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A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Para não dizer que não falamos de Carnaval: Evocação menor de Nelson Ferreira

Evocação menor de Nelson Ferreira


Por Urariano Mota*

Recife (PE) - Pelo carnaval, em frente ao Cinema Império havia mulheres, meninos, homens, piratas, colombinas, vedetes, palhaços, toureiros, zorros, ursos, lança-perfumes, bisnagas, perfumes, promessas de corpos nus que não podíamos pegar. Havia um suor bom onde se colavam os confetes, umas peles abrasadas, uns sovacos mal raspados que eram em si mesmos fetiches do sexo, esbarrando-se num fogo que desejava a tudo queimar, arder até a alma pobre da gente. Toquem mais alto. Uma explosão de braços e pernas no frevo, uma multidão revolta, uma humanidade negra, mulata, branca, revoltada, que se anunciava, e não sabíamos: atenção, menino, atenção, infância: “nós passaremos”. Toquem mais alto! Acaso sabíamos que nem uma sombra de sêmen e amor restaria no corpo bom, imperioso, flamante daquela mulher endemoninhada? Que suas coxas não seriam eternas, sabíamos? Ah, mas pressentíamos, e gritávamos:

“ Cadê Mário Melo?

Partiu para a eternidade,

deixando em sua cidade

um mundo de saudade sem igual.

Foliões, a nossa reverência

à sua grande ausência do nosso carnaval...”

Esses compositores de frevo de Pernambuco tinham o dom de falar do sentimento da gente com uma voz que atravessava a parede de uma sala vizinha. Não somos nós que falamos, mas se referem ao que sentimos com tamanha intimidade que são essa maravilha ainda não descoberta: um parente amigo da infância com quem não brigamos, que tem crescido em nosso afeto, nutrido no tempo incessante. Vejam: estamos no Savoy, na Guararapes, e entre confetes de repente nos lembramos que iremos morrer. Que não mais seremos aqueles meninos de calças curtas, de calção, suburbanos. Que somos matéria vulgar, carne sem categoria da alma. Que estamos a um passo do merecido e absoluto esquecimento. Que amamos pouco e mal. Então sentimos que este mundo, o nosso mundo, acabou. É mal sem remédio, acabou, mas nem por isso nos conformamos. E porque não nos conformamos queremos o seu renascimento. Nem que seja pelo artifício da memória, a nossa última humanidade. Por isso, sem aviso nos damos as mãos e erguemos a voz:

“De braços para o alto,

cabelos desgrenhados,

frevando sem parar

lá vem Mário...”

A gente diz Mário para não dizer nossos próprios nomes. Vamos ao passado e de lá nos projetamos. Sinto que deve haver, há uma razão para que os frevos de bloco sejam nostálgicos. Nostálgicos? Disse nostálgicos e emendo. Não é uma saudade mórbida do que se foi. Não é o desejo de voltar ao passado para ali se aninhar e de lá nunca mais sair. Não é, enfim, uma reencarnação no corpo do que um dia fomos, como se fôssemos um médio espírita em crises recidivas de encarnação debilóide. Não. Nós voltamos, mas com a compreensão do presente. Se houvesse liberdade num escrito que se dirige ao grande público, eu diria com outras palavras que desejamos ter o falo grande com a irresponsabilidade e descompromisso da infância. Mas com a sensibilidade e inteligência amadurecidas. Porque no fundamental é isto: a busca de uma felicidade impossível. Ah se pudéssemos realizar no presente os desejos do que não pudemos ter! Os beijos que não demos, os carinhos a que um dia aspiramos, a fruta madura que se abriu deiscente para nós, e que, malditos estúpidos, não abraçamos! É por isso que no bar Savoy, o poeta Carlos Pena dizia que o refrão tem sido assim:

“São trinta copos de chope,

são trinta homens sentados,

trezentos desejos presos,

trinta mil sonhos frustrados.”

Com o coral de Batutas de São José, imaginem então, se não puderem ouvir. Porque desejo dizer que houve uma vez, no carnaval de 1957, um menino perdido em meio à multidão do largo de Água Fria. Ele nem sequer se identificava no seu nome. Depois houve outra vez, outro menino, no carnaval de 1958. E outro em 1959, em 1960, até este 2010, quando volta a ser aquele magriço com um sentimento sem palavras, de olhos graúdos, somente ossos e olhos. Atingido por este feitiço da Evocação n˚. 1: “Felinto, Pedro Salgado,

Guilherme, Fenelon,

Cadê teus blocos famosos?

Bloco das Flores, Andaluzas,

Pirilampos, Apois-Fum,

Dos carnavais saudosos?

Na alta madrugada

O coro entoava

Do bloco a marcha-regresso

Que era o sucesso

Dos tempos ideais

Do velho Raul Morais:

‘Adeus, adeus, ó minha gente,

que já cantamos bastante..’

E Recife adormecia

Ficava a sonhar

Ao som da triste melodia....”

Então vêm os acordes, letais. Que em letras de fogo deveriam estar gravados.

*Urariano Mota é jornalista e escritor. Autor do livro "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. É colunista do site "Direto da redação" e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Caso Dorothy: Bida será julgado dia 31 de março

Caso Dorothy: Bida será julgado dia 31 de Março

Do Portal Amazônia


O caso do assassinato da missionária Dorothy Stang, que vem sendo analisado há cinco anos pela justiça brasileira, poderá ser definido em breve, pelo menos para o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser um dos mandantes do crime.

Segundo o promotor Edson Cardoso, do Ministério Público Estadual do Pará, que acompanha o processo desde seu início, o julgamento de Bida foi marcado para dia 31 de março pelo juiz Cláudio Rendeiro.

O fazendeiro foi apontado como um dos mandantes da morte da missionária Dorothy Stang, crime ocorrido em 2005, no município de Anapu, sudoeste do Pará.  Em 2008, ele foi condenado a 30 anos de prisão, mas em 2009 teve direito ao segundo julgamento porque a legislação penal prevê um novo júri para os condenados a mais de 20 anos de prisão.

