O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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Peço que, quem queira continuar acompanhando o meu trabalho, siga o novo blog.

sábado, 30 de janeiro de 2010

50 mil visitas em 10 meses! Valeu, pessoal! Confiram o nosso especial "A história de um vencedor"




[caption id="attachment_3409" align="aligncenter" width="468" caption="Acima, a capa de uma revista em quadrinhos, criada pelo cartunista Bira Dantas, que foi lançada em 2002 contando a saga de Lula: "A história de um vencedor".(*)"]Acima, a capa de um revista em quadrinhos que foi lançada em 2002 sobre a saga de Lula: "A história de um vencedor".[/caption]

Antes de mais nada, os meus profundos agradecimentos a toda a equipe que me ajuda a fazer deste blog uma realidade. Uma realidade que, um dia, há apenas 10 meses, era um sonho do jovem "Roder". Tão jovem como eu e tão maluco como eu a ponto de se embrenhar num projeto que vai na contramão do pensamento dominante. E, como agradecimento aos leitores que nos prestigiam e sem os quais não teríamos razão de existir, ao longo dos próximos 10 meses, decisivos para o futuro político do país, buscarei disponibilizar para este blog textos, novos ou antigos, assinados pelos nossos co-editores e articulistas-colaboradores, que representem a visão de cada um, seja elogiosa ou crítica, sobre a figura humana e política deste homem não só temido pela elite brasileira, mas que, como disse recentemente o jornal espanhol "El País", "assombrou o mundo". Por agora, já disponibilizo alguns nos links abaixo. Aos poucos, vou incluindo outros textos nesta lista.


"Série: desmistificando Lula" (por Raul Longo)


"O ódio da mídia e a primeira vitória de Lula" (por Gilson Caroni Filho)



"Brasil, capital água fria" (por Urariano Mota)


"Só vibra o pulso de quem sonha" (por Ana Helena Tavares)


"Um Silva, uma estrela e o mundo pela frente" (poesia, por Ana Helena Tavares)


(*) Clique aqui para conhecer a revista em quadrinhos. Ou aqui para saber mais sobre seu autor, o cartunista Bira.


Para além disso e de nossa visão sobre ele, fiquem também com os vídeos abaixo, que trazem "Lula por ele mesmo". Vale a pena, de verdade. Pois, independentemente da reputação que possa ter o entrevistador, trata-se de uma entrevista emocionante (exibida em 15 de Novembro de 2009), em que Lula fala detalhadamente de sua história de vida desde o seu nascimento até sua atuação na presidência.


Ana Helena Tavares














































sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Davos: Amorim recebe, por Lula, prêmio de Estadista do Ano e lê discurso do presidente sobre um "outro mundo possível"

Clique na imagem para ler matéria sobre o assunto



O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, entrega o prêmio de Estadista do Ano para o ministro das relações exteriores, Celso Amorim, que representa o presidente Lula em Davos Foto: AP

Quem luta atualmente pelo ideal marxista de "um reino da liberdade, para além da necessidade"?


Dissecando o primarismo político


Por Celso Lungaretti

Ao expor o primarismo político que grassa na esquerda virtual, escancarado nas diatribes contra a Anistia Internacional, eu não tinha ilusões quanto ao resultado.


Os companheiros com mais informações e melhor formação já nem se dão mais ao trabalho de confrontar o sectarismo dominante.


Sua atitude segue mais ou menos a racionália de um ótimo verso do poeta Capinan: "moda de viola não dá luz a cego".


Ou seja, guardam sua luz para si, dando como irremediável a cegueira dos autoritários de esquerda.


Esses novos bárbaros engendrados pelo refluxo revolucionário das últimas décadas, por sua vez, não têm a mais remota idéia de que a proposta original de Marx era levar a humanidade a um estágio superior de civilização, no qual cada homem pudesse desenvolver plenamente suas potencialidades, liberto dos grilhões da necessidade.


Marx nos apontou como objetivo último a instauração do "reino da liberdade, para além da necessidade". Quem luta atualmente por um objetivo tão formidável e, ao mesmo tempo, tão distante?


Uns se contentam em gerir o estado burguês no lugar dos burgueses, o que lhes dá condição de melhorarem um pouco a situação material dos trabalhadores e aliviarem, também um pouco, as agruras dos excluídos. Há um século seriam qualificados de reformistas.


Outros se fanatizam com projetos autoritários e personalistas de poder que, como bem lembrou o Carlos Lungarzo, têm mais afinidade com o fascismo original de Benito Mussolini do que com as políticas de esquerda.


Estes últimos, no afã de justificarem rudes transgressões dos direitos humanos, não hesitam em promover campanhas virtuais de descrédito da Anistia Internacional, da Human Rights Watch, da ONU e quem mais ainda preze os valores civilizados. Em sua marcha regressiva, implicitamente cancelam até a Grande Revolução Francesa.


É claro que, chegando aos 60 anos, não tenho prazer nenhum em ser alvo da sua irracionalidade em estado bruto.


Houve até quem colocasse em discussão se eu estaria sendo financiado pela CIA, o poder oculto atrás da AI, segundo a interpretação conspiratória da História... Ao atribuir motivos tão pequenos aos outros, esse cidadão projeta uma imagem horrorosa de si próprio.


Mas, alguém tem de empunhar a bandeira da esquerda libertária, mantendo viva a promessa de que os ideais revolucionários e a promoção dos direitos humanos voltarão a ser uma e a mesma coisa, norteando a nossa luta.


E, à falta de um companheiro com mais méritos e saber, eu cumprirei esse papel.


Simplesmente porque não consigo suportar a idéia de que um jovem tentado a fazer algo para melhorar o mundo, ao considerar a opção revolucionária, o faça a partir de modelos tão reducionistas, atrabiliários e pouco inspiradores como os de Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad.


Enquanto eu tiver forças e lucidez, continuarei repisando: isso que hoje passa por atuação de esquerda é quase nada, perto da visão grandiosa que os profetas do marxismo e do anarquismo descortinaram para a humanidade.


Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Mantém o blog "Náufrago da Utopia", é autor de livro homônimo sobre sua experiência durante a ditadura militar e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Que religião que nada! O sangue será o ópio do povo




TERROR COM CONTEÚDO

Esse é um filme totalmente original que subverte os clichês do gênero e ainda traz uma crítica político-social bastante interessante.

André Lux

“Daybreakers” parece, a princípio, apenas mais um filme sobre vampiros que quer se aproveitar da atual onda de fanatismo que cerca a saga “Crepúsculo”. Mas não se engane. Esse é um filme totalmente original que subverte os clichês do gênero e ainda traz uma crítica político-social bastante interessante.

Estamos na Terra do ano 2019, dez anos após uma epidemia que transformou grande parte da humanidade em vampiros. O problema é que existem cada vez menos humanos e até animais e o precioso sangue está cada vez mais escasso. Assim, o que restou da raça humana é caçada e cultivada por uma mega corporação comandada por um vampiro neoliberal sem escrúpulos que lucra horrores com a alta do preço do sangue. E para piorar tudo, a falta do precioso alimento começa a transformar os vampiros mais pobres em verdadeiros monstros sem controle, os quais são perseguidos e destruídos pela polícia.

Temos aí uma ótima alegoria sobre a crueldade do sistema capitalista, que pode remeter à escassez de água que parece estar chegando, onde só os que podem ter acesso a esses “comodities” (como os defensores desse sistema desumano chamam aquilo que pode gerar lucros) poderão sobreviver, enquanto o resto é tratado como lixo e enviado para a morte. Em tempos onde favelas de São Paulo são sistemática e criminosamente incendiadas, o filme não poderia ser mais atual.

Esse subtexto político permeia toda a obra, que conta com boas atuações de um elenco liderado por Ethan Hawke (como um vampiro cientista que se recusa a beber sangue humano e tenta encontrar desesperadamente um substituto sintético para ele), Willem Dafoe (no papel de caçador de vampiros que funciona como alívio cômico) e Sam Neill.

Assistindo a “Daybreakers” podemos notar também o quanto a música é importante para o cinema. Composta pelo australiano Christopher Gordon (das minisséries para a televisão “A Hora Final” e “Moby Dick”), a partitura é simplesmente espetacular e eleva o filme a patamares maiores do que os sonhados pelos seus realizadores (os irmãos Michael e
Peter Spierig, também australianos).

Tenso, bem dirigido, com diálogos inteligentes, sem finais redentores idiotas ou excesso de cenas nojentas, “Daybreakers” é um dos raros filmes que misturam terror com ficção científica que valem a pena serem assistidos atualmente. Não percam – e não se esqueçam de prestar atenção à música!

Cotação: * * * *



André Lux, jornalista, presta assessoria na área de Comunicação Social, crítico-spam, administra o blog “Tudo em Cima”. http://tudo-em-cima.blogspot.com/


Colabora com a Agência Assaz Atroz e com este “Quem tem medo do Lula?”

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA

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http://assazatroz.blogspot.com/

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Lula, candidato a vereador

Por Urariano Mota


Recife (PE) - Luiz Fernandes dos Santos, que um dia poderá ser Lula dos Santos, foi candidato a vereador no Recife com a cara e o apelido que registrou no TSE. Quando o entrevistei, lembro que ele substituía o sim pelo “corretamente”, como se respondesse a um teste ou a uma inquisição. Pelo que ele calculava, em sua comunidade, no Ibura, teria 70% dos 3.500 votos de que precisava.


