O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Imaginação e Direitos Humanos: Uma breve lembrança de José Saramago

Imaginação e Direitos Humanos: Uma breve lembrança de José Saramago

Por Carlos Alberto Lungarzo (*)

Hoje, 18 de junho de 2010, a cultura universal e o humanismo tiveram seu dia mais aciago desde 15 de Abril de 1980, quando faleceu Jean-Paul Sartre, um dos intelectuais mais completos do século e um dos maiores ativistas da história. Foi anunciada a morte de José de Sousa Saramago, o mais celebrado escritor da língua portuguesa, pensador finíssimo e criativo, narrador original e intenso, a figura que fez a delícia de várias gerações de mentes sensíveis e progressistas.

Mas não tenho cacife nem faz parte de minha missão me referir ao grande mestre em sua qualidade de literato, filósofo e artista. Quero que esta nota (que deve ser breve, pela urgência de torná-la pública) se refira a seu aspecto mais importante: os direitos humanos.

Digo isto, porque, junto ou acima de sua lendária celebridade como escritor no mundo todo, nada foi mais importante que sua defesa da condição humana. Saramago não foi apenas um literato que expressou, através de sua arte, uma visão humanista e progressista do mundo. Foi um homem comprometido, um observador e um ator consciente e corajoso, um batalhador que assumiu riscos radicais, desde que emergeu, em sua juventude, de uma região do mundo dominada pelo fascismo e o obscurantismo, até anos recentes.

Diferente das outras duas figuras históricas com as quais possui grande afinidade, Sartre e Bertrand Russell (1872-1970), Saramago nasceu numa família que não provinha da burguesia intelectual francesa, nem, menos ainda, da nobreza britânica, mas de uma família de trabalhadores pobres que lutava contra a devastadora miséria das vielas da Freguesia de Azinhaga, e que se deslocou a Lisboa logo que fora possível.

Se Portugal foi um estado fascista até o começo da década de 70, podemos imaginar como se vivia naquele sofrido extremo da Europa quando Saramago se aproximava dos 15 anos, com a sangrenta imagem do falangismo espanhol batendo nas fronteiras de Portugal, e as atrocidades do Salazarismo em sua própria terra.

A vida de Saramago é pública e bem conhecida. Quero falar um pouco de minhas vivências sobre o grande escritor, a partir de minha condição de ativista dos Direitos Humanos.

No ano 1989, quando um grupo de garotos e meninas inexperientes tentou evitar uma quarta tentativa de golpe militar na Argentina, num esforço generoso de defender a democracia, os ativistas foram alvo de uma tocaia tendida pelo exército, onde muitos deles foram metralhados, queimados com bombas de napalm, e alvejados por bazucas. Mais de 40 foram capturados e submetidos a bárbaras torturas. A democracia não estava grata a seus defensores. Pelo contrário, aqueles infames e covardes politiqueiros odiavam esses jovens ingênuos que tinham estorvado o objetivo das máfias políticas argentinas: reconciliar-se com os militares para continuar a repressão pela via “legal”.

Este caso, chamado La Tablada, pelo nome da cidade onde foi tendida a cilada, é muito longo e complexo. Suas sequelas duraram até o ano 2000. Onze anos após o massacre, as vítimas que foram capturadas vivas e torturadas, estavam cumprindo, com sentença sem julgamento, penas que iam de 20 anos a prisão perpétua. Os corruptos juízes tinham entregado os documentos ao procurador militar, para que ele decidisse, mantendo longe os advogados da defesa, e proibindo a possibilidade de recurso. Durante o governo mafioso e neofascista de Menem (1990-1999), Argentina desobedeceu as exigências da CIDH da OEA (chefiada na época pelo grande mestre dos DH na América do Sul, Hélio Bicudo) de submeter a julgamento àquelas vítimas.

Em 2000, quando assumiu De La Rua, um bacharel ardiloso, as vítimas pensaram que teriam uma esperança. O novo presidente não era um terrorista de estado, como Menem, nem estava implicado em crimes contra a Humanidade como aquele; era apenas um moderado colaborador da direita que podia ser pressionado. A única alternativa dos jovens era morrer dignamente, e começaram uma greve de fome que, em total, durou quase três meses..

Foi então que soube da generosidade de Saramago. Não foi o único prêmio Nobel. Também, Rigoberta Manchu, Pérez Esquivel e outros colaboraram conosco. No entanto, o mais comovente foi sua humildade e objetividade. Ele escreveu uma carta ao Presidente De La Rua, quem deve ter tomado conhecimento do escritor pela primeira vez na vida.

Não lembro literalmente de todo o conteúdo, e não quero distorcê-la, mas lembro seu espírito e as primeiras linhas.

Ele dizia que um prêmio Nobel não tem nada de especial, mas, às vezes a sociedade distingue algumas pessoas, e isso torna a voz delas pessoas mais escutada que a de outras. Não era só modéstia. Era o sentimento profundo do valor relativo das premiações, que tanto deslumbram os buscadores de prestígio e os temperamentos preconceituosos.

Saramago lutou por essa e por muitas outras causas até o final, e é muito difícil avaliar numa rápida olhada quando lhe devem as causas nobres, progressistas e humanitárias ao longo de uma vida, primeiro, assombrada pelo fascismo tradicional, depois, pelo fascismo de mercado, e atualmente, pelo vandálico neoliberalismo.

E foram essas forças trevosas as maiores inimigas do afável e simples Seu José.

Saramago foi tortuosamente acusado de antisemita, por ter expressado, com uma isenção e serenidade alheia a quase todo o resto da esquerda (que generaliza o terrorismo de estado israelense a toda a ideologia sionista), um fato singelo e objetivo: não pode usar-se o pretexto de ter sofrido, para provocar o sofrimento dos outros.

Mas esta posição de crítica objetiva ao terrorismo israelense, o diferenciando do sionismo em geral, também compartilhada por Noam Chomsky e dúzias de intelectuais judeus e não judeus, não é seu principal gesto em defesa dos valores humanos.

Saramago desafiou forças muito mais intensas, ancoradas na península Luso-Ibérica desde os tempos dos reis visigodos, como a superstição e o nacionalismo. Neste último sentido, o escritor se definiu em favor de uma federação Espanha-Portugal, ressaltando a importância da fraternidade das nações e desprezando a ideia fetichista de que a pátria pode ter sentido independente dos habitantes. Ele voltava assim, as fontes mais puras do comunismo clássico, antes do chamado “nacionalismo de esquerda”.