Após a absolvição no segundo julgamento, o Ministério Público impetrou recurso para anulação do júri, que foi acatado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas a defesa de Vitalmiro conseguiu um habeas corpus que o manteve em liberdade até sábado passado.


Cinco anos sem Dorothy Stang



Nesta sexta (12) será, para muitos, aniversário da impunidade.  Isso porque, há exatos cinco anos, também no dia 12 de fevereiro, a missionária norte-americana Dorothy Stang, aos 73 anos de idade, foi assassinada com seis tiros, em crime bárbaro, que comoveu o País e o mundo.  A morte, planejada por dois fazendeiros que tinham seus interesses ameaçados pelo trabalho da irmã, que sempre defendeu os agricultores pobres, ocorreu às 7h00 no município de Anapu, sudeste do Pará.

Os idealizadores do crime, Vitalmiro Bastos de Moura, conhecido como Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, vulgo Taradão, ainda não foram condenados definitivamente pela Justiça.  A ambos interessava a morte de Dorothy porque sua luta em defesa da reforma agrária e de projetos de produção sustentável ameaçava o interesse que tinham de expandir a área de suas propriedades.

“O trabalho da Dorothy estava muito ligado às pessoas mais necessitadas, ela devotou sua vida, fez a opção pelos mais pobres, viveu com essas famílias, começou a organizar essas comunidades e as associações também.  Ela muitas vezes andou de repartição em repartição defendendo os interesses desse povo”, conta Dom Erwin, bispo da Prelazia do Xingu, que conviveu e trabalhou com a missionária.

Para Jane Silva, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Pará, a data da morte de Dorothy é importante por lembrar o trabalho desenvolvido pela missionária, segundo sua visão do povo e da floresta juntos.  “Ela mostrou que era possível o manejo florestal e a produção com a conservação da floresta.  Mostrou que a proposta era viável desde que políticas públicas para isso fossem implementadas”, diz.

De acordo com Dom Erwin, que também é ameaçado de morte e, desde 2006, vive sob escolta policial, Dorothy contrariou as ambições de grandes fazendeiros e grileiros, ao conseguir a alocação de famílias pobres em Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS), novo modelo de assentamento baseado em produção agrícola familiar e atividades extrativistas de subsistência com baixo impacto ambiental. “Com esse assentamento feito pelo próprio governo, ela contrariou o interesse de grandes latifundiários que queriam aumentar seus pastos”, diz.

Para o bispo, a data que lembra os cinco anos da morte da missionária é simbólica porque anuncia o trabalho realizado por ela em vida, a favor dos menos favorecidos e da conservação da Amazônia, que, segundo ele, vem sendo cada vez mais devastada.

“Poucos dias antes de morrer, ela falou bem claro que sabia que estava ameaçada, mas entendeu que o lugar dela estava ao lado dessas pessoas constantemente humilhadas.  Então, ela não poderia fugir”, relata Erwin.

Responsabilização dos culpados

No mesmo ano do crime que matou a missionária, Rayfran das Neves Sales confessou ser o autor do assassinato e foi condenado a 27 anos de prisão.  A pena se confirmou no dia dez de dezembro do ano passado, no Fórum Criminal de Belém, após ter sido anulada a realização de novo julgamento do acusado.

Identificados como intermediário da ação e pistoleiro acompanhante de Rayfran no momento do crime, Amair Feijoli da Cunha e Clodoaldo Carlos Batista hoje cumprem pena de 18 e 17 anos de reclusão, respectivamente.

Em 2007, um dos fazendeiros que arquitetou o assassinato, Bida, recebeu pena de 30 anos de prisão.  No entanto, um novo julgamento, em 2008, inocentou o fazendeiro.  O Ministério Público recorreu da decisão e a Justiça paraense anulou a absolvição do fazendeiro, determinando nova prisão.

Depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou habeas corpus impetrado pela defesa do acusado, no último dia 04, ele finalmente se entregou à Polícia Civil do Pará, e vai aguardar preso pelo novo julgamento, previsto para 31 de março.

Já o outro mandante do crime, Taradão, jamais foi julgado. Seu recurso contra a decisão de primeiro grau que o mandou para júri ainda não teve um julgamento definitivo. Hoje, Taradão responde ao processo em liberdade.  Ele chegou a ser preso em dezembro de 2008 por tentar grilar um lote da área que teria motivado o assassinato da Dorothy.

De acordo com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal no Pará, Taradão tentou negociar o lote 55, que ocupa cerca de 3.000 hectares do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, pelo qual a freira lutava.

O pecuarista não ficou nem dois meses preso.  O Tribunal Regional Federal da 1ª Região aceitou pedido de habeas corpus e o soltou. Agora, há expectativa de que ele seja julgado ainda neste semestre.

O promotor do Ministério Público do Pará responsável pelo caso da missionária, Edson Cardoso, diz que as tramitações seguiram seu curso natural.  “Esse é o prazo médio de um julgamento.  Considerando que estamos em uma capital com muitos processos em andamento”, explica.

Ele apontou como avanços o fato de já terem sido condenadas três pessoas pelo assassinato de Dorothy, e a decisão do desembargador do Estado, que autorizou a mudança do julgamento de Taradão para Belém.  Antes, ele era previsto para acontecer em Pacajás e Anapu.

“O Regivaldo nunca tinha sido levado para julgamento porque nem o desafogamento tinha sido autorizado.  Demorou porque a legislação diz que só se pode prever um desafogamento quando todos os recursos tiverem sido julgados”, explica.

Cardoso garante não haver impunidade no caso Dorothy.  “Acredito que impunidade acontece quando há ausência de julgamento.  Quando a Justiça deixa de atuar, quando não há processo”, justifica.

Quanto ao fato de só as pessoas pagas para praticar o crime terem sido condenadas até agora, o promotor descarta a explicação de que a Justiça penal só vale para os pobres.  “Os que estão cumprindo pena estão nessa situação porque não entraram com recurso e resolveram cumprir a pena. Os outros, não”.

