. O processo foi arquivado e ela recebeu apoios para se ‘purificar’, denuncia Flávio Dino (PCdoB/MA): “O dono do Maranhão, o dono do mar, agora acha que é o dono da Dilma”. José Sarney (vixe) legou a capitania hereditária pra sua filha, da mesma forma que o deputado ficha-suja Fufuca Dantas (PMDB/MA, vixe) cedeu seu lugar ao filho de 21 anos, o André Fufuca, conhecido como Fufuquinha. Eles se multiplicam como cobra de sete cabeças. Oh Senhor, nem que Lula peça de joelhos, nem que a Dilma tussa, não permita que eleitores votem em fufuquinhas. Que votem em Flávio Dino, Senhor! Desculpa, Senhor, eu pedir a toda hora pra chegar o inverno, desculpa eu pedir pra acabar com o inferno, que sempre queimou o meu Maranhão, o estado mais saqueado da Federação.

Pará – Oh, Senhor, procura, está lá, no Arquivo do Banco Central, na estante 05, prateleira 01, caixa 1876, o processo número 9200047419, que tem 2.509 páginas em nove volumes. Lá Jader Barbalho (PMDB, vixe, vixe) é acusado de ter desviado 10 milhões do Banpará. O Conde de Abacatal, o homem do desvio de R$ 16,7 milhões da Sudam, acusado de “ladrão” pelo seu colega Toninho Malvadeza, está de volta como candidato ao Senado, com seus braços que já foram algemados, com suas mãos que já foram beijadas e com sua curriola que rima Barbalho com o quê mesmo? Oh, Senhor, será que tu não entendes quando rezo em português? Then, I will ask you, my Lord, fuck Jeider Barbeilho and his gang. Faz isso, Senhor, em nome da saúde pública.

Roraima – Lembra-te, Senhor, os “gafanhotos” comeram a folha de pagamento do Estado de Roraima e sugaram suas últimas energias, desviando mais de R$ 230 milhões dos cofres públicos. Agora, estão de volta os três mosqueteiros inimigos dos índios: Neudo Campos, José de Anchieta e Romero Jucá (ex-PSDB, atual PMDB, futuro PT?), esse último fiel líder do governo FHC e agora líder fidelíssimo do Governo Lula no Senado, acusado de ter oferecido sete fazendas inexistentes como garantia para um financiamento do Banco da Amazônia, entre outras denúncias, incluindo desvio de R$ 4,9 milhões destinados à coleta de lixo em 18 bairros da capital roraimense na gestão da prefeita Teresa Jucá. Senhor, não deixa que o eleitor roraimense sofra de amnésia.

Outros Estados – Olha, Senhor, pra qualquer lado que a gente se vire, lá está a fina flor da malandragem. É Anthony Garotinho (RJ), André Puccinelli (MS), Iris Rezende (GO). Em São Paulo, Maluf – o Maluf, Senhor, ele mesmo, o Paulo Salim - e o Quércia, o que quebrou o Banespa. São tantos por todo o Brasil, a maior parte deles – os mais espertos – com “ficha limpa”, porque sequer deixam rastros e tem mais advogados do que eleitores. No Amazonas, fica a perplexidade do leitor H. Romeu Pinto: o que fazer?

Os vices – Oh, Senhor, será que vice tem de ser podre? Esse paspalhão Antônio Pedro de Siqueira Indio da Costa (DEM – vixe, vixe), tão jovem, mas já engatinhando vorazmente nas suas primeiras trapaças. E o Michel Miguel Elias Temer Lulia, o mordomo de vampiro, acusado de depredar e grilar área de reserva ambiental e de recorrer a grileiros e a servidores do governo de Goiás para obter títulos de propriedade fraudados?

Foi para isso, Senhor, que lutamos tanto? Para escolher entre o pior e o ‘menos pior’? Oh, Senhor, não mate nossas esperanças. Precisamos crer na democracia e na política, uma arte tão nobre, que não devia ser assim enlameada. Tende piedade de nós, Senhor, da nossa desinformação que nos leva a votar contra nossos interesses históricos, que nos impede de identificar quem são nossos aliados e quem são nossos inimigos, que nos transforma em eleitor ficha-suja. Tende piedade de nossos formadores de opinião que não encontram o caminho pra abrir os olhos dos demais e, às vezes, sequer os próprios olhos.