Lula, então futuro vereador, morava com a mulher, dois filhos e a sogra em uma casinha de dois quartos. Trabalhava numa fábrica: “Hoje, atual, eu estou numa fábrica de polpa e de suco, na função de auxiliar de produção”. Quando lhe perguntei se tal emprego lhe dava 4 ou 5 salários mínimos, respondeu: “Não, é um salário mínimo. Por incrível que pareça, é um salário mínimo”. Estava com 39 anos de idade. Cursava o “primeiro ano agora, do ensino médio”. Ao lhe pedir para destacar o que mais o impressionava no Presidente Lula, ele respondeu: “A simplicidade dele. Eu acho ele uma pessoa muito simples, assim, e popular, não é? Até a forma dele falar, está certo?”.


O simples Lula do Ibura, ao ser perguntado por suas bandeiras de luta, “bandeiras, como assim?”, respondeu com as necessidades pobres dos mais pobres. Espero que os leitores não riam nem sorriam do que destacamos do seu projeto, dividido em 8 itens:


“3º. Item: Vamos fundar uma sede, ou mais de uma sede, para o time ou os times do nosso bairro. E nessa vai ganhar uma mobília de uma geladeira ou freezer, um fogão a gás, mesas com cadeiras, uma sinuca, uma tábua de dominó com dominó, uma televisão de 20” com antena Sky. Para jogo marcado fora do bairro fornecerei o transporte, uniforme completo, água com gelo, em todos os jogos, laranjas, cartões vermelho e verde, bola. E para cada jogo em participação em torneios um presente para cada gol marcado por cada jogador, tipo um incentivo.


4º. Item: Aos peladeiros também ter totalmente apoio. Uniformes, bola, apito, cartões vermelho e verde, água e gelo, laranjas”.


- Você é candidato pra fazer o quê? perguntei.


- Uma ambulância pra minha comunidade, ou então um carro pra transporte emergencial. Isso está faltando muito. A comunidade está carente muito disso aí. Tanto a ambulância quanto melhorar os postos médicos, está certo? Na minha comunidade, e no Jordão Baixo, o posto é um descaso também. Nas reuniões, em que eu tenho conversado com os meus eleitores, reclamam que o atendimento médico está péssimo. Médico, pra se marcar agora, médico se marca com três meses. E eu quero criar também uma área pra atividade esportiva, na comunidade, pra tirar as crianças da rua, e os jovens também. Eu estou tendo também agora um acompanhamento com um colega mais velho, para nós criarmos uma escola de música. E fundar uma associação em nosso bairro, pra dar um ritmo comunitário, pra tomar conta da nossa comunidade, que está carente também disso.


A esses projetos o Lula do Ibura juntava razões de sonho, que como todo sonho omitia o processo áspero e de conflito de toda uma vida, para ir direto aos resultados. Ele se via como o novo Lula, guardava do presidente do Brasil as semelhanças, que transformava em sua identidade:


- Quando surgiu o nosso Presidente da República, que veio do nada, como eu, conforme eu estou indo também, se Deus permitir, eu pretendo chegar lá...


- Você sonha em um dia ser presidente da República, Lula?


- Com certeza. Se Deus quiser.


Então lhe recordei que, pelo menos na aparência física, ele não se assemelhava a Lula:


- Você é uma pessoa calva, está com uma calvície...


- Corretamente.


- E não usa barba. Vai usar barba?


- Pediram a mim. Por que eu não usaria barba, se meu apelido é Lula? Como pediram a mim pra ser candidato, pediram também pra eu deixar a minha barba crescer. Estou pretendendo.


Não adiantava levantar para ele obstáculos ou dificuldades. À falta de semelhança física ele respondia com uma possível barba. À falta de recursos mínimos, ele respondia com a semelhança de origem do Presidente. Mas como estava a sua campanha? Ousei perguntar. Em um papel impresso com tinta apagada, ele mostrou uma pesquisa de opinião. Na 6ª. pergunta, pedira que o eleitor respondesse de onde conhecia Lula do Ibura. Opções:


- Por sua atuação no bairro moralmente.


- Por sua atuação no bairro no papel de vizinho.


- Outros.


Com tais ferramentas e experiência, ele não conseguiu se eleger, é claro. Mas na semana passada ligou para mim, para contar que hoje é dono de um lava a jato. E me convidou para um almoço, a que não faltarei.


Urariano Mota é jornalista e escritor. Autor do livro "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. É colunista do site "Direto da redação" e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Os dois pedaços de um mesmo pão




Animados pela hipocrisia, esses humanistas de última hora se esquecem de que, tanto como no Haiti, é a miséria que faz as nossas tragédias. É a falta de trabalho, de escolas, de saúde, de planejamento urbano, de reforma agrária, enfim, da dignidade que vem sendo negada aos pobres, desde que aqui chegaram os fidalgos ibéricos.


Por Mauro Santayana, jornalista, no JB de hoje


Entre outras vozes que se levantaram, no Brasil, contra a nossa solidariedade para com o povo do Haiti, destacou-se a do senador Epitácio Cafeteira, do Maranhão. Sua excelência pertence às oligarquias daquele estado e, desde 1962, tem sido eleito pelo seu povo, um dos mais pobres do país. Homem rico, conforme a relação de seus bens divulgada pelo Senado – muitos deles imóveis valiosíssimos – Cafeteira dispõe de dois aviões e automóveis importados. No Senado, ao negar ao governo autorização para o envio de mais tropas brasileiras a Porto Príncipe, declarou comovente solidariedade com o povo brasileiro. Para ele, é necessário cuidar dos brasileiros, e não dos estrangeiros. E foi além: atribuiu à imprensa brasileira o destaque que se dá aos mortos do Haiti, em detrimento das vítimas nacionais das enchentes.


Nós poderíamos cobrar do senador solidariedade para com o seu povo mais próximo, o do Maranhão – como governador que foi do estado, e como parlamentar que o vem representando há quase cinco décadas. As mulheres quebradeiras de coco, os pescadores, os sertanejos e os caboclos maranhenses, castigados secularmente pela miséria, massacrados pelo latifúndio e, eventualmente, pelas cheias, estão esperando pela compaixão do senador. Cafeteira é um dos donos do Maranhão. Se houvesse nascido no Haiti, naturalmente pertenceria à elite mulata daquele pequeno país, e, morando na parte mais bem edificada de Porto Príncipe, não estaria necessitando da solidariedade dos outros. Estaria preocupado com seus aviões e seus automóveis e, provavelmente, com suas lanchas.


As seções de cartas dos jornais e alguns blogs da internet mostram que parcelas alienadas da classe média tornaram-se, repentinamente, também sensibilizadas com as enchentes e desabamentos em nosso país, e acusam o governo de se dedicar ao Haiti. Trata-se de um desvio singular da ação política. Animados pela hipocrisia, esses humanistas de última hora se esquecem de que, tanto como no Haiti, é a miséria que faz as nossas tragédias. É a falta de trabalho, de escolas, de saúde, de planejamento urbano, de reforma agrária, enfim, da dignidade que vem sendo negada aos pobres, desde que aqui chegaram os fidalgos ibéricos. Aqui – e na Ilha La Española, onde se encontra o Haiti. O subdesenvolvimento, causa de toda a miséria, não é maldição mas resultado de deliberado projeto de desigualdade. Quanto maior a miséria em torno, mais ricos se fazem alguns. Por isso impedem a reforma agrária e impedem a educação dos pobres. Sua filosofia é a de que só têm direito aos benefícios da civilização os que puderem pagar por eles.


Eles não sabem que uma das poucas alegrias das pessoas pobres é a do exercício da solidariedade. Não conhecem a felicidade dos trabalhadores que se organizam em mutirão a fim de reconstruir o barraco que desabou, ou de construir a moradia de dois cômodos para uma viúva e seus filhos. Os haitianos que perderam suas casas e seus familiares são seres humanos, exatamente iguais aos nossos pobres, que se veem nos olhos solidários dos soldados e dos voluntários civis brasileiros no Haiti.


O presidente Lula pode desagradar a muitas pessoas, por ter saltado etapas em sua realização pessoal. Ele deixou o chão da fábrica para liderar seus companheiros de classe e se tornou dirigente político e presidente da República. É um pecado imperdoável: não enfrentou o vestibular, não teve que cavar empregos seguros ou casamentos de conveniência para se tornar vitorioso: enfim, não serve de modelo para a formação de uma juventude alienada e consumista, instrumento para a segurança de parcelas das elites. É provável que, no caso do Haiti, o presidente reaja como o menino que enfrentou as cheias na periferia de São Paulo e conhece de perto a solidariedade dos pobres.


O Brasil, como um todo, não sendo ainda um país rico, age como seus pobres. Não há nenhum mérito em dar o que nos sobra. O mérito está em repartir o que temos e do que necessitamos. Poeta mais conhecido em Minas, Djalma Andrade resumiu este sentimento ao pedir a Deus que nunca o deixasse comer sozinho o pão que pudesse partir em dois pedaços.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Honduras: Anistia Internacional pede castigo para crimes do governo golpista

Anistia Internacional exorta Lobo a punir bestas-feras de Micheletti


Por Celso Lungaretti


Graves violações de direitos humanos foram cometidas pelo governo golpista de Roberto Micheletti, com os agentes de segurança hondurenhos fazendo "uso excessivo da força" ao reprimirem protestos contra a deposição do presidente constitucional Manuel Zelaya.


A conclusão é da Anistia Internacional, a mais respeitada ONG dedicada à defesa dos direitos humanos em todo o planeta, cujos representantes, depois de ouvirem "dezenas de testemunhas", saíram de Honduras convencidos de que ocorreram execuções ilegais, torturas, estupros e prisões arbitrárias no período subsequente ao 28 de junho em que Zelaya foi arbitrariamente expulso do país:


“Centenas de pessoas que se opunham ao golpe de Estado foram agredidas e detidas pelas forças de segurança durante os protestos nos meses seguintes. Mais de dez teriam sido mortas durante os conflitos, de acordo com relatos”.


