O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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Peço que, quem queira continuar acompanhando o meu trabalho, siga o novo blog.

domingo, 11 de julho de 2010

Democracia de araque

Democracia de araque

Por Mario Augusto Jakobskind (*)

Enquanto a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) se manifesta quase diariamente contra supostas restrições à liberdade de imprensa na Venezuela, Bolívia, agora Equador e a legislação midiática aprovada na Argentina, o mesmo tom não é adotado em países como o México, onde o panorama nesse campo é bastante desabonador. A grande mídia conservadora prefere seguir os passos da SIP e não proclama editoriais para denunciar o que está ocorrendo no país governado por Felipe Calderón.

E o que está acontecendo nas plagas astecas? Um das questões diz respeito às verbas publicitárias do Estado. As publicações que não rezam pela cartilha de Calderón não recebem publicidade estatal. Mais de cem cerraram suas portas e outras são obrigadas a despedir jornalistas por não terem como arcar com as despesas de contratação dos trabalhadores.

A Revista Mexicana de Comunicação, com 26 anos de existência, é um dos exemplos concretos da ação do caldeirismo, ou seja, por ter uma linha editorial crítica e de análise sobre o bom comportamento de certos órgãos de imprensa em relação ao Presidente Calderón, o governo mexicano ordenou a suspensão da publicidade para o órgão de imprensa agora ameaçado de fechamento.

Também no México, que vive uma guerra de máfias, dezenas de jornalistas foram assassinados nos últimos tempos e dificilmente os responsáveis pela violência são punidos. Na época da hegemonia do Partido Revolucionário Institucional, o PRI, que governou o México seguidamente por mais de meio século, jornalistas que cobriam as esferas do poder recebiam a cada fim de ano um envelope com dinheiro. Quem não seguisse a rotina se via ameaçado de perder o emprego e se fosse mais ousado, a própria vida. Pode-se imaginar o tipo de cobertura que ocorria nos referidos espaços.

Com Calderón, cujo Partido Ação Nacional, desde o anterior Presidente Vicente Fox, se apresentava como alternativa “moralizadora” e tudo mais, praticamente nada mudou, quem não reza pela cartilha do PAN corre o risco de perder publicidade necessária para a continuidade da publicação.

Mas a SIP não está nem aí, muito menos em relação ao que ocorreu na semana que passou na CNN, onde a editora sênior para assuntos do Oriente Médio, Octavia Nasr, foi sumariamente demitida por ter elogiado o guia espiritual do Hezbollah, Mohammed Hussein Fadlallah, morto há poucos dias. Nasr desagradou o lobby judaico e o governo Obama, que consideravam o clérigo um “terrorista”.

Por falar em Oriente Médio, a rádio do Exército de Israel, segundo divulgou o jornal Ha’aretz, o Estado hebreu enviou documentos secretos aos Estados Unidos confirmando a assinatura de um acordo de cooperação nuclear entre os dois países. Pelo acordo, os EUA se comprometem a vender a Israel materiais para produzir energia, tecnologia nuclear e outros suprimentos. E isso apesar de Israel não ter assinado o Tratado de não Proliferação Nuclear. Vários países se recusaram a fazer acordo com Israel exatamente por isso, mas Washington ignorou o fato.

Especialistas asseguram que Israel agora fica no mesmo patamar da Índia e do Paquistão, que não assinaram o Tratado e têm a bomba atômica.

Ao mesmo tempo em que isso acontece, Madame Hillary Clinton correndo o mundo continua a demonizar o Irã por causa da energia nuclear. Clinton removeu montanhas para que o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovasse as sanções contra Teerã, já o aliadíssimo Israel...

Enquanto a Justiça argentina julga o ditador Rafael Videla por mais assassinatos durante os anos de chumbo na Província de Córdoba foi divulgada a informação segundo a qual entre militares e civis 779 são acusados de cometerem crimes de lesa humanidade na ditadura militar entre 1976 e 1983. Entre eles 464 estão detidos, sendo que mais da metade se encontram em unidade penitenciárias e 39% em prisão domiciliar. Mais de 300 ainda estão para ser indiciados.