Ajuda-nos, Senhor, a mobilizar nossas forças para conquistar uma reforma política com mudanças na legislação sobre as eleições e o financiamento das campanhas. Precisamos aperfeiçoar a democracia, elegendo representantes comprometidos com a causa pública, inclusive candidatos da oposição, limpos, vigilantes e críticos, porque nenhum sistema democrático sobrevive sem oposição sadia. Embora definitivamente não saibamos rezar, nós te suplicamos, Senhor, não consinta que o capital ético deste País seja dilapidado. Livra-nos, Senhor, dos Collor, dos Sarney, dos Maluf, dos Roriz, dos Barbalho, dos Quércia, dos Jucá. Amém.

*José Ribamar Bessa Freire é antropólogo, natural de Manaus e assina no “Diário do Amazonas” coluna semanal tida como uma das mais lidas da região norte. Reside no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e é professor da UERJ, onde coordena o programa “Pró-Índio”. Mantém o blogTaqui pra tie é colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”

Fazenda de primo de ruralista mantinha trabalho escravo

Fiscalização encontrou 26 pessoas em condições análogas à escravidão na Fazenda Santa Mônica, no município de Natividade (TO). Imóvel rural pertence a Emival Ramos Caiado, primo do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO)

Por Maurício Hashizume e Rodrigo Rocha, para o Repórter Brasil

Não era apenas a cerca de mourões, por eles mesmos reconstruída a partir do desmate de mata nativa, que impunha limites à dignidade de trabalhadores da Fazenda Santa Mônica, em Natividade (TO). Alojados em cinco barracos de lona e madeira erguidos sob chão de terra em pontos isolados do imóvel e próximos às frentes de trabalho, não tinham acesso a banheiros, água potável, energia elétrica, leitos e alimentação minimamente decentes.

Barracos utilizados na Fazenda Santa Mônica eram apenas pedaços de lona e de madeira (Foto: MTE)

Expostos a riscos e intempéries para demarcar as fronteiras da propriedade e impedir a dispersão do gado do patrão há mais de mês, custeavam ainda as refeições (havia servidão por dívidas, pois os gastos com a comida eram subtraídos pelos "chefes de barraco"), as próprias ferramentas de trabalho e até o combustível das motosserras.

Para completar o quadro de extrema precariedade, sofriam descontos ilegais dos salários na esteira do pagamento por produção e não recebiam os equipamentos de proteção individual (EPIs) exigidos para as atividades. Algumas das carteiras de trabalho estavam retidas com o empregador e muitos não descansavam sequer aos domingos. Viviam nessa situação 18 empregados.

Outros oito estavam alojados num galpão de alvenaria mais próximo à sede da Fazenda Santa Mônica, que servia também como garagem de tratores e depósito de ração, agrotóxicos e todo tipo de material que não tinha mais uso. Quatro tratoristas, dois mecânicos e dois ajudantes de serviços gerais pernoitavam em colchões sujos e improvisados que ficavam até em cima de carroças. Também não havia banheiro e as instalações elétricas irregulares estavam expostas no ambiente completamente cheio de óleo.

No caso dos trabalhadores do galpão, houve registro também de jornadas exaustivas de mais de 13 horas por dia (das 6h às 19h). Nem operadores de motosserra responsáveis pela produção dos mourões e nem tratoristas eram treinados e capacitados para operar as máquinas.

Oito trabalhadores dormiam num galpão com tratores, agrotóxicos e lixo (Foto: MTE)

Todo esse quadro foi flagrado pelo grupo móvel de fiscalização - formado por integrantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) -, em janeiro deste ano, na propriedade de Emival Ramos Caiado Filho, primo do conhecido deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Vice-líder de seu partido na Câmara Federal, Ronaldo atua como um dos principais expoentes da bancada ruralista, ampla coalizão que apresenta resistências dentro do Congresso para a aprovação de medidas mais severas contra escravagistas como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438/2001, que expropria (sem indenizações) a terra de quem comprovadamente explorar mão de obra escrava.

