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A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Haiti, a geologia do império

Foto: Jiro Ose


O envio de mais de 10 mil soldados e marines, e uma frota capitaneada por um porta-aviões nuclear, sem que a ONU fosse sequer consultada, revela uma estratégia por demais conhecida dos Estados Unidos.



Por Gilson Caroni Filho

Enquanto as placas tectônicas do Caribe e da América do Norte não se estabilizam, o povo haitiano vive, mais uma vez, o limite de suas possibilidades históricas. O envio de mais de 10 mil soldados e marines, e uma frota capitaneada por um porta-aviões nuclear, sem que a ONU fosse sequer consultada, revela uma estratégia por demais conhecida. Se a natureza, como a própria guerra, tem as suas próprias leis, os fatos desatados por sucessivos abalos sísmicos servem como exercício para que os Estados Unidos reafirmem a preeminência na América Caribenha, descartando qualquer possibilidade de países vizinhos interferirem em sua supremacia na região.

Quando a secretária de Estado americana Hillary Clinton, a bordo de um avião militar, pronuncia que “o socorro às vítimas do terremoto poderia chegar de forma mais rápida se o Parlamento haitiano aprovasse um decreto dando mais poderes ao presidente René Préval, alguns dos quais poderiam ser delegados aos Estados Unidos como a possibilidade de declarar toque de recolher", suas palavras não podem ser compreendidas fora da lógica dos poderes que comandam a titeragem internacional.

O que lhes interessa (aos poderes), em qualquer circunstância, é executar a estratégia de dominação da grande potência mundial de nossos dias, pouco se importando com a deterioração das condições de vida da população afetada, com os escombros de Porto Príncipe ou com os milhares de mortos que estão sendo enterrados em valas comuns. O que conta é experimentar novas formas de controle sobre países periféricos, organizando uma logística que privilegia a ação militar em detrimento de uma operação humanitária. Não foi à toa que a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma das principais organizações humanitárias da França, acusou os Estados Unidos de prejudicarem as operações de auxílio no Haiti, causando graves atrasos para os médicos que tentam levar ajuda às vítimas.

Convém lembrar que a ostentação da superioridade militar, embora em algumas ocasiões seja grotesca, é uma das características do imperialismo. Os repetidos atos de agressão contra o país mais pobre da América Latina são de conhecimento público. Da ocupação militar estadunidense de 1915 a 1934, seguida do apoio à ditadura dos Duvallier- que tinha por base o terror miliciano dos Tonton Macoutés-, até a participação direta no golpe que depôs, em 1991, o presidente eleito Jean-Bertrand Aristides, a política de terra arrasada sempre foi considerada o “argumento" mais eficaz para contenção geopolítica de ensaios de emancipação.

A despeito da mudança de linguagem em relação ao governo Bush, os adeptos ou intérpretes desse tipo de diplomacia, fundamentam-se, ainda, nos mesmos eixos: segurança hemisférica, defesa de supostos princípios civilizatórios, ameaças do terrorismo internacional e algumas outras variações semânticas. A ocupação do palácio presidencial por uma centena de paraquedistas da 82ª Divisão dos EUA vai bem além do campo simbólico: é a reiteração de uma estratégia de solução baseada no uso unilateral da força, fora dos marcos de legitimidade das Nações Unidas. Sem sutilezas, a intervenção preventiva dá lugar à “guerra justa” de Hillary Clinton.

Para o Departamento de Estado parece não haver dúvidas quanto ao futuro do Haiti. Em um universo regido pelo exercício do poder econômico e militar, a possibilidade de se tornar um novo Protetorado é o melhor destino para um povo que morre cedo e tem uma renda de US$ 560. Na pior das hipóteses, a produção de bolas de baseball terá um considerável incremento.

Se o objetivo é deter a emergência de estratégias de organização da economia e desenvolvimento político social e cultural que escapem às conveniências da hegemonia estadunidense no hemisfério, a geologia pode dar contribuições consideráveis. Placas tectônicas podem liberar uma energia destrutiva impensável.

A acomodação, no entanto, depende de uma generosidade que, para se efetivar, terá que ser encorpada como resistência política. Isso não é assunto exclusivo dos haitianos. Talvez, a associação entre os desiguais nunca tenha sido tão necessária.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?".

