O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

Clique na imagem abaixo e conheça o "Quem tem medo da democracia?" - sucessor deste blog

Clique na imagem abaixo e conheça o "Quem tem medo da democracia?" - sucessor deste blog
Peço que, quem queira continuar acompanhando o meu trabalho, siga o novo blog.

domingo, 25 de abril de 2010

Lula em quadrinhos - Cap. 13 - A repressão da ditadura aos trabalhadores e o surgimento do PT

Clique na imagem para ler.
Esta história em quadrinhos, que foi lançada em 2002, será publicada aqui em capítulos. Tentarei manter freqüência semanal. A liberação dos direitos autorais é uma cortesia de seu autor, o cartunista Bira Dantas, colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Limpando a sujeira cerebral (ou qual a pátria do PIG?) - continuação - 6ª parte







5ª parte

Os vídeos foram produzidos pelo nosso colaborador, Kais Ismail, que é produtor cinematográfico e publicitário. Gaúcho, filho de pai palestino, mora em Porto Alegre.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Limpando a sujeira cerebral (ou qual a pátria do PIG?) - continuação







Clique aqui para ver os outros vídeos da série.

Os vídeos foram produzidos pelo nosso colaborador, Kais Ismail, que é produtor cinematográfico e publicitário. Gaúcho, filho de pai palestino, mora em Porto Alegre.

domingo, 18 de abril de 2010

Lula em quadrinhos - Cap. 12 - As greves de 78 e 79

Clique na imagem para ler.
Esta história em quadrinhos, que foi lançada em 2002, será publicada aqui em capítulos. Tentarei manter freqüência semanal. A liberação dos direitos autorais é uma cortesia de seu autor, o cartunista Bira Dantas, para o blog "Quem tem medo do Lula?".

sábado, 17 de abril de 2010

Limpando a sujeira cerebral (ou qual a pátria do PIG?)

























Os quatro vídeos foram produzidos pelo nosso colaborador, Kais Ismail, que é produtor cinematográfico e publicitário. Gaúcho, filho de pai palestino, mora em Porto Alegre.

Réquiem para Arnaldo Jabor



Réquiem para Arnaldo Jabor


Essa figura deprimente e fracassada chamada Arnaldo Jabor, é algo realmente digno de pena. Começou a ganhar fama no Brasil através do cinema e, embora esta seja uma das mais belas artes que o homem já produziu, das mãos do Jabor não saiu absolutamente nada de extraordinário, diferente, genial, sublime, etc. Para falar a verdade, não fossem os grandes atores com os quais trabalhou (Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro, Darlene Glória, dentre outros) seus filmes não teriam ido além da mediocridade. A sua falta de talento, sensibilidade e inteligência, que são necessárias para qualquer tipo de arte, ficaram bem claras e nítidas nos seus poucos trabalhos como cineasta. Glauber Rocha (esse sim um gênio da arte cinematográfica e com uma inteligência e sensibilidade à flor da pele) é que fez bem em não permitir a entrada do Jabor no movimento do Cinema Novo. Glauber, com certeza, já pressentia o tipo de pessoa que o rondava como mosca de padaria na tentativa de fazer parte daquele movimento que fez história no cinema brasileiro.


Uma vez, no programa do Jô Soares, o Jabor, durante uma entrevista, disse que havia parado de fazer cinema porque ele já teria feito todos os filmes que poderia fazer. O Jô não só concordou com ele (e ambos são amigos) como disse ainda que lhe internaria numa clínica psiquiátrica se ele tentasse fazer cinema novamente. Este episódio parece ser mais do que suficiente para constatarmos o tamanho do talento do Jabor para a arte cinematográfica. Ou será que alguém consegue imaginar um Glauber Rocha, um Roman Polanski, Steven Spielberg, Stanley Kubrick, Walter Salles e tantos outros diretores geniais dizendo, depois de meia dúzia de filmes, que já fizeram todos os filmes que poderiam ter feito. Alguém que realmente tem o dom, a inteligência e a sensibilidade de produzir obras de arte (sejam pinturas, esculturas, teatro, cinema, literatura, música, etc.) só para de se dedicar à sua arte quando morre ou se tiver algum outro grave impedimento físico ou psicológico que o impeça de ir em frente na busca por uma superação a cada obra. Nenhum artista abandona a sua arte; mas, é, sim, por ela abandonado. Portanto, não foi o Jabor que abandonou o cinema, foi o cinema que o abandonou.


