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A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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Peço que, quem queira continuar acompanhando o meu trabalho, siga o novo blog.

domingo, 13 de junho de 2010

Ditabranda da elite

Cerco ao Irã

Cerco ao Irã

Por Mario Augusto Jakobskind (*)

Os Estados Unidos conseguiram aprovar no Conselho de Segurança das Nações Unidas as sanções contra o Irã. Madame Hillary Clinton sentiu-se vitoriosa, da mesma forma que o governo de Israel. O que se deve perguntar é como a Rússia e a China também aprovaram as medidas punitivas, mesmo, como dizem eles, não tão duras? O que terá acontecido nos bastidores, teria havido alguma compensação financeira?

Em termos concretos, pergunta-se: ações dessa natureza, que já foram adotadas desde 2006, resolvem alguma coisa? Qual a moral que têm os cinco países detentores de bombas atômicas que integram o Conselho de Segurança para se posicionar contra quem desenvolve energia nuclear? E o que fará a ONU se Israel atacar o Irã com o sinal verde dos Estados Unidos e a Arábia Saudita abrindo o seu espaço aéreo para a passagem de aviões militares israelenses, segundo noticiou o jornal britânico Times.

Cada um faz a leitura que quiser do acordo nuclear que envolveu os governos do Brasil, Turquia e Irã. Fato curioso, o candidato das forças conservadoras nacionais, José Serra, não deu uma palavra sobre o que aconteceu, tampouco foi cobrado pelos jornalistas da mídia conservadora.

Serra, que tem sido um crítico contumaz da política externa independente do atual governo prefere se alinhar no esquema Cardoso & Láfer, que aceita passivamente as pressões de Washington e chega ao cúmulo de achar normal que um ministro de Estado do Brasil seja revistado vexatoriamente pela alfândega estadunidense. Para Serra, bom mesmo é o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, objeto de rasgados elogios por parte do candidato a Presidente pelo PSDB-Demo-PPS.

Enquanto isso, em matéria de violências contra representantes dos movimentos sociais, a Confederação Sindical Internacional (CSI) revelou em seu relatório de 2009, que 101 sindicalistas foram assassinados, em todo o mundo, tendo havido um aumento de 30% em relação ao ano de 2008. O recorde ficou com a Colômbia, onde foram mortos 48 sindicalistas, enquanto no Brasil foram assassinados quatro, segundo ainda a CSI, entidade que representa 176 milhões de trabalhadores de 155 países.

Na mesma Colômbia, no próximo dia 20 será escolhido o novo presidente. As pesquisas indicam que o candidato do Presidente Alvaro Uribe, Juan Manuel Santos derrotará Antanas Mockus, do Partido Verde. Ou seja, os colombianos vão dar mais um crédito de confiança a um linha dura que, como Uribe, se alinhará incondicionalmente com os Estados Unidos e continuará com fórmula de combate militar à guerrilha, o que vem acontecendo desde a formação das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e tem dado como resultado o aumento da violência.

Da Argentina vem a notícia que deixa a gente com a pulga atrás da orelha. O Observatório de Direitos Humanos de Buenos Aires e um parlamentar de nome Francisco “Tito” Nenna, apoiador do governo Kirchner, denunciaram a ida de dois agentes da Polícia Metropolitana da capital argentina para participar de um seminário sobre “contraterrorismo e narcotráfico”, organizado pela International Law Enforcement Academy (ILEA) em El Salvador. Segundo o Observatório, a ILEA é uma nova Escola das Américas.

Para quem esqueceu, a referida Escola, situada no Panamá, ensinava, nos anos 70, tortura a militares sustentadores de cruéis ditaduras no Cone Sul e na América Central. É preciso, portanto, ficar atento se brasileiros estão indo para El Salvador para participar atividades da ILEA, pois é assim que começa o esquema que acaba levando a assassinatos e torturas.

No Brasil, em matéria de meio ambiente, a empresa siderúrgica alemã ThyssenKrupp CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico) está se instalando no porto de Itaguaí e provocará um aumento de 78% de gases tóxicos na região. É o caso de se perguntar: como o governo do Estado do Rio de Janeiro concedeu a autorização para a instalação da empresa? Que critérios foram adotados? E por que será que a mídia conservadora simplesmente ignora as advertências dos grupos ambientalistas sobre o perigo que representa a empreitada da multinacional alemã para a região e só tece loas para o empreendimento?