Como Giordano Bruno, Galileu, Miguel Servet, Goya, e outras celebridades capitais na história do pensamento e da ação, Saramago foi alvo do ódio da Igreja Católica. Ao longo da vida cultural de Ocidente, foram poucos os pensadores que ousaram dizer, singelamente, que não existia nenhuma prova da existência de Deus, e que as pessoas acreditavam por diversas razões (entre elas, o temor).

Com efeito, até as mentes consideradas lúcidas, esmolavam moderação da crueldade doentia do Santo Ofício. A colocação de uma filosofia realmente humanista (que teve alguns traços nos hedonistas e céticos gregos) só conseguiu consistência com os mecanicistas franceses, e especialmente com as correntes que surgem do marxismo e do anarquismo..

Saramago se insere nesse grupo de vozes esclarecidas, modestamente seguras, sem empáfia nem alarde. Teve a seu favor o fato de ter vivido numa época em que as fogueiras da Inquisição parecem apagadas... ou amortecidas. Sua defesa do humanismo, seu espírito de tolerância, e seu reconhecimento da beleza de alguns textos teológicos (a despeito de seu vácuo conceitual) são únicos em nossa época. Compartilha com Sartre, Russell e Camus a desmistificação da sacralidade. Mas, Sartre expressa suas ideias não com o senso comum, mas com uma filosofia de compreensão árdua; Russell, como quase todo cientista, não atingiu a popularidade que consegue um artista ou um literato; e Camus, apesar de seu agnosticismo e humanismo, defende uma solução egoísta e individual, porque o homem que ele liberta encarna a luta pessoal e não a solidariedade.

Creio que Saramago está ainda em vantagem com Noam Chomsky, pois sua humildade e objetividade o conduzem a uma visão equilibrada do universo. Ele disse que a Bíblia é um "manual de maus costumes, [....] um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana", mas nada há nisto que não possa ser demonstrado. Não é o produto de nenhuma parcialidade, mas do amor e preocupação por uma humanidade sadicamente ferida pelas trevas espalhadas pelas teocracias.

José Saramago nunca diminuiu seus esforços pela Humanidade, e os manteve ativos em quanto sua saúde física permitiu. Ninguém pode contra uma doença terminal, porque justamente, essa fragilidade faz parte de nossa natureza biológica. No ano passado tentei me comunicar com ele, para adicionar seu nome à lista de Prêmios Nobel e outras celebridades que pediram a libertação de Cesare Battisti. Não tenho dúvida de que ele teria aderido com entusiasmo. Mas, sem que eu soubesse, ele estava sofrendo os estragos finais da leucemia e meu e-mail não chegou a destino.

Ao transformar-se de novo a brilhante mente e a fina sensibilidade de José Samarago, num conjunto de células sem vida, as perdemos de maneira definitiva. Sabemos que nem um átomo de seu eu sobreviverá em lugar algum. Mas fica sua obra e sua lembrança para iluminar a noite do mundo supersticioso, racista e sanguinário que ainda vivemos.

*Carlos Alberto Lungarzo é graduado em matemática e doutor em filosofia. É professor aposentado e escritor, autor do livro “Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti”. Para fazer o download de um resumo do livro clique aqui. Ex-exilado político, residente atualmente em São Paulo, é membro da Anistia Internacional (registro: 2152711) e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

Vargas reencontrou Lula quando Petrobrás venceu no Senado

Antes...


Depois...
Lula e Vargas na madrugada da partilha

Por Gilson Caroni Filho (*)

Nascido da tradição da Filosofia da História, o tempo lento, linear e previsível não costuma dar espaço para que surjam agitações trazidas por “eventos” desconstrutores de representações sedimentadas No entanto, quando constelações específicas condensam a vida, restituindo sua dimensão dialética, estamos, sem dúvida, diante de atos ou fatos inaugurais quase sempre originados na esfera política.

Quando o Senado aprovou a capitalização da Petrobras em até US$ 60 bilhões, o que ampliará a dimensão estatal da empresa, e o regime de partilha, que garante a exploração soberana das jazidas do pré-sal, a história se tornou presente no espaço. Ignorando o intervalo de 57 anos, a madrugada fria de 10 de junho de 2010 trouxe de volta o tema do petróleo como questão de soberania. Das brumas de 3 de outubro de 1953, Vargas voltou a sancionar a Lei 2.004, recriando a Petrobras, com o restabelecimento do monopólio do Estado para exploração do nosso mais valioso recurso natural. Da névoa seca do Planalto, Lula retomou a campanha de O petróleo é nosso, reinventando Brasília como capital da consciência histórica.

A decisão do Congresso representa derrota para o projeto de Serra e das petroleiras internacionais que lutaram até o fim para adiar votação, na expectativa de uma reversão do quadro político nacional, após as eleições de outubro.. O novo marco regulador garante à Petrobras o papel de operadora única de jazidas gigantescas que podem conter até 50 bilhões de barris, segundo a Agência Nacional de Petróleo. Com isso, a estatal brasileira terá, no mínimo, 30% dos novos campos, mas poderá receber do Estado 100% de novas áreas sem licitação.

O próximo passo é a criação da Petro-Sal, uma empresa que vai assegurar a hegemonia pública completa no gerenciamento dessa riqueza. É a pá de cal no sonho privatizante dos interesses aglutinados em torno da candidatura tucana. Foi aprovado, ainda, o Fundo Social formado pela capitalização de receitas e royalties vinculados a investimentos em educação, ciência, tecnologia, meio ambiente, combate à pobreza e à desigualdade.

Ao contrário do consórcio neoliberal que o antecedeu, o governo petista lega às gerações futuras um passaporte de emancipação social, em vez de dívidas, crise e alienação de patrimônio público.

É a reiteração de uma estratégia de desenvolvimento econômico e social que rompe com os padrões anteriores. Assistimos à implantação crescente de políticas industriais e tecnológicas voltadas para o parque produtivo brasileiro, respondendo aos desafios impostos pela conjuntura econômica internacional e às exigências de um sólido mercado interno. Se antes a ação econômica instrumentalizou a política, fazendo dela um meio de coerção para a maximização dos fins acumulativos, agora, após oito anos de governo democrático-popular, a institucionalidade democrática inverteu os termos da equação.

Antes mesmo que o sol nascesse, Lula, elegantemente, se despediu de Vargas. Quem assistiu à cena improvável, jura que o Angelus Novus, de Paul Klee, sorriu satisfeito. Nas suas costas não havia mais ruínas.

*Gilson Caroni Filho é sociólogo e mestre em ciências políticas. Mora no Rio de Janeiro, onde é professor titular de sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). É colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?".