Bem, após essa separação litigiosa que o cinema lhe impôs, o inútil Jabor ficou vagando por aí em busca de sua própria identidade e tentando um lugar ao Sol. Começou a escrever para colunas de jornal. E foi aí que cometeu seu segundo erro: achou que poderia ser escritor. Mais um fracasso! Os livros do patético Jabor são tão ruins que fariam até mesmo Paulo Coelho se sentir um Balzac perto dele. Mas como Jabor é brasileiro e não desiste nunca, ele agora pensa que é comentarista político. Para começar não conseguiu agradar sequer aqueles pelos quais ele demonstra a mais completa subserviência e alto grau de adestramento, a família Marinho. Começou falando 30 ou 40 segundos (se muito) no Jornal Nacional (horário nobre) e logo foi jogado para o Jornal da Globo (um jornal de baixíssima audiência porque seu horário é incerto e geralmente muito tarde). Mas como não lhe sobrou mais nada, ele continua a sua cruzada como comentarista, só que agora resolveu encarnar o Inspetor Javert (personagem do clássico livro de Victor Hugo, Os Miseráveis) numa versão tupiniquim e escolheu os comunistas como seu Jean Valjean (o outro personagem do livro citado acima e que é perseguido pelo Inspetor Javert de forma estúpida e até mesmo patológica). Numa recente palestra onde foram cobrados 500 reais de entrada e que tinha o título de: 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão (pelo preço, fica fácil perceber que democracia aqui não é para qualquer um) o "popular" Jabor vociferou as seguintes acusações e avisos:


"Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori, contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva."


É realmente uma análise política à altura do seu talento como cineasta. O adestrado Jabor esqueceu de considerar na sua fala que a esquerda não possui um único grande meio de comunicação em todo o país. Não há ninguém de esquerda que possua grandes redes de televisão, de rádio, jornais e revistas de grandes tiragens mensais, semanais ou diárias. Ao contrário, todos os grandes meios de comunicação estão nas mãos da direita e estão sob a posse de algumas poucas famílias como os Marinho, o clã do Edir Macedo, os Saad, etc. A liberdade e a possibilidade de comunicação rápida e de grande alcance criada pela nova tecnologia, ao contrário do que diz o perturbado Javert Tupiniquim, está sendo uma grande arma de comunicação para a esquerda que, como já foi dito, não tem acesso aos meios mais convencionais e mais populares. Portanto, somente num cérebro extremamente limitado ou mal intencionado alguém pensaria que a esquerda poderia ser contra a liberdade de expressão. Os fatos provam exatamente o contrário, pois é através dessa liberdade que a esquerda está incomodando e conseguindo alcançar certos objetivos: como uma maior conscientização das pessoas, uma maior diversidade de opiniões e debates verdadeiramente críticos. Como mostram as preocupações do "brilhante" comentarista, parece que o que eles mais desejam é o retorno ao pensamento único, sem questionamentos e sem a possibilidade de uma visão crítica. O que o adestrado candidato à comentarista político está propondo para seus iguais é uma guerra ideológica para tentar frear o avanço da esquerda não só no Brasil como em toda a América Latina, pois eles sabem que estão perdendo essa guerra mesmo com o monopólio da comunicação em suas mãos.


Porém, essa derrota não foi implementada apenas no campo ideológico. O projeto defendido pelo Jabor e pela sua corja é o mesmo que exauriu e massacrou os trabalhadores latinos americanos durante a década de 1990, mas que acabou por alavancar os movimentos sociais e partidos de esquerda em toda a América Latina para a luta política e pela disputa do poder com as classes dominantes: o projeto neoliberal. Um sistema que defende o individualismo, a supremacia do mercado e do lucro sobre a vida e uma falsa meritocracia. Não há méritos quando alguns poucos começam uma corrida já com um dos pés na linha de chegada, enquanto a grande maioria tem que percorrer todo o trajeto para completar a prova. Essa é uma concepção de mundo que tem como ideal de justiça a perpetuação de uma classe no poder e de um sistema que concretiza, reproduz e aprofunda as condições de desigualdade e miséria. Eles temem uma sociedade mais igualitária e mais justa porque sabem que somente numa sociedade com essas características pode-se falar em mérito, pois todos partem de uma mesma base material, numa real igualdade de condições. O que seria do Jabor, por exemplo, se tivesse nascido pobre, negro e morador de favela? Se com todas as vantagens e benefícios que ele obteve por sua condição de classe, não conseguiu superar sequer o patamar do medíocre em tudo aquilo que se propôs a fazer, pode-se pelo menos imaginar o que seria dele em tais condições tão adversas...