Crimes no campo e impunidade

Apesar da comoção em torno do assassinato de Dorothy, Dom Erwin diz que esse não foi o único crime do tipo, e houve vários outros casos semelhantes ao da missionária que não foram tão divulgados.  “Poucos anos antes, morreu o Ademir, pai de família que morreu pela mesma causa.  De madrugada, entraram na casa dele e o mataram, na frente da mulher dele.  Ele morreu pela mesma causa e o caso dele não andou como o da Dorothy.  Tem vários casos que aconteceram nos últimos anos”, afirma.

Jane, da CPT, conta que hoje a Defensora Pública do Pará reconhece a existência de 72 ameaçados de morte no Estado.  Na semana passada, a Comissão Pastoral da Terra protocolou no Tribunal de Justiça do Estado uma lista que indica a ocorrência de 681 assassinatos por conflitos agrários, entre 1982 e 2008.  Desses crimes, segundo a coordenadora, apenas 259 desencadearam ações penais e alguns, inclusive, já prescreveram.

“Isso mostra a impunidade. Com essa lista, o CNJ [Conselho Nacional de Justiça] e o TJ (PA) já baixaram uma portaria determinando um mutirão para o julgamento de crimes no campo, dentre os quais está o caso Dorothy”, conta a coordenadora.

O promotor Cardoso acredita que houve avanço da Justiça em defesa das vítimas da violência no campo, principalmente com relação às lideranças.  “Se você for ver as mortes de anônimos no campo (trabalhadores do campo que estão no dia-a-dia trabalhando), continuam ocorrendo, infelizmente. Agora, com relação a lideranças houve um freio”, afirma.

Ele também diz que a Justiça passou a se fazer presente e de forma imediata, em conseqüência da morte de Dorothy.

Vida de luta

A irmã Dorothy nasceu em 7 de junho de 1931, na cidade de Dayton, no Estado de Ohio (Estados Unidos) e, como religiosa, foi destinada por sua congregação – as Irmãs de Notre Dame de Namur – para trabalhar no Brasil, em 1966.  De início, a missionária atuou em Coroatá (MA), onde pôde acompanhar o trabalho de agricultores nas comunidades eclesiais de base.

A irmã assistiu ao movimento de muitos deles ao Pará, devido à falta de terras para plantar e à busca desses trabalhadores por fugir da submissão aos mandos e desmandos de latifundiários.

Em 1982, Dorothy procurou o bispo da Prezalia do Xingu, Dom Erwin, para falar sobre sua vontade de trabalhar com os pobres da Amazônia.  “Eu já era bispo naquele tempo, e ela se apresentou como representante da congregação dela e me disse que queria trabalhar no meio dos mais pobres.  Então, eu falei para ela: vá para a Transamazônica Leste, atual Anapu.  E ela ficou lá até o fim de sua vida”, relembra Dom Erwin.  .

E foi numa das áreas mais pobres e necessitadas da Amazônia, cortada pela rodovia Transamazônica, que Dorothy lutou contra o interesse de grileiros e grandes fazendeiros.  Desde a década de 1980, a região da pequena cidade de Anapu, no centro do Estado, mais conhecido como Terra do Meio, juntamente com sul e o sudeste, passou a formar a área de maior pressão pelo desmatamento da floresta amazônica.

Isso gerou constantes conflitos entre grileiros, madeireiros, pequenos produtores e posseiros.  Dorothy denunciou por diversas vezes a situação às autoridades brasileiras.

Em junho de 2004, a missionária participou de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a violência no campo e denunciou que o quadro de impunidade tinha agravado os conflitos fundiários no Pará.  A freira disse que os grileiros não respeitavam as terras já demarcadas como assentamentos da reforma agrária.  A audiência contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário daquela época, e o próprio relator da Comissão pediu a criação de uma força-tarefa entre Ministério Público e Polícia Federal para atuar no Pará.

O maior ideal de irmã Dorothy, indicado em sua luta por projetos de desenvolvimento sustentável, era o de que os trabalhadores rurais conquistassem o direito a um pedaço de terra para cultivar, respeitando o meio ambiente.  “Isso gerou um ambiente muito hostil.  Esses grandes, então, não queriam a irmã.  Volta e meia, eu tive que defendê-la.  Na própria Câmara Legislativa de Anapu, ela foi declarada pessoa non grata e houve uma “onda” de calúnias.  Eu fui muitas vezes para rádio e televisão dizendo que tudo isso não correspondia à verdade”, conta Dom Erwin.

Pouco tempo depois da destinação de determinada área para criação de um PDS, os grileiros se apossaram do lugar.  Eles alegavam que aquelas terras já tinham dono e se valeram de ameaças de morte para afastar muitas famílias do local.

A luta de irmã Dorothy pelo direito dos pequenos agricultores alimentou a ira dos fazendeiros e grileiros.  Por isso, sua vida foi interrompida com seis tiros à queima roupa quando ela se dirigia a uma reunião com agricultores no interior de Anapu.  “[Os assassinos] já queriam ter feito isso na véspera ou na antevéspera, quando ela estava dormindo numa dessas casas pobres.  Mas, os assassinos foram espantados pelo choro de uma criança e resolveram deixar para outro dia”, informa o bispo da Prelazia do Xingu.

Comitê

Depois do assassinato, foi criado em Anapu o Comitê Dorothy.  O grupo tem como objetivo construir uma cultura de paz por meio do comprometimento de homens e mulheres com a Defesa dos Direitos Humanos e da Justiça socioambiental na Amazônia, concretizando a missão de Dorothy.

O comitê é hoje formado por religiosos, religiosas, ativistas dos direitos humanos e jovens que, indignados com a impunidade diante dos crimes no campo, acreditam na possibilidade de fazer algo pelo bem comum e pelos direitos das pessoas excluídas da Amazônia.  Esse é um legado de Dorothy.

Para saber mais sobre o Comitê Dorothy, acesse: http://comitedorothy.blogspot.com/

Homenagem

Jane informou que amanhã será realizado um ato em memória do assassinato de Dorothy em frente ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ-PA), em Belém, a partir das 8h00.  “Queremos, com uma celebração inter-religiosa e a participação de vários movimentos sociais, chamar a atenção para o desmatamento acelerado na Amazônia e a aceleração do processo de Belo Monte [usina hidrelétrica que se pretende construir no rio Xingu (PA)].  A irmã Dorothy lutou contra isso”, conta.