Atos patrióticos - Uma grande bananada

Por Laerte Braga


Quando Costa e Silva perguntou a Pedro Aleixo, seu vice-presidente e mais tarde impedido de assumir o cargo pela quartelada de 1969 sobre o AI-5, Aleixo respondeu o seguinte – “eu não estou preocupado com o uso que o senhor fará desse instrumento presidente, mas com o guarda do quarteirão”.


Foi gentil e polido. Costa e Silva era o próprio guarda do quarteirão. Ou foi irônico, o marechal jamais saberia diferenciar uma coisa de outra, gentileza de ironia. Como Figueiredo entendia muito de cavalos.


Na reunião que decidiu pela sanção do AI-5 o “intelectual” Jarbas Passarinho, ministro do governo e membro da Academia Paraense de Letras, lá pelas tantas, ao perceber as idas e vindas de Costa e Silva, aproveitou o momento que o marechal falou em “escrúpulos” para sintetizar a opinião da boçalidade que permeava a maioria do governo àquela época. – “as favas com os escrúpulos presidente”.


Quarenta e cinco dias após o ataque às torres gêmeas do World Trade Center o presidente dos EUA, então o terrorista George Bush, conseguiu arrancar do congresso o ATO PATRIÓTICO. A lei autorizava o governo como um todo, através de suas agências de segurança e inteligência, a prender sem mandados, promover escutas sem ordem judicial, seqüestrar cidadãos hostis fora do território norte-americano e técnicas de interrogatórios mais duras (tortura), para salvar o mundo da destruição.


Norte-americanos acreditam que não existe vida humana racional para além do seu território e pior, se acreditam humanos (é claro que existe uma pequena parcela ainda de humanos por ali, pode crer, existem).


Chamam a si a tarefa de salvar os povos inferiores. É o que se vê no Haiti.


Estão afundados no Afeganistão numa guerra que começa a incomodar a própria opinião pública do país, que percebe a derrota política e militar, guardadas as proporções, um novo Vietnã.


No final do governo de Bush, no afã de limpar a mesa, evitar deixar provas das barbáries cometidas, o Departamento de Justiça, em março de 2007, acusou o FBI (polícia federal) de “não informar oficialmente o uso ilegal do Ato Patriótico”.


O professor Williams Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense apareceu hoje num dos noticiários do canal a cabo GLOBONEWS falando sobre a “arrogância dos norte-americanos” na questão do Haiti. Foi incisivo ao dizer que nessa hora ignoram a ONU, ignoram direitos fundamentais, passam por cima de tudo e todos com seu poder econômico e militar.


Para fazer o contraponto – a situação dos canais da GLOBO no que diz respeito ao Haiti é complicadíssima. A rede é financiada por empresas e pelo governo dos EUA e por outro lado não tem como criticar os militares brasileiros no Haiti. O jeito é a defesa disfarçada dos interesses que representa – os jornalistas globais têm dito que apesar dos pesares eles, os norte-americanos, resolvem.


Na trilogia O PODEROSO CHEFÃO, de Francis Ford Coppola, há um momento em que um comerciante do bairro pede um favor a D. Vito Corleone. No primeiro filme. Recebe o benefício solicitado e fica devedor para uma eventual necessidade do chefão num dado qualquer momento.


O momento surge e é mais ou menos como você pedir a um amigo dez reais emprestados e ele uma semana depois pedir a você para matar um desafeto, ou infringir uma determinada lei. Tudo em nome da amizade. Pediu, tem que aceitar as regras, caso contrário, ATO PATRIÓTICO nele ou o velho AI-5. Ingratidão punida pelas leis da Máfia. O que são os EUA além de grandes máfias reunidas em uma federação?


Barack Obama está se estrepando na incapacidade de ser alguma coisa, pelo menos até agora, que não um produto de marketing. Marca de sabão em pó. Leite que se dissolve instantaneamente. Perdeu eleições em Massachusetts onde os democratas não perdiam há 38 anos. Justo na vaga de um histórico liberal, o senador Ted Kennedy.


Se vai dar a volta por cima é outra história. Na verdade, visto de hoje, parece condenado a um mandato só, mas, como tudo é possível... Americanos do norte adoram cenários de Hollywood e nisso Obama é pole position..


O presidente do Brasil Luís Inácio Lula da Silva foi escolhido pelos representantes dos países que formam o FÓRUM DE DAVOS como o ganhador do prêmio Estadista Global do Fórum Econômico Mundial. A entrega será feita no dia 29 de janeiro e é a primeira edição do prêmio.