No relatório que acaba de divulgar, a AI garante, ainda, que ativistas de direitos humanos, líderes oposicionistas e juízes sofreram ameaças e intimidações; e que meninas e mulheres foram abusadas sexualmente.


Kerrie Howard, vice-diretora da AI para as Américas, exige providências do presidente eleito de Honduras, Porfírio Lobo, que tomará posse nesta 4ª feira (27):


"O presidente Lobo deve garantir um novo começo para os Direitos Humanos em Honduras ao garantir que os abusos cometidos desde o golpe de Estado não sejam esquecidos nem fiquem impunes".
Lobo, entretanto, já anunciou que pretende fazer aprovar uma anistia ampla, beneficiando tanto Zelaya e seus partidários quanto os golpistas de Micheletti.


Algo assim como a Lei de Anistia brasileira, que igualou as atrocidades cometidas pela repressão política aos atos praticados por civis que resistiam ao despotismo.


Há, claro, diferenças entre ambos os golpes:


- os militares brasileiros viraram a mesa sem terem o aval de nenhum Poder, enquanto em Honduras o Legislativo e o Judiciário respaldaram o afastamento de Zelaya;
- mas, Manuel Zelaya foi privado do seu direito constitucional de defender o mandato que conquistou nas urnas, pois o expulsaram ilegalmente de Honduras, ao invés de julgarem-no pela tentativa promover um plebiscito talvez ilegal;
- então, o governo de Micheletti acabou sendo tão ilegítimo quanto o dos generais ditadores do Brasil, e os atos de que a AI o acusa devem ser chamados pelo que foram, terrorismo de estado para preservar uma tirania;
- e, como o afastamento de Zelaya não cumpriu os rituais democráticos, ele e seus partidários não são, até agora, culpados de delito nenhum, apenas acusados;
então, não tem o mínimo cabimento colocar no mesmo plano tais acusações e os assassinatos, torturas, estupros e intimidações perpetrados pelo governo ilegal de Micheletti.


Aqui também cabe um paralelo, com a tese ridícula e juridicamente indefensável que Ives Gandra Martins e outros defensores da ditadura brasileira difundem, de que supostas intenções totalitárias das forças de esquerda justificariam a derrubada de um presidente legítimo e a imposição do totalitarismo no Brasil por parte dos golpistas de 1964.


Concluindo: está certíssima a AI quando exorta Lobo a levar aos tribunais as bestas-feras de Honduras.


E Zelaya jamais deve aceitar uma anistia que o coloque no mesmo plano dessas bestas-feras.


Se for este o preço para viver livremente e retomar a carreira política em seu país, a única opção digna para ele é mesmo o exílio.


Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Mantém o blog "Náufrago da Utopia", é autor de livro homônimo sobre sua experiência durante a ditadura militar e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

"Virei sem-terra e passei pra faculdade"

[caption id="attachment_3261" align="aligncenter" width="468" caption="MULTIDÃO Reunião em 2009 juntou cerca de 40 mil pessoas em São Paulo. A presença no evento ajuda a garantir descontos na faculdade Foto Rogério Cassimiro"][/caption]

Como eu e 70 mil jovens conseguimos vaga e desconto na universidade aderindo a uma entidade ligada a um deputado do PSDB e a uma ala da Igreja


Por Mariana Sanches, na revista Época, de 22/01/2010


Quando entrei em um galpão do bairro da Lapa, em São Paulo, às 10 horas da manhã de uma quarta-feira, nada na fachada azul do prédio permitiria antever a mudança de status social que sofreria em poucos minutos. Eu, jornalista, nascida em São Paulo, sem aspiração de vida no campo ou engajamento na reforma agrária, precisei de apenas uma foto 3x4 e R$ 1para me transformar em sem-terra de carteirinha. Encontrei quase 50 jovens na sede da Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo (ATST). Um deles desembarcara de um automóvel Audi. Todos queriam tirar a carteirinha da associação, passaporte para ingressar em cursos de graduação oferecidos por faculdades privadas paulistas com descontos de até 65%.


Sem alarde, a associação instalou nos bancos universitários 70 mil jovens, o equivalente a 12% do total de beneficiados pelo ProUni, o programa do governo federal de distribuição de bolsas em faculdades. A quantidade de universitários sem-terra seria o bastante para ocupar todas as vagas da Universidade de São Paulo (USP), a maior instituição de ensino público do Brasil. Apesar de usar em seu nome a expressão “sem-terra”, a ATST surgiu há 23 anos como um movimento de moradia urbano. Logo após a fundação, dissociou-se do PT, que influencia a maioria das entidades do gênero. Por trás de sua engrenagem estão instituições de ensino, uma ala conservadora da Igreja Católica e o deputado estadual Marcos Zerbini (PSDB-SP), que criou e dirige a associação. No meio político, o grupo ganhou a alcunha de “MST tucano”.


Meu percurso até a realização do recorrente sonho de entrar na faculdade levou alguns meses. Transformada em sem-terra, precisei frequentar oito reuniões semanais com dirigentes da associação para conhecer as regras da entidade. A associação impõe disciplina espartana: não se admitem faltas ou atrasos, não é permitido usar o celular, levar acompanhantes ou ir ao banheiro, que fica trancado durante as reuniões. As sessões são iniciadas com orações. Primeiro um pai-nosso, depois uma ave-maria. Em seguida, instruções mais mundanas. Fui informada de que só conseguiria o desconto na faculdade se marcasse presença em nove dos 12 encontros mensais da associação. Além disso teria de pagar a taxa de associado, R$ 84, em três parcelas de R$ 28. Somente depois de pagar a primeira parcela pude prestar o vestibular que me daria acesso a um curso de graduação com desconto. No campus da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), respondi a 20 questões de múltipla escolha e escrevi uma redação. Fui aprovada e me matriculei no curso de Direito. Como “sem-terra”, paguei uma mensalidade de R$ 281,22, valor 65% menor do que um estudante sem vínculo com o “MST tucano” paga pelo mesmo curso.


O convênio entre as faculdades e a ATST existe há seis anos. Pelo menos 20 instituições de ensino de São Paulo fazem ou já fizeram parceria com os “sem-terra”. Elas dizem que oferecem seus cursos a valores acima do preço de custo, mas com margem de lucro reduzida. “O que Marcos Zerbini faz é corretagem de aluno”, diz um reitor participante do convênio. “O volume de estudantes da associação é tão grande que as faculdades aceitam negociar condições especiais.” Funcionários das faculdades afirmam que descontos dessa magnitude são inatingíveis para quem não se matricula como sem-terra. “É um bom negócio para as universidades porque elas têm vagas ociosas e nossos alunos ajudam a ocupá-las”, diz Zerbini. De acordo com o Censo de Educação Superior de 2008, há no Brasil 1,4 milhão de carteiras universitárias não preenchidas. Além de aumentar sua clientela (“80% dos nossos alunos vêm da associação”, disse um dos funcionários da UMC enquanto eu fazia a matrícula), muitas faculdades têm pleiteado isenções fiscais com a justificativa de que prestam serviço social ao oferecer bolsas de estudos para sem-terra. O movimento dos sem-faculdade é a maior fonte de dinheiro da associação, registrada na Receita Federal como uma instituição sem fins lucrativos. Se cada um dos 70 mil universitários pagasse suas taxas de associado, a associação arrecadaria R$ 6 milhões por ano. Segundo Zerbini, a inadimplência faz a arrecadação cair para R$ 3 milhões anuais.


Desde 1986, a associação já ajudou 17.500 famílias a comprar terrenos para construir casa. São cerca de 100 mil pessoas instaladas em 26 áreas na região metropolitana de São Paulo.


Em vez de invadir áreas, o movimento compra grandes terrenos, divide em lotes de 80 metros quadrados e os revende aos associados. Cada comprador deve construir a casa em que vai morar com recursos próprios. Não há padrão predefinido para as obras. Esse modelo é questionado pelo Ministério Público de São Paulo. Mais de 15 anos depois de construir suas casas, a maior parte dos assentados nunca conseguiu regularizar a situação do imóvel. “Eu e meus vizinhos não temos escritura. Fomos nós que colocamos asfalto aqui, os postes de energia, a placa da rua”, diz Valdemir Teixeira Lima, morador de uma das áreas criadas pela associação, no Jaraguá, em São Paulo. Os associados dizem que tão logo as áreas eram compradas, o povo se instalava, sem esperar pelas autorizações legais. “Não se fazia nem um trabalho de terraplenagem. Em alguns lugares, houve desmoronamentos. E não se podia cobrar nada da prefeitura porque as ocupações eram irregulares”, diz um arquiteto que trabalhou para a associação. A ATST foi processada pelo MP por ter criado loteamentos clandestinos. Acabou fazendo acordos para regularizar a situação. Em 2004, o MP investigou também a denúncia de que a associação assentava a população na reserva ambiental do Parque Estadual do Jaraguá. Embora registre que árvores foram indevidamente cortadas e que a área não poderia ser transformada em bairro, o processo foi arquivado.