Outro objetivo da manifestação é mostrar a importância do trabalho desenvolvido por Dorothy, que hoje é continuado pela CPT e pelo Comitê Dorothy, rendendo resultados importantes, como a demarcação de assentamentos da reforma agrária e políticas públicas para os agricultores pobres.





Fonte: [www.consciencia.net]

12 de Fevereiro no Brasil e no mundo

Dicionário da Sônia*

12 de fevereiro

Dia de Darwin no Brasil, pela data de nascimento do homenageado.

1809 Nascimento: Charles Darwin, cientista, biólogo e naturalista inglês,
autor da teoria da evolução das espécies, após viagem que incluiu o Brasil.

1893 Havaí é anexado aos EUA, se tornando o seu 50º estado.

1950 Einstein é entrevistado pela televisão em programa patrocinado pela
ex-primeira dama Eleanor Roosevelt, e se declara contra a fabricação da
bomba de Hidrogênio, provocando a ira do governo norte-americano.

1956 Admitido o primeiro universitário negro na Universidade de Alabama,
EUA.

1968 Artistas de teatro fazem greve nacional contra a censura.

1980 Albert Sabin, cientista, abandona o cargo de consultor especial do
Ministério da Saúde após denunciar o governo do ex-presidente Médici de
manipular dados referentes às condições de saúde no país entre 1969 e 1973.

1999 Bill Clinton, presidente dos EUA, é absolvido das acusações de
perjúrio e obstrução à justiça no caso 'Mônica Lewinski', e escapa do
impeachment.

2005 Morte no campo: Dorothy Mae Stang, missionária norte-americana
defensora dos trabalhadores rurais, cruel e covardemente assassinada em
Anappu, interior do Pará (gov. Simão Jatene).

2007 Ari Fleischer, secretário de imprensa da Casa Branca, é acusado por
crime de alta traição por ter revelado ao Washington Post que Valerie Plame
era agente da CIA, por vingança contra o marido dela, o embaixador Joseph
Wilson, crítico da invasão do Iraque.

2008 Lula, presidente do Brasil, e Sarkozy, presidente da França, se
encontram na Guiana Francesa e afirmam concordar com a entrada de países
emergentes no G8 e na democratização de órgãos internacionais multilaterais,
como a ONU e o FMI.

*Sônia Montenegro mantém o blog "Farmácia de Pensamentos" e é colaboradora do blog "Quem tem medo do Lula?"

PNDH-3: O Doce Cheiro do Incenso

PNDH-3: O Doce Cheiro do Incenso

Por Carlos Alberto Lungarzo


O PNDH-3 provocou pânico e desconforto não apenas nas casernas, mas também nos púlpitos. Esta é uma coincidência muito natural, pois, entre o século 4º e o século 19º, as forças armadas, a Igreja Católica e o poder político foram mais do que íntimos aliados. Foram três aspectos de uma mesma entidade, como na alegoria trinitária. Na Idade Média, os papeis de bispos, nobres, e chefes militares estavam misturados, e o próprio Papa era uma réplica do Imperador. Algo amortecida, esta fusão continuou na Idade Moderna. Richelieu tinha título de duque, chegou a cardeal, e foi o mais importante secretário de estado do Absolutismo.

O poder absoluto e sem fissuras dos católicos foi afetado por vários processos. Houve a eclosão da Reforma Protestante, a filosofia da tolerância (representada especialmente pelo apelo de John Locke em A Letter Concerning Toleration, em 1689), as Revoluções Inglesas, o Iluminismo, a Revolução Francesa e, em seguida, a aparição da esquerda: socialistas, marxistas, anarquistas. As esperanças de uma reversão foram depositadas no bonapartismo e nos vários fascismos. Entretanto, quando Pio 12º viu a guerra perdida, o Vaticano se tornou mais negociador.

A crise atual é reconhecida pelos próprios fieis. Autoridades eclesiais de todos os escalões lamentam a fuga de católicos para outras seitas.. Na Europa, templos fecham por falta de público. A proporção de pessoas “sem religião institucional” aumenta em todo Ocidente. Muitos dizem que aquilo é obra do demônio, outros que a Igreja atua com soberba e vaidade, e alguns pensam que um catolicismo progressista, popular, de base, libertador, etc., acabará dando certo. (Algo que, meio século após Camilo Torres, a história não confirma.) Consciente da situação, porém discreto como sempre, Bento 16º viajou aos EEUU para uma safra de fé entre 30 milhões de latinos que, vítimas do racismo e da xenofobia, encontram na religião legada pela colônia sua principal consolação..

No Brasil, a presença de numerosos ritos africanos e o sincretismo próprio de um país miscigenado aberto ao Atlântico e montado sobre dois hemisférios, acalentaram durante muito tempo as esperanças de uma igreja revolucionária e humanista. Numa extensão difícil de controlar, habitada por uma população multicolor, era impossível pinçar as heresias como faziam os papas medievais. Assim, durante algum tempo, a teologia da libertação captou parte significativa do baixo clero e até ganhou as simpatias de vários bispos. Os militares brasileiros foram herdeiros de uma direita menos mística que o falangismo espanhol, o carlismo ou a ortodoxia pré-tridentina, e seus planos ditatoriais entraram em conflito com a Igreja. Este atrito teve várias fontes, mas existiu um sentimento protetor em alguns prelados. Mas isso é tempo passado.


A Rebelião dos Bispos


Há vários pontos do PNDH-3 que incomodam os católicos.  Um dos mais problemáticos é o inciso (g) do Objetivo Estratégico III (Diretriz 9, Eixo III): o direito ao aborto. Outro é o Objetivo Estratégico V, referido ao direito de orientação sexual e identidade de gênero, cujos incisos produzem pavor.

Já o inciso (c) do Objetivo VI da Diretriz 10, no Eixo III (“Desenvolver mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União”) parece gerado pela máquina do tempo. Há duas perguntas sobre isto que são igualmente arcaicas: (1) Por que esta questão não está ainda resolvida, depois de séculos de luta? (2) Por que a Igreja se incomoda tanto com a ausência de crucifixos nos juizados, na Receita Federal, nos ministérios, nas delegacias?