Para concluir, gostaria apenas de comunicar ao fracassado Jabor sobre a sua própria morte, dedicar-lhe um belo réquiem e desejar, sinceramente, que descanse em paz!


As boas-vindas ao nosso novo colaborador, Renato Prata Biar. Historiador, pós-graduado em filosofia, mora no Rio de Janeiro.

O fantasma do candidato Serra



O fantasma do candidato Serra

Por Urariano Mota (*)

Recife (PE) - Para comentar o discurso de Serra no lançamento de sua candidatura, temos que enfrentar dificuldades. Uma delas é o espaço da coluna e a boa vontade do leitor. É um discurso tão repetitivo, em círculos, que a cópia na página deixa a impressão de que foram coladas as mesmas palavras. Acompanhem, ou comecem a rodar:

“Alguns dias atrás, terminei meu discurso de despedida do Governo de São Paulo afirmando minha convicção de que o Brasil pode mais.... o Brasil, de fato, pode mais.... o Brasil pode ser muito mais do que é hoje.... o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais.... Vamos juntos. O Brasil pode mais... Sim, meus amigos e amigas, o Brasil pode mais... Mas a Saúde pode avançar muito mais... Mas vai ter de crescer mais... Porque sabemos como fazer e porque o Brasil pode mais!.. Porque o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais.... Vamos juntos, brasileiros e brasileiras, porque o Brasil pode mais.”

Nesse discurso, cercado por senhores que não primam nem se irmanam pela moralidade, o candidato faz uma pregação de fé para virtuosos. Apesar do tom sério e dos olhos arregalados, chega a ser mais que cômico, quando vemos Fernando Henrique e Roberto Freire, mais os bravos acólitos do DEM e do PSDB, ouvindo uma nova Oração aos Moços:

“O Brasil pertence aos brasileiros que trabalham; aos brasileiros que estudam; aos brasileiros que querem subir na vida; aos brasileiros que acreditam no esforço; aos brasileiros que não se deixam corromper; aos brasileiros que não toleram os malfeitos; aos brasileiros que não dispõem de uma ‘boquinha’; aos brasileiros que exigem ética na vida pública porque são decentes...”

Imaginem as caras contritas de Roberto Freire, que possui uma sinecura em São Paulo. Imaginem a cara de FHC que tinha encontros com jornalistas interessantes no apartamento do orador, que gerou filho, de Fernando, e pensão pagos por todos os brasileiros, e acrescentem mais as caras gordas e ociosas do DEM e PSDB, diante de tais exortações ao trabalho e ao estudo. “O meu reino não é desse mundo”, devem ter pensado. Mas o Brasil pode mais.

Entre suas grandezas políticas, Serra enumerou a proibição do fumo nos aviões, que mais tarde estendeu para os restaurantes paulistas, e falou sobre educação, com as platitudes mais banais, insulsas e medíocres:

“Eu vejo em cada criança na escola o menino que eu fui, cheio de esperanças, com o peito cheio de crença no futuro. Quando prefeito e quando governador, passei anos indo às escolas para dar aula (de verdade) à criançada da quarta série.... No país com que sonho para os meus netos, o melhor caminho para o sucesso e a prosperidade será a matrícula numa boa escola, e não a carteirinha de um partido político. E estou convencido de uma coisa: bons prédios, serviços adequados de merenda, transporte escolar, atividades esportivas e culturais, tudo é muito importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a condição fundamental é a melhora do aprendizado na sala de aula...Esse é um compromisso”.