A parceria da associação com as faculdades surgiu em um momento em que a fiscalização sobre a ocupação de terras na periferia de São Paulo se intensificou e novas áreas vazias se tornaram mais raras. O deputado Marcos Zerbini diz ter sido procurado em 2004 por um grupo de jovens interessado em cursar o ensino superior. “Como não havia jeito de criarmos nossa própria universidade, fui negociar descontos com as faculdades”, diz. De acordo com ele, como a empreitada foi bem-sucedida, no semestre seguinte uma enxurrada de vestibulandos invadiu a sede da associação. Zerbini diz ter sido impelido a criar uma estrutura robusta para dar conta da demanda. “Desde que conheci o Zerbini, há quase 20 anos, procuro pela cidade um outro organizador social como ele e nunca encontrei”, afirma Alberto Goldman, vice-governador de São Paulo. “Na década de 1990 ele conseguia fazer mais habitação do que qualquer órgão do Estado. Agora parece ir no mesmo rumo com as faculdades.”


Clique aqui para ler o restante da matéria.

O que não estamos a ouvir acerca do Haiti: PETRÓLEO


Por Marguerite Laurent, publicado originalmente em inglês* em Outubro de 2009. Confira o texto orignal: pakalert.wordpress.com (neste endereço está disponível um vídeo, em inglês, sobre o assunto)


"Há prova de que os Estados Unidos descobriram petróleo no Haiti décadas atrás e que devido a circunstâncias geopolíticas e a interesses do big business foi tomada a decisão de manter o petróleo haitiano na reserva para quando o do Médio Oriente escasseasse. Isto é pormenorizado pelo dr. Georges Michel num artigo datado de 27/Março/2004 em que esboça a história das explorações e das reservas de petróleo no Haiti, bem como na investigação do dr. Ginette e Daniel Mathurin.


Também há boa evidência de que estas mesmas grandes companhias de petróleo estado-unidenses e seus monopólios inter-relacionados de engenharia e empreiteiros da defesa fez planos, décadas atrás, para utilizar portos de águas profundas do Haiti tanto para refinarias de petróleo como para desenvolver parques de tancagem ou reservatórios onde o petróleo bruto pudesse ser armazenado e posteriormente transferido para pequenos petroleiros a fim de atender portos dos EUA e do Caribe. Isto é pormenorizado num documento acerca da Dunn Plantation em Fort Liberté , no Haiti.


A HLLN de Ezili [1] sublinha este documentos sobre recursos petrolíferos do Haiti e os trabalhos do dr. Ginette e Daniel Mathurin a fim de proporcionar uma visão não encontrável nos media "de referência" nem tão pouco se encontra em qualquer outro lugar as razões económicas e estratégicas porque os EUA construíram a sua quinta maior embaixada do mundo — a quinta, após a embaixada dos EUA na China, no Iraque, no Irão e na Alemanha — no minúsculo Haiti, após a mudança do regime haitiano pelo governo Bush.


Os factos esboçados na Dunn Plantation e nos documentos de Georges Michel, considerados em conjunto, desvelam razoavelmente parte das razões ocultas porque os Enviado Especial da ONU ao Haiti, Bill Clinton , está à ocupação da ONU o aspecto de que as suas tropas permanecerão no Haiti por longo período.


A HLLN de Ezili tem afirmado reiteradamente, desde o princípio da mudança de regime do Haiti em 2004 pelo regime Bush, que a invasão do país pelos EUA em 2004 utilizou tropas da ONU como suas procuradoras militares para esvaziar a acusação de imperialismo e racismo. Também temos afirmado reiteradamente que a invasão e ocupação do Haiti pela ONU/EUA não se refere à protecção dos direitos haitianos, a sua segurança, estabilidade e desenvolvimento interno a longo prazo mas sim acerca do retorno dos Washington Chimeres [gangters] – os tradicionais oligarcas haitianos – ao poder, o estabelecimento de comércio livre injusto, o plano mortal dos Chicago boys, políticas neoliberais, manutenção do salário mínimo a níveis de trabalho escravo , pilhagem dos recursos naturais e riquezas do Haiti , para não mencionar o benefício da localização pois o Haiti está entre Cuba e a Venezuela. Dois países em que, sem êxito, os EUA têm orquestrado mudanças de regime mas continuam a tentar. Na Dunn Plantation e nos documentos Georges Michel, descobrimos e novos pormenores como a razão porque os EUA estão no Haiti com esta tentativa de Bill Clinton para que as ocupações da ONU continuem.


Recursos minerais do Haiti.




Não importam os disfarces ou a desinformação dos media**, trata-se também das reservas de petróleo do Haiti e de assegurar portos de águas profundas no Haiti como local de transbordo (transshipment) para petróleo ou para armazenagem de petróleo bruto sem a interferência de um governo democrático obrigado para com o bem-estar da sua população. (Ver Reynold's deep water port in Miragoane / NIPDEVCO property .)



No Haiti, entre 1994 e 2004, quando o povo tinha voz no governo, havia um intenso movimento das bases para conceber como explorar os recursos do país. Havia um plano, explicitado no livro "Investir no povo: Livro Branco de Lavalas sob a direcção de Jean-Bertrand Aristide" (Investir dans l'humain), onde a maioria dos haitianos "foi não só informada onde estavam os recursos, mas que não tinham as qualificações e tecnologia para realmente extrair o ouro, extrair o petróleo".



O plano Aristide/Lavalas, como articulei na entrevista Riquezas do Haiti , era "empenhar-se em alguma espécie de parceria privada/pública. Nesta, seria considerado tanto o interesse do povo haitiano como naturalmente o dos privados que receberiam os seus lucros. Mas penso que isto foi naquele momento em que tínhamos St. Gevevieve a dizer que não gostavam do governo haitiano. Obviamente, eles não gostavam deste plano. Eles não gostam que o povo haitiano saiba onde estão os recursos. Mas este livro – pela primeira vez na história do Haiti – foi escrito em crioulo e em francês. E houve uma discussão nacional em todas as rádios do Haiti acerca de todos estes vários recursos do Haiti, onde estavam localizados e como o governo haitiano tencionava tentar construir desenvolvimento sustentável através daqueles recursos. Era o que acontecia antes de em 2004 Bush mudar o regime do Haiti através de golpe de estado. Agora, após o golpe de estado, embora o povo saiba onde estão estes recursos porque o livro existe, ele não sabe quem são estas companhias estrangeiras. Nem quais são as suas margens de lucros. Nem quais as regras de protecção ambiental e regulamentações irão protegê-los. Muitos, no Norte por exemplo, falam acerca da perda das suas propriedades, tendo vindo pessoas com armas e tomado a sua propriedade. É assim que estamos" ( Riquezas do Haiti: entrevista com Ezili Dantò sobre mineração no Haiti ).


Os media "de referência", possuídos pelas companhias multinacionais que espoliam o Haiti, certamente não exibem para consumo público o facto de que a invasão e ocupação do Haiti pela ONU/EUA é para assegurar o petróleo do país, posição estratégica, trabalho barato , portos de águas profundas, recursos minerais (irídio, ouro, cobre, urânio, diamantes, reservas de gás), terras, zonas costeiras, recursos offshore para privatização ou a utilização exclusiva de oligarcas ricos do mundo e de grandes monopólios petrolíferos dos EUA. (Ver mapa mostrando algumas das riquezas mineiras e minerais, inclusive cinco sítios de petróleo no Haiti; Oil in Haiti pelo dr. Georges Michel ; Excerto do documento Dunn Plantation ; o Haiti está cheio de petróleo , afirma Ginette e Daniel Mathurin. Há uma conspiração multinacional para tomar ilegalmente os recursos minerais do povo haitiano : Espaillat Nanita revelou que no Haiti há enormes recursos de ouro e outros minerais, Is UN proxy occupation of Haiti masking US securing oil/gas reserves from Haiti ).


De facto, a actual autoridade-haitiana-sob-a-ocupação-EUA/ONU que encarregada de conceder licenças de exploração e mineração no Haiti não explica, de qualquer maneira relevante ou sistemática, à maioria haitiana acerca das companhias a comprarem, após 2004, portos de águas profundas no Haiti, que lucros partilham com o povo do Haiti, não explicam os efeitos ambientais das escavações maciças nas montanhas do Haiti e sobre as águas neste momento. Ao invés disso, o director de Mineração do Haiti alegremente sustenta que "novas investigações serão necessárias para confirmar a existência de petróleo no Haiti" .


Num trecho retirado do artigo postado em 09/Outubro/200 por Bob Perdue, intitulado "Lonnie Dunn, third owner of the Dauphin plantation" , ficamos a saber que: "Em 8 de Novembro de 1973, Martha C. Carbone, da Embaixada Americana em Port-au-Prince, enviou uma carta ao Office of Fuels and Energy, Departamento de Estado, na qual declarava que o Governo do Haiti "... tem diante de si propostas de oito grupos diferentes para estabelecer um porto de transbordo para petróleo em um ou mais portos de águas profundas haitianos. Alguns dos projectos incluem a construção de uma refinaria..." Ela a seguir comentava que a Embaixada conhecia três firmas: Ingram Corporation de Nova Orleans, Southern California Gas Company e Williams Chemical Corporation da Florida.. (Segundo John Moseley, a companhia de Nova Orleans provavelmente chama-se "Ingraham", não Ingram.)


No número de 6 de Novembro de 1972 da revista Oil and Gas Journal, Leo B. Aalund comentava no seu artigo "Vast Flight of Refining Capacity from U.S. Looms",.: "Finalmente, o Haiti de 'Baby Doc' Duvalier está a participar com um grupo que quer construir um terminal de transbordo junto a Fort Liberté, no Haiti". Uma das propostas mencionadas por Carbone estava sem dúvida submetida aos interesses Dunn.