Sendo um problema menor, pode-se tentar uma resposta.  A Igreja se acha parte fundamental da história de Ocidente (como o pretendeu durante a fundação do Conselho de Europa) e defende esse privilégio por todos os meios. Sem dúvida, é; mas em que sentido?

No 03/02/2010, no Brasil, 67 bispos fizeram circular uma proclama na que reiteram críticas a estes pontos, que já tinham sido proferidas  pela CNBB no dia 15 de janeiro. Vamos nos deter apenas numa. O manifesto, segundo a imprensa, demoniza...

"...a criação de mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União, pois considera que tal medida, intolerante, pretende ignorar nossas raízes históricas".

Além disso, os piedosos debatedores acusam o governo de autoritário e “intolerante” , ameaçam com apocalípticos conflitos sociais, e mencionam em seu favor a rejeição destas propostas “por organismos legítimos”. Será um trailer de uma nova Marcha da Família com Deus pela Liberdade, como nos tristes anos 60? Analistas de esquerda talvez ridiculariziam essa hipótese, com base na situação mundial atual, radicalmente diferente daquela de 1964. E talvez eles estejam certos. Mas, como sabemos, a evolução futura da sociedade, que é um sistema aberto, só pode ser prevista com alguma vaga probabilidade. Ou, para quem não goste desta apreciação científica (que nos pode levar ao mesmo banco dos réus que a Galileu), usemos expressões mais elevadas: O futuro a Deus pertence.



Raízes (e Forestas) Históricas


Em tempos modernos, a Igreja tem utilizado, tanto nas Américas como na Europa, o argumento das raízes históricas. Quando Vaticano exigiu que as declarações da UE sobre suas origens e seus objetivos incluíssem o papel da Igreja, apelou às raízes históricas muito mais que a suas tarefas atuais.

Apesar da influência da Igreja nos governos, exércitos, economias e partidos de vários países, o poder terreno do clero parece esmorecer. Hoje, achamos cômica a pretensão de Churchill de perturbar Stalin usando as opiniões do Papa sobre a Guerra.

É claro que ninguém acha que possa entender-se a história sem a Igreja Católica. Mas, esta afirmação objetiva parece pouco relacionada com a necessidade de exibir estátuas, crucifixos, quadros moralizantes e coisas do gênero nos edifícios da União.  No Brasil, onde a memória histórica é muito baixa, sendo poucas as pessoas que reconheceriam efígies de personagens como Tiradentes, é supérfluo que a história da Igreja, tantas vezes celebrada nos muitos feriados, seja recriada também nos prédios públicos.  Aliás, a reivindicação do catolicismo como “raiz” da cultura brasileira e latino-americana, coloca vários problemas.

Uma tradição histórica nem sempre é positiva para a felicidade da sociedade. Quem pode negar a enorme influência histórica do nazismo? São poucos os fenômenos internacionais que ainda hoje podemos explicar sem nos referirmos à Segunda Guerra Mundial, e as truculências do Reich que a deflagraram. Depois de séculos tentando refutar o verdadeiro efeito da Igreja nos valores e direitos humanos, finalmente, na virada do milênio, um Papa decidiu adotar uma estratégia mais arguta.

No domingo 12 de março de 2000, João Paulo 2º, secundado por seus homens de confiança, investiu várias horas de orações numa pitoresca “autocrítica” pelas vítimas da Igreja no passado. Todos foram contemplados: os judeus; os inimigos da fé; os membros de outras religiões; os emigrantes; as mulheres; os membros de outras raças; os menores abusados; os pobres, marginalizados e abandonados; as “vítimas” do aborto e da biotecnologia (sic!); os prisioneiros; os indefesos; as vítimas do poder econômico; etc. Veja o script completo, com a entrada e saída dos atores, e a descrição do cenário:


O pedido de perdão mobilizou em seguida a totalidade da mídia, que falou dos “pecados da Igreja”, e até influiu em veículos católicos. Com a mesma rapidez, todos os teólogos revelaram a interpretação “correta”: o Papa, dando grande mostra de humildade, tinha admitido, em nome da Igreja, os “pecados” dos católicos, humanos imperfeitos. Mas a Igreja, como ente supranatural, eterno, regido por Deus e alguns santos homens, não podia ter pecados. O resumo da ópera é que o Vaticano reconheceu, pelos menos, o envolvimento dos “pecadores que estavam dentro da Igreja” em todos os grandes fatos sangrentos, com exceção dos que provinham do comunismo (stalinismo e maoísmo). Foi o maior golpe de efeito do intelectualizado Papa, mas nem isso resolveu a crise da instituição.

Como no resto da América Latina, no Brasil, a conquista, a colonização, o extermínio de índios e a escravidão precisavam um fundamento teológico. O avanço sobre novos territórios, ao preço humano que fosse necessário, garantia a extensão da fé católica, aumentava as riquezas da Igreja, e alargava o poder político internacional do Papa. Além disso, a religião também atuava como causa. Apesar de que a cobiça, o sadismo e a luxúria foram fortes motores para os militares colonizadores, uma experiência tão cheia de perigos e privações exigia uma consolação cuja intensidade estivesse à altura do sofrimento. Não existindo nenhuma causa nobre para justificar aquelas aventuras, a fé em Deus, a crença em sua proteção, o temor ao inferno, a promessa do paraíso, atuaram como incentivos. Houve algumas contradições entre os padres solidários com os índios e aqueles que escreveram códigos de tortura para que os laicos utilizassem. Contudo, essas discrepâncias eram pequenas, se comparadas com a unicidade do projeto de conquista, que elevaria a glória de Deus e encheria os bolsos dos aventureiros.

Tem-se argumentado, muitas vezes, que a colonização dos países anglo-saxões foi energizada da mesma maneira pelo clero protestante. O assunto é complexo, mas vale mencionar que a grande divergência entre as seitas reformadas, tornava mais fácil o surgimento de grupos humanitários, mesmo que os dominantes fossem puritanos cruéis e doentios. Assim, na conquista dos EEUU teve um peso (talvez pequeno) a ideologia progressista dos Levelers, os Ranters, os Quakers, os Amish e até de setores humanitários dentro das correntes tradicionais (batistas, metodistas, etc.).