No Chile, o general da reserva Manuel Contreras, ex-chefe da polícia políitica do ditador Augusto Pinochet foi condenado a cumprir 20 anos de prisão pelo assassinato em Buenos Aires do general Carlos Prats e senhora Sofia Kuthbert. O assassino Contreras, responsável por outras mortes, tem 81 anos e vai morrer na prisão.

Já no Brasil, entretanto, o papo é outro, pois os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram que a anistia decretada em 1979, em plena ditadura, contempla a quem cometeu crimes contra a humanidade.


Em tempo: Lula fez um gol de placa ao sugerir que a CBF promovesse eleição pelo menos de oito em oito anos para a presidência da entidade. Pois é, que história é essa de a Era Ricardo Teixeira se eternizar? E agora Teixeira está fazendo lobby dos grupos que querem privatizar os aeroportos. A Argentina fez isso com Carlos Menem e os serviços pioraram. Por aqui, as privatizações em setores vitais só fizeram também piorar os serviços. Mas a grana é alta e contempla os lobistas


*Mário Augusto Jakobskind é jornalista, mora no Rio de Janeiro e é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de S. Paulo e editor de Internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário Brasil de Fato. É autor, dentre outros livros, de “América que não está na mídia” e “Dossiê Tim Lopes – Fantástico / Ibope”. É colunista do site “Direto da Redação” e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

Charges: Carlos Latuff e Bira Dantas, respectivamente.

Jornal Online ganha na França

Jornal Online ganha na França

Por Rui Martins (*)

Berna (Suiça) - Muita coisa se tem escrito sobre a transição da mídia papel para a eletrônica e as indagações mais comuns são se o jornal virtual ou portal eletrônico na Internet consegue ter assinantes e se poderá provocar o mesmo impacto do jornal impresso.

A atualidade francesa nos permite uma resposta clara e precisa – o portal ou jornal eletrônico online Mediapart provocou com suas revelações uma séria crise no governo do presidente francês Sarkozy e, em apenas dois anos de existência, reúne 30 mil assinaturas pagas. Toda atualidade política francesa destes últimos dias – rádios, tevês e jornais impressos – se baseia, cita ou se refere ao portal Mediapart.

Mediapart não tem versão impressa, emprega 25 jornalistas de investigação e se destina, como afirma na primeira página, a uma clientela insatisfeita com os jornais impressos e as informações na telinha, geralmente as versões online da mídia impressa francesa, dominada pelo presidente Sarkozy.

Um fato a destacar – o governo francês tenta minimizar a importância das acusações por terem como origem um site eletrônico, mas não consegue êxito nesse objetivo. Mediapart goza do mesmo peso e influência da mídia impressa e mostra a verdadeira dimensão da mídia do futuro, sem um suporte material e tátil porém com a mesma credibilidade.

Se, nos próximos dias, cair o ministro do Trabalho da França, Eric Woerth, responsável pelo projeto de reforma das aposentadorias não haverá nenhuma dúvida – será o resultado do fogo cerrado do jornal online Mediapart. Paralelamente ao lado político, constituirá a prova concreta de que a mídia eletrônica assumiu sua maioridade.

Talvez mal comparando, o Eu Acuso, de Émile Zola, foi o reconhecimento da força e importância na imprensa política escrita, enquanto a cobertura e denúncias da Mediapart no Caso Bettencourt, sobre fraude fiscal e financiamento do partido governamental na França, confirma o surgimento da informação política online paga pelo leitor e do portal eletrônico ou informação imediata online como a nova manifestação da imprensa de combate e de investigação.

Os esforços da China para controlar Google já têm mostrado que a Internet é um terreno difícil de censurar ou grampear. O advento do celular com chip pré-pago já havia posto em polvorosa os países totalitários e os serviços de inteligência, por permitir a circulação anônima do material contestatório e tornar quase impossível a identificação dos opositores e o controle total da população.

No Brasil, por exemplo, todos sabem da enorme influência das mensagens e-mail na desmoralização do governo FHC pelo PT, assegurando a primeira vitória de Lula. Nos dias de hoje, embora o uso das mensagens desmoralizantes tenham a mesma penetração e uso, entre lulistas e anti-lulistas, é a mídia convencional que se vê ultrapassada pelos blogs e pelos sites alternativos.