Além disso, ficamos a saber por este artigo que "a Lonnie Dunn que possuía a plantação Dauphin "planeou rectificar e ampliar a entrada da baía [Fort Liberté] de modo a que super-petroleiros pudessem nela entrar e a carga ser distribuída para petroleiros mais pequenos para transferência a portos dos EUA e Caribe que não pudessem acomodar navios grandes..." ( Foto de Fort Liberté, Haiti).


Inserimos no sítio web HLLN as outras partes relevantes deste documento que se referem ao interesse que corporações dos EUA têm tido, durante décadas, em Fort Liberté como porto de águas profundas ideal para multinacionais instalarem uma refinaria de petróleo.


Nas décadas de 50 e 60 havia pouca necessidade dos portos ou do petróleo do Haiti pois do Médio Oriente jorravam dólares em abundância. Para os monopólios que ali actuavam não havia necessidade de enfraquecerem-se a si próprios colocando mais petróleo no mercado e cortarem os seus lucros. Escassez manipulada, teu nome é lucro! Ou, o que equivale dizer, capitalismo.


Mas o embargo petrolífero da década de 70, o advento da OPEP, a ascensão do factor venezuelano, a Crise do Golfo seguida pela guerra pelo petróleo do Iraque, tudo isso tornou o Haiti uma aposta melhor para o fato de três peças e os mercenários militares chamados "governos ocidentais", sim, um meio mais fácil de colocar a pilhagem e o saqueio sob a cobertura pública do "levar a democracia" ou da "ajuda humanitária".


Por acaso, após a mudança de regime de 2004 promovida por Bush filho, a seguir ao golpe militar de 1991 de Bush pai, descobrimos torrentes de "discussões" no Congresso acerca de perfurações off-shore em preparação, com a "revelação" final, tal como escrito há anos no documento Dunn, de que "é necessário para os super-petroleiros que precisam portos de águas profundas os quais não estão prontamente disponíveis ao longo da Costa Leste dos EUA – assim como por considerações ambientais e outras que não permitem a construção de refinarias internas na escala em que serão necessárias".


Enfatizamos que o Haiti é um local de despejo ideal para os EUA/Canadá/França e agora o Brasil , pois questões ambientais, de direitos humanos, de saúde e outras nos EU e nestes outros países provavelmente não permitiriam a construção de capacidade de refinação interna na escala em que as novas explorações de petróleo neste hemisfério exigirão. Assim, por que não escolher o país mais militarmente indefeso do Hemisfério Ocidental e salpicá-lo com iniciativas de desestabilização por trás da máscara "humanitária" da ONU e os paternais cabelos brancos de Bill Clinton com uma cara sorridente?


É relevante notar aqui que a maior parte dos principais portos de águas profundas do Haiti foram privatizados a partir da mudança de regime promovida por Bush em 2004. Também é relevante notar que no ano passado escrevi um artigo intitulado Is the UN military proxy occupation of Haiti masking US securing oil/gas reserves from Haiti : "Se há reservas significativas de petróleo e gás no Haiti, o genocídio e os crimes dos EUA/Europa contra a população haitiana ainda não começaram. Ayisyen leve zye nou anwo, kenbe red. Nou fèk komanse goumen. (Reler Is there oil in Haiti , de John Maxwell.)


As revelações do dr. Georges Michel e dos documentos Dunn Plantation parecem responder afirmativamente à questão de que há reservas substanciais de petróleo no Haiti. E a nossa informação no Ezili Dantò Witness Project é que na verdade está a ser aproveitada, mas não para o benefício dos haitianos ou do desenvolvimento autêntico do Haiti. Eis porque havia a necessidade de marginalizar as massas haitianas através do derrube do governo democraticamente elite de Aristide e de colocar as armas e a ocupação da ONU que hoje mascaram os EUA/europeus (com uma peça para o novo poder que é o Brasil) assegurando as reservas de petróleo e gás do Haiti e outras riquezas minerais tais como ouro, cobre, diamantes e tesouros submarinos. ( Majescor and SACG Discover a New Copper-Gold in Haiti , Oct. 6, 2009; Ver Haiti's Riches e There is a multinational conspiracy to illegally take the mineral resources of the Haitian people : Espaillat Nanita revelou que no Haiti há enormes recursos de ouro e outros minerais.)


Hoje, os EUA e os europeus dizem estar felizes com os "ganhos de segurança" do Haiti e com o seu governo "estável". Quer dizer: as últimas eleições presididas pelos EUA/ONU no Haiti excluíram o partido maioritário de qualquer participação. As prisões do Haiti estão cheias, desde 2004, com milhares de organizadores comunitários, civis pobres e dissidentes políticos que os EUA/ONU etiqueta como "gangsters", detidos indefinidamente sem julgamento ou audiências. A Cité Soleil foi "pacificada". Desde 2004 há mais ONGs e organizações caritativas no Haiti – cerca de 10 mil – do que em qualquer outro lugar do mundo e o povo haitiano está muitíssimo pior do que antes desta civilização EUA/ONU (também conhecida como "Comunidade Internacional") e seus bandidos, ladrões e esquadrões da morte corporativos que cassam os direitos de nove milhões de negros. Os preços dos alimentos estão demasiado altos, alguns recorrem ao pão que o diabo amassou na forma de biscoitos Clorox para aliviar a fome.


Lovinsky Pierre Antoine , o dirigente da maior organização de direitos humanos do Haiti, foi desaparecido em 2007 no Haiti ocupado pela ONU sem que qualquer investigação fosse efectuada. Entre 2004 e 2006, sob a ocupação ocidental, primeiro pelos Marines dos EUA e a seguir pelas tropas multinacionais encabeçadas pelo Brasil, de 14 mil a 20 mil haitianos, principalmente quem se opunha à ocupação e à mudança de regime, foram chacinados com impunidade total. Mais crianças haitianas estão fora da escola hoje em 2009 do que antes de vir a "civilização" EUA/ONG após 2004. Sob o regime imposto pelos EUA em Boca Raton, o Supremo Tribunal do Haiti foi despedido e outro completamente novo, sem qualquer autoridade constitucional emanada de mandato do povo do Haiti, substituiu os juízes legítimos e os funcionários judiciais sob a tutela da ocupação da ONU e da comunidade internacional.


(...)


[1] Ezili: Marguerite Laurent/Ezili Dantò é dramaturga, poeta, comentadora política e social, escritora e promotora de direitos humanos. Nasceu em Port-au-Prince e foi educada nos EUA. Para mais informações sobre a autora, confira: http://www.ezilidanto.com


*Observem que a tradução está em português de Portugal e foi reproduzida de http://resistir.info/


**"Os media" são os jornalistas.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Vai em frente Dilma, Saravá!



Vai em frente Dilma, Saravá!


Por Rui Martins


Berna (Suiça) - Quando estávamos terminando o curso de Direito, no Largo de São Francisco, em 1963, criou-se, como de praxe, uma Comissão da Formatura. Naquela época, eu já não era um presbiteriano ativo e me debatia com as dúvidas que me levariam à descrença, principalmente depois da IPB ter tomado o partido dos militares.


Era um ano politicamente quente com os grandes debates das reformas de base, e a passagem pelas Arcadas de Leonel Brizola com seu verbo inflamado respondendo às acusações levantadas contra Jango pelo líder udenista Carlos Lacerda.


O mais importante era talvez a crença, entre os jovens, de que se podia mudar o mundo, por isso cada um de nós (não sei se mantenho esse comportamento do passado) estava sempre pronto a entrar numa trincheira, mesmo sem armas, para defender idéias de igualdade social, de combate à miséria com todo o ardor da juventude.


Ora, vez ou outra, nos intervalos das aulas (eu fazia o curso noturno), apareciam os membros da Comissão de Formatura para contar como iam organizar nossa festa, quanto poderia custar, onde ia ser o baile e como deveríamos pagar nossa parte. E numa dessas noites, fomos informados sobre a missa da formatura. Eu, pessoalmente, nunca imaginara que, numa Faculdade de Direito pública da USP, pudesse haver missa numa festa de formatura.


Pedi informações, e me foram dadas: era praxe (meus colegas advogados têm uma atração por palavras desse tipo e mantenho o original) os formandos pedirem a celebração de uma missa. O arcebispo já havia sido contatado e a missa seria na prestigiosa Catedral da Sé. « Mas vejam, respondi, nós estudamos numa faculdade pública e isso me parece um tanto estranho ».


- Mas é a tradição, me responderam. Ora, como nas Arcadas de São Francisco a tradição imperava, parecia muito normal mantê-la, mesmo se ao arrepio do princípio da separação da Igreja do Estado.


Como tenho um espírito de provocador (meus leitores já devem ter notado), perguntei como se faria com os protestantes (naquela época não se falava evangélicos), com os ortodoxos e com os judeus (não havia muçulmanos naquele grupo).


- Faremos como vem sendo feito (era de novo a tradição): os cultos não católicos terão o convite em separado e os formandos não católicos entregarão o convite da formatura com a separata aos seus convidados. No convite oficial só constará a Missa.


Como tenho o pavio curto, me levantei do lugar em que estava, no grande anfiteatro, e despejei tudo quanto pensava sobre esse desrespeito aos colegas de outros cultos e essa visão distorcida do direito de livre culto justamente por estudantes de Direito. Virou um enorme bate-boca com a intervenção de outros que passaram a me apoiar, no meio da reação de católicos que se consideravam insultados com a petulância de se querer quebrar uma velha tradição arcadiana.


O professor apareceu na porta, era hora de começar a aula, a discussão parou ali, mas de volta à minha República redigi um texto para abaixo-assinado e, já na manhã seguinte, fui ao curso diurno, expliquei aos colegas o incidente e pedi assinaturas. Em alguns dias, as assinaturas encheram duas ou três páginas, porque mesmo católicos, futuros advogados preferiam o respeito à laicidade que o privilégio de um culto sobre os outros.