Isso autentica a definição de Ivan Pinheiro, secretário geral do Partido Comunista Brasileiro, sobre o “capitalismo a brasileira”, invenção de Lula. Do ponto de vista do modelo, no entanto, reforça o cacife eleitoral de Lula para outubro, cria uma baita saia justa para a mídia colonizado (E Obama, onde fica?) e deve ter provocado um ataque histérico em FHC, doutor com todos os doutorados em todos os cantos, relegado ao ostracismo de sua carne assada e cuscuz paulista.


Ramsés, se não terminou sua pirâmide ainda, corre o risco de terminar nas águas poluídas do Tietê.


O grande temor dos militares brasileiros com relação ao Plano Nacional de Direitos Humanos não é necessariamente a possibilidade de virem a ser presos por crime de tortura. O medo real é a revelação dos nomes de ilustres e respeitáveis canalhas transformados em patriotas no dever cumprido da boçalidade contra presos indefesos.


Aí é que mora o perigo. O cara que confessa e comunga toda semana, nas horas vagas tortura, estupra, assassina e diz que é em nome de Deus, da pátria e da família, para salvar a democracia.


O que os militares brasileiros têm a aprender no Haiti é simples. Ou são policiais subordinados aos EUA, ou cumprem um mandato da ONU e enxergam no governo do Brasil algo diferente de FHC. Em tempos tucanos já estariam incorporados aos serviços de limpeza dos acampamentos norte-americanos.


Davos é um fórum de banqueiros, feito para banqueiros, grandes empresários. O prêmio concedido a Lula tem um aspecto interessante. Está para além do reconhecimento dos méritos do presidente brasileiro (na lógica do “capitalismo a brasileira). A maioria dos países que formam o fórum, das entidades, está dizendo a Obama que o prêmio Nobel da Paz deu para comprar, mas que como está ninguém agüenta a arrogância e prepotência dos EUA.


Os favores que estão sendo prestados ao Haiti na marra, sem qualquer respeito aos haitianos, a ONU, serão cobrados e pagos pelo povo do Haiti e pelo resto do mundo, na lógica do imperialismo. Dá com uma das mãos uma banana e tira com a outra toda a produção de bananas gerada sobre trabalho escravo.


São atos patrióticos. Uma grande bananada.


Laerte Braga é jornalista e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

Itália poderá ter sua "lei Fleury" para livrar a cara de Berlusconi

[caption id="attachment_3061" align="aligncenter" width="360" caption="A "Lei Berlusconi" repete a "Lei Fleury": casuísmo para manter delinquente poderoso fora das grades."][/caption]


Governo Berlusconi lança a "Operação Mãos sujas"


Por Celso Lungaretti


Quando o grande promotor Hélio Bicudo obteve a condenação do delegado Sérgio Paranhos Fleury pelos crimes cometidos como líder do Esquadrão da Morte de São Paulo -- quadrilha de policiais que executava contraventores e, apurou-se depois, era financiada por um grande traficante para eliminar seus concorrentes --, os deputados subservientes à ditadura criaram uma lei com o objetivo exclusivo de evitar que ele ficasse merecidamente atrás das grades.


Apelidada de Lei Fleury, ela alterou a regra segundo a qual os condenados em primeira instância deveriam aguardar presos a sequência do processo. Abriu-se uma exceção para os réus primários, com bons antecedentes e residência fixa.


Foi a retribuição do regime militar a um de seus principais carrascos, responsável pela tocaia contra Carlos Marighella, pela chacina da Lapa, pelo dantesco suplício que antecedeu o assassinato de Eduardo Leite (o Bacuri) e, enfim, por um sem-número de homicídios e torturas.


Em nome do serviço sujo e sanguinário que efetuou a partir de 1968 na repressão política, anistiaram-no informalmente das atividades paralelas que ele antes desenvolvera, ao atuar no radiopatrulhamento de São Paulo.


A introdução de uma lei casuística, para aliviar a situação de um poderoso nos processos que já estavam em curso, é até hoje motivo de opróbrio para o Estado brasileiro -- uma das muitas aberrações que marcaram o período 1964/85.


A Itália está prestes a seguir um dos nossos piores passos -- e em plena democracia! Não tem sequer a atenuante de serem ilegítimos os seus representantes que propõem tal descalabro.


O Senado italiano aprovou nesta 4ª feira (20) projeto de lei do Executivo alterando o prazo de prescrição dos processos judiciais, de forma que aqueles nos quais premiê Silvio Berlusconi é reu (fraude fiscal e suborno) passem a prescrever em seis anos e meio, ao invés dos dez anos atuais.