Como estamos na antevéspera das eleições, cabe aos jornalistas no Estado do Rio de Janeiro colocarem o tema CSA em pauta. Ou será que os lá de cima impedirão que isso aconteça? Como teremos muitos candidatos falando em meio ambiente, aquecimento global e outros babados ecológicos, seria absolutamente pertinente colocar na agenda o questionamento da licença concedida pelo governo do Estado no porto de Itaguaí.

*Mário Augusto Jakobskind é jornalista, mora no Rio de Janeiro e é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de S. Paulo e editor de Internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário Brasil de Fato. É autor, dentre outros livros, de “América que não está na mídia” e “Dossiê Tim Lopes – Fantástico / Ibope”. É colunista do site “Direto da Redação” e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”

A charge é uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

Emergência turca

Emergência turca

Por Rui Martins (*)

Berna (Suiça) - De todas as dúvidas e incertezas, guerra de comunicados e de vídeos, sobre a frotilha dita humanitária, uma única coisa certa e verdadeira aparece – a emergência da Turquia no cenário do Oriente Médio.

Não se pode dizer ser novidade, porque o império turco-otomano ali dominou por seis séculos. Essa a razão pela qual nossos avós qualificavam todos os emigrantes vindos da região, desde libaneses, persas aos árabes como turcos.

E a nota marcante de um retorno de uma supremacia da Turquia na região é a de ser um país democrático (o que não é a norma naqueles lados), cujo poder político é vigiado pela Justiça e pelas Forças Armadas, e sem se deixar dominar pelos religiosos, como ocorre no Irã, pois é um país laico.

Essa emergência turca é decorrente de um clima de deterioração dos antigos detentores da supremacia. O Egito soube manter uma liderança na região tanto como potência de esquerda na época do panarabismo ateu de Nasser, como ao mudar de posição com os presidentes Sadat e Mubarak. Impedindo a propagação islamita fundamentalista dos Irmãos Muçulmanos, que acabou sendo exportada, o Egito pôde atuar, durante anos, como mediador nas crises envolvendo Israel e a questão palestina.

O Iraque, outra grande potência, foi praticamente aniquilado pelos EUA que, procedendo como um mau jogador de xadrez, não viu ao derrubar Sadam Hussein, ressurgir o Irã. Resta a Síria, porém sem a mesma força do passado, comprometida com a colonização do Líbano e pelas relações com o Irã.

Erdogan sabe navegar melhor que as frotilhas, pois suas vibrantes condenações de Israel não significaram que defendesse o Hamas, teocrático e fundamentalista, quando sua história o aproxima muito mais do Fatha também laico de Arafat, hoje minoritário entre os palestinos.

Coincidentemente, o Brasil faz parceria com a Turquia na tentativa de se acalmar os ânimos mundiais com relação ao propalado risco de um Irã dotado de bombas nucleares. Essa parceria poderá sustar a tentação americana de corrigir o êrro da destruição do Iraque com uma destruição do Irã.

Lula também vê o Brasil emergente e procura fortalecer a posição internacional brasileira, fugindo de encenações extremas, nisso exercendo seu dom de ser capaz de negociar com deus e o diabo.

Entre o extremismo islamista e a cultura laica ocidental, Erdogan poderá usar a emergência turca para lançar a idéia de uma modernização muçulmana oposta ao extremismo da sociedade saudita. Uma grande parcela da esquerda brasileira tem optado pela defesa sem críticas do islamismo fundamentalista que, na verdade corresponde ao apogeu obscurantista da Idade Média cristã, com a agravante de não haver em vista nenhum Erasmo, nenhum Voltaire e nenhum Lutero para propor um reexame, uma crítica e uma reforma.

Uma coisa é entender os resistentes afegãos, iraquianos e palestinos contra invasões e ocupações, outra é defender a ideologia professada por seus líderes, que não é de esquerda mas um retorno a situações extremas, já resolvidas em numerosas lutas sociais desde a Revolução Francesa e Revolução de Outubro de 1917.