As três charges são uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

José Saramago: "O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas"

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Amigos:

Acaba de falecer na manhã desta sexta-feira, dia 18 de junho de 2010, o escritor José Saramago. Acho que não há nada que eu possa fazer para homenageá-lo além de lhes repassar essa maravilha de discurso abaixo, que ele proferiu ao receber o Prêmio Nobel de Literatura.
Muito sentida,
Urda Alice Klueger - BRASIL
Discurso na Academia Sueca
(ao receber o Prêmio Nobel de Literatura)

José Saramago

O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. As quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo.

Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom caráter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável.

Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que acionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira". Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira.

Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz noturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia. Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas.

Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranqüilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza".

Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.


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PressAA

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Latuff na Carta Capital: Cartunista armado pela paz

Reproduzo ( do blog "Maria Frô") a entrevista concedida à Revista "Carta Capital" por Carlos Latuff, cartunista que põe o seu trabalho em prol da causa palestina e dos movimentos sociais.
Latuff é possivelmente o cartunista mais reproduzido no mundo quando se trata de denunciar a política sionista de Israel contra o povo palestino.
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Repare bem, em todo protesto contra o sionismo israelense, em qualquer lugar do mundo, você verá um desenho de Latuff. Na foto de hoje (1/06/2010), em protesto em Kuala Lumpur, Malásia, os manifestantes empunham faixa com charge de Latuff.
O carioca Carlos Latuff não acredita em punição a Israel e não enxerga possibilidade de paz na região enquanto Benjamin Netanyahu for o primeiro-ministro israelense
Israel passou dos limites. Os ataques a “Flotilha da Liberdade”, grupo de barcos de ajuda humanitária que seguiam para a Faixa de Gaza, na Palestina, na segunda-feira, causaram furor internacional e foram chamados de “derramamento de sangue” pelo secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) Ban Ki-moon. O Conselho de Segurança, em reunião emergencial em Nova York, exigiu uma investigação detalhada do “incidente”. O chargista Carlos Latuff, seguindo o histórico de impunidade as várias formas de truculência por parte do governo de Israel, não acredita que será dessa vez que o país sofrerá sanções da ONU.
O carioca Latuff, que herdou o sobrenome do avô libanês Nagib, vem militando a favor da causa palestina desde que fez uma viagem aos territórios ocupados da Cisjordânia em 1999. Tem na charge, ofício que exerce de forma política há 20 anos desde que começou a desenhar para publicações sindicais, seu meio de expressão para mostrar de maneira mais explícita e artística um contraponto que você não encontra nos grandes meios de comunicação.
Latuff se tornou um artista bastante controverso ao botar o dedo na ferida de assuntos delicados como o imperialismo estadunidense e a violação dos direitos humanos, mas tem na aparente insolúvel situação entre Israel e Palestina o seu principal nicho de manifestação artística. Abaixo leia entrevista concedida por Latuff a CartaCapital em que fala sobre a proteção internacional dos EUA a Israel e as possíveis soluções para uma paz entre israelenses e palestinos.
CartaCapital: Como você vê esse ataque israelense a “Flotilha da Liberdade”?

Carlos Latuff: Há muito que Israel mata manifestantes desarmados. Foi assim com Rachel Corrie, esmagada por um trator israelense em 2003 quando tentava impedir a demolição de uma residência palestina e com Tom Hurndall que levou um tiro na cabeça de um atirador de elite israelense em 2004. Sem falar nos jovens palestinos abatidos a tiros quase todos os dias em protestos na Cisjordânia, que tem pouca ou nenhuma cobertura da mídia.
CC: Qual tipo de punição você acha que seria justa a Israel?
CL: A única punição que Israel recebeu até hoje foram de grupos como Hamas e Hezbollah, já que os Estados Unidos preservam seu satélite de qualquer tipo de sanção legal por parte das Nações Unidas. Obama e Hillary Clinton falam de sanções contra o Irã todos os dias, falam que “todas opções estão na mesa” contra Teerã, mas quando se trata de Tel Aviv, nenhum tipo de reprimenda, por mais leve que seja, é levada a cabo. É Washington que faz Israel imune as leis internacionais.
CC: Você não acha que dessa vez a truculência de Israel foi tanta que que deverá resultar numa punição mais severa das entidades internacionais, como do Conselho de Segurança da ONU?
CL: Truculência tem sido a marca registrada do estado de Israel ao longo dos anos. São milhares de civis palestinos assassinados pelas ações militares de Israel em Gaza e no Líbano, incluindo o uso de bombas de fragmentação e de fósforo branco, e mesmo assim não houve resposta enérgica das Nações Unidas, graças a sempre pronta interferência estadunidense. Um dos meios de pressão da sociedade civil tem sido as campanhas de boicote econômico e cultural a Israel. Campanhas semelhantes foram importantes contra o regime sul-africano do apartheid.
CC: Você acha que esse evento pode melhorar a imagem da Palestina internacionalmente?
CL: Isso não posso dizer, mas certamente o sangue derramado dos palestinos tem corroído a já desgastada imagem de Israel perante a opinião pública mundial, tanto assim que o país tem investido pesado em relações públicas. Mas não tem assessoria que possa convencer o mundo de que foi justificado atirar em ativistas desarmados que levavam alimentos e remédios a Gaza.
CC: Independente do último ataque de Israel, você acha possível um acordo de paz entre Israel e Palestina?

CL: Com políticos como Benjamin Netanyahu, Avigdor Lieberman, ou mesmo o Nobel da Paz Shimon Peres, que negociou armas nucleares com o regime do apartheid, paz é algo que Israel definitivamente não pode oferecer. Acredito que um acordo justo pudesse acontecer se Uri Avnery, Norman Finkelstein ou Noam Chomsky fossem os líderes do país.
CC: Você consegue enxergar uma solução, mesmo que pessoal, para a aparente insolúvel situação em que Israel e Palestina se encontram?
CL: Os movimentos sociais palestinos e israelenses falam não em uma única solução, mas soluções, como a criação de um estado para os dois povos ou dois estados. De qualquer forma, qualquer solução seja ela qual for, passa pelo reconhecimento do direito palestino a soberania e a lei de retorno dos refugiados palestinos, lei essa que atualmente vale apenas para os judeus da diáspora.
CC: Você acha que os judeus israelenses, com o muro e outras atitudes similares, fazem com os palestinos o que for feito com eles no holocausto? Não com as mesmas proporções, da mesma forma e com outros motivos, mas é do mesmo jeito uma cultura mostrando superioridade sobre a outra simplesmente porque pode e acha isso correto segundo o seu ponto de vista? E você acha que os judeus israelenses usam isso como justificativa para o que fazem, mesmo que não explicitamente?
CL: Apesar dos judeus em sua maioria se identificar automaticamente com Israel, não se pode dizer que a totalidade deles é alinhada com as políticas genocidas de Tel Aviv. Mesmo que hajam similaridades entre o tratamento dos nazistas aos judeus e o dos israelenses com os palestinos, não creio que haja uma política de extermínio tal qual a que foi levada a cabo por Hitler na Europa. Mas é certo que, para os dirigentes israelenses, seria muito bom se não houvesse mais nenhum palestino naquela região. São muitas as vozes em Israel que pedem a deportação dos palestinos.
Para ver mais do trabalho do chargista Carlos Latuff clique aqui

A Contenda Inevitável

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Reflexões do companheiro Fidel

Recentemente afirmei que o mundo esqueceria rapidamente a tragédia que estava a ponto de acontecer como fruto da política mantida, durante mais de dois séculos, pela superpotência vizinha: os Estados Unidos da América.