Não existe ainda um Mediapart do jornalismo investigativo brasileiro, pago por assinantes, porém será a próxima etapa. O alto custo de manutenção de um jornal impresso com circulação assegurada tem impedido a criação de um grande órgão diário de atualidades e informações independente pela esquerda, mas a Internet poderá permitir se superar essa lacuna.

Um exemplo atual de jornal híbrido com a parte mais forte eletrônica e uma parte impressa, é o Correio do Brasil, que acaba de passar por uma reforma em sua diagramação online, e cuja política é de investir mais no eletrônico que no papel. Porém, é um jornal gratuito vivendo de publicidade, mesmo porque no Brasil não são todos que podem acessar a Internet.

Edwy Plenel, criador e dirigente de Mediapart tem um currículum vitae de prestígio, pois foi chefe da Redação do Le Monde, tendo se destacado por reportagens investigativas durante o governo Mitterrand, que lhe valeram telefone e vida grampeados pelo serviço secreto francês.

Provocador, acha que a missão do jornalismo é a de permanecer alerta e de exercer um contra-poder em relação ao governo. Citando a Corte Internacional de Estrasburgo, Plenel afirma que o jornalista é o cão de guarda da democracia. Se o jornalismo é feito de maneira independente, sem compromissos com o governo ou com o poder econômico, o público se interessa, porém, hoje, na França (mas achamos que no Brasil também por razão diversa) o jornalismo está em crise, os jornais perdem leitores por não observarem mais essa independência.

Mediapart conseguiu sacudir a França - um verdadeiro eletrochoque provocado por um pioneiro jornal online eletrônico num país onde toda a imprensa está praticamente controlada pelo presidente Sarkozy. No Brasil, acontece praticamente a mesma coisa embora de maneira oposta – toda a grande imprensa convencional se desprestigia diante do povo por se submeter aos interesses de grupos econômicos, alguns estrangeiros, contra o presidente Lula, enquanto a mídia alternativa se afirma como informação de referência.

*Rui Martins é jornalista. Foi correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. É autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criador dos "Brasileirinhos Apátridas" e da proposta de um Estado dos Emigrantes. É colunista do site "Direto da Redação" e vive em Berna, na Suíça, de onde colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, e com o blog "Quem tem medo do Lula?"

Serra em Bangu I

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Deu no Tijolaço do Brizola Neto

Povo grita Lula com estranha visão de Serra em Bangu

Desde ontem eu estava curioso para saber como tinha sido a incursão de Serra a Bangu, tradicional bairro operário do Rio de Janeiro, onde fica o Estádio Proletário de Moça Bonita, campo do Bangu Atlético Clube, time de meu avô aqui no Rio.

Como Serra se aventurou a andar de trem até Bangu, tinha minhas dúvidas de que passaria incólume pela população do bairro, politizada e sempre comprometida com as lutas populares. Procurei no Globo e nada. Olhei a Folha e também nada. As matérias davam a entender que a visita foi insossa, mas nada de extraordinário tinha acontecido. Os jornais apenas reproduziam uma declaração de Serra com críticas à atuação do governo Lula na educação, usando seu profundo argumento de que o que vem sendo feito é “trololó”. Olha só quem estava falando de educação!

Cheguei a pensar que a população talvez nem quisesse mesmo gastar esforço com Serra, mas um amigo me ligou perguntado se eu tinha lido o Valor. Embora preponderantemente um jornal de economia, O Valor tinha feito a melhor cobertura política da passagem de Serra pelo Rio. E lá estava registrado logo no título: “Em Bangu, Serra é lembrado por Saúde e ouve salvas a Lula”. (Como a edição online do Valor é exclusiva para assinantes, coloco aqui a reprodução da matéria extraída da Fecomércio).

E foi justamente na hora em que falava do trololó a jornalistas que “populares não o pouparam e gritos de Lula foram ouvidos diversas vezes”, conta o jornal. Acho que essa vai ser a sina de Serra por onde andar nesse país. Logo na sua primeira atividade de campanha, em Curitiba, ele ouviu gritos de “Dilma, Dilma”, daquela vez registrados por O Globo.