Para evitar uma perda do abaixo-assinado, pedi a um colega fotografar com flash a entrega do documento ao presidente da Comissão. Para encurtar, o responsável pela Catedral da Sé informou que só haveria missa naquela igreja, se a cerimônia constasse no convite oficial e sem a presença de outros cultos religiosos. E, finalmente, todos os cultos de ação de graças inclusive a missa acabaram em convites em separado, como manda a laicidade.


Conto esse episódio para enfatizar, como não religioso, que todos os cultos e religiões devem ser livres em termos iguais. Hoje no Brasil, segundo denúncias feitas ao Comissariado de Direitos Humanos em Genebra, estão se registrando casos de ataques e violências contra umbandistas por evangélicos. Li, no caso do terremoto do Haiti, ter havido absurdas declarações de líderes evangélicos nos EUA e talvez no Brasil de ter sido um castigo de Deus ao paganismo haitiano.


É fato notório que nem todas as religiões são adeptas do ecumenismo e que chegam mesmo a insuflar o ódio e a guerra, como acontece hoje em alguns países e como aconteceu no passado com as Cruzadas e Isabel da Espanha, sem se esquecer a Inquisição. Por isso, o nosso moderno Estado de direito precisa estar atento a fim de evitar privilégios religiosos, perseguições ou desigualdades.


Os terreiros de umbanda são uma realidade no Brasil e devem gozar de todo direito das outras religiões. No Senado Federal, havia, não sei se foi aprovado, um projeto de lei restabelecendo o ensino religioso católico nas escolas em lugar de um ensino opcional das religiões em geral, como ocorre aqui na Europa, tais preferências e deslizes devem ser evitados.


Arthur Clarke, o autor do livro 2001, Odisséia no Espaço, levado ao cinema por Kubrick, previu um mundo futuro sem religião, mas enquanto não chegamos lá, é preciso se respeitar todos os cultos. Se Dilma acha que, por questão eleitoral, não deve reconhecer agora o direito dos terreiros de umbanda, não pode esquecer de fazê-lo nos seus primeiros meses de governo.


Nossas boas-vindas a Rui Martins, colunista do site Direto da Redação. Ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criador dos "Brasileirinhos Apátridas" e da proposta de um Estado dos Emigrantes. Vive em Berna, na Suíça, de onde colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, e, a partir de hoje, com o blog "Quem tem medo do Lula?"

sábado, 23 de janeiro de 2010

Imperdível: Veríssimo defende o PNDH-3 - e no jornal "O Globo"!

Planos e direitos


Por Luís Fernando Veríssimo, no "O Globo", de quinta, 21 de Janeiro


Só li do tal Plano Nacional de Direitos Humanos o que saiu, em fragmentos, nos jornais. Se entendi bem, o que eu duvido, este plano é uma versão revisada de um anterior, que por sua vez era uma revisão de um mais antigo. O que sugere que ou o novo plano altera radicalmente as propostas dos outros ou o escândalo que se faz com ele é indefensável. Por que o escândalo, e só agora?* Pelo que li, não são grandes as diferenças entre o terceiro plano e os dois anteriores, inclusive o que é dos tempos do Fernando Henrique.


E não há discrepância entre suas propostas e o que está em discussão, hoje, no resto do mundo civilizado. Coisas como a descriminalização do aborto e o casamento de gays são debates modernos, mesmo que não impliquem em mudanças imediatas. A proibição de símbolos religiosos em repartições públicas é consequência lógica do velho preceito da separação de igreja e estado, que não deveria melindrar mais ninguém — pelo menos não neste século. A idéia de novos anteparos jurídicos para mediar os conflitos de terra é de uma alternativa sensata para a violência de lado a lado. E a obrigação de proteger os direitos e a integridade de qualquer um da prepotência do estado e do excesso policial, alguém é humanamente contra? O novo plano peca pela linguagem confusa e inadequada, em alguns casos. A preocupação com o monopólio da informação de grandes grupos jornalísticos, e com a qualidade da programação disponível, também é comum em todo o mundo.Muitos países têm leis e restrições para enfrentar a questão sem que configurem ameaças à liberdade de opinião e de expressão. E sem sugerir o controle de redações e o poder de censura que o tal plano — em passagens que devem ser imediatamente cortadas, e seus autores postos de castigo — parece sugerir.


Sobra a questão militar. Em nenhum fragmento do plano que li se fala em anular a anistia. O direito humano que se quer promover é o do Brasil de saber seu passado, é o direito da Nação à memória que hoje lhe é sonegada. Só por uma grande falência da razão, por uma irrecuperável crise semântica, se poderia aceitar verdade como sinônimo de revanche.


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Clique aqui para saber o que diz o "PNDH-3".


*Obs. minha: essa é a melhor parte... POR QUE?


Ana Helena Tavares

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Open House do capitalismo - Big Stick



Open House do capitalismo - Big Stick


Por Laerte Braga

O presidente “eleito” de Honduras, Porfírio Lobo, toma posse dia 27 e “reinaugura” a “democracia cristã e ocidental” em seu país. Vai ter as bênçãos de Washington, do cardeal primaz, de banqueiros, latifundiários, grandes empresários, tudo num open house do capitalismo, sob a batuta dos militares.


Esses se dividirão em dois grupos. Os poderosos chefões vão para o palácio. Os esbirros de menor patente para as ruas. A tarefa é simples. Prender e arrebentar quem se opuser ao “processo democrático”. Vale dizer a maioria do povo hondurenho que continua a luta contra o golpe que depôs Manuel Zelaya.


Janet Napolitano, secretária de Segurança Interna do governo de Barack Obama disse na Espanha que os terremotos que sacudiram e destruíram o Haiti não podem ser “encarados como oportunidade de emigrar para os Estados Unidos”. O termo oportunidade é complicado. Pura presunção de quem parece ser também ou imigrante, ou descendente.


A UNICEF denunciou publicamente o desaparecimento de quinze crianças desacompanhadas e internadas num hospital haitiano. Segundo porta-voz da UNICEF é provável que tenham sido “seqüestradas por traficantes de crianças”.


Na cabeça de Janet Napolitano a decisão do governo dos EUA, tomada antes dos terremotos, de legalizar a presença de haitianos clandestinos no seu país, vai permitir “que eles arranjem empregos e façam remessas de dinheiro para suas famílias”. É outra face da “ajuda” norte-americana.


Num país, os EUA, onde a crise foi apenas atenuada e maquiada por dados oficiais, haitianos clandestinos e agora legalizados, vão entrar para o clube dos desempregados, ou dos subempregados. Vão se juntar a milhões de cidadãos nativos que permanecem nos porões/abrigos, que segundo Barbra Bush, mulher do ex-presidente George pai Bush, têm vida melhor, pois “aqui fazem três refeições por dia”.


Fugir para os EUA não significa que a vida de haitianos vá se transformar. Que estejam querendo sair do inferno e correr para o paraíso. Essa atração dos luminosos de Manhattan acontece em qualquer lugar do mundo. Levas de homens, mulheres e crianças buscando encontrar uma luz no fim do túnel nos países do chamado primeiro mundo, ou o próprio processo migratório em cada país, onde as pessoas do campo fogem para as cidades grandes acreditando piamente que viver em favelas é melhor que a realidade de cada um.


No Brasil, por exemplo, já se observa sinais de um movimento inverso. Boa parte dos 57% de paulistanos que declarou ter o desejo de sair da capital de São Paulo, com toda a certeza, não é nativa.


É óbvio. O CGE – Centro de Gerenciamento de Emergências – do governo de São Paulo (O prefeito é do DEM) não mostra, em seus relatórios diários sobre os efeitos das fortes chuvas que estão caindo, todos os pontos alagados. Para diminuir o impacto de um problema que atinge a cidade, monitora menos de 5% da área do município.


A explicação é simples. O levantamento é feito por “marronzinhos”, definição do CGE, que notificam onde a chuva encheu ou não e apenas no centro da capital e imediações. A periferia dane-se.


Os caras sabem, lógico. Quando acontecem cheias como as que têm sido exibidas pelos noticiários da tevê, conseqüências como corte de luz, falhas no sistema de telefonia são relatadas de imediato às empresas responsáveis, riscos de desabamentos são notificados à Defesa Civil, o problema é maquiar e dizer que o governo trabalha diuturnamente para resolver todas as mazelas provocadas pelas chuvas.


No Haiti existe, segundo a ONU, um conflito entre várias das ONGs que acorreram ao país na missão de ajudar, salvar e reconstruir. Para os funcionários da ONU muitas ONGs disputam a primazia do noticiário internacional e em seus países de origem em puro exercício de exibicionismo. O número de assessores de imprensa costuma ser maior que o de “ajudadores”.


O fato tem causado transtornos e atrapalhado a eficiência dos trabalhos de resgate, distribuição de alimentos, água, socorro médico, etc. Essas ONGs, na prática, estão de olho nos repasses de verbas e contribuições para que possam “funcionar” a pleno vapor, quando não disfarçam ações de potências estrangeiras, ou empresas interessadas em controle do país, no caso o Haiti e dos ”negócios”.


Tem um monte de tantas assim na Amazônia.


O arcebispo auxiliar da arquidiocese de São Paulo, D. José Benedito Simão, acha normal a Comissão Regional de Defesa da Vida do Regional Sul-1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), chamar o presidente da República de “novo Herodes”.