O grupo móvel lavrou 22 autos de infração referentes à Fazenda Santa Mônica. Entre eles: deixar de efetuar o pagamento integral do salário mensal até o quinto dia útil do mês subsequente ao vencido; prorrogar a jornada de trabalho além do limite legal de duas horas diárias; deixar de conceder descanso semanal de 24 horas consecutivas; manter empregado trabalhando sob condições contrárias às disposições de proteção ao trabalho, e admitir ou manter empregado sem o respectivo registro.

Em depoimento à fiscalização, o gerente confirmou ter contratado os trabalhadores para a manutenção das cercas da fazenda sem que houvesse o fornecimento de alojamento, alimentação, água potável, banheiro, utensílios básicos, ferramentas de trabalho e EPIs.

Não havia banheiro; ferramentas e alimentos eram comprados pelos próprios empregados (Foto:MTE)

À Repórter Brasil, o advogado Breno Caiado, irmão e procurador do proprietário Emival, informou que a propriedade estava arrendada a terceiros e foi devolvida ao dono "com suas cercas e instalações de moradia deterioradas e avariadas". Para fazer uma reforma nas estruturas danificadas, adicionou Breno, houve o recrutamento do grupo (a maioria com carteira assinada, segundo a fiscalização) que tomava banho em córregos, utilizava o mato como banheiro e acabou flagrado pelos agentes.

Nas palavras do advogado, "não tinha outro jeito" de garantir melhores condições no local, pois a infra-estrutura é precária e a carência é enorme na região. Os acampamentos, continuou, consistem na única forma possível - independemente do que exige a lei - para dar suporte a empreitadas particulares como a de construção de cercas. Quando chovia, relataram as vítimas, os barracos ficavam alagados.

"Pouco tempo após o início das reformas, a fazenda passou por uma fiscalização em que foram apontadas algumas irregularidades, na visão dos fiscais. Foram atendidas as exigências e concluídas as reformas", justificou Breno, que preferiu não responder outras perguntas feitas pela reportagem.

Frentes de trabalho ficavam em áreas isoladas dentro da área de Emival Caiado (Foto: MTE)

Não quis se pronunciar, por exemplo, sobre a relação entre o flagrante e a atuação do primo de Emival, Ronaldo Caiado, no âmbito do Parlamento. Tampouco deu mais detalhes sobre a área envolvida, o TAC e os outros negócios do proprietário, declarando apenas que a "Fazenda Santa Monica é exemplo de segurança, organização e higiene do trabalho".

Já a assessoria de Ronaldo Caiado (DEM-TO), que concorre à reeleição no próximo pleito de outubro, declarou que o parlamentar não reponde pela conduta de outrem e que não defende quem comete crimes. Sobre o possível constrangimento pelo fato de ter um primo envolvido diretamente em flagrante de escravidão enquanto a PEC do Trabalho Escravo aguarda votação, a assessoria declarou apenas que o congressista está disposto a tratar do assunto no momento em que o mesmo for colocado em pauta.

O valor bruto das rescisões dos trabalhadores foi calculado em R$ 198,6 mil, incluindo as indenizações por dano moral individual (ratificadas pelo MPT) que somaram R$ 39,1 mil. A procuradora do trabalho Elisa Maria Brant de Carvalho Malta, intregrante do grupo móvel, firmou ainda um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que designou a doação de um veículo utilitário e de equipamentos de tratamento odontológico para o distrito de Príncipe, em Natividade (TO), por dano moral coletivo.

Alimentação dos trabalhadores que construíam
cercas com mourões era precária (Foto: MTE).

Quando entrou em contato com as autoridades locais para acertar a destinação dos equipamentos por conta do TAC, a procuradora soube que o próprio empregador já tinha anunciado ao prefeito que faria "doações" por livre iniciativa, tentando desvincular o pagamento do flagrante ocorrido.

O fazendeiro Emival é irmão de Sérgio Caiado (PP), que também concorre a uma cadeira na Câmara Federal. Sérgio, que já exerceu o cargo na legislatura passada, atua como presidente do partido em Goiás. Em 2005, Emival e Sérgio foram acusados pelo Ministério Público Federal (MPF) pelo atropelamento de um agente de segurança da Câmara dos Deputados no estacionamento dos fundos do Anexo IV.