Serra em Bangu II



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ALDO E A MALDIÇÃO DO CURUPIRA

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Por José Ribamar Bessa Freire (*)

- Co-mu-nis-ta! Esse menino fala como um comunista – vociferou tio Esmeraldo, me censurando na varanda da casa da vovó Marelisa, na Rua Monsenhor Coutinho, 380, em Manaus. Vovó, alarmada, empalideceu. Naquela época, 1960, era um pecado mortal, um sacrilégio, ser ou parecer comunista, ainda mais numa família católica, apostólica e romana como a nossa, cheia de padres e freiras.

Foi um comunista, o Luiz Barbeiro, que convenceu o Leno, da Vila Rezende, a esconder no bolso uma hóstia consagrada, de onde jorrou sangue – dizem, eu não vi – manchando sua calça, antes de sair gotejando sobre os trilhos de bonde da Rua Alexandre Amorim. A prima do Leno, Rosilene Cabral, ex-professora do SESC, que está aí mesmo e não me deixa mentir, foi quem lavou a roupa e jura que a mancha só saiu com água benta.

Afinal, como é que eu, um menino de 12 anos, temente a Deus, podia concordar com os comunistas, cuja doutrina ignorava, e que ainda por cima tinham fama de profanadores de hóstia? Tudo começou no dia em que presenciei um parente extremamente pobre, Raimundo Cyrino, contar pra vovó, aos prantos, como os jagunços destruíram sua roça e o expulsaram de um terreno lá no Tarumã, onde vivia com mulher e filhos. Ele não tinha onde cair morto. Foi a primeira vez que vi um homem adulto chorar. E seu choro era tão sentido, tão doído, que hoje, cinquenta anos depois, ainda ecoa em minha lembrança.

Tio Dantas me explicou, então, que toda aquela imensidão de terra vazia e improdutiva tinha dono, e não podia ser usada nem mesmo por quem estivesse morrendo de fome. Revoltado, fiz um discurso ingênuo que, segundo tio Esmeraldo, era uma defesa da reforma agrária – “bandeira dos comunistas”, que ele combatia como candidato a vereador pela UDN (vixe-vixe!). Por via das dúvidas, vovó me aconselhou que rezasse mil vezes a jaculatória ‘Jesus, Maria, José, minh´alma vossa é’. Obedeci. Mas foi aí que minh’alma apostrofada, assim entregue, compreendeu que os comunistas lutavam por justiça social.

Fantasma do comunismo

O que aconteceu com o fantasma que rondava a Europa em meados do século XIX, anunciado pelo Manifesto Comunista de 1848? Faz meio século, ele ainda circulava pelo Brasil defendendo os oprimidos. E agora? Eis o que eu queria dizer: hoje, se a referência fosse o deputado Aldo Rebelo, filiado ao glorioso Partido Comunista do Brasil (PCdoB-SP), a vovó me dispensaria das jaculatórias, e tio Esmeraldo aplaudiria, imitando os ruralistas que, na última terça-feira, em sessão tumultuada numa comissão da Câmara dos Deputados, aprovaram o relatório que modifica o Código Florestal.

Eles aplaudiram o projeto do Aldo, porque ele anistia todos aqueles que, entre 1994 e 2008, cometeram crimes ambientais e desmataram mais do que o permitido por lei. A soma das multas aplicadas nesse período ultrapassa R$ 10 bilhões – segundo cálculos oficiais do IBAMA – que deixam de ser recolhidos aos cofres públicos, beneficiando grandes proprietários e exportadores. Os anistiados sequer são obrigados a replantar o que foi destruído. Aqueles que respeitaram a lei estão se sentido uns babacas.

O projeto do Aldo reduz ainda a faixa obrigatória de preservação das matas que ocupam as margens dos rios, incentivando o desmatamento, recebendo por isso críticas do secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa. Para Aldo, a floresta é um obstáculo ao progresso e uma inimiga da civilização. Ele ignora o rico patrimônio florestal brasileiro e não reconhece “o inegável papel que a saúde florestal exerce para a saúde climática e para o bem-estar das populações”.