Temos conhecido sua forma sinuosa e arteira de agir; o impetuoso crescimento econômico atingido a partir do desenvolvimento técnico e científico; as enormes riquezas acumuladas à custa da maioria esmagadora de seu povo trabalhador e dos povos do resto do mundo por uma exígua minoria que, nesse país e no resto dos países, dispõe e desfruta das riquezas sem limites.

Quem se queixa cada vez mais senão os trabalhadores, os profissionais, os que emprestam serviços à população, os aposentados, os desempregados, os meninos da rua, as pessoas carentes dos conhecimentos elementares, que constituem a imensa maioria dos quase sete bilhões de habitantes do planeta, cujos recursos vitais estão se esgotando visivelmente?

Como são tratados pelas chamadas forças da ordem que deveriam protegê-los?

Em quem batem os policiais armados de todos os instrumentos de repressão possível?

Não preciso descrever fatos que os povos em todas as partes, inclusive nos Estados Unidos, acompanham através da televisão, dos computadores e das mídias.

Um pouco mais difícil é desentranhar os projetos sinistros daqueles que têm em suas mãos o destino da humanidade, pensando absurdamente que se pode impor semelhante ordem mundial.

O que escrevi nas últimas cinco reflexões com as quais ocupei o espaço do jornal Granma e do site CubaDebate entre o dia 30 de maio e o dia 10 de junho de 2010?

Já os elementos básicos de um futuro muito próximo foram lançados ao ar e é impossível começar da estaca zero. Os impressionantes acontecimentos da Copa Mundial de Futebol na África do Sul, no transcurso de breves dias, têm ocupado a nossa atenção.

Apenas temos tempo de respirar durante as seis horas em que os jogos são transmitidos ao vivo e em direto pela televisão de quase todos os países do mundo.

Depois de ter acompanhado os jogos entre os times mais prestigiosos em apenas seis dias e, aplicando os meus pouco confiáveis pontos de vista, atrevo-me a pensar que o campeão da Copa vai decidir-se entre os times da Argentina, o Brasil, a Alemanha, a Inglaterra e a Espanha.

Já não há nenhuma equipe destacada que não tenha mostrado as suas garras de leão neste esporte, onde anteriormente apenas eu via pessoas correndo no extenso gramado de uma baliza para a outra. Hoje, graças a nomes famosos como Maradona e Messi, conhecedor das façanhas do primeiro como o melhor jogador na história deste esporte e da sua opinião de que o outro é igual ou ainda melhor do que ele, já posso distinguir o papel de cada um dos 11 jogadores.

Nestes dias também conheci que a nova bola de futebol tem uma geometria variável no ar, que é mais veloz e que salta muito mais. Os próprios jogadores começando pelos goleiros se queixam destas novas características da bola, mas inclusive os atacantes e a defesa também se queixam muito, visto que a bola é mais rápida e durante toda a vida eles aprenderam a manejar outra. São os dirigentes da FIFA os que decidem sobre esta matéria em cada Copa Mundial.

Desta vez, transfiguraram esse esporte; já é outro, embora continue chamando-se da mesma forma. A torcida, que não conhece as mudanças introduzidas na bola – que é a alma de um grande número de atividades esportivas – e repletas as arquibancadas de qualquer estádio, é a que desfruta o jogo ao máximo e todos o aceitarão sob o mágico nome do glorioso futebol. Até Maradona, que foi o melhor jogador de sua história, vai conformar-se tranquilamente que outros esportistas marquem mais gols a maior distância, mais espetaculares e com maior nível de pontaria do que ele, na própria baliza e do mesmo tamanho, que aquela onde a sua fama conseguiu um lugar tão alto.

No beisebol amador era diferente, os tacos passaram da madeira para o alumínio ou deste último para a madeira, apenas eram estabelecidos determinados requisitos.

Os poderosos clubes profissionais dos Estados Unidos decidiram aplicar normas rígidas no que se refere ao taco e outra série de requisitos tradicionais, que mantêm as características do velho esporte. Na verdade deram ao espetáculo um especial interesse e também incrementaram os enormes ganhos com que o público e os anúncios publicitários pagam.

Na atual voragem esportiva, um esporte extraordinário e nobre como o voleibol, de que tanto se gosta em nosso país, está envolvido em sua Liga Mundial, a competição mais importante para esta especialidade anualmente, salvo os títulos que se derivam do primeiro lugar nas competições olímpicas ou nos campeonatos mundiais.

Na sexta-feira e no sábado da semana passada, na Cidade Esportiva realizaram-se as penúltimas partidas que serão efetuadas em Cuba. Até agora, a nossa equipe não perdeu nenhuma partida. O último adversário foi nem mais nem menos que a Alemanha. Entre os seus esportistas havia um gigante alemão de 2,14 metros de estatura que é um excelente cortador. Foi uma verdadeira façanha ganhar todos os sets, salvo o terceiro da segunda partida. Os membros da nossa equipe, todos muito jovens, um dos quais tem apenas 16 anos, mostraram uma surpreendente capacidade de reação. O atual campeão da Europa é a equipe da Polônia, e a equipe alemã conseguiu a vitória em duas partidas contra aquela equipe. Antes desses êxitos ninguém pensou que a equipe de Cuba estaria novamente entre as melhores do mundo.

Infelizmente, por outro lado, no âmbito político o caminho está cheio de enormes riscos.

Uma questão que mencionei anteriormente, entre os elementos básicos de um futuro muito próximo que foram lançados ao ar e que já é impossível começar da estaca zero é o afundamento do navio Cheonan, navio insígnia da marinha sul-coreana que naufragou em apenas minutos no dia 26 de março, provocando a morte de 46 marinheiros e dezenas de feridos.