Como proposta de transação penal, Emival, que dirigia o carro e teria atendido ordens de Sérgio, sugeriu doar cestas básicas e fraldas geriátricas a uma entidade beneficente de Brasília (DF) por seis meses e depositar R$ 1 mil para o Programa Fome Zero. O MPF aceitou a forma de punição do acusado, que foi confirmada no Supremo Tribunal Federal (STF).

Incentivos
O dono da área inspecionada é proprietário da Rialma Companhia Enegática S/A e possui duas usinas hidrelétricas - Santa Edwiges II (13 mil kW) e Santa Edwiges III (11,6 mil kW), no Estado de Goiás. Foi ainda beneficiado por R$ 746,7 mil recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) na compra de 1 mil matrizes e 34 touros de gado nelore e custeio para outra fazenda que mantém em São Domingos (GO).

Pedaços de carne eram pendurados; "cozinha" apresentava risco de acidente (Foto: MTE)

A Sul Amazônia S/A Terraplenagem e Agropastoril, que teve projetos aprovados pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e chegou a participar da carteira do Fundo de Investimento da Amazônia (Finam), é a empresa de Emival por trás da Santa Mônica. Em comunicado divulgado em 12 de abril deste ano, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) suspendeu a Sul Amazônia e outras companhias pelo descumprimento da obrigação de prestar informações á comissão há mais de três anos.

Outro proprietário que teve a fazenda flagrada com trabalho análogo à escravidão na mesma operação foi Reniuton Souza de Moraes. Detentor de uma concessão do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para a exploração de areia em Goiás, Reniuton é dono da Fazenda Olho D’Água, em Monte Alegre de Goiás (GO), que tem 67,6 hectares de área e mantém como principal atividade a criação de gado de corte.

“Os resgatados [da Olho D´Água] estavam ligados a um empreiteiro que instalou uma carvoaria dentro da fazenda”, conta o auditor fiscal do trabalho Leandro de Andrade Carvalho, coordenador do grupo móvel. Dois adolescentes com menos de 18 anos estavam entre os cinco libertados.

Água consumida pelos libertados da Faz. Santa Mônica vinha de córrego e era turva (Foto: MTE)

Segundo Leandro, os trabalhadores tinham de beber água dos córregos, não havia fornecimento de EPIs e as ferramentas de trabalho eram inadequadas. “Os alojamentos eram barracos feitos de alvenaria e madeira, totalmente improvisados”, conta. "Um deles parecia com um acampamento de selva. Parte da estrutura era feita com lonas plásticas”, complementa.

Não havia banheiro nas frentes de trabalho nem no alojamento; as necessidades fisiológicas eram feitas nos matagais. Os carvoeiros estavam sem registro e recebiam uma diária de acordo com a produção. A jornada de trabalho se estendia enquanto houvesse luz do sol.

De acordo com a fiscalização, Reniuton cedeu 55 hectares ao empreiteiro José César Rodrigues, que ficaria responsável pela derrubada da mata. José aproveitaria a madeira para produção de carvão e entregaria o terreno "limpo" para a implantação do pasto. Não havia dinheiro envolvido na negociação entre as partes. "Esse tipo de acordo é típico nas regiões de fronteira, mas se trata de uma terceirização ilícita", completa Leandro.

Desmatamento acompanhava trabalho escravo nas duas fiscalizações do grupo móvel (Foto: MTE)

Um dos trabalhadores estava encarregado da derrubada das árvores e os outros enchiam os fornos e tiravam o carvão. Eles estavam na fazenda há dois meses, relata o auditor. “Eram de cidades próximas e moravam na fazenda durante a semana. Nos fins de semana, voltavam para a casa”.

Reniuton assinou um TAC com o MPT. Foram pagas as verbas rescisórias e lavrados 12 autos de infração. Aos jovens, a procuradora Elisa determinou a abertura de duas cadernetas de poupança com R$ 3 mil por dano moral individual.