Ou seja, o governo Berlusconi propôs uma lei que beneficia Berluconi... e o Senado baliu amém.


Se a Câmara também coonestar essa imundície, o premiê terá conseguido escapar pela tangente de todos os processos que lhe são movidos.


Que dizer de um país que aceita ter como primeiro-ministro não um cidadão inocentado das acusações que lhe foram feitas, mas sim um contraventor favorecido pela prescrição dos seus delitos?! Ainda por cima, utilizando em causa própria os poderes que lhe foram concedidos pelo povo italiano.


Também pela tangente, Berlusconi está conseguindo escapar da condenação a que faria jus por ter dado cobertura política à Cosa Nostra na década passada. Esteve a soldo do chefão responsável pelo assassinato de um juiz e seus cinco seguranças.


Se concretizada, a virada de mesa vai produzir um verdadeiro terremoto na Justiça italiana: o número de processos que prescreverão poderá chegar a 100 mil, incluindo grandes casos de falência fraudulenta, como o da Parmalat.


E o Executivo e o Legislativo, acumpliciados, terão conseguido abortar a cruzada contra a impunidade desenvolvida pelo Judiciário, seguindo a tradição dos heróicos magistrados que ousaram confrontar a Máfia com a Operação Mãos Limpas.


Emblematicamente, é um político que protegia mafiosos o atual pomo da discórdia.


Berlusconi encabeça a Operação Mãos Sujas.


Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Mantém o blog "Náufrago da Utopia", é autor de livro homônimo sobre sua experiência durante a ditadura militar e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Principal ONG francesa de Direitos Humanos intercede por Battisti


Liga dos Direitos do Homem apela a Lula por Battisti


Por Celso Lungaretti


"Battisti vem protestando há vários anos, afirmando que jamais dirigiu essa organização de que fazia parte, e que jamais cometeu os crimes de que é acusado. Porém, ninguém o escuta, e aparentemente pouco importa a seus acusadores que ele seja culpado ou inocente. Para eles, Battisti é antes de tudo um símbolo. E o discurso desses acusadores não fala de Direito, mas da vingança, essa inimiga da Justiça."


A afirmação é de Jean-Pierre Dubois e Michel Tubiana, respectivamente o atual presidente e o presidente honorário da Liga dos Direitos do Homem, em mensagem recentemente enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Comumente referida apenas como LDH, a Liga Francesa para a Defesa dos Direitos do Homem e do Cidadão é a mais prestigiosa ONG empenhada na observação, defesa e promulgação dos DH na República Francesa, em todos os domínios da vida pública. Integra a Federação Internacional de Direitos Humanos.


Foi incisivo o apelo que Dubois e Tubiana endereçaram ao presidente Lula, no sentido de que resista às fortes pressões internacionais contra o escritor e perseguido político Cesare Battisti:


Eis a íntegra da mensagem que enviou ao presidente Lula:


Paris, 24 de Novembro de 2009.


Exmo. Sr. Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil


Senhor Presidente,


Vossa Excelência ouviu as graves acusações, de terrorismo e mortes, que pesam sobre Cesare Battisti. Vossa Excelência ouviu também seus defensores explicarem a total ausência de provas e testemunhos quanto à sua culpa, o papel extremamente duvidoso dos “arrependidos” durante o processo, as suspeitas que pairam sobre várias peças do dossiê.


O senhor também ouviu, senhor Presidente, alguns italianos, de esquerda como de direita, reclamarem sua extradição. As ofensas midiáticas e diplomáticas não deixam espaço para a dúvida e para pontos de vista contraditórios. Esta súbita obstinação contra um homem com o qual ninguém se preocupou durante tantos anos bem demonstra que Cesare Battisti se tornou um mero trunfo político-eleitoral. Por que não se preocupam com os outros italianos exilados, de extrema-esquerda e, sobretudo, de extrema-direita, com comprovada responsabilidade em atentados?


Vossa Excelência é o chefe de um grande país, o Brasil, e se, num primeiro momento, outorgou um refúgio político a Cesare Battisti tendo em vista sua situação e em conformidade à Constituição brasileira, também viu, num segundo momento, o Supremo Tribunal Federal assenhorear-se do caso, e viu pessoas que, por sua vez, tentaram transformá-lo num trunfo de política interna. Para essas pessoas, mais uma vez, pouco importa o destino de um homem.