O governo da Coréia do Sul ordenou uma investigação para conhecer se o fato aconteceu em conseqüência de uma explosão interna ou externa. Ao verificar que procedia do exterior, acusou o governo de Pyongyang pelo afundamento do navio. A Coréia do Norte apenas dispunha de um velho modelo de torpedo de fabricação soviética. Carecia de qualquer outro elemento, salvo a lógica mais simples. Não podia nem sequer imaginar outra razão.

No passado mês de março, como primeiro passo, o governo da Coréia do Sul ordenou ativar os alto-falantes de propaganda em 11 pontos da fronteira comum desmilitarizada que divide as duas Coréias.

Por seu lado, o alto comando das Forças Armadas da República Popular Democrática de Coréia declarou que destruiria os alto-falantes logo que começassem a funcionar. Essa atividade tinha sido suspensa desde o ano 2004. A República Popular Democrática de Coréia declarou textualmente que transformaria Seul em um “mar de fogo”.

Na sexta-feira passada, o Exército da Coréia do Sul anunciou que levaria à prática essa medida logo que o Conselho de Segurança anunciasse suas medidas pelo afundamento do navio sul-coreano Cheonan. Ambas as repúblicas coreanas já têm o dedo no gatilho.

O governo da Coréia do Sul não podia imaginar que o seu aliado mais próximo, os Estados Unidos, tinham colocado uma mina no fundo do Cheonan, como relata em um artigo o jornalista investigador Wayne Madsen, publicado por Global Research no dia 1 de junho de 2010 com uma explicação coerente do acontecido. A referida explicação está baseada no fato de que a Coréia do Norte não tem nenhum tipo de míssil ou instrumento para afundar o Cheonan, que não pudesse ser detectado pelos sofisticados equipamentos do caça-submarino.

A Coréia do Norte foi acusada de algo que não realizou o que determinou uma viagem urgente de Kim Jong Il à China no trem blindado.

Logo que aconteceram estes fatos, na mente do governo da Coréia do Sul não houve nem haverá espaço para outro motivo possível.

No meio do ambiente esportivo e alegre o céu fica cada vez mais escurecido.

As intenções dos Estados Unidos da América são óbvias desde há muito tempo, na medida em que o seu governo age obrigado por seus próprios desígnios sem alternativas possíveis.

O seu objetivo – acostumados a impor seus desígnios pela força – é que Israel ataque as instalações produtoras de urânio enriquecido no Irã, usando os mais modernos aviões e o sofisticado armamento que irresponsavelmente fornece a superpotência. Esta sugeriu a Israel, que não tem fronteiras com o Irã, que solicitasse licença à Arábia Saudita para sobrevoar um longo e estreito corredor aéreo, reduzindo consideravelmente a distância entre o ponto de partida dos aviões atacantes e os alvos a serem destruídos.

Segundo o plano, cujos trechos essenciais foram divulgados pela inteligência de Israel, ondas de aviões atacarão uma e outra vez para destruir os alvos.

No passado 12 de junho, importantes órgãos de imprensa ocidentais publicaram a notícia sobre um corredor aéreo concedido por Arábia Saudita a Israel, prévio acordo com o Departamento de Estado norte-americano, visando realizar ensaios de vôo com os caça-bombardeiros israelenses para efetuar um ataque-surpressa ao Irã, que já eles tinham levado a cabo no espaço aéreo saudita.

Porta-vozes do Israel nada negaram, limitando-se apenas a declarar que os referidos países sentiam mais temor pelo desenvolvimento nuclear iraniano do que o próprio Israel. No dia 13 de junho, quando o jornal Times, de Londres, publicou uma informação tirada de fontes de inteligência assegurando que a Arábia Saudita divulgou um acordo que concede licença a Israel para a passagem através de um corredor aéreo sobre o seu território para atacar o Irã, o Presidente Ahmadinejad declarou, ao receber as cartas credenciais do novo Embaixador saudita no Teerã, Mohamad ibn Abbas al Kalabi, que existiam muitos inimigos que não desejavam relações estreitas entre ambos os países"... Mas se o Irã e a Arábia Saudita estão unidos, os inimigos renunciarão a continuar com a agressão...”

Do ponto de vista iraniano, no meu entender, essas declarações eram justificadas, quaisquer que fossem os motivos para fazê-las. Possivelmente não desejava lastimar no mais mínimo os seus vizinhos árabes.

Os ianques não disseram uma palavra, apenas para refletir mais do que nunca o seu fervente desejo de destruir o governo nacionalista que dirige o Irã.

É preciso perguntar agora quando o Conselho de Segurança analisará o afundamento do navio Cheonan, que era o navio insígnia da Armada Sul-coreana; que conduta seguirá depois que os dedos nos gatilhos das armas na península coreana as disparem; se é certo ou não que a Arábia Saudita, segundo o Departamento de Estado, autorizou um corredor aéreo para que as ondas de modernos bombardeiros israelenses ataquem as instalações iranianas, o que possibilita, inclusive, o emprego das armas nucleares fornecidas pelos Estados Unidos.

Entre um jogo e outro da Copa Mundial de Futebol, as diabólicas notícias vão sendo colocadas de pouco e pouco, de maneira que ninguém se ocupe delas.

Fidel Castro Ruz

Agência Cubana de Notícias

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Príncipe saudita, em carta à família, ontem: “Vamos embora, antes que nos cortem a cabeça!”




PressTV, Teerã – traduzido por Caia Fittipaldi

O príncipe saudita Turki bin Abdul Aziz Al Saud alertou a família real para que abdique do trono e fuja, antes que um golpe militar ou um levante popular os derrube e ponha fim à dinastia.

Em carta publicada pela agência de notícias Wagze na 4ª-feira, o príncipe saudita, que vive no Cairo, alertou a família reinante na Arábia Saudita, de que a espera destino semelhante ao do ditador Saddan Hussein e do Xá iraniano Mohammad Reza Pahlavi: “fujam antes que o povo nos corte a cabeça na rua.”

Disse que a família real saudita já não é capaz de “impor-se ao povo”, porque os desvios dos conceitos religiosos que são a base do governo saudita “escaparam a qualquer controle”. A oposição entende nossos atos como “intervenção na vida privada e restrição às liberdades”.

“Se somos sábios, temos de entregar o país ao povo, que nos detesta mais a cada dia que passa” – escreveu o Príncipe Turki, aconselhando os funcionários e membros da monarquia a fugir com suas famílias.

“Partam hoje. O que temos é suficiente para vivermos em qualquer lugar do mundo, da Suíça ao Canadá, Austrália... Devemos partir já, enquanto podemos partir em segurança, e não devemos voltar. Temos de reunir a família e sair imediatamente”, o Príncipe insiste.

