Por Ana Helena Tavares, do Rio de Janeiro, para o "Correio do Brasil"(*)
Hoje, 13 de Dezembro, é um triste aniversário. Quarenta e dois anos atrás, a ditadura militar brasileira implementava o Ato Institucional Nº 5 – vulgo AI-5, endurecendo o regime e fazendo-o merecedor da alcunha de anos de chumbo.
Sim, a ditadura foi aqui. Dizê-la branda faz parte unicamente da fantasia dos que hoje têm medo da verdade. Daqueles que hoje têm medo de que seus netos e bisnetos saibam letra por letra o que eles fizeram no milênio passado.
Era 1969 e o AI-5, com um ano de vida, vigorava a pleno vapor. Meu tio, então um jovem como eu, gostava de ir aos cinemas, que existiam aos montes no Rio de Janeiro. Naquele ano, a caça aos comunistas, indiscriminadamente chamados de “terroristas”, estava a mil por hora.
Meu tio não tinha envolvimento político com direita, esquerda, centro, nada! Tinha, sim, a infelicidade do destino de ser parecido com um comunista muito procurado e foi isso o que o fez ser seguido até o cinema.
Os militares – aqueles que, há quem diga, “não queriam o golpe” – provavelmente assistiram à sessão junto com ele, de tocaia. Ao sair, enquanto esperava o ônibus para voltar para casa, foi abordado e começaram a perguntar-lhe sobre questões políticas. Do alto de sua inocência, sem sequer imaginar o que se passava naquele momento, limitou-se a balançar a cabeça afirmativamente. Assim, lhe mostraram a carteira do DOPS (“Departamento de Ordem Política e Social”, nome pomposo para repressão) e lhe “convidaram” a entrar em um carro.