Após a resolução do Supremo Tribunal Federal, o destino de Cesare Battisti passou a depender única e exclusivamente de Vossa Excelência. Vossa Excelência sabe que Battisti vem protestando há vários anos, afirmando que jamais dirigiu essa organização de que fazia parte, e que jamais cometeu os crimes de que é acusado. Porém, ninguém o escuta, e aparentemente pouco importa a seus acusadores que ele seja culpado ou inocente. Para eles, Battisti é antes de tudo um símbolo. E o discurso desses acusadores não fala de Direito, mas da vingança, essa inimiga da Justiça.


O caso Battisti cria um imenso mal-estar em todos os amantes da justiça e da liberdade: será justo condenar um homem e, o que quer que ele tenha feito, deixá-lo morrer, simplesmente por ter se tornado, nos últimos cinco anos, um objeto de troca, o trunfo de querelas políticas e de transações econômicas nacionais e internacionais? Este seria o extremo oposto de um ponto de vista humanista.


O engajamento pode levar à rebelião. A rebelião, quando fracassa, pode levar à prisão. A rebelião, quando vitoriosa, pode levar à responsabilidade política. E a política, por necessidade, leva a compromissos. Isso nós compreendemos, senhor Presidente, como compreendemos que Vossa Excelência se encontra diante de um problema complexo. É uma imensa responsabilidade. É também um imenso privilégio perante a Justiça e a História. Ao dizer “não” à extradição deste homem, Vossa Excelência poderá refutar essa iniciativa selvagem, em que a vida de um homem nada significa quando os poderosos, um Estado, ou até multidões clamam pelo sacrifício de um bode expiatório.


Pois bem sabe Vossa Excelência que a pessoa de Cesare Battisti não pode se reduzir a um mero símbolo. Cesare Battisti é antes de tudo um ser humano. A seu pedido, ele interrompeu sua greve de fome. Isso prova que ele confia em Vossa Excelência.


Também nós confiamos. Pois estamos seguros de que o presidente da República Federativa do Brasil não deixará que se entregue esse homem a um país que clama tão tardiamente, e com excessiva ferocidade, por uma injusta vingança. E a História há de lembrar.


Rogamos que aceite, senhor Presidente, os protestos de nossa admiração e a expressão de nosso imenso respeito,


Jean-Pierre Dubois
presidente da Liga dos Direitos do Homem (LDH)


Michel Tubiana
presidente honorário da Liga dos Direitos do Homem (LDH)


(com a colaboração de Gérard Alle, escritor,
Comitê francês de apoio a Cesare Battisti)


Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Mantém o blog "Náufrago da Utopia", é autor de livro homônimo sobre sua experiência durante a ditadura militar e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"



A mais antiga ONG de Direitos Humanos apóia Battisti


Por Carlos Alberto Lungarzo


Inglaterra, Holanda e os Países Escandinavos foram os primeiros a derrubar as monarquias absolutas (Suécia foi o primeiro país do mundo a abolir a pena de morte e outorgar o foto feminino), mas foi mérito da França ter realizado a primeira grande revolução em cujo contexto os Direitos Humanos (DH) receberam sua formulação explícita.


Criadores do primitivo socialismo e do anarquismo, cenário das grandes polêmicas marxistas, inventores do conceito de esquerda (gauche), geradores de uma luta sem fim contra a ditadura, o militarismo e o estado confessional, fundadores da primeira e efêmera sociedade governada pelo povo (a Comuna de Paris), autores do gigantesco grito de liberdade da juventude de 1968, os franceses nunca estiveram alheios ao caso Battisti. Foi a esquerda francesa a que lhe proporcionou seus 14 anos de felicidade no ambiente mais racional e progressista do mundo, foram os intelectuais, artistas, professores e estudantes franceses os que combateram por sua liberdade, por sua não extradição, pela manutenção da palavra do povo francês, sujamente violentada pela direita.


Porque parece uma lição de história que, quando emergem os grandes humanistas, os corajosos libertários, surge, quase ao mesmo tempo, a forma mais cínica, cruel e covarde da direita. Há algumas excepções, mas isto foi regra na maioria dos países. Os bravos republicanos espanhóis foram reprimidos pela crueldade do mais místico e sádico exército de que se tenha notícia, aquele liderado por Millán-Astray, cujo slogan era “Morra a inteligência! Viva a Morte!”. O Espartaquismo foi combatido pelo nazismo, um movimento cuja história todos conhecem. O humanismo e iluminismo italiano, que produziu pensadores como Bruno e Beccaria, foi arrasado desde antes do fascismo, e nunca mais conseguiu se recuperar.