“Não se enganem. Não confiem em EUA ou Grã-Bretanha ou Israel, porque eles não sobreviverão ao nosso fim. A única porta ainda aberta para nós é a porta de saída, sem volta. Temos de partir antes que essa porta também se feche.”

Por fim, alerta para um golpe militar contra a família: “não nos atacarão de fora, mas de dentro, nossas forças armadas nos atacarão.”

O príncipe Turki é membro da organização liberal “Príncipes pela Democracia”, fundada nos anos 1950, no auge das tensões entre o rei Faisal e seu irmão rei Saud, para lutar por reformas políticas na Arábia Saudita, e por uma Constituição.

O falecido rei Faisal expulsou para o Egito membros de vários grupos que reivindicavam respeito aos direitos civis, mas adiante os perdoou.

O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Prince warns S. Arabia of apocalypse


Havana celebra décima edição da Semana Social Católica


Teve início ontem (16), na arquidiocese de Havana, a décima Semana Social Católica em Cuba, com o objetivo de promover um espírito de reconciliação, compreensão e consenso entre os diversos âmbitos da sociedade cubana, sob o lema "Testemunhas da esperança e promotores da Paz".

As atividades continuem até o próximo sábado (19) e contam com a presença do secretário para as relações com os Estados, monsenhor Dominique Mamberti. Além de participar da Semana Social sua visita tem como objetivo comemorar os 75 anos de relações entre o Estado Vaticano e a República de Cuba. Seu roteiro também inclui reuniões com as autoridades e encontros e celebrações com a Igreja local.

Para outras informações, acesse http://www.aica.org/.

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"Qualquer pessoa é criminosa quando promove uma guerra evitável, e também o é quando não promove uma guerra inevitável." (José Marti)

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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

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PressAA

Agência Assaz Atroz

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Favorecimento da Justiça brasileira à TV Globo deverá ser denunciado à ONU, OEA e até ao Tribunal Internacional Penal de Haia




Por Hélio Fernandes*, em 18 de Junho de 2010, em sua coluna na "Tribuna da Imprensa"

Caminha para seus capítulos finais a mais espantosa novela da vida jurídica nacional: o caso da usurpação da antiga TV Paulista por Roberto Marinho, durante a ditadura militar, quando ele se sentia à vontade para fazer o que bem quisesse, acima da lei e da ordem.

Ao que parece, está em boas mãos o recurso especial interposto pelos herdeiros dos antigos acionistas da TV Paulista (hoje TV Globo de São Paulo, responsável por mais de 50% do faturamento da rede) contra decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que julgou prescrita a ação, favorecendo no caso a família Marinho.

Trata-se de uma Ação Declaratória de Inexistência de Ato Jurídico, e o relator do processo é o ministro João Otávio de Noronha, mineiro, nascido em Três Corações e que está no Superior Tribunal de Justiça desde dezembro de 2002. A partir de abril passado, ele preside a Quarta Turma do STJ, encarregada do julgamento.

De acordo com o Anuário da Justiça editado pelo Consultor Jurídico, o ministro João Otávio de Noronha não fez carreira na magistratura e nem no Ministério Público. Foi nomeado ministro do STJ pelo quinto constitucional. Sua atividade profissional desenvolveu-se, em especial, no Banco do Brasil, onde ingressou em 1975. Por 17 anos foi advogado dessa instituição financeira, tendo inclusive exercido o cargo de diretor jurídico de 2001 a 2002, pouco antes de ser nomeado ministro do Superior Tribunal de Justiça.

Nenhum outro jornal, revista, site ou blog, faz acompanhamento desse importantíssimo julgamento no STJ, que parece correr sob “SEGREDO DE JUSTIÇA”, mas na verdade o que existe é “SEGREDO DE IMPRENSA”. Como se trata de um processo do interesse fundamental da família, no qual o patriarca Roberto Marinho surge praticando falsificação de documentos e uma série de outros crimes, o interesse da máfia da imprensa é soterrar, sepultar e emparedar esse julgamento.

Nos dois primeiros julgamentos, na Justiça do Rio de Janeiro, os resultados foram favoráveis à família Marinho, mediante fraude, leniência e favorecimento, exclusivamente isso. Na forma da lei, com base no que está nos autos, as sentenças teriam sido amplamente desfavoráveis à TV Globo.

Para proteger os interesses do mais poderoso grupo de comunicação do Hemisfério Sul, a “solução jurídica” encontrada por seus defensores, a família ZVEITER, foi julgar o processo como se fosse uma AÇÃO ANULATÓRIA, para então declará-lo “PRESCRITO” por TRANSCURSO DE PRAZO.

Foi um monumental erro jurídico, porque um dos fundamentos mais importantes no processo é justamente a forma da ação. Assim, ação anulatória é uma coisa, ação declaratória de inexistência de ato jurídico é outra completamente diferente, com uma peculiaridade essencial: a primeira prescreve, a segunda, não.

No processo contra a TV Globo, em nenhum momento se fala em AÇÃO ANULATÓRIA. O que existe é, única e exclusivamente, uma AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE ATO JURÍDICO. Assim, como pôde a juíza (não citarei o nome dela por piedade) julgar uma ação declaratória como se fosse ação anulatória. A magistrada (?) agiu como um feirante que confunde abacaxi e abacate, porque ambos são frutas. Ha!Ha!Ha!

O pior é que, no julgamento em segunda instância, os ilustres desembargadores (também por piedade, não citarei os nomes) confirmaram a sentença grotescamente equivocada, erro que nem mesmo o mais iniciante acadêmico de Direito ousaria cometer.

Parodiando Rui Barbosa, até mesmo as paredes do STJ sabem que uma ação declaratória não se confunde com ação anulatória, sendo pacífica a jurisprudência daquela Corte de que a ação declaratória é mesmo imprescritível.

A “Tribuna da Imprensa” é o único jornal brasileiro que desde 2000 vem acompanhando a luta dos herdeiros da família Ortiz Monteiro (os antigos acionistas da TV Paulista) na Justiça, onde buscam declaração sobre a inexistência de venda da TV Paulista por parte de seus parentes para o jornalista Roberto Marinho, entre 1964 e 1975.

No processo, o Espólio de Roberto Marinho e a TV Globo sustentam que, de fato, nada compraram da família Ortiz Monteiro, antiga controladora daquele canal, já que teriam adquirido 52 % do seu capital acionário de Victor Costa Júnior. Mas acontece que , segundo o Ministério das Comunicações, esse cidadão nunca teve ação alguma da TV Paulista e muito menos foi seu acionista controlador.