De que estado veio José Serra? Mais, qual a educação que ele deu a São Paulo? Mais: como pode falar em “melhora do aprendizado na sala de aula”, quando São Paulo possui um dos piores índices de aprendizagem do Brasil? Com que cara ousa dizer que se revê em meninos que não sabem ler, escrever nem contar, mas têm índices de aproveitamento falseados nas provas? Mas o Brasil quer mais, e por isso o bom Serra prega:

“Quem governa, deve acreditar no planejamento de suas ações. Cultivar a austeridade fiscal, que significa fazer melhor e mais com os mesmos recursos. Fazer mais do que repetir promessas. O governo deve ouvir a voz dos trabalhadores e dos desamparados, das mulheres e das famílias, dos servidores públicos e dos profissionais de todas as áreas”

Não foi assim que ele agiu com os servidores da educação, aquela educação com que sonha para os futuros netinhos. Não os ouviu, aos servidores, nem a seus gritos, quando lhes aplicou a pedagogia da polícia, que mandou firme nos mestres. Aliás, mais: os professores, diretores e alunos jamais foram ouvidos, nessa curva da “austeridade fiscal, que significa fazer melhor e mais com os mesmos recursos”, quando o seu governo educou assinaturas milionárias para as revistas da Abril e jornais Folha de São Paulo para todas as escolas.

Mas há uma explicação para as caras fora do script do candidato nesse discurso cômico: Serra leu o texto de um ghost-writer, um fantasma que escreveu hipocrisias ao redor do mantra "o Brasil pode mais, porque você pode mais”. Esse foi o mesmo slogan de Alckmin, derrotado por Lula há quatro anos. Serra começou bem. A comédia é boa.

*Urariano Mota é jornalista e escritor. Autor do livro "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. Urariano é pernambucano, nascido em Água Fria e residente em Recife. É colunista do site "Direto da redação" e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

A imagem é uma criação do nosso colaborador André Lux com base na capa real da "Veja"  deste final de semana, em que Serra (ou seria Nosferatu?) aparece se achando sexy. Confira aqui. É um legítimo panfleto publicitário. Escancararam.

FHC: Herança maldita ou bendita?


Herança maldita ou bendita?


Os defensores do governo demo-tucano de FHC, entre eles o PIG – Partido da Imprensa Golpista, evocam a estabilidade da moeda, o real, e o saneamento dos bancos através do Proer, como sendo os grandes responsáveis pelo sucesso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.



Tenho que reconhecer que conviver com inflações estratosféricas era uma loucura total, e que os maiores prejudicados eram exatamente os mais pobres. Alguma coisa teria que ser feita...


O Plano Real foi feito no governo Itamar Franco, anunciado enquanto FHC era o Ministro da Fazenda (de 19/5/1193 a 30/3/1994 - por 10 meses), e com uma equipe formada basicamente pelos mesmos economistas que haviam participado do Plano Cruzado de José Sarney.


Bom que tenham aproveitado uma experiência anterior, mas Itamar afirma que o grande mérito do Real foi de Rubens Ricupero, que foi quem de fato implementou o plano. Itamar acusa inclusive que foi uma irregularidade FHC ter assinado as notas da nova moeda, quando já não era mais ministro.


Desavenças à parte, fato é que o Plano Real elege FHC presidente do Brasil em 15 de outubro de 1994 e ele assume em 1 de janeiro de 1995, ou seja, foi indiscutivelmente beneficiado pelo governo anterior.


A 1ª crise econômica que o governo FHC teve que enfrentar (em 15 de março de 1995), não foi fruto de nenhuma crise internacional. O mercado mundial estava tranquilo e favorável aos países emergentes, mas o governo mexeu no câmbio amadoristicamente, ou irresponsavelmente, por "suspeita de volta da inflação", com consequências nefastas. Em uma semana o BC fez 32 leilões de câmbio torrando US$ 7 bilhões, elevou a cotação do dólar e aumentou brutalmente a taxa de juros. US$ 2 bilhões de investidores estrangeiros deixaram o país e Serra e Malan aumentaram a previsão da taxa de inflação anual. Para atenuar as mudanças cambiais que desagradaram aos investidores, o governo anunciou a privatização da Cia Vale do Rio Doce, considerada a mais eficiente das 136 estatais e o fim da reserva de mercado no setor bancário.


Depois disso, FHC teve que enfrentar a crise bancária, ocasionada pelo Plano Real, já que os bancos estavam viciados em auferir grandes lucros com a inflação alta, e em 20 de agosto de 1995 lançou o Proer.


Até o Bush, em sua operação salva-bancos foi mais honesto do que FHC. Bush reconheceu que o dinheiro era do contribuinte, já FHC garantiu que o Proer, não envolveria 'nenhum centavo' de dinheiro público. Mas a maior diferença, é que agora, o Obama está fazendo com que os bancos paguem o que receberam à guisa de empréstimo, o que aqui no Brasil foi doação. Os donos dos bancos "ajudados" por FHC deram o calote, e estão todos livres e vivendo no mesmo alto padrão de sempre.