*Rui Martins é jornalista. Foi correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. É autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criador dos “Brasileirinhos Apátridas” e da proposta de um Estado dos Emigrantes. É colunista do site “Direto da Redação” e vive em Berna, na Suíça, de onde colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, e com o blog “Quem tem medo do Lula?”

Bomba: Conversa entre tucanos

Estadão entrega o jogo: Quem gosta de dossiê é o Serra: contra Tasso, contra Aécio, contra Roseana.

'Você não está vendo que é minha última oportunidade?'


Durante encontro a sós numa madrugada de março de 2001, o então governador José Serra usou com Aécio Neves o argumento que mostra sua obstinação em buscar a Presidência da República...


...."Vocês jogam sujo!", devolveu Tasso.


"Vocês quem?", quis saber Aloysio.


"Você... o Serra... Vocês estão jogando sujo e eu estou saindo (da disputa presidencial) por causa de gente como você, que está me fodendo nesse governo", reagiu Tasso.


"Jogando sujo é a puta que o pariu", berrou Aloysio, já partindo para cima do governador. Fora de controle e vermelho de raiva, Tasso chegou a arrancar o paletó e os dois armaram os punhos para distribuir os socos. Foi preciso que um outro convidado ilustre para o jantar no Alvorada, o governador do Pará, Almir Gabriel, entrasse do meio dos dois, com as mãos para cima, apartando a briga. Fernando Henrique, estupefato, pedia calma.Essa repórter é corajosa, brilhante, a matéria dela, mostra bem quem é Serra e o PSDB, que Dilma enfrenta


Fonte: clique aqui Estadão Pois é, por que será que o Estadão está requentando essa história de quase dez anos atrás? Se até o Estadão está pulando fora, é porque a coisa ficou feia para o lado tucano.

Maurício

Serra: o retorno do "Magnífico"?


Quando compara, de forma jocosa, Lula a Luís XIV, Serra incorre em dois erros perigosos. O primeiro mostra a indigência política de sua maneira de ver o país. O segundo traz à cena o “padrinho" que precisa ser ocultado.

Por Gilson Caroni Filho (*)


 Nascido da tradição da Filosofia da História, o tempo lento, linear e previsível não costuma dar espaço para que surjam agitações trazidas por "eventos" desconstrutores de representações sedimentadas. No entanto, quando constelações específicas condensam a vida, restituindo sua dimensão dialética, estamos, sem dúvida, diante de atos ou fatos inaugurais quase sempre originados na esfera política.

José Serra, em discurso na convenção do PSDB que aprovou seu nome como candidato à sucessão de Lula, mostrou desconhecer quando a história se torna presente no espaço. Sua fala aparenta ser prisioneira de um passado que, por não poder ser explicitado para eleitores mais jovens, ameaça se voltar contra ele, de forma grotesca, quase patética

Ao dizer que “não tenho esquemas, não tenho máquinas oficiais, não tenho patotas corporativas e não tenho padrinhos", Serra tenta, em vão, esconder de onde vem e quais são suas companhias. Tanto o PSDB quanto o PFL, partidos da coligação vencedora da sucessão eleitoral em 1994 e 1998, foram criaturas concebidas e direcionadas a fim de se tornarem instrumentos viabilizadores das velhas elites no sistema político hegemonizado pelo neoliberalismo. O ex-governador paulista, velho militante da AP, ressurgiu como ator de relevo no bojo da velha conciliação negociada.

É isso que faz dele o ator antagônico das novas formas de articulação entre o Estado e a sociedade civil, forjadas nos últimos oito anos de governo Lula. O tucanato representa uma época em que qualquer demanda coletiva, mesmo quando meramente setorial, encontrava barreiras quase intransponíveis na desorganização e apodrecimento dos aparelhos institucionais do Estado cartorial, submetido aos ditames do mercado.