Por isso, foi duramente criticado pela comunidade científica, pelos pequenos agricultores e pelos povos da floresta. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) diz que o parecer não tem qualquer fundamentação científica. E a Confederação Nacional dos Trabalhos na Agricultura (Contag) avalia que ele favorece os grandes desmatadores. Mas Aldo foi ovacionado pela presidente da Confederação Nacional da Agricultura, senadora Kátia Abreu (DEM-TO – vixe, vixe) que, em declaração estarrecedora ao Jornal Nacional, disse como se sentia:

– “Um alívio! Essa suspensão é uma respirada. Nada hoje prejudica mais o agronegócio, a agropecuária, do que essa insegurança jurídica, essa questão das multas, essa truculência que tem sido praticada dia a dia no campo”. O que esse discurso diz e o que ele esconde?


Dito e não-dito

O não-dito é fundamental para apreender o significado do que foi dito. O discurso da senadora não diz que toda propriedade de terra no Brasil foi, originalmente, tomada dos índios à força. Que as terras assim usurpadas foram concedidas como sesmarias pela Coroa Portuguesa aos nobres, navegadores, militares e colonos. Que a economia se baseava no latifúndio, na monocultura e na escravidão. Que o sistema de capitania hereditária isentava o donatário de taxas, fazia dele a autoridade máxima dentro daquelas terras, permitindo até que decretasse a pena de morte para escravos e índios.

Esse sistema de violência institucionalizada foi formalmente extinto no final do período colonial, mas continuou operando até os nossos dias na conduta de muitos proprietários. Segundo a Comissão Pastoral da Terra cresce a violência contra camponeses pobres, com a omissão do Poder Judiciário. Foram assassinados 1546 trabalhadores rurais nos últimos 25 anos, mas foram abertos apenas 85 processos judiciais e somente 19 mandantes de crimes foram condenados. Em 2009, o Brasil viu 25 assassinatos, 71 pessoas torturadas, 1884 famílias expulsas e um aumento de 163% de casas destruídas.

Para a senadora, porta-voz dos donatários do século XXI, a violência não é essa. O agronegócio - coitado! – é que passa a ser vítima da violência no campo. As leis que protegem a floresta e, com ela, a saúde do conjunto da população constituem uma “truculência”. As multas que punem os transgressores da lei sufocam o agronegócio, enfim a ordem jurídica causa insegurança entre os proprietários. Para ela, violência no campo é isso. Dessa forma, ela corrompe a linguagem.

Há alguns meses, o filho da senadora, Irajá Silvestre Filho, 27 anos, que é candidato a deputado federal, estacionou o carro em local privativo dos táxis no Terminal Rodoviário de Palmas (TO). Quando foi abordado pelos policiais militares, ele se recusou a entregar seus documentos, questionou a multa e a remoção do veículo e desacatou a autoridade. Seguindo o exemplo materno, ele se sentiu sufocado pela truculência das leis do trânsito.

O signo lingüístico – a gente sabe – é o signo ideológico por excelência porque carrega valores que disputam a representação do mundo e refletem as relações sociais, os conhecimentos, as crenças, as atitudes. O discurso da senadora pretende expropriar os discursos dos movimentos sociais e usurpar os significados das lutas camponesas, tentando transformar uma representação de uma categoria – a do agronegócio – em crença coletiva – do Brasil.

A senadora cumpre seu papel, em defesa de sua categoria. Faz parte do jogo da democracia burguesa. O doloroso, o imperdoável nisso tudo, é ver Aldo Rebelo, um parlamentar eleito pelo voto comunista, colocar seu trabalho, sua energia, seu verbo e sua biografia a serviço dessas forças, na defesa de um modelo de progresso que contraria a história dos movimentos populares. Dessa forma, ele mancha a trajetória histórica do partido e trai as lágrimas e os anseios de tantos Raimundos injustiçados nesse Brasil. Essa mancha, não tem água benta que dê jeito. Que o voto do Curupira se manifeste nas próximas eleições.

P.S – No Amazonas, para deputado estadual, estou fazendo a campanha do candidato 13013. No próximo domingo, o nome do candidato e as razões do apoio.