Parece um caso nada complexo, já que os próprios donos da TV Globo de São Paulo, defendidos pelo escritório dos ZVEITER, admitem que nada compraram de Oswaldo J. Ortiz Monteiro e de outros acionistas, que formavam o grupo majoritário.

Quanto ao restante das ações, 48%, pertencentes a acionistas minoritários, pouco há a fazer, vez que o empresário Roberto Marinho delas se apossou em 1976, alegando que os seus titulares, 625 acionistas, não foram localizados e nem se interessaram em buscar seus direitos. Por conta disso, fez um depósito simbólico de Cr$14.285,00 (quatorze mil, duzentos e oitenta e cinco cruzeiros) no Banco Nacional. Já imaginaram quanto não valeriam hoje esses 48% do antigo capital da Rádio Televisão Paulista S/A, hoje, TV Globo de São Paulo?

Estou sabendo que essa atípica e insustentável apropriação será denunciada na ONU, na OEA e, se cabível, até no Tribunal Penal Internacional, já que no Brasil qualquer ato ilícito societário não denunciado em tempo, é considerado prescrito, GERANDO, por decorrência, direito líquido e certo ao autor da ilicitude ou da infração societária.

Como já escrevi, a família Marinho controla a TV Globo de São Paulo, mas administrativa (perante o governo federal) e juridicamente não conseguiu ainda legitimar essa posse, pois, apesar das vicissitudes e das inacreditáveis “aberturas” legais, continua sem justificativa e explicação razoável a anacrônica transferência da concessão e do controle acionário daquele canal para eles, por meio de SIMPLES PORTARIAS, NÃO ACOMPANHADAS DE DOCUMENTAÇÃO VÁLIDA E CONVINCENTE.

***

PS – Os responsáveis pela TV Globo alegam que PERDERAM os documentos originais da compra e venda das ações e que, na pior das hipóteses, seriam os donos legais da emissora por conta do tempo transcorrido e do próprio usucapião. USUCAPIÃO EM TRANSFERÊNCIA DE CONCESSÃO FEDERAL? Essa é nova.

PS2 – Para alguns procuradores da República, que investigaram essa questão, tudo não passou de uma farsa mal montada, com documentos falsificados e que não geram direito algum, pois o ato nulo não tem validade hoje e nunca.

PS3 – Aliás, na Procuradoria da República já existe um procedimento administrativo sobre esses fatos, e providências legais poderão ser implementadas tão logo o ministro João Otávio de Noronha, presidente da 4ª. Turma do STJ, leve a julgamento o recurso especial interposto contra a família Marinho e a TV Globo, isto, independentemente do que venha a ser decidido.

PS4 – Com justa razão, o jurista Oscar Dias Correia, ex-ministro do Supremo e ex-ministro da Justiça, tinha pavor de advogar no Rio de Janeiro. Dizia ele: “Na Justiça do Rio, tudo é possível”. É justamente o que se comprova no caso desse processo contra a TV Globo.

*Hélio Fernandes, ostentando invejável lucidez aos 90 anos, é a história viva. Já era jornalista quando Vargas desfilava seu chimarrão pelo Palácio do Catete. Um dos maiores jornalistas deste país, é tido como o jornalista mais vezes preso. (clique aqui para conhecer sua história).

Charge: Carlos Latuff

DIREITA ESPALHA QUE "DULCE MAIA" SERIA CODINOME DE DILMA... MAS ELA EXISTE!

Celso Lungaretti (*)



















V
eterana da resistência à ditadura de 1964/85, a ambientalista Dulce Maia de Souza (foto) é mais uma vítima da propaganda enganosa dos sites e correntes virtuais de extrema direita.

Tais discípulos de Goebbels não só estão recolocando em circulação as falsas acusações a ela feitas por Élio Gaspari em 2008 (que acarretaram ao jornalista/historiador uma condenação da Justiça paulista), como chegam ao cúmulo de acrescentar que Dulce não seria uma pessoa, mas sim um nome-de-guerra adotado por Dilma Rousseff. Eis um blogue, dentre muitos, em que tal falácia é mantida no ar.

Ou seja, imputam falsamente a Dilma as falsidades que Gaspari assacou contra Dulce. É a tabelinha dos falsificadores da História...

Vale a pena recapitularmos o caso original, para que seja melhor entendido o protesto de Dulce.

O EPISÓDIO "ALGOZ E VÍTIMA"

Tudo começou em 12/03/2008, quando Gaspari publicou na Folha de S. Paulo uma diatribe contra a União por ter decidido pagar ao suposto algoz Diógenes Carvalho de Oliveira uma indenização duas vezes maior do que a outorgada à sua suposta vítima Orlando Lovecchio Filho.

Como o primeiro era um militante da Resistência à ditadura e o segundo, o cidadão que perdera a perna num atentado ao consulado estadunidense supostamente por ele cometido em 1968, o assunto logo transbordou do circuito habitual do Gaspari para outros jornais, revistas semanais, sites de extrema-direita e correntes de e-mails neo-integralistas.

Como de praxe, as refutações foram ignoradas pela Folha ou relegadas à seção de cartas (cortadas até se tornarem anódinas, publicadas com imenso atraso, etc.), enquanto os espaços nobres serviam para repercutir o texto de Gaspari ou trazer-lhe acréscimos, na vã tentativa de respaldar suas afirmações indefensáveis.

Tanto a Folha quanto Gaspari chegaram a reconhecer que, dos quatro militantes apontados levianamente como autores do atentado, Dulce Maia era inocente e havia sido por eles caluniada.

Mas, nem mesmo o depoimento do único participante ainda vivo desse atentado obteve o merecido destaque, apesar de provocar uma verdadeira reviravolta no caso: Sérgio Ferro, admitiu sua culpa e seus remorsos, mas desmentiu a participação de Diógenes de Carvalho e Dulce Maia, além de esclarecer que se tratou de uma ação da ALN e não (como Gaspari afirmara) da VPR.

Outra informação importantíssima que a Folha sonegara de seus leitores: Ferro foi acionado na Justiça por Lovecchio e obteve ganho de causa graças aos relatórios médicos que apresentou como prova.

O primeiro dava conta de que o ferimento de Lovecchio era grave, mas existia possibilidade de recuperação. Depois, o socorro a Lovecchio foi interrompido pelo Deops, que quis interrogá-lo, provavelmente para saber se ele era vítima do atentado ou um participante azarado. Quando os policiais afinal o liberaram, sua perna já havia gangrenado e teve de ser amputada (2º relatório).

Ora, se o algoz não era algoz, então o texto inteiro do Gaspari perdia o gancho e desabava, bem como as matérias caudatárias publicadas por outros veículos.

