Por Pedrinho Guareschi* e Marlos Mello** 
Convidamos os leitores a uma rápida reflexão sobre patriotismo e  nacionalismo. Não vamos fazer distinção entre esses dois termos, embora um venha  de pátria e o outro de nação. Às vezes o termo nacionalismo parece carregar uma  conotação um pouco negativa, como se fosse um patriotismo exagerado. Mas aqui  vamos tomar os dois como sinônimos. 
É  interessante constatar como as coisas mais lindas e queridas muitas vezes se  corrompem e se tornam detestáveis quando são exageradas. Veja, por exemplo, o  amor. O verdadeiro amor é generosidade, doação, entrega gratuita. Mas quando ele  se torna egoísta, se transforma em ciúme doentio e nos prejudica muito.  
Pois assim é também com o patriotismo, ou nacionalismo. Práticas  louváveis que podem trazer tanto bem, quando desviadas de seus verdadeiros fins  se transformam em genocídios e guerras horrendas. 
 A pátria é a casa da gente
Todo grupo humano cria e desenvolve uma cultura. A cultura fica sendo uma  espécie de seio materno, um ninho protetor para onde nós corremos e nos  abrigamos quando precisamos de carinho e afeto. A cultura é sempre algo sagrado.  É como se fosse a água para o peixe, o ar que respiramos. Cultura é a maneira de  comer, de beber, de se visitar, de cantar, de dançar, de se vestir, de celebrar,  de fazer festa. Nesse sentido, é impossível dizer que existe uma cultura melhor  ou pior. Existem culturas diferentes e para cada povo, cada nação, cada  comunidade, a cultura que eles desenvolvem é sempre a melhor. Querer insistir  que uma cultura é melhor que a de outros, além de ser um tanto ridículo, pode  trazer sérias consequencias. 
O  que é uma pátria? A pátria é o reservatório dessa cultura. É o local onde essa  cultura é criada, desenvolvida, vivida e celebrada. A pátria é principalmente  nossos valores, nossas tradições, nossas realizações. Ninguém consegue, nem pode  viver sem uma pátria. A pátria é o lar onde nós cultivamos nossa cultura. Como  nos sentimos bem em nosso lar. Quem já viveu em outros países, com outras  culturas, sabe do que estamos falando. 
A  cultura é a coisa mais sagrada de um povo. A cultura é a alma de um povo. Povo  que perde sua cultura é um povo que perde sua alma. E se a cultura é a alma de  um povo, a dimensão religiosa, os valores, são a alma dessa cultura. 
Então: cultivar essas tradições, esses valores, essa cultura é ser  patriota, ou se quiser, nacionalista, no bom sentido. Defender essa cultura é  nossa obrigação, pois a cultura é a nossa maior riqueza. 
Mas, como o amor que pode se corromper em ciúme, também o patriotismo e o  nacionalismo podem se transformar em práticas criminosas e opressoras. Isso  acontece sempre que algum povo, ou algum grupo, acha que apenas sua pátria tem  valor, que eles são os melhores e os outros são atrasados, ignorantes ou  violentos. Os gregos e romanos chamaram os povos que eles conquistavam de  bárbaros. Agora, pensando bem, quem seria mais bárbaro: quem vive tranquilo em  sua casa pátria, ou quem invade outro país, mata as pessoas e escraviza seus  habitantes? 
Patriotismo além das fronteiras 
Vamos pensar um pouco: não está acontecendo algo parecido nos dias de  hoje? Com que direito alguns países que possuem armas poderosas ocupam outros  países, achando que eles não podem viver do jeito que querem? 
Contudo há algo muito importante que devemos trazer para essa reflexão. É  que os seres humanos formam uma única família. Somos cidadãos do mundo, todos  irmãos e irmãs. Então, por que não se poderia pensar e agir como se todos os  povos tivessem uma vida digna? Nos momentos de catástrofes, como no Haiti, foram  mandados soldados brasileiros em missão de paz. 
Que bom que o Brasil mande pessoas para ajudá-los. Não é muito melhor  mandar soldados para garantir a paz do que fazer guerra? Muitos criticam nosso  presidente quando perdoa as dívidas de países extremamente pobres da África e da  América Latina, dizendo que isso nos diminui, nos torna dependentes, que devemos  apenas cuidar de nós. Porém não é bonito quando um povo, até nem tão rico, como  o nosso Brasil, pensa nos países irmãos mais pobres e procura de certa forma  colaborar com eles? O verdadeiro patriotismo vai além das  fronteiras.
*Pedrinho  Guareschi é professor e pesquisador da UFRGS.  
**Marlos  Mello é psicólogo social, colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog não está subordinado a nenhum partido. Lula, como todo ser humano, não é infalível. Quem gosta dele (assim como de qualquer pessoa), tem o dever de elogiá-lo sem nunca deixar de criticá-lo. ---------------------------------------------------------------------------------------------------- Todas as opiniões expressas aqui, em conteúdo assinado por mim ou pelos colaboradores, são de inteira responsabilidade de cada um. ----------------------------------------------------------------
Comentários são extremamente bem-vindos, inclusive e principalmente, as críticas construtivas (devidamente assinadas): as de quem sabe que é possível e bem mais eficaz criticar sem baixo calão. ----------------------------------------------------------------------------------------------
Na parte "comentar como", se você não é registrado no google nem em outro sistema, clique na opção "Nome/URL" e digite seu nome (em URL, você pode digitar seu site, se o tiver, para que clicando em seu nome as pessoas sejam direcionadas para lá, mas não é obrigatório, você pode deixar a parte URL em branco e apenas digitar seu nome).-----------------------------------------
PROCURO NÃO CENSURAR NADA, MAS, POR FAVOR, PROCUREM NÃO DEIXAR COMENTÁRIOS ANÔNIMOS. NÃO PODEMOS NOS RESPONSABILIZAR PELO QUE É DITO NESSES COMENTÁRIOS.
Att,
Ana Helena Tavares - editora-chefe