FONTE: http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=1777

Marinha recebe licença do Ibama para obras de estaleiro e base naval no RJ

Empreendimento construirá submarinos convencionais e de propulsão nuclear

O Ibama autorizou o início das obras de Estaleiro e Base Naval para Construção de Submarinos Convencionais e de Propulsão Nuclear da Marinha. O empreendimento será implantado na Baia de Sepetiba, Ilha Madeira, município de Itaguaí, no Estado do Rio de Janeiro. O estaleiro e a base destinam-se à fabricação, manutenção e comando de submarinos.

As obras serão executadas em aterro hidráulico protegido por enrocamento, num total de 413 mil metros quadrados. A Licença de Instalação assinada pelo presidente do Ibama, Abelardo Bayma, contem 12 condicionantes, dentre as quais se destacam a exigência de programas de monitoramento da biota aquática, dos sedimentos resultantes da atividades de dragagem e do gerenciamento de riscos ambientais.

Por se tratar de projeto militar, o licenciamento ambiental é de competência do Ibama.


IBAMA

Fonte: http://www.canalrural.com.br/canalrural/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&id=2996795&action=noticias&utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

Petistas protestam contra troca de manchetes da Folha para omitir homicídios em SP

Parlamentares da bancada petista na Câmara manifestaram indignação com "mais uma tentativa" do jornal Folha de S.Paulo de tentar acobertar as falhas da gestão do PSDB no estado. Na edição impressa do jornal do último sábado (1º), apenas os leitores do estado de São Paulo tiveram acesso à notícia alarmante de que a taxa de homicídio na capital paulista cresceu 23% no primeiro trimestre do ano.

Isso porque, na edição que circulou no restante do país, o jornal simplesmente trocou a manchete principal optando por destacar notícia desfavorável ao Governo Lula.

No jornal que circulou nos outros 25 estados e no Distrito Federal, a manchete principal tratou do aumento de gastos do governo Federal frente à arrecadação de impostos. A edição impressa que circulou fora de São Paulo tinha duas páginas a menos.

"Isso é muito grave. Estamos falando da capital mais importante economicamente do país. Estamos em um ano político. Estão vendendo algo que não existe, que é a imagem do Serra (ex-governador José Serra) como bonzinho, omitindo informações para os leitores dos demais estados", denunciou o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), surpreso com a artimanha do jornal.

De acordo com o parlamentar, a atitude do jornal é mais uma iniciativa da imprensa golpista do país. "O jornalismo tem que resguardar os fatos mas, infelizmente, não é assim que tem ocorrido. A Folha é um dos jornais que mais cobram do poder público e da justiça brasileira a manutenção dos direitos da imprensa. Agora temos que cobrar deles o direito de o jornal informar corretamente", reclamou.

O crescente índice de violência em São Paulo, segundo o parlamentar, é um dado fundamental para o país, já que o governador José Serra (PSDB) é um dos principais candidatos à sucessão presidencial. "Outro dia li uma reportagem onde o governador José Serra falava em criar um Ministério da Segurança. Ele não consegue controlar nem uma secretaria, quanto mais um ministério", disse.

Golpe

A postura do jornal, na avaliação do deputado Jilmar Tatto (PT-SP), é apenas uma pequena demonstração da "pseudodemocracia" da imprensa brasileira. "Agora somos todos Serra", ironizou o parlamentar. "A Folha pertence ao PIG (Partido da Imprensa Golpista). Mas não há de ser nada, o povo brasileiro é sábio e vai votar na Dilma", disse.

Homicídios

Após nove anos em queda, a capital paulista voltou a enfrentar um aumento do número de homicídios no primeiro trimestre do ano em comparação com o mesmo período de 2009. A capital registrou um crescimento de 23% na taxa de homicídios. No total, foram mortas 376 pessoas nesse período, mais de quatro por dia. Foram 1.224 homicídios em todo o Estado, alta de 7%. No período, o Estado também registrou aumento nas ações atribuídas ao crime organizado, como roubos a bancos (de 16%) e extorsão mediante sequestro (25%).

www.ptnacamara.org.br


Fonte: http://www.pt.org.br/portalpt/noticias/nacional-2/petistas-protestam-contra-troca-de-manchetes-da-folha-para-omitir-homicidios-em-sp-4322.html
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