Dentre os bancos "ajudados" estão o Banco Nacional, da nora de FHC (o que fraudava balanços); o Bamerindus, de José Eduardo de Andrade Vieira, ministro da Agricultura de FHC (grande financiador de sua campanha); e o Banco Econômico, de Ângelo Calmon de Sá, que por sinal já tinha sido socorrido pelo Geisel em 1976 (o da Pasta Rosa, que ajudava os "amigos dos banqueiros", dentre eles ACM, FHC, Serra e outros).


Em 2 de março de 1996, numa entrevista ao jornal O Globo, o então presidente do BC, Gustavo Loyola (tucano) afirma que FHC e Pedro Malan sabiam da existência das fraudes do Nacional, embora FHC tenha negado, e em 7 de junho de 1996, Loyola diz ao JB que o Banco Central falhou. Se tivesse atuado quando o problema surgiu, os prejuízos seriam significativamente menores.


Em 25 de outubro de 1997, Maurício Dias, jornalista, comenta no JB: 'A polêmica sobre as contas do governo de 1996 é café pequeno. Chumbo grosso mesmo são as conta de 1995 que, propositalmente, caíram num buraco negro no Congresso. Até hoje não foi designado sequer o relator. É o ano da graça do Proer'.


O que segundo FHC não atingiria 1% do PIB chegou a 12,3%, sem contar o Proer da mídia que no final do ano de 2000 custou US$ 6 bilhões, sob pretexto de "ajuste de contrato". Afinal, era necessário dar um cala-boca na imprensa, para que ela fizesse "vista-grossa" para tantas "irregularidades".


Em 12 de maio de 2008, Antonio Fernando de Souza, Procurador Geral da República, interpõe Agravo Regimental para anular a decisão de Gilmar Mendes (STF), de arquivar a sentença que condena Serra, Malan e Pedro Parente, pelos prejuízos causados pelo Proer.

No dia 14 de junho de 2002, Rudiger Dornbusch, economista do MIT - Massachusetts Institute of Technology e especialista em América Latina culpa o presidente FHC pela crise financeira que abala a credibilidade brasileira no exterior. "Se estamos buscando um especulador para culpar pela situação do Brasil, esse especulador é Fernando Henrique Cardoso", prevendo um colapso da economia brasileira até dezembro (que de fato aconteceu, e o Brasil, mais uma vez, recorreu ao FMI). Segundo Dornbusch, FHC teria utilizado as privatizações para financiar sua reeleição e vai deixar uma enorme dívida social para o próximo governo.


A questão não está no fato louvável de sanear os bancos e "derrubar" a inflação, mas em 31 de dezembro de 2002, quando FHC deixou o governo, ela estava em ascensão, chegando a 12,53% e a taxa de juros Selic média do ano em 24,9%.


O que cabe aqui é perguntar é a que preço?

Se você comprou um carro de um Mauricinho que vendeu barato para trocar por um caro zero, você fez um excelente negócio (porque se foi para tirar proveito de um enforcado, você não presta), mas se você comprou um carro e pagou o dobro ou o triplo do que ele vale, ou você é burro ou então o dinheiro não saiu do seu bolso.


Existem ainda economistas que afirmam que não foi o Proer que saneou os bancos, mas a mordomia que lhes permite mal remunerar o dinheiro que captam de seus correntistas e cobrar juros extorsivos pelo dinheiro que emprestam: os monumentais "spreads bancários". E FHC ainda piorou a situação desses correntistas, quando permitiu que vários serviços, antes gratuitos, como extratos, talões de cheque etc começassem a ser cobrados, com valores estipulados livremente pela própria instituição financeira, aumentando-lhes ainda mais os lucros.


FHC privatizou 76% do patrimônio público, foi o presidente na história contemporânea mundial, que mais aumentou a carga tributária (cerca de 10% do PIB), faliu o país por 3 vezes tendo que pedir socorro ao FMI. Não investiu em infra-estrutura, como ferrovias, rodovias, aeroportos, energia (vide apagão), não reajustou salário dos funcionários públicos, militares, aposentados e pensionistas, não reajustou a tabela do Imposto de Renda.
Aumentou a dívida interna de R$ 61 bilhões para R$ 850 bilhões e a externa de US$ 120 bilhões a US$ 250 bilhões.