Quando compara, de forma jocosa, Lula a Luís XIV, Serra incorre em dois erros perigosos. O primeiro mostra a indigência política de sua maneira de ver o país. O segundo traz à cena o “padrinho" que precisa ser ocultado. O desmantelamento do consórcio tucano-pefelista combinou ampliação da participação com fortalecimento institucional. O presidente petista não expressou a ameaça de uma via personalista, carismática, na qual a institucionalidade se enfraqueceu e a participação popular aumentou de forma abrupta e inorgânica

Pelo contrário, dialogando com movimentos sociais, a inclusão de novos atores se deu de forma consistente, sem prejuízo do Estado Democrático de Direito. Antes o reforçou, na medida em que conferiu maior densidade e vitalidade aos partidos políticos, entidades de classe e ao próprio processo eleitoral.

A alusão ao monarca absolutista, a quem se atribui a frase " L’État c'est moi", não só não guarda sintonia com o momento de avanços democráticos em que vivemos, como remete à genealogia política do candidato da Rede Globo, revelando o apadrinhamento rejeitado. Sim, Serra não é pouca coisa. Pontificou como gente grande no poder quando o Palácio do Planalto, no início do governo de FHC, parecia o de Lourenço, o Magnífico, fino poeta e protetor das artes em Florença. Ele permitiu a falência do banco dos Médicis.

No segundo mandato, o Planalto ficou parecido com o palácio de Lorenzaccio, príncipe intrigante e sem princípios, que assassinou o primo Alexandre e depois foi assassinado também.

Na trama palaciana do tucanato, um forte componente de sua personalidade era o orgulho e alta conta em que tinha a si mesmo. O que mais temia, no entanto, ocorreu: passou à história como um fracassado na economia e um pusilânime na política, tolerante com os desmandos de seus aliados e com a corrupção. Esse é o legado que Serra, com o apoio da grande mídia corporativa e do judiciário partidarizado, pretende resgatar. Será isso o que queremos?

Pretendemos voltar a um período em que ação econômica instrumentalizava a política, fazendo dela um meio de coerção para maximizar fins acumulativos? Ou desejamos manter as conquistas de oito anos de governo democrático-popular, que, enfrentando a questão social, inverteu os termos da equação?

Em tempo (atualizado em 14 de Junho): ignorando o intervalo de 57 anos, a madrugada fria de 10 de junho de 2010, trouxe de volta o tema do petróleo como questão de soberania. Das brumas de 3 de outubro de 1953, Vargas voltou a sancionar a Lei 2004, recriando a Petrobrás, com o restabelecimento do monopólio do Estado para exploração do nosso mais valioso recurso natural. Da névoa seca do Planalto, Lula retomou a campanha de “O Petróleo é Nosso", reinventando Brasília como capital da consciência histórica.

Como Carta Maior já destacou, “a decisão do Congresso representa derrota para o projeto de Serra e das petroleiras internacionais que lutaram até o fim para adiar votação, na expectativa de uma reversão do quadro político nacional, após as eleições de outubro.” Mais uma conquista a ser preservada nas próximas eleições.

*Gilson Caroni Filho é sociólogo e mestre em ciências políticas. Mora no Rio de Janeiro, onde é professor titular de sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). É colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?".

- As três primeiras charges são da época em que Serra, "governando" São Paulo, mandou a polícia militar invadir a USP a tiros e pauladas. Todas três são assinadas por Carlos Latuff, que recentemente passou a integrar nossa lista de colaboradores.

- A charge do "Em tempo", sobre o Pré-Sal, é uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

O carrasco da floresta

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- "O deputado Aldo Rebelo me agrediu, bateu no meu corpo com um porrete, rasgou minha camisa, tentou me eliminar a mando da senadora Kátia Abreu! Há testemunhas. Estou registrando a queixa. Ele vai pagar caro por essa agressão, vai perder a eleição".

Quem fez essa denúncia grave, em entrevista exclusiva à coluna Taquiprati do Diário do Amazonas, foi o jurista Curupira Ramos, sentado sobre um jabuti que lhe servia de banco, em sua casa no meio do mato, com as pernas cruzadas, os pés virados para trás, o cabelo vermelho, os dentes verdes, as orelhas enormes e o corpo tão peludo quanto o do seu sobrinho Tony Ramos (a genética é impressionante, não falha nunca!).

Taquiprati (TQPT) - Doutor Curupira, o senhor existe de verdade?