Por outro lado, sendo mais práticos e menos metafísicos, os protestantes fazem pouca questão de serem incluídos (através de testemunhos físicos como ícones ou monumentos) na história dos países a cuja opressão contribuíram. A pretensão católica de ostentar os símbolos religiosos como representação do passado coloca várias dificuldades insuperáveis.

(1) A exibição agressiva nos edifícios públicos, não é apenas uma violação do “direito formal de opinião religiosa”. É uma ferida na carne daqueles que sofrem ou sofreram pela perseguição eclesial (que ainda hoje são muitos). (2) Obviamente, esses ícones não mantém viva a história da Igreja, como o faria um museu do catolicismo (o que seria uma iniciativa correta). O que eles conservam é o temor e o constrangimento. (3) Mesmo se a história pudesse ser narrada por meio de cruzes e estátuas, será que a lembrança permanente dessa história é boa para alguém? Não seriam os católicos os primeiros prejudicados de que sua história fique conhecida?

Por sinal, talvez por ignorância, não entendo muito esse fetichismo simbólico. Por exemplo, se Cristo tivesse sido enforcado, em vez de crucificado (uma forma de execução já conhecida na época), seus fieis carregariam “maquetes” de cadafalsos?


Intolerância?


O sentimento religioso é um fenômeno (positivo ou não) muito estendido e natural em grande parte de nossa espécie. Ainda hoje, as pessoas que prescindem de todo tipo de fé religiosa, são minoria a escala mundial. De acordo com o prestigioso Eurobarômetro da Comissão Européia, a proporção dos que acreditam em alguma religião ou força transcendente, varia muito de um país a outro. Os seguintes dados são de 2005.

Os que não acreditam em deuses, nem em forças sobrenaturais, nem na vida eterna, em fim, os céticos incuráveis, perfaziam o 1% dos turcos, 6% dos portugueses, 6% dos italianos, 18% dos espanhóis, 20% dos britânicos, 23% dos suecos, 25% dos alemães, 27% dos holandeses e 33% dos franceses, para mencionar as nacionalidades mais conhecidas para nós.


Os ateus radicais são sempre minoria, atingindo um terço apenas na França, mas isso não prova que o catolicismo seja esmagadoramente majoritário. Denominações protestantes e correntes cindidas do catolicismo formam um grupo importante na Europa. No entanto, a maioria das pessoas acredita em forças superiores, destino, deuses, mesmo que não se submeta à disciplina de uma seita. Isto mostra que, mesmo nos países mais desenvolvidos e educados, a existência humana gera inquietações que nem a vida prática nem a ciência resolvem totalmente para todos os habitantes..

Aliás, o sentimento religioso, seja individual ou compartilhado, não precisa ser alienante, desde que o sujeito o separe de suas decisões práticas (moral sexual, idéias políticas, valores sociais), e não o confunda com fonte de conhecimento. Imagino que, para alguém que acredita saudavelmente em entes sobrenaturais, deve existir um prazer análogo ao que fornece o amor da família e dos amigos, o gosto pela natureza e pelos animais, a solidariedade, a devoção por causas humanas, e possivelmente, o deleite estético. (Por sinal, a crença de muitas pessoas, inclusive de esquerda, de que o marxismo defende um “ateísmo científico” é leviana. No marxismo, nem a religião nem o ateísmo são problemas científicos; o combate à religião institucionalizada é estritamente social.)

Portanto, é negativo (porém não surpreendente) que os bispos acusem aos autores do PNDH-3 de intolerantes . Se tivessem tido coragem, teriam proferido as palavras nas quais estavam pensando: o plano deve ser considerado depravado, dissoluto, escandaloso, lascivo, despudorado, solidário demais (muito além da caridade condicionada da Igreja). De fato, o que eles criticam é a tolerância do plano com as religiões não católicas.

Por razões genuínas ou populistas (isso tanto faz), o plano pretende que também os não católicos sejam respeitados e tratados como humanos.. É sadismo excessivo que um favelado que foi tomado preso porque a polícia precisa manter seu treinamento em tortura, seja ainda humilhado observando a tortura de Cristo, que a Igreja atribui ao pecado original daquele pobre diabo.

A exibição discreta por particulares de símbolos como cruzes, crescentes, estrelas de David, mandalas, relicários com fotos de Chico Xavier, medalhas de Zoroastro, e assim em diante é legítima. A imposição de símbolos soturnos em espaços institucionais, onde algumas pessoas são constrangidas pela permanente lembrança de que está fora daquela seita triunfante, é nada mais que agressão, tanto como a burqa ou o chador.

Não há dúvida que a ideologia nazista misturou, junto com o idealismo alemão e o racismo, crenças religiosas cristãs e pagãs que acabaram dotando ao movimento de certo perfil místico. Será que aceitaríamos que bairros habitados por nazistas possam ter em suas prefeituras e outras instituições cruzes suásticas? Afinal, antes de Hitler, essa cruz não era o símbolo da cobiça germânica, mas apenas uma alegoria da pureza indostânica.

Carlos Alberto Lungarzo é professor e escritor, autor do livro "Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti". Para fazer o download de um resumo do livro, disponibilizado pelo próprio autor, clique aqui. É membro da Anistia Internacional e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

"Vote num careca e leve dois"

"Vote num careca e leve dois"

Por Laerte Braga


A afirmação foi feita pelo governador de São Paulo, José Collor Serra, numa reunião festiva com o governador de Brasília, José Roberto Arruda, ora em retiro nas dependências da Polícia Federal. Pode ser vista no vídeo abaixo:



Arruda era o preferido de Serra para ser o vice em sua chapa, isso antes do paulista ter transformado Aécio Neves em pó de traque, nos alertas do jornalista marrom Juca Kfoury, aliado palmeirense do governador tucano.