Alguém conhece alguma obra feita no Brasil com o dinheiro das estatais vendidas?


Donde se conclui que FHC "saneou os bancos", fez o Plano Real, nós pagamos um preço absurdo pela forma com que fez, e ainda querem que reconheçamos "seus méritos".


Se os demo-tucanos e o PIG querem nos enganar, que o façam de uma forma inteligente, mas que não pretendam nos chamar de burros.


Sônia Montenegro é analista de sistemas e mora no Rio de Janeiro. Mantém o blog “Farmácia de Pensamentos” e é colaboradora do blog “Quem tem medo do Lula?”


A charge é uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

Vaticano ataca homossexualismo para defender celibato



Vaticano ataca homossexualismo para defender celibato


Por Celso LungarettiO Vaticano está enredando-se cada vez mais nas suas contradições.


Sem conseguir justificar o fato de que muitos sacerdotes eram pedófilos, nem a omissão da alta hierarquia católica face a essa prática, agora resolveu abrir outra frente na batalha de opinião pública (que está perdendo de goleada!).




Parece que relações públicas não são o forte da Igreja, hoje em dia. Que idéia de jerico, já estando vulnerabilizado, comprar briga com um dos lobbies mais poderosos que existem!

Falando à imprensa em Santiago, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, zurrou:

"Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram que há entre homossexualidade e pedofilia".

Sendo ele o número dois da Igreja, não se trata de uma declaração impensada de quem estava num mato sem cachorro. É pior ainda.

Como sou um mero articulista que a grande imprensa discrimina, não me vejo na obrigação de ficar diplomaticamente pisando em ovos. Vou pegar o touro pelos chifres.

O celibato dos sacerdotes não tem nada a ver com os ensinamentos de Cristo.

Começou a ser instituído a partir do ano 300, quando o Concílio de Elvira, na Espanha, determinou sua obrigatoriedade para os padres e bispos da província. Depois, foi se generalizando.

Mas, naquele tempo a hipocrisia não ia tão longe a ponto de exigir-se que homens se comportassem como eunucos. Simplesmente, os varões de batina transavam à vontade, fecundavam as moças e deixavam crescer e multiplicarem-se os bastardos.

Pois a restrição aberrante, contrária à natureza, tinha o único e exclusivo objetivo de impedir que os filhos de sacerdotes reivindicassem bens da Igreja como herança paterna. O resto era conversa pra boi dormir.

Papas chegavam a ser temidos guerreiros.. Clérigos chegavam a ser insaciáveis garanhões. Tudo era bem diferente.

Corte para nossa época.

Um amigo espanhol me garante que, durante a Guerra Civil no seu país, os republicanos andaram invadindo conventos e encontrando muitos fetos enterrados.

Isto foi por eles interpretado como uma confirmação de que, em plena década de 1930, padres e freiras não fossem tão dóceis assim às imposições descabidas. Mas, pode ter também outras explicações.

E a Igreja acabou se tornando um refúgio para homossexuais latentes ou sem coragem para assumir a opção já feita.

O celibato tem algo a ver com isto? É óbvio que sim. Tem TUDO a ver.

Qual o melhor ambiente para homossexuais no pré-1968, aqueles tempos de zombarias, perseguições e discriminação, do que um agrupamento de homens privados do envolvimento amoroso com as mulheres? Onde poderiam encontrar com mais facilidade os congêneres e oportunidades para exercer discretamente sua orientação sexual?

Quanto à grita escandalizada contra a pedofilia sacerdotal, nem tanto ao céu, nem tanto à Terra.

Freud cansou de provar que a inocência angelical das crianças é um mito. Para quem quiser aprofundar-se no assunto, recomendo seus Três ensaios sobre a sexualidade infantil (1905).

No entanto, deve ser severamente punida a intromissão de adultos nessas primícias do erotismo, pois pode causar traumas terríveis. Os impúberes têm mesmo de ficar circunscritos a seu próprio universo. E as invasões desse universo têm mesmo de ser coibidas a todo custo.

A partir da puberdade, entretanto, a coisa muda de figura.

Muitas culturas admitem que moçoilas casem logo após a primeira menstruação. Geralmente não há problemas; vez por outra o resultado é ruim, como num caso recente de hemorragia fatal.