Curupira (C) – Lógico! Se eu não existisse, não poderia ser agredido. Essa pergunta é impertinente, você deve fazê-la ao Aldo Rebelo. Aliás, minha existência é reconhecida pelo projeto de lei federal nº 2.762 que cria o Dia do Saci – o único que Aldo apresentou em 2003, como líder do governo. Ora, se até o meu primo, que tem uma perna só...

TQPT – Desculpe, Excelência, é que dizem que vós sois uma invenção do homem.

C – (arregalando os olhos negros) E daí? O Código Penal também é uma invenção do homem para organizar a sociedade! Só porque foi inventado não têm vida? Claro que tem! Aliás, existe justamente porque foi criado. As pessoas acreditam no Código Penal e pautam seu comportamento em função dele. Tudo aquilo que o ser humano cria, passa a existir. A alegria e a tristeza também não têm forma física, mas existem porque a gente pensa nelas. Os homens pensam em mim. Sou pensado, logo existo.

TQPT – O que é que Vossa Excelência faz, afinal, na vida?

C – Sou legislador e, ao mesmo tempo, guardião da mata. Crio leis de proteção ao meio ambiente. Defendo a vida e a floresta. Protejo as árvores, os animais, os rios da ação predatória e burra. O fundamento filosófico de nossa legislação é que a natureza existe para todos nós, devemos retirar dela exclusivamente aquilo que é necessário para nossa sobrevivência. Devemos repor o que tiramos. Se não for assim, a espécie humana desaparece. Por isso, criei um código que, como a Constituição dos EUA, não é escrito, são leis que fazem parte do direito consuetudinário. Castigo e puno os predadores que cometem crime ambiental.

TQPT – Punir como? O Meritíssimo tem poder de polícia? Pode exemplificar?

C – Perfeitamente! Minhas leis são codificadas em narrativas. O código escrito tem artigos e parágrafos. O código oral tem histórias e exemplos. Quem entendeu isso muito bem foi Couto de Magalhães, um advogado mineiro. Quando ele assumiu a presidência do Pará, em 1865, compilou a legislação oral, recolhendo centenas de histórias na língua nheengatu, contadas por índios e cabocos. Numa delas, um caçador índio mata uma veada recém-parida. Quando chega perto do corpo inerte, descobre que é o cadáver de sua própria mãe. Esse encantamento foi obra de Anhanga. Essa é a pena para quem não respeita o período de procriação e amamentação dos animais: mata a própria mãe. Os povos da floresta acreditam nisso como os povos urbanos crêem no Código Penal. E é porque acreditam que preservaram a diversidade da vida.

TQPT – Mas o deputado Aldo Rebelo não sabia disso tudo, quando nessa quarta-feira, 9 de junho, na Comissão Especial da Câmara, terminou a leitura do seu parecer para mudar o Código Florestal Brasileiro?

C – Não quero ofender, mas aqui pra nós, muito em off, o Aldo é meio obtuso, bronco, parece que comeu coquinho de tucumã. Seu parecer de 270 páginas demonstra profunda ignorância sobre a história e a as culturas amazônicas. Afirma que “índios e caboclos, depois de lutar contra o meio inóspito, ainda vivem como viviam seus antepassados há centenas ou milhares de anos, dominados pelas forças da natureza, perambulando nus ou seminus, abrigados em choças insalubres”... (pg.21) Quá-qua-ra-qua-quá! Nenhum pesquisador no mundo assina embaixo de tal bobagem.

TQPT – Doutor Curupira, o meritíssimo já encontrou com o Aldo lá na floresta? Porque se ele fala tanto, é porque deve ter andado por lá.

C - O Aldo é um urbanóide, nunca colocou o pé na floresta. Por isso, acha que a mata é hostil. É hostil lá pra ele e pras negas dele, não para os povos que fizeram da floresta sua morada. Aldo fala em ‘choças insalubres’, mas o arquiteto Severiano Porto elogia a construção de malocas, confessa que aprendeu arquitetura com os índios. Aldo desconsidera mudanças e revoluções ocorridas nas sociedades amazônicas, registradas pelos arqueólogos. Ignora a arte, a música, a literatura, os conhecimentos na área de botânica, zoologia, astronomia, medicina, produzidos pelos índios. Nem suspeita que os índios criaram um código florestal oral. Ele afirma que “a conquista da Amazônia se deu com a expedição de Pedro Teixeira (1637-1639)”, como se a história começasse com os portugueses. Ignora que a Amazônia foi ‘conquistada’ pelos índios, que 5.000 a.C já desenvolviam agricultura sofisticada, com a domesticação da mandioca e de outras plantas.