Na França, a luta entre revolucionários e monárquicos, entre iluministas e obscurantistas, entre democráticos e bonapartistas, entre humanistas e militaristas parece interminável, mas a força da razão ganha com freqüência algum espaço.


Ontem recebemos cópia de uma carta que será um marco indelével na história dos direitos e das conquistas morais e humanas. A Liga dos Direitos do Homem (Ligue des Droits de l’ homme, LDH), através de seu presidente efetivo, Jean-Pierre Dubois, de seu presidente de honra, Michel Tubiana e do escritor Gérard Alle, do Comitê de apoio a Cesare Battisti, enviou uma carta aberta ao Presidente Lula, de qual podem encontrar-se cópias na Internet (http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2010/01/liga-dos-direitos-do-homem-apela-lula.html).


A carta enfatiza alguns fatos conhecidos, que cobram maior força quando provém de uma organização que foi fundada em 1989 e teve como objetivo defender a primeira grande vítima de crime jurídico da história contemporânea, o capitão do exército francês Alfred Dreyfus, condenado por um delito inexistente. Como Battisti, ele também foi alvo da fúria de fanáticos e linchadores que, em vez de ser neofascistas como os atuais, eram os arautos do que se manifestava como o futuro fascismo.


Com decisão infreqüente em instituições famosas, que, muitas vezes zelam por uma etiqueta formal, os autores da carta se referem não apenas aos pontos tortuosos e contraditórios do julgamento, mas também às “ofensas mediáticas e diplomáticas”, à invasão do Supremo Tribunal Federal nas atribuições do executivo, e ao uso do caso Battisti como “triunfo de política interna”, numa sutil porém enérgica referência ao golpe branco que vários juízes e ex-juízes do Supremo impulsionam com incrível falta de escrúpulos. É incisivo o trecho em que a carta denuncia o espírito de vingança, “aquela inimiga da justiça”.


Há nesta carta uma observação especialmente iluminada. Os autores chamam ao presidente Lula a assumir o importante papel que lhe reserva a história. Isso significa, em outras palavras, que assim como as grandes vítimas de crimes jurídicos ficaram imortalizadas na história, também seus defensores o foram. Junto com Dreyfus lembramos a Emile Zola, junto com Sacco e Vanzetti, a Bertrand Russell. Entretanto, a quem podemos lembrar junto a Olga Benário?


A LDH tem um passado respeitável e por isso sua contribuição é radical. Especialmente depois de renascer em 1943 de sua dissolução pelos colaboracionistas, a Liga se aprofundou na defesa dos DH em seu sentido mais universal, se opondo ao chauvinismo e xenofobia do militarismo francês, à Guerra da Argélia, à tortura e às tentativas de golpe da Organização do Exército Secreto. Quando a barbárie se abateu novamente sobre a França, depois do triunfo de Chirac, a LDH esteve na primeira linha de combate a uma medida infame proposta pelo governo: ensinar nas escolas que a dominação colonial tinha tido “aspectos positivos”.


Em 2005, a LDH liderou junto a professores e estudantes a iniciativa para que a lei fosse retirada por seu caráter infamante contra a luta anticolonialista e seu respaldo a criminosos membros da Organização do Exército Secreto. Chirac e seu primeiro ministro, finalmente, abandonaram esse projeto fascistoide no ano seguinte. Chirac não fez uma verdadeira autocrítica: apenas disse que a história não podia ser feita por lei, mas devia ser feita pelos historiadores. No fundo, primeiro propôs a lei e a retirou depois, com o mesmo oportunismo que desconheceu o compromisso feito por Mitterrand de proteger os refugiados italianos.


O LDH, como muitas instituições progressistas do país, está salvando a vida de uma pessoa, que é o principal, mas também resgatando a honra do setor consciente da cidadania, cuja convicção sobre os DH, garantida por Mitterrand, foi enterrada pela direita. Talvez passe muito tempo até termos a clara dimensão da importância desta singela carta da LDH ao presidente Lula.


Carlos Alberto Lungarzo é escritor, autor do livro "Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti". Para fazer o download de um resumo do livro, disponibilizado pelo próprio autor, clique aqui. É membro da Anistia Internacional e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Os efeitos colaterais das premiações de Lula


 Ubiratan Dantas (ou simplesmente Bira) é um cartunista, chargista, quadrinhista e ilustrador paulistano. Colabora com o blog "Quem tem medo do Lula?".
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