Quanto aos adolescentes, Freud também explica que neles coexistem os impulsos heterossexuais e homossexuais. Então, nesse período de indefinição, o assédio de um sacerdote pode mesmo ser um fator decisivo para que se inclinem na segunda direção.

Se este resultado é bom ou ruim, depende dos olhos de quem vê. No nosso planeta superpovoado, os conceitos mudaram um pouco desde aquele passado no qual prole numerosa era desejada pelas famílias e pelas nações, de forma que o desvio dessa obrigação constituía praticamente um crime. O preconceito mascarava uma conveniência.

Enfim, é tudo ambíguo e ambivalente, difícil de se destrinchar, um cipoal de ideologias e interesses.

Vai daí que só chegaríamos realmente à verdade analisando em profundidade cada caso de pedofilia sacerdotal. Extrair conclusões simplistas e genéricas, como está se fazendo, constitui postura das mais irresponsáveis, tendente à demagogia.

E é aqui que entram outras iniquidades atuais: o sensacionalismo e a avidez.

Folhetim medíocre é prato cheio para uma indústria cultural que, cada vez mais, serve para desviar as atenções do fundamental, superdimensionando as ninharias.

E salta aos olhos que a grande maioria dos queixosos superou essas experiências remotas e levava vida perfeitamente normal, até vislumbrar a chance de arrancar uma grana fácil da Igreja.

Causa-me extrema repulsa perceber que há pessoas expondo-se dessa forma por um punhado de notas.

Dá para simpatizarmos com os que se apresentaram na esperança de ver castigados os sacerdotes corruptores.

Mas, aqueles para quem um cheque apaga o passado e compensa o constrangimento de fazer tais revelações, não passam de oportunistas da pior espécie.


Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. É paulistano, nascido e residente na capital paulista. Mantém o blog “Náufrago da Utopia”, é autor de livro homônimo sobre sua experiência durante a ditadura militar e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”

domingo, 11 de abril de 2010

Lula em quadrinhos - Cap. 11 - A luta pela redemocratização do Brasil e o movimento pela reposição salarial dos 34,1%

Clique na imagem para ler.
Esta história em quadrinhos, que foi lançada em 2002, será publicada aqui em capítulos. Tentarei manter freqüência semanal. A liberação dos direitos autorais é uma cortesia de seu autor, o cartunista Bira Dantas,  hoje colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

Vamos falar de futebol... O maior perna de pau do mundo


O maior perna de pau do mundo


Por Urariano MotaRecife (PE) - O jogador de futebol Mauro Shampoo, no documentário que leva o seu nome, desperta risos em muitos momentos. Jogador do Íbis Sport Club, dono do título de "pior time do mundo", Mauro Shampoo se revela no filme um atleta digno do clube. A certa altura, ele conta que em toda vida profissional, de feroz e perigoso atacante, marcou somente um gol. Ponto.


Depois do filme, essa fala me despertou alguns pensamentos. Qual seria mesmo o pior jogador de futebol do mundo? Se o melhor foi Pelé, quem poderia ser o pior? Então me ocorreu estabelecer alguns critérios.


No primeiro, os jogadores titulares e reservas dos piores times do mundo, por mais desgraçados que fossem, não teriam direito ao honroso pódio. A razão é que tais agraciados, ainda que muito ruins, são profissionais - bem ou mal vivem de futebol, e se recebem pagamento por seus talentos, algum valor de excelência têm. Entre os piores, eles não seriam os primeiros.


No segundo critério, deveria excluir desse especial ranking os jogadores de times amadores, de subúrbio, de cidades longínquas, de povoados. A razão aqui, mais uma vez, não é arbitrária. Tais jogadores, por suas habilidades, foram e são os melhores para a seleção local. Quero dizer, esses homens algum valor devem ter, porque recebem uma escolha da sua comunidade. Os times amadores, é histórico, aqui e ali fornecem estrelas para os times profissionais, até mesmo para os times de primeira divisão.


No terceiro critério, e o leitor já percebe o quanto o poço é fundo, deveria deixar fora os jogadores que se escalam para o futebol de fim de semana, os que se escolhem para jogar por lazer e diversão. Os jogadores de pelada. Esses também se excluem do ranking. Conforme já vi em Memória de futebol, mesmo entre esses jogadores há uma elite, um critério, como dizê-lo?, há uma hierarquia. Para eles, ali jogam apenas os melhores jogadores que podem existir em um raio de 1 metro de distância. Dos piores não são os mais piores, digamos.


