Por Mario Augusto Jakobskind (*)
Os Estados Unidos conseguiram aprovar no Conselho de Segurança das Nações Unidas as sanções contra o Irã. Madame Hillary Clinton sentiu-se vitoriosa, da mesma forma que o governo de Israel. O que se deve perguntar é como a Rússia e a China também aprovaram as medidas punitivas, mesmo, como dizem eles, não tão duras? O que terá acontecido nos bastidores, teria havido alguma compensação financeira?
Em termos concretos, pergunta-se: ações dessa natureza, que já foram adotadas desde 2006, resolvem alguma coisa? Qual a moral que têm os cinco países detentores de bombas atômicas que integram o Conselho de Segurança para se posicionar contra quem desenvolve energia nuclear? E o que fará a ONU se Israel atacar o Irã com o sinal verde dos Estados Unidos e a Arábia Saudita abrindo o seu espaço aéreo para a passagem de aviões militares israelenses, segundo noticiou o jornal britânico Times.
Cada um faz a leitura que quiser do acordo nuclear que envolveu os governos do Brasil, Turquia e Irã. Fato curioso, o candidato das forças conservadoras nacionais, José Serra, não deu uma palavra sobre o que aconteceu, tampouco foi cobrado pelos jornalistas da mídia conservadora.
Serra, que tem sido um crítico contumaz da política externa independente do atual governo prefere se alinhar no esquema Cardoso & Láfer, que aceita passivamente as pressões de Washington e chega ao cúmulo de achar normal que um ministro de Estado do Brasil seja revistado vexatoriamente pela alfândega estadunidense. Para Serra, bom mesmo é o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, objeto de rasgados elogios por parte do candidato a Presidente pelo PSDB-Demo-PPS.
Enquanto isso, em matéria de violências contra representantes dos movimentos sociais, a Confederação Sindical Internacional (CSI) revelou em seu relatório de 2009, que 101 sindicalistas foram assassinados, em todo o mundo, tendo havido um aumento de 30% em relação ao ano de 2008. O recorde ficou com a Colômbia, onde foram mortos 48 sindicalistas, enquanto no Brasil foram assassinados quatro, segundo ainda a CSI, entidade que representa 176 milhões de trabalhadores de 155 países.
Na mesma Colômbia, no próximo dia 20 será escolhido o novo presidente. As pesquisas indicam que o candidato do Presidente Alvaro Uribe, Juan Manuel Santos derrotará Antanas Mockus, do Partido Verde. Ou seja, os colombianos vão dar mais um crédito de confiança a um linha dura que, como Uribe, se alinhará incondicionalmente com os Estados Unidos e continuará com fórmula de combate militar à guerrilha, o que vem acontecendo desde a formação das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e tem dado como resultado o aumento da violência.
Da Argentina vem a notícia que deixa a gente com a pulga atrás da orelha. O Observatório de Direitos Humanos de Buenos Aires e um parlamentar de nome Francisco “Tito” Nenna, apoiador do governo Kirchner, denunciaram a ida de dois agentes da Polícia Metropolitana da capital argentina para participar de um seminário sobre “contraterrorismo e narcotráfico”, organizado pela International Law Enforcement Academy (ILEA) em El Salvador. Segundo o Observatório, a ILEA é uma nova Escola das Américas.
Para quem esqueceu, a referida Escola, situada no Panamá, ensinava, nos anos 70, tortura a militares sustentadores de cruéis ditaduras no Cone Sul e na América Central. É preciso, portanto, ficar atento se brasileiros estão indo para El Salvador para participar atividades da ILEA, pois é assim que começa o esquema que acaba levando a assassinatos e torturas.
No Brasil, em matéria de meio ambiente, a empresa siderúrgica alemã ThyssenKrupp CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico) está se instalando no porto de Itaguaí e provocará um aumento de 78% de gases tóxicos na região. É o caso de se perguntar: como o governo do Estado do Rio de Janeiro concedeu a autorização para a instalação da empresa? Que critérios foram adotados? E por que será que a mídia conservadora simplesmente ignora as advertências dos grupos ambientalistas sobre o perigo que representa a empreitada da multinacional alemã para a região e só tece loas para o empreendimento?
Como estamos na antevéspera das eleições, cabe aos jornalistas no Estado do Rio de Janeiro colocarem o tema CSA em pauta. Ou será que os lá de cima impedirão que isso aconteça? Como teremos muitos candidatos falando em meio ambiente, aquecimento global e outros babados ecológicos, seria absolutamente pertinente colocar na agenda o questionamento da licença concedida pelo governo do Estado no porto de Itaguaí.
*Mário Augusto Jakobskind é jornalista, mora no Rio de Janeiro e é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de S. Paulo e editor de Internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário Brasil de Fato. É autor, dentre outros livros, de “América que não está na mídia” e “Dossiê Tim Lopes – Fantástico / Ibope”. É colunista do site “Direto da Redação” e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”
A charge é uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".
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