TQPT – Embora desconheça a floresta, Aldo diz que leu dezenas de livros sobre o tema...

C – Conversa fiada! Não leu, meu filho! O Aldo não lê nem o programa do PCdoB! Certifique-se você mesmo lendo o relatório que ele aprontou. Aprontou mesmo. A proposta do Aldo ignora os estudos feitos pelas universidades e centros de pesquisa. E ainda por cima se assessora mal. Em vez de chamar quem manja do assunto, foi procurar uma advogada, a Samanta Piñeda, que é consultora jurídica da bancada ruralista. Pagou R$ 10 mil com dinheiro nosso pra ela escrever aquela lengalenga enfadonha.

TQPT – Não entendo. O que é que o deputado ganha com isso?

C – Ganha a simpatia e o apoio dos ruralistas, do agronegócio. De acordo com a página na internet da ONG Transparência, a campanha de Aldo para as eleições de 2006 recebeu R$ 300 mil da Caemi-Mineração e Metalúrgica, R$ 50 mil da Bolsa de Mercadorias e Futuros, R$ 50 mil da Votorantim Celulose e Papel e por ai vai.

TQPT – Em que consiste, afinal, o projeto do deputado?

C – O projeto desmonta toda a legislação que protege a floresta: suspende multas de crimes ambientais, anistia desmatadores, reduz as áreas de preservação permanente (APPs) permitindo a realização de atividades econômicas dentro delas, dispensa a reserva legal em propriedades menores, incentiva a exploração de várzeas e topos de morro, dá autonomia para cada Estado legislar sobre meio ambiente, permite que os municípios passem a autorizar o desmatamento. É claramente um pedido de penico aos ruralistas, não está preocupado com os interesses nacionais, mas com interesses particulares de quem quer o lucro imediato.

TQPT – Se for aprovado, o projeto do Aldo prejudica todo mundo, até mesmo os descendentes dos ruralistas.

C – É o que estou dizendo há alguns milênios. Lembra o que aconteceu em Santa Catarina? Lá, o Governo reduziu as margens de mata ciliar ao longo dos rios e todo mundo viu a tragédia ocasionada pelas últimas chuvas. Se o projeto for aprovado, vai provocar impactos ambientais irreversíveis e a emissão de 25 bilhões a 31 bilhões de toneladas de gás carbônico só na Amazônia, segundo os especialistas. É preciso protestar. No Rio de Janeiro, nessa semana, já houve uma primeira manifestação de rua, com a participação de duzentos ativistas e lideranças de organizações ambientalistas. Nos outros países existem também curupiras. Eles vão boicotar o produto brasileiro em decorrência do desmatamento que o Código vai permitir.

TQPT – Excelência, me diga, o Aldo não é deputado do PCdoB, um partido que sempre defendeu, em tese, os fracos, a floresta...

C (dando um assovio agudo e assustador) - Meu filho, o relatório do Aldo é uma afronta à sociedade e ao patrimônio ambiental do Brasil. Com isso, Aldo fere a respeitabilidade da bancada de um partido histórico nas lutas populares. Vai tirar votos de mulheres maravilhosas do PCdoB: Vanessa Graziottin (AM), Perpétua (AC), Jandira Feghalli (RJ), Alice Portugal (BA), Jô Moraes (MG), Manuela (RS). Aldo está se comportando como um agente infiltrado da bancada ruralista no PCdoB. Ele já passou para o outro lado, falta apenas formalizar sua filiação ao DEM (vixe, vixe!), onde é o lugar das idéias interesseiras que ele defende. Aldo Rebelo é o anti-curupira, o carrasco da floresta.

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José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (Uerj), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti

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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons

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