A decisão do ministro Marco Aurélio Mello deixa os tucanos e os DEM numa saia justa. O ministro negou o habeas corpus em caráter de liminar e a decisão fica agora para a quarta-feira de cinzas a cargo do pleno, ou seja, da totalidade dos ministros da Suprema Corte. A turma, um a um, vai ter que dar a cara a tapa. Como Gilmar Mendes vai se sair dessas não sei, mas é possível que não tendo que dar o voto de desempate, não vote. É típico de cretinos como ele, espertalhões do seu feitio.

O governador José Roberto Arruda mandou hoje seu recado aos “aliados”. Foram dois recados, aliás. O primeiro dado pelo secretário de Transportes e seu amigo Alberto Fraga. Arruda está incomodado por estar preso há dezoito horas, quando do recado e ainda não ter sido chamado a prestar depoimento. Mais ou menos um “vocês se virem aí fora para me tirar dessa fria ou abro o bico”. O segundo é sobre seu abatimento, veio pela boca do coronel PM Ivan Rocha, chefe da Casa Militar do governo de Brasília. “O governador está muito abatido e não conseguiu dormir à noite”.

A primeira preocupação do governador Serra assim que o escândalo estourou, foi tentar minimizar o impacto dos fatos em sua candidatura presidencial. Descolar sua imagem de Arruda não tinha como, o jeito era buscar maneiras de manter esse vínculo longe da opinião pública. Conseguiu em parte e durante algum tempo.

Para isso viajou para Davos a pretexto de participar do Fórum Econômico Mundial, levou consigo uma amiga comum, dele e de Arruda, a senadora Kátia Abreu, especialista em desvio de dinheiro público, grilagem de terras e trabalho escravo. Arruda foi em seguida e por lá um acordo foi selado. Serra garantiu ao governador de Brasília que ia segurar a REDE BANDEIRANTES (estava acompanhado da filha do dono da REDE), tentar ajeitar as coisas na GLOBO aumentando a verba publicitária e, por extensão, determinar, isso mesmo determinar, aos jornais paulistas FOLHA DE SÃO PAULO e ESTADO DE SÃO PAULO, que não tocassem mais no assunto, ou quando tocassem o fizessem em páginas internas e sem destaque.

Com a prisão de Arruda o acordo furou. Segurar como?  O estar incomodado por não ter sido chamado a prestar depoimento ainda é exatamente uma declaração de ruptura desse acordo. E um aviso sobre a necessidade de um novo entendimento que dê a ele Arruda garantias pelo menos que não vai ficar preso por muito tempo e, principalmente, vai poder salvar o dinheirinho guardado em meia, cueca, malas, contas no exterior, etc, etc.

Como o plano de Serra era “vote num careca e leve dois“, o careca paulista vai ter que se desdobrar para evitar respingos e respingos fortes em sua imagem que já não é das melhores. Em São Paulo as tempestades vão além das tempestades propriamente ditas e compreendidas.

Vamos, assim de repente, do nada, que a Justiça brasileira tenha uma crise de dignidade e resolva colocar na cadeia governadores corruptos. Serra é um dos primeiros..

Não foi só o governador José Roberto Arruda que não dormiu na noite de quinta para sexta-feira. O paulista também não. E como tem o hábito de praguejar, dar ataques histéricos, coisas do gênero quando contrariado, deve ter azucrinado a vida de seus assessores mais diretos.

E devem ficar sem dormir alguns deputados, senadores do DEM e do PSDB, sem falar em um tanto de ministros do STF. Como se costuma dizer, os olhos do País estarão postos sobre eles na próxima quarta-feira de cinzas.

Qualquer que tenha sido a justificativa da decisão do ministro Marco Aurélio Mello, o ministro, no duro mesmo, saiu de uma baita armadilha. Noutras circunstâncias, como fez com o caso de Daniel Dantas e do médico paulista que abusava de suas pacientes, Gilmar Mendes teria chamado a si a “responsabilidade” e mandado soltar Arruda. Ambos foram colegas no governo de FHC e Gilmar está no STF para garantir que nada de errado aconteça com a turma do ex-presidente.

Razões técnicas para mandar soltar Arruda existiam e Marco Aurélio preferiu não passar recibo na fria em que tentaram colocá-lo. Pegou a bola colocou na marca do pênalti e cada um vai ter que bater o seu.

Bater e explicar.

E por falar em marca do pênalti, quem está agora pela bola sete é a governadora tucana do Rio Grande do Sul, amiga dileta de FHC. Aprontou todas e tantas quanto possíveis. Se a moda pega e a OAB pede a prisão de Yeda Crusius não tem como o STJ negá-la se decidiu assim com relação a Arruda.

É aí é a teoria dominó. Cai o rei de copas, caem todos os outros reis do tucanato e seus braços DEM e PPS.

A intenção de José Roberto Arruda era viajar para o Rio de Janeiro e passar o carnaval naquela cidade. O governo de Brasília é o principal patrocinador da Escola de Samba Beija Flor. José Roberto Arruda, na tentativa de resgatar sua imagem nos 50 anos de Brasília, pretendia incluir no seu roteiro carioca um e outro passo de samba.

Sambou, mas não como queria.

Pode ser que num esforço titânico consiga que Madona vá a Brasília visitá-lo em troca de alguns trocados para “as crianças pobres da Amazônia”. Quem sabe não é uma boa oportunidade para o governador redimir-se já que, desde que a bomba explodiu, não tem feito outra coisa que não pedir desculpas.

Madona chega, como não pode tomar caipirinha nas dependências da Polícia Federal toma um suco, tem uma audiência reservada com Arruda (como teve com Serra) e sai de lá com algum no sutiã para ajudar as crianças. Na saída dá um selinho no governador.

Somos o País do espetáculo, nada é impossível. E tanto é assim que Arruda está preso.

O careca Serra vai ter que mudar de slogan, o outro careca já foi preso (ele ainda não) e às vezes tentar um cabeludo.

É o tal negócio já se dizia desde antanhos, “quem fala muito dá bom dia a cavalo”. E rabo de cavalo cresce para baixo.