É que o Plano Nacional de Direitos Humanos trata de questões sensíveis à cúpula católica. Aborto, homossexuais e lésbicas, adoção de crianças por casais homo. Lula ou o Secretário de Direitos Humanos, um ou outro se esqueceu de incluir a pedofilia, os “direitos dos pedófilos” e os milhões de dólares gastos pelo Vaticano para manter por baixo dos panos os escândalos envolvendo desde padres a alguns altos dignatários da igreja.


E depois não entendem onde um charlatão como Edir, o Macedo, encontra terreno fértil para os sacos de dinheiro que se amontoam e terminam em Miami. Acham que é só copiar os rituais e trocar de nome, algo como renovação carismática.


Uma coisa é a fé, a convicção religiosa, direito líquido e certo, questão de foro íntimo, outra coisa é a fachada para ações assim que nem a da turma de D. José Benedito Simão. Parece o arcebispo de Mariana que mandou retirar de circulação um jornal que criticou o governo de Aécio Neves.


A mídia nacional deu destaque às vaias aplicadas ao prefeito da cidade mineira de Juiz de Fora e ao secretário estadual de Saúde do governo Aécio Neves, respectivamente Custódio Matos e Marcus Pestana, o que levou o governo de Minas a reagir e prestar solidariedade a seus “correligionários”, digamos assim.


Custódio Matos, o que ajudou Azeredo a captar recursos junto a Marcus Valério, realiza um dos governos mais corruptos dentre todos de todos os municípios brasileiros e Marcus Pestana transformou a Secretaria de Saúde do Estado num grande negócio privado, onde é sócio em tudo através de laranjas. Naquela hora faltaram os marqueteiros, uma espécie de bússola das mentiras tucanas. Aí, desandou, pois os caras estão acostumados a open house fechados, por contra senso que possa parecer. Restrito aos que pagam (propinas), caso Queiroz Galvão e um ou outro lambe botas.


Impávido, tranqüilo na Cervejaria Casa Branca, o presidente Barack Obama, primeiro mutante eleito para o cargo (tem a pele negra e a ideologia branca) manda que se passe por cima de tudo e todos na “ajuda” ao Haiti e no novo governo de Honduras.


Para tanto, nesse open house do capitalismo, atropela a ONU (não foi convidada, fica olhando na entrada da festa), tenta calar reações de governos como o brasileiro e o francês, mantém em alerta os militares que cuidam da “democracia” hondurenha na base de Tegucigalpa (escola de golpes) e ganha um aliado.


O presidente eleito do Chile, Piñera, já insinuou que o governo da Venezuela não é democrático. É que Chávez expropriou uma rede de supermercados que vivia (como vivem todos) de extorsão contra o consumidor. Pinochet, de quem Piñera foi amigo, esse sim, é democrata.


Na opinião de experts da alta costura na Europa, o problema da moda brasileira é o acabamento. Peca no acabamento, no arremate.


O técnico do Corinthians afirma que vai promover um rodízio de gols para evitar que apenas um atacante, no caso Ronaldo, chamado de “o gordo”, tenha destaque. Lembra o técnico Duque instruindo os jogadores do Fluminense sobre como empatar um jogo com o América e virar o resultado. Assentado e ouvindo atentamente a explanação do treinador, Gerson, um dos maiores jogadores de todos os tempos no futebol brasileiro e mundial, perguntou a Duque se ele já havia combinado aquilo com o técnico e o time adversário.


Não existem motivos para preocupações maiores. Porfírio Lobo vai assumir o governo de Honduras no dia 27, a borracha vai cantar em quem for contra, a democracia vai estar salva, como garantidas as instituições cristãs e ocidentais e um grande baile vai marcar a data. O open house será para banqueiros, latifundiários, empresários norte-americanos, generais, elites podres do país e o resto lambe com a testa.


Ou como poeira nessa farsa de exploração que é o capitalismo. O diabo é que a poeira vem em seguida à borduna baixada pelos militares.


O que é o de menos para eles, em todos os lugares existem CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências). Seja para prender e arrebentar quem não se conforme com a democracia cristã e ocidental, ou quem esteja debaixo de água. Ou pior, soterrado em escombros no Haiti.


Em boa parte do mundo. E com as bênçãos de cardeal, convidado de honra de Porfírio Lobo para sua posse.


No final sai um relatório com os dados “reais”. Não bate com a realidade, mas isso é detalhe. Qualquer dúvida existem versões do JORNAL NACIONAL em todos os lados e BB – Big Brother – para o gáudio da turma.


Laerte Braga é jornalista e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Haiti, a geologia do império

Foto: Jiro Ose


O envio de mais de 10 mil soldados e marines, e uma frota capitaneada por um porta-aviões nuclear, sem que a ONU fosse sequer consultada, revela uma estratégia por demais conhecida dos Estados Unidos.



Por Gilson Caroni Filho

Enquanto as placas tectônicas do Caribe e da América do Norte não se estabilizam, o povo haitiano vive, mais uma vez, o limite de suas possibilidades históricas. O envio de mais de 10 mil soldados e marines, e uma frota capitaneada por um porta-aviões nuclear, sem que a ONU fosse sequer consultada, revela uma estratégia por demais conhecida. Se a natureza, como a própria guerra, tem as suas próprias leis, os fatos desatados por sucessivos abalos sísmicos servem como exercício para que os Estados Unidos reafirmem a preeminência na América Caribenha, descartando qualquer possibilidade de países vizinhos interferirem em sua supremacia na região.

Quando a secretária de Estado americana Hillary Clinton, a bordo de um avião militar, pronuncia que “o socorro às vítimas do terremoto poderia chegar de forma mais rápida se o Parlamento haitiano aprovasse um decreto dando mais poderes ao presidente René Préval, alguns dos quais poderiam ser delegados aos Estados Unidos como a possibilidade de declarar toque de recolher", suas palavras não podem ser compreendidas fora da lógica dos poderes que comandam a titeragem internacional.

O que lhes interessa (aos poderes), em qualquer circunstância, é executar a estratégia de dominação da grande potência mundial de nossos dias, pouco se importando com a deterioração das condições de vida da população afetada, com os escombros de Porto Príncipe ou com os milhares de mortos que estão sendo enterrados em valas comuns. O que conta é experimentar novas formas de controle sobre países periféricos, organizando uma logística que privilegia a ação militar em detrimento de uma operação humanitária. Não foi à toa que a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma das principais organizações humanitárias da França, acusou os Estados Unidos de prejudicarem as operações de auxílio no Haiti, causando graves atrasos para os médicos que tentam levar ajuda às vítimas.

Convém lembrar que a ostentação da superioridade militar, embora em algumas ocasiões seja grotesca, é uma das características do imperialismo. Os repetidos atos de agressão contra o país mais pobre da América Latina são de conhecimento público. Da ocupação militar estadunidense de 1915 a 1934, seguida do apoio à ditadura dos Duvallier- que tinha por base o terror miliciano dos Tonton Macoutés-, até a participação direta no golpe que depôs, em 1991, o presidente eleito Jean-Bertrand Aristides, a política de terra arrasada sempre foi considerada o “argumento" mais eficaz para contenção geopolítica de ensaios de emancipação.

A despeito da mudança de linguagem em relação ao governo Bush, os adeptos ou intérpretes desse tipo de diplomacia, fundamentam-se, ainda, nos mesmos eixos: segurança hemisférica, defesa de supostos princípios civilizatórios, ameaças do terrorismo internacional e algumas outras variações semânticas. A ocupação do palácio presidencial por uma centena de paraquedistas da 82ª Divisão dos EUA vai bem além do campo simbólico: é a reiteração de uma estratégia de solução baseada no uso unilateral da força, fora dos marcos de legitimidade das Nações Unidas. Sem sutilezas, a intervenção preventiva dá lugar à “guerra justa” de Hillary Clinton.

Para o Departamento de Estado parece não haver dúvidas quanto ao futuro do Haiti. Em um universo regido pelo exercício do poder econômico e militar, a possibilidade de se tornar um novo Protetorado é o melhor destino para um povo que morre cedo e tem uma renda de US$ 560. Na pior das hipóteses, a produção de bolas de baseball terá um considerável incremento.

Se o objetivo é deter a emergência de estratégias de organização da economia e desenvolvimento político social e cultural que escapem às conveniências da hegemonia estadunidense no hemisfério, a geologia pode dar contribuições consideráveis. Placas tectônicas podem liberar uma energia destrutiva impensável.

A acomodação, no entanto, depende de uma generosidade que, para se efetivar, terá que ser encorpada como resistência política. Isso não é assunto exclusivo dos haitianos. Talvez, a associação entre os desiguais nunca tenha sido tão necessária.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?".

Atos patrióticos - Uma grande bananada

Por Laerte Braga


Quando Costa e Silva perguntou a Pedro Aleixo, seu vice-presidente e mais tarde impedido de assumir o cargo pela quartelada de 1969 sobre o AI-5, Aleixo respondeu o seguinte – “eu não estou preocupado com o uso que o senhor fará desse instrumento presidente, mas com o guarda do quarteirão”.


Foi gentil e polido. Costa e Silva era o próprio guarda do quarteirão. Ou foi irônico, o marechal jamais saberia diferenciar uma coisa de outra, gentileza de ironia. Como Figueiredo entendia muito de cavalos.


Na reunião que decidiu pela sanção do AI-5 o “intelectual” Jarbas Passarinho, ministro do governo e membro da Academia Paraense de Letras, lá pelas tantas, ao perceber as idas e vindas de Costa e Silva, aproveitou o momento que o marechal falou em “escrúpulos” para sintetizar a opinião da boçalidade que permeava a maioria do governo àquela época. – “as favas com os escrúpulos presidente”.