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José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (Uerj), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti

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Os financiamentos de campanha

Por Edson Joanni

Começa a corrida atrás dos milhõesSucessão. Coordenadores das campanhas presidenciais elegeram os setores em que vão buscar fundos: os petistas darão preferência à indústria naval e às empresas de construção; os tucanos pretendem procurar exportadores insatisfeitos com a política cambial

João Domingos / BRASÍLIA

A coordenação da campanha da petista Dilma Rousseff trabalha para arrecadar R$ 157 milhões - R$ 30 milhões deverão vir do caixa do PMDB - baseada em um raciocínio bem simples: assim como os pobres, que as pesquisas indicam estar satisfeitos com o governo Lula, os ricos também estão.

Os arrecadadores de Dilma avaliam ter vantagem em relação a José Serra e preveem receber, em doações, até três vezes mais do que o adversário, embora o tucano tenha estimado gastos maiores - R$ 180 milhões. Um dos coordenadores da campanha de Dilma arriscou-se a dizer que "para cada R$ 0,1 para Serra, Dilma terá R$ 0,3".


cordo com os petistas, os empresários têm dito que não há motivos para queixas. Como para eles Dilma é a continuidade do atual governo, não haveria motivos para os empresários negarem as contribuições eleitorais quando forem procurados.

A indústria naval, por exemplo, que estava quebrada antes do início do governo de Luiz Inácio da Silva, foi reativada graças, principalmente, às encomendas da Petrobrás. A estatal do petróleo já anunciou que investirá R$ 52 bilhões na próxima década.

A descoberta do petróleo na camada pré-sal vai movimentar ainda mais o setor. Já há 424 encomendas até 2020, sendo 146 de apoio para alto mar, 47 plataformas, 164 navios, 46 navios-tanques e 28 sondas que devem começar a operar a partir de 2013. Quatro estaleiros já estão aptos para construir plataformas.

Lucros recordes. Os petistas dizem que o setor financeiro não teve dificuldades nem durante a crise econômica internacional deflagrada em 2008. Isso graças a programas incentivados pelo governo, que blindaram os bancos com uma forte movimentação de dinheiro no mercado interno e possibilitaram a alguns deles, como o Bradesco, terem em 2010 o maior lucro da história.

Soma-se a isso o crescimento da indústria da construção pesada no Brasil e exterior, com abertura de mercados em países da América Latina, como Bolívia, Peru, Argentina, Equador e Venezuela, por conta de financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aos vizinhos. A exigência feita para os empréstimos é que os governos dos países contratem empresas brasileiras.

Segundo o raciocínio dos coordenadores da campanha do PT, o mercado da construção civil está superaquecido graças ao programa Minha Casa, Minha Vida, que no governo de Lula promete construir 1 milhão de casas. Dilma já anunciou que, se eleita, tocará a segunda fase do projeto, agora com 2 milhões de casas - os números são citados em discursos, mas não aparecem nos documentos oficiais do programa.

Os petistas também incluem entre os setores que tiveram expansão no governo de Lula a indústria da carne, de automóveis, petroquímica, eletroeletrônicos e de informática, além da recuperação do setor calçadista.

Palocci. Para correr atrás do dinheiro dos ricos, o comitê de Dilma destacou o deputado Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda com trânsito entre todos os empresários. Palocci até desistiu de concorrer à reeleição. Vai dedicar-se integralmente à campanha, missão que já começou.

Palocci delegou a outros três petistas a incumbência de passar o chapéu junto ao setor empresarial para arrecadar o dinheiro necessário: José Eduardo Dutra, presidente do PT e coordenador da campanha, José Eduardo Cardozo, secretário-geral do PT, e José de Filippi Júnior, que foi o tesoureiro da campanha para reeleição de Lula, em 2006.

Candidato a uma cadeira de deputado federal por São Paulo, Filippi terá de fazer jornada dupla para conseguir o dinheiro e ainda cuidar de sua campanha. Ele foi três vezes prefeito de Diadema e, nos últimos meses, estava morando nos Estados Unidos, para temporada de estudos.