A consciência da vulnerabilidade de sua posição aos olhos dos (poucos) cidadãos bem informados fez Gaspari voltar ao assunto na coluna dominical de 25/03/2008. E o fez recorrendo às informações que, desde o início, foram a viga-mestra de suas perorações fantasiosas: os famigerados inquéritos inquéritos policiais-militares da ditadura, contaminados pela prática generalizada da tortura.

Como um mero araponga, ele se pôs a revolver o lixo ensanguentado da repressão, dando grande importância ao fato de que havia congruência entre os depoimentos extorquidos dos torturados e omitindo que os torturadores forçavam todos os presos a coonestarem a versão oficial, a síntese elaborada pelos serviços de Inteligência das Forças Armadas, para que o resultado final tivesse alguma verossimilhança.

Como historiador, Gspari deveria saber (ou sabia e omitiu) que os militantes eram coagidos a admitir os maiores absurdos nas instalações militares e, depois, encaminhados a delegacias civis onde deveriam repetir, sem torturas, as mesmas afirmações. Os que, pelo contrário, desmentiam tudo, eram recambiados aos quartéis e novamente submetidos a sevícias brutais, até se conformarem em obedecer ao script.

Destrambelhado, Gaspari ousou até fazer novo ataque a Dulce Maia, a quem pedira humildes desculpas no domingo anterior. Embora ela não houvesse mesmo participado do atentado contra o consulado dos EUA, Gaspari quis imputar-lhe outras ações armadas, como se isto fosse atenuante para tê-la acusado falsamente.

Sobre essa escalada de abusos, eis alguns trechos da sentença emblemática do juiz Fausto Martins Seabra, da 21ª Vara Civel Central da Capital, que condenou a Folha e Gaspari a indenizarem Dulce:

"No caso em foco não se pode esquecer que a notícia inexata foi produzida por jornalista bastante respeitado por substancial obra em quatro volumes sobre a história recente do país, o que lhe impunha maior responsabilidade na divulgação de informações sobre aquele período.

"Impossível supor que todos os leitores da notícia inexata tenham também lido as erratas e os pedidos de desculpas do articulista.

"Ter o nome associado à prática de um crime do qual não participou é suficiente para sofrer sensações negativas de reprovação social, angústia, aflição e tantas outras que consubstanciam danos morais relevantes sob o aspecto jurídico e, portanto, indenizáveis.

"(...) A notícia de que participou do atentado ao consulado norte-americano não era verdadeira e, assim, não pode prevalecer diante do direito à honra."

A DENÚNCIA DE DULCE

Os interessados poderão ler a íntegra da mensagem de Dulce Maia no Observatório da Imprensa. Eis os principais trechos do desabafo da ambientalista, face à exumação desse artigo falacioso/desastroso de Gaspari para servir como matéria-prima para a difamação de Dilma Rousseff:
"Nos últimos meses, uma torrencial campanha caluniosa circula pela rede mundial de computadores tomando por base artigo do jornalista Elio Gaspari, publicado originalmente nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo (...). Quem tiver curiosidade de buscar na internet o número de vezes que aparecem variantes da infame sentença -- “Agora a surpresa: adivinhem quem é Dulce Maia? Sim, ela mesma: Dilminha paz e amor! Esse é só mais um codinome da terrorista Estela/Dilma” -– colada ao final do artigo de Gaspari – verá que estão hospedadas em mais de 500 páginas da rede.

"Ao contrário do que afirmam, Dulce Maia existe e resiste. Quem é Dulce Maia? Sou eu.

"Não pretendo polemizar com meus detratores, que ousaram decretar minha morte civil. Estes irão responder em juízo por seus atos. Não admito que queiram impor novos sofrimentos a quem já foi presa, torturada e banida do Brasil durante a ditadura. Lutarei com todas as minhas forças para garantir respeito à minha honra e à minha dignidade.

"Gostaria apenas de fazer algumas reflexões sobre essa insidiosa campanha, alicerçada nos erros cometidos pelo jornalista Elio Gaspari (...). O articulista teve quarenta anos para apurar a história. Falsamente me colocou como participante do episódio, sem nunca ter me procurado para checar a veracidade das informações que dispunha. Tomou pelo valor de face peças do inquérito policial relativo ao atentado, como declaração extraída sob tortura do arquiteto e artista plástico Sérgio Ferro.

"Se o articulista tivesse compulsado os arquivos do próprio jornal Folha de S. Paulo, facilmente encontraria entrevista de Sérgio Ferro (...). Conforme se lê no texto do repórter Mario Cesar Carvalho, publicado a 18 de maio de 1992, 'Ferro assumiu pela primeira vez, em entrevista à Folha que ele, o arquiteto Rodrigo Lefrèvre (1938-1984) e uma terceira pessoa que ele prefere não identificar colocaram a bomba que explodiu à 1h15 do dia 19 de março de 1968 no consulado de São Paulo.

"Gaspari tinha o dever ético de me procurar para verificar se seria eu essa terceira pessoa. Além de não fazê-lo, publicou que o atentado fora cometido por cinco pessoas (entre as quais fui falsamente incluída).

"A esses erros elementares de apuração, deve se somar a relutância da Folha de S. Paulo em restabelecer a verdade. (...) O pedido de desculpas de Gaspari foi mera formalidade, sem delicadeza alguma. Sinal mais evidente do descaso do jornal foi a demora na publicação de carta de Sérgio Ferro, onde refutava categoricamente que eu tivesse participado daquela ação armada. A carta só foi publicada dois dias depois de ser divulgada no blog do jornalista Luís Nassif.

"Processado, o jornal foi condenado em primeira instância à reparação por danos morais.

"No entanto, o artigo de Gaspari voltou a circular com o espantoso adendo de que Dulce Maia não existe e que este seria apenas um codinome de Dilma Roussef. A utilização do artigo em plena campanha eleitoral mostra que setores da sociedade não têm qualquer apreço pela verdade como arma política. (...) Chama atenção, também, o silêncio de Elio Gaspari sobre o uso indevido de seu texto. Nunca li qualquer manifestação do articulista refutando o uso de seu nome em páginas que emporcalham a internet com mentiras sobre minha pessoa.

"O desrespeito é de duplo grau. Primeiro, pela reiterada circulação de informações falsas sobre o atentado ao consulado norte-americano (...). Em segundo lugar, e não menos importante, com a tentativa de me despersonalizar, como se Dulce Maia fosse apenas um codinome.

"Depois dos desaparecimentos forçados praticados pela ditadura, que impôs a aniquilação física de adversários políticos, sequazes do regime militar querem impor a aniquilação moral em plena democracia. E o fazem da forma mais vil, espalhando mentiras pela internet".
* Jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com
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