Laerte Braga é jornalista e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Botaram fantasia de preso no Arruda

Botaram fantasia de preso no Arruda


Por Celso Lungaretti

“Parece que uma das características do carnaval é dar aos escravos de qualquer época o direito de criticar e zombar de seus senhores”, avaliou a pesquisadora Eneida, em sua História do Carnaval Carioca.

Bem dentro desse espírito, o Superior Tribunal de Justiça colocou o (des)governador do Distrito Federal José Roberto Arruda atrás de grades -- apenas simbólicas, já que passou a noite de 5ª para 6ª feira confortavelmente instalado no gabinete da diretoria do Instituto Nacional de Criminalística.

E ninguém duvida de que o Supremo Tribunal Federal acabará soltando Arruda, cujo azar foi seu pedido de habeas corpus ter caído nas mãos do ministro Marco Aurélio Mello, um dos que honram a toga.

Ele adiou a decisão por faltarem alguns elementos para análise liminar da ação... e, provavelmente, para que Arruda recebesse ao menos uma punição moral.

Em último caso, entretanto, o presidente Gilmar Mendes dará um jeito de restabelecer a ordem natural das coisas.

Até nosso bom Lula teria lamentado, segundo um assessor próximo, que os acontecimentos houvessem chegado ao ponto de ser pedida a prisão de um governador.

Cá com meus botões, apostaria que a possibilidade de Arruda ser finalmente expelido do governo é muito maior do que a de passar uma temporada preso.

Fico me lembrando de como os militantes revolucionários dos anos 60 encarávamos tais casos de corrupção: nós os víamos como intrínsecos ao capitalismo, e não meramente circunstanciais.

Ou seja, só teriam fim a partir de uma mudança profunda da organização econômica, política e social do País.

Para quem considera que a propriedade é o roubo (anarquistas) ou que o capitalismo se alicerça sobre a usurpação individual de parte do produto do trabalho coletivo (marxistas), é esta a distorção suprema de nossa sociedade, não a corrupção dos políticos -- os quais devem ser tidos como meros ladrões de galinhas, na comparação com os banqueiros e os grandes empresários.

Os tão alardeados prejuízos que os políticos causam aos pagadores de impostos são irrisórios, insignificantes ao extremo, em relação à rapinagem legalizada que o capital pratica contra a totalidade dos brasileiros.

Mas, claro, interessa ao sistema, por meio de sua indústria cultural, manter a plebe ignara sempre mesmerizada pela árvore e incapaz de perceber a floresta por trás dela.

O combate à corrupção fornece catarse para as massas e, em momentos de crise, enseja mobilizações golpistas. Não por acaso, foi um dos principais motes da quartelada de 1964, apelidada de redentora porque se propunha a moralizar os costumes políticos brasileiros.

Daí a amarga crítica feita pelos revolucionários mais consequentes aos agrupamentos de esquerda que, embarcando nos desvarios populistas, ajudaram a minar o governo João Goulart, ao fazerem coro às acusações lançadas pela direita. No fundo, só serviram para colocar azeitona na empada dos golpistas.

O "HOMEM DA VASSOURA" E O "ROUBA-MAS-FAZ"

As desventuras momentâneas do Arruda lembram episódios do populismo pré-1964, como a acusação feita a Adhemar de Barros (o rouba-mas-faz anterior a Paulo Maluf), de que em 1949 abusara de seu poder como governador paulista para obter um empréstimo irregular do Banco do Estado de São Paulo, visando à aquisição de dez automóveis Chevrolet.

A denúncia foi exumada em 1956 por Jânio Quadros, que se definia politicamente como o anti-Adhemar.

Jânio tinha como símbolo a vassoura, que serviria para varrer a roubalheira do rato Adhemar. E, na esperança de liquidar politicamente o rival, arrancou do Tribunal de Justiça de São Paulo sua tardia condenação a dois anos de reclusão, por peculato.

Acabaram sendo apenas dois meses de exílio na Bolívia, para onde fugiu.

Beneficiado por habeas corpus do STF (Gilmar Mendes teve predecessores...), Adhemar de Barros voltou em triunfo, elegeu-se prefeito da capital e, em seguida, governador do Estado, posição a partir da qual apoiou fortemente o esquema golpista de 1964.

Já Jânio Quadros, o caçador de roedores que inspiraria o caçador de marajás, alcançou a Presidência em 1960, com a maior votação até então obtida por um candidato ao posto máximo da República, vencendo de forma esmagadora o marechal Henrique Lott.

Fez um governo anedótico, entre 31/01/1961 e 25/08/1961, ocupando-se de ninharias como a proibição das rinhas de galo, do lança-perfume nos bailes de carnaval e do televisionamento de concursos de miss nos quais as ditas cujas trajassem biquinis.

Ao renunciar na esperança de que o povo o reconduzisse ao poder com poderes ampliados, abriu, isto sim, as portas para as duas tentativas dos conspiradores militares: a que fracassou em 1961 e a que resultou em 1964.

Invertendo a frase célebre de Hegel, as farsas do populismo criaram condições para a tragédia que se abateu por 21 anos sobre o Brasil.

IMPUNIDADE APÓS A REDEMOCRATIZAÇÃO

É claro que a atual impunidade dos poderosos -- de Pimenta Neves até José Sarney, passando por banqueiros como Dantas e mensaleiros como Palocci -- ofende profundamente o espírito de justiça de que todos nós somos dotados, segundo Platão.

O Brasil consegue ser o pior dos mundos possíveis, com a inclemência capitalista elevada ao máximo e nem sombra da igualdade de todos perante a lei que é erigida em valor importante nos países capitalistas avançados (muito deixa de vir à tona, claro, mas quando figurões são flagrados, dificilmente escapam da punição)..

Vai daí que que o opróbrio de um Arruda nos lava a alma, depois de tantos episódios que tiveram desfechos pífios.

Mas, é pouco e por aí não chegaremos a lugar nenhum: o verdadeiro desafio continua sendo o de mudarmos as estruturas.

Celso Lungaretti, é jornalista, escritor e ex-preso político. Mantém o blog "Náufrago da Utopia", é autor de livro homônimo sobre sua experiência durante a ditadura militar e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"
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