Quarenta e cinco dias após o ataque às torres gêmeas do World Trade Center o presidente dos EUA, então o terrorista George Bush, conseguiu arrancar do congresso o ATO PATRIÓTICO. A lei autorizava o governo como um todo, através de suas agências de segurança e inteligência, a prender sem mandados, promover escutas sem ordem judicial, seqüestrar cidadãos hostis fora do território norte-americano e técnicas de interrogatórios mais duras (tortura), para salvar o mundo da destruição.


Norte-americanos acreditam que não existe vida humana racional para além do seu território e pior, se acreditam humanos (é claro que existe uma pequena parcela ainda de humanos por ali, pode crer, existem).


Chamam a si a tarefa de salvar os povos inferiores. É o que se vê no Haiti.


Estão afundados no Afeganistão numa guerra que começa a incomodar a própria opinião pública do país, que percebe a derrota política e militar, guardadas as proporções, um novo Vietnã.


No final do governo de Bush, no afã de limpar a mesa, evitar deixar provas das barbáries cometidas, o Departamento de Justiça, em março de 2007, acusou o FBI (polícia federal) de “não informar oficialmente o uso ilegal do Ato Patriótico”.


O professor Williams Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense apareceu hoje num dos noticiários do canal a cabo GLOBONEWS falando sobre a “arrogância dos norte-americanos” na questão do Haiti. Foi incisivo ao dizer que nessa hora ignoram a ONU, ignoram direitos fundamentais, passam por cima de tudo e todos com seu poder econômico e militar.


Para fazer o contraponto – a situação dos canais da GLOBO no que diz respeito ao Haiti é complicadíssima. A rede é financiada por empresas e pelo governo dos EUA e por outro lado não tem como criticar os militares brasileiros no Haiti. O jeito é a defesa disfarçada dos interesses que representa – os jornalistas globais têm dito que apesar dos pesares eles, os norte-americanos, resolvem.


Na trilogia O PODEROSO CHEFÃO, de Francis Ford Coppola, há um momento em que um comerciante do bairro pede um favor a D. Vito Corleone. No primeiro filme. Recebe o benefício solicitado e fica devedor para uma eventual necessidade do chefão num dado qualquer momento.


O momento surge e é mais ou menos como você pedir a um amigo dez reais emprestados e ele uma semana depois pedir a você para matar um desafeto, ou infringir uma determinada lei. Tudo em nome da amizade. Pediu, tem que aceitar as regras, caso contrário, ATO PATRIÓTICO nele ou o velho AI-5. Ingratidão punida pelas leis da Máfia. O que são os EUA além de grandes máfias reunidas em uma federação?


Barack Obama está se estrepando na incapacidade de ser alguma coisa, pelo menos até agora, que não um produto de marketing. Marca de sabão em pó. Leite que se dissolve instantaneamente. Perdeu eleições em Massachusetts onde os democratas não perdiam há 38 anos. Justo na vaga de um histórico liberal, o senador Ted Kennedy.


Se vai dar a volta por cima é outra história. Na verdade, visto de hoje, parece condenado a um mandato só, mas, como tudo é possível... Americanos do norte adoram cenários de Hollywood e nisso Obama é pole position..


O presidente do Brasil Luís Inácio Lula da Silva foi escolhido pelos representantes dos países que formam o FÓRUM DE DAVOS como o ganhador do prêmio Estadista Global do Fórum Econômico Mundial. A entrega será feita no dia 29 de janeiro e é a primeira edição do prêmio.


Isso autentica a definição de Ivan Pinheiro, secretário geral do Partido Comunista Brasileiro, sobre o “capitalismo a brasileira”, invenção de Lula. Do ponto de vista do modelo, no entanto, reforça o cacife eleitoral de Lula para outubro, cria uma baita saia justa para a mídia colonizado (E Obama, onde fica?) e deve ter provocado um ataque histérico em FHC, doutor com todos os doutorados em todos os cantos, relegado ao ostracismo de sua carne assada e cuscuz paulista.


Ramsés, se não terminou sua pirâmide ainda, corre o risco de terminar nas águas poluídas do Tietê.


O grande temor dos militares brasileiros com relação ao Plano Nacional de Direitos Humanos não é necessariamente a possibilidade de virem a ser presos por crime de tortura. O medo real é a revelação dos nomes de ilustres e respeitáveis canalhas transformados em patriotas no dever cumprido da boçalidade contra presos indefesos.


Aí é que mora o perigo. O cara que confessa e comunga toda semana, nas horas vagas tortura, estupra, assassina e diz que é em nome de Deus, da pátria e da família, para salvar a democracia.


O que os militares brasileiros têm a aprender no Haiti é simples. Ou são policiais subordinados aos EUA, ou cumprem um mandato da ONU e enxergam no governo do Brasil algo diferente de FHC. Em tempos tucanos já estariam incorporados aos serviços de limpeza dos acampamentos norte-americanos.


Davos é um fórum de banqueiros, feito para banqueiros, grandes empresários. O prêmio concedido a Lula tem um aspecto interessante. Está para além do reconhecimento dos méritos do presidente brasileiro (na lógica do “capitalismo a brasileira). A maioria dos países que formam o fórum, das entidades, está dizendo a Obama que o prêmio Nobel da Paz deu para comprar, mas que como está ninguém agüenta a arrogância e prepotência dos EUA.


Os favores que estão sendo prestados ao Haiti na marra, sem qualquer respeito aos haitianos, a ONU, serão cobrados e pagos pelo povo do Haiti e pelo resto do mundo, na lógica do imperialismo. Dá com uma das mãos uma banana e tira com a outra toda a produção de bananas gerada sobre trabalho escravo.


São atos patrióticos. Uma grande bananada.


Laerte Braga é jornalista e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

Itália poderá ter sua "lei Fleury" para livrar a cara de Berlusconi

[caption id="attachment_3061" align="aligncenter" width="360" caption="A "Lei Berlusconi" repete a "Lei Fleury": casuísmo para manter delinquente poderoso fora das grades."][/caption]


Governo Berlusconi lança a "Operação Mãos sujas"


Por Celso Lungaretti


Quando o grande promotor Hélio Bicudo obteve a condenação do delegado Sérgio Paranhos Fleury pelos crimes cometidos como líder do Esquadrão da Morte de São Paulo -- quadrilha de policiais que executava contraventores e, apurou-se depois, era financiada por um grande traficante para eliminar seus concorrentes --, os deputados subservientes à ditadura criaram uma lei com o objetivo exclusivo de evitar que ele ficasse merecidamente atrás das grades.


Apelidada de Lei Fleury, ela alterou a regra segundo a qual os condenados em primeira instância deveriam aguardar presos a sequência do processo. Abriu-se uma exceção para os réus primários, com bons antecedentes e residência fixa.


Foi a retribuição do regime militar a um de seus principais carrascos, responsável pela tocaia contra Carlos Marighella, pela chacina da Lapa, pelo dantesco suplício que antecedeu o assassinato de Eduardo Leite (o Bacuri) e, enfim, por um sem-número de homicídios e torturas.


Em nome do serviço sujo e sanguinário que efetuou a partir de 1968 na repressão política, anistiaram-no informalmente das atividades paralelas que ele antes desenvolvera, ao atuar no radiopatrulhamento de São Paulo.


A introdução de uma lei casuística, para aliviar a situação de um poderoso nos processos que já estavam em curso, é até hoje motivo de opróbrio para o Estado brasileiro -- uma das muitas aberrações que marcaram o período 1964/85.


A Itália está prestes a seguir um dos nossos piores passos -- e em plena democracia! Não tem sequer a atenuante de serem ilegítimos os seus representantes que propõem tal descalabro.


O Senado italiano aprovou nesta 4ª feira (20) projeto de lei do Executivo alterando o prazo de prescrição dos processos judiciais, de forma que aqueles nos quais premiê Silvio Berlusconi é reu (fraude fiscal e suborno) passem a prescrever em seis anos e meio, ao invés dos dez anos atuais.


Ou seja, o governo Berlusconi propôs uma lei que beneficia Berluconi... e o Senado baliu amém.


Se a Câmara também coonestar essa imundície, o premiê terá conseguido escapar pela tangente de todos os processos que lhe são movidos.


Que dizer de um país que aceita ter como primeiro-ministro não um cidadão inocentado das acusações que lhe foram feitas, mas sim um contraventor favorecido pela prescrição dos seus delitos?! Ainda por cima, utilizando em causa própria os poderes que lhe foram concedidos pelo povo italiano.


Também pela tangente, Berlusconi está conseguindo escapar da condenação a que faria jus por ter dado cobertura política à Cosa Nostra na década passada. Esteve a soldo do chefão responsável pelo assassinato de um juiz e seus cinco seguranças.


Se concretizada, a virada de mesa vai produzir um verdadeiro terremoto na Justiça italiana: o número de processos que prescreverão poderá chegar a 100 mil, incluindo grandes casos de falência fraudulenta, como o da Parmalat.


E o Executivo e o Legislativo, acumpliciados, terão conseguido abortar a cruzada contra a impunidade desenvolvida pelo Judiciário, seguindo a tradição dos heróicos magistrados que ousaram confrontar a Máfia com a Operação Mãos Limpas.


Emblematicamente, é um político que protegia mafiosos o atual pomo da discórdia.


Berlusconi encabeça a Operação Mãos Sujas.


Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Mantém o blog "Náufrago da Utopia", é autor de livro homônimo sobre sua experiência durante a ditadura militar e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"
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