Filippi foi chamado às pressas para assumir a missão de tesoureiro da campanha de Dilma após o nome de João Vaccari Neto, escolhido para a função, ser envolvido no escândalo da Bancoop - fraudes que teriam sido cometidas pela diretoria da cooperativa, sob o comando de Vaccari, destinadas a beneficiar candidatos do PT. O caso está sendo investigado por uma CPI da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Tucanos apostam em exportadores e empresas aéreas
Classe média rural e setor financeiro também estão na mira do PSDB, que ainda pretende captar doações pela internet

Christiane Samarco / BRASÍLIA

O tucanato aposta em duas "novidades" nesta eleição presidencial para driblar a dificuldade que a oposição geralmente enfrenta na hora de arrecadar recursos e financiar a campanha: o engajamento da classe média rural e a participação de pessoas físicas com doações de valores mais modestos, via internet. Mas, novidades e circunstâncias à parte, tudo será feito sem descuidar do setor financeiro.

Para fortalecer as finanças da campanha os tucanos listaram alguns setores da economia como alvos dos arrecadadores, a começar pelos exportadores sempre queixosos da política cambial que Serra promete mudar. Da mesma forma, estão na mira as empresas de transporte aéreo que integram a lista das mais prejudicadas por uma alta do dólar.

Estudos do banco JP Morgan revelam, por exemplo, que uma alta de 10% do dólar levaria a uma perda de R$ 70 milhões nas receitas da empresa aérea GOL - considerando o cenário em que as demais variáveis permaneçam constantes.

Bancos. Hoje, como nas últimas campanhas do PSDB à Presidência, a expectativa geral é de que as doações mais vultosas venham dos bancos.

Não por acaso, quem está à frente da estrutura de arrecadação é o engenheiro e economista Sérgio Silva de Freitas, de 67 anos, que foi vice-presidente do Banco Itaú e secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo na gestão do banqueiro Olavo Setúbal.

A amizade com Serra vem desde 1984, um ano antes da morte de Tancredo Neves, quando Freitas foi escalado para tranquilizar o empresariado quanto ao risco de guinadas na economia. Há mais de dois meses ele vem participando de reuniões com o time das finanças da campanha tucana e tem sido apresentado a empresários como o responsável pela arrecadação.

Sérgio de Freitas não está sozinho na ofensiva do tucanato para engordar o caixa da campanha. O ex-deputado e ex-banqueiro Ronaldo Cezar Coelho, outro amigo de Serra há mais de 20 anos, trabalha desde o início do ano para demover qualquer resistência do setor ao eventual governo tucano, diante das críticas de Serra à política dos juros altos e à atuação do BC.

Com a experiência de quem já coordenou as finanças da campanha presidencial de Geraldo Alckmin em 2006, o presidente da João Fortes Engenharia e ex-deputado Márcio Fortes só não está à frente do comitê arrecadador de Serra porque tem de se dedicar à campanha no Rio de Janeiro, onde é o candidato a vice-governador na chapa de Fernando Gabeira (PV). Ainda assim, ele também é peça-chave na conquista de doadores de vulto pelo perfil eclético.

Fortes já passou pela Secretaria-Geral do Ministério da Fazenda, pela presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela direção de vários órgãos de classe, como a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e o Clube de Engenharia.

'Poder de fogo'. A presidente da Confederação Nacional da Agricultura, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), diz que não fará campanha em nome da CNA e lembra que, por lei, a entidade não pode fazer doações para nenhuma campanha. "Mas poder de fogo para arrecadar nós temos", avisa, destacando que os produtores rurais, na condição de pessoas físicas, têm o "direito de trabalhar" pelo candidato que fizer as melhores propostas para o setor.

Na contabilidade tucana, a classe média rural brasileira, que reúne 2,3 milhões de produtores, pode fazer a diferença na eleição. Afinal, bastaria cada um deles contribuir com R$ 100 para que a campanha colocasse R$ 230 milhões no cofre. "O Serra não tem muita proximidade com o agronegócio, mas tem quem tenha", adverte a senadora, lembrando que o setor representa um terço do Produto Interno Bruto (PIB) e 42% das exportações brasileiras.

O candidato a vice na chapa tucana, deputado Índio da Costa (DEM), é um dos que vão usar a internet como instrumento de arrecadação. "Hoje eu falo para 300 mil pessoas diretamente no meu site e tenho 40 mil seguidores no Twitter", ressalta.

Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-financiamentos-de-campanha?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter
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