Chega-se então aos que sobram, aos que não conseguem ter vez nas seleções dos piores times profissionais, amadores ou das peladas de fim de semana. Mas por favor acompanhem. Poderíamos, mesmo aqui, cometer alguma injustiça. Não falo em defesa dos pernas-de-pau. O problema é que entre esses jogadores excluídos há muitos injustiçados. Existem aqueles que passam por maus momentos em suas carreiras. Se os melhores têm bolhas nos pés, unha encravada, obesidade e problemas no amor com modelos, por que os piores seriam excluídos dessa felicidade? Os piores também podem atravessar uma má fase, como se diz das estrelas. Maradona, Zidane, Pelé, Ronaldo, todos sofrem. Então, por justiça, os Joões e Josés têm esse direito.


Por outro lado, os jogadores rejeitados nas peladas de fim de semana, todos, jogam por prazer, por hobby, como diziam os esnobes em 1970. Esses jogadores não se empenham, não põem a alma nos pés, não dão o sangue. Daí que, com o espírito em baixa importância, em "baixa-estima", como dizem, joguem tão mal. Diríamos, até, pior que os outros.


Então chegamos aos piores de fato. Chegamos aos que jogam com alma, que não pensam em outra coisa, só em bola, gol e futebol, todo o tempo. Chegamos aos que, apesar de todas essas condições subjetivas, produzem e jogam objetivamente mal o objeto da paixão. Mal e de mau a pior. Chegamos aos que são péssimos por natureza, por força e característica da natureza. Aos que jogam mal com toda naturalidade, e nem parecem.


E nem parecem jogar, de tão naturais. Eles formam uma segunda natureza artística. Pois não dizem que a melhor arte oculta a sua arte? Pois então: eles, os absolutos, perdem gols imperdíveis, não sabem cabecear, chutar, defender, pular, em resumo, são total avessos e estranhos ao objeto bola. Se chutassem pedras, cubos ou poliedros excêntricos, seriam melhores jogadores. E no entanto, bravo, cometem prodígios absurdos com a esfera. Se com eles o futebol não triunfa, com muita propriedade triunfa uma força maior, uma irreprimível inabilidade.


Então chego ao pódio. Eu conheci uns dois indivíduos assim. Se Mauro Shampoo dizia que em toda a vida profissional somente marcou um gol, eu devo dizer que esses dois raros jamais fizeram um só, em todas suas vidas, ainda que se matassem para o gozo de enfiar a bola naquele espaço tão largo. De um deles, de quem sou por desgraça íntimo, devo dizer que chegou a cometer um, contra. Mas não existe bom sem defeito.


Urariano Mota é jornalista e escritor. Autor do livro "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. Urariano é pernambucano, nascido em Água Fria e residente em Recife. É colunista do site "Direto da redação" e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

A igreja ainda tem futuro?

[caption id="attachment_5373" align="aligncenter" width="330" caption="O teólogo Hans Küng."]O teólogo Hans Hüng.[/caption]

A igreja ainda tem futuro?


Por Rui MartinsBerna (Suiça) - Quando tomei o trem para me encontrar com o teólogo Hans Kung (em alemão com trema no u), na cidade de Tubingen, via Zurique e Horb, tinha digerido um volumoso livro com mais de 700 páginas. Em alguns dias, minhas anotações e orelhas lhe deram uma feição de livro batido e envelhecido.


O título – Memórias, uma Verdade Contestada, uma foto de Hans Kung, ele sim um intelectual idoso de 82 anos, mas lúcido, vivo e de hábitos bem suíços, nascido que foi em Lucerna. Mal cheguei em sua casa, que é também sede do seu Instituto de ética planetária, já nos sentamos para a entrevista que gravei no meu digital mini-disk profissional, para evitar qualquer dúvida depois da publicação.


A quase íntegra ocupa uma página no Expresso, deste sábado, jornalão semanário de Lisboa. O título – O grande problema é o celibato dos padres, com um sobretítulo – teólogo reformador diz que é urgente agir. Kung queria que falássemos só do conteúdo do livro, respondi que para isso não precisaria ter viajado mais de quatro horas. Aceitou, me deu um máximo de 45 minutos, que acabaram sendo mais de uma hora e disparei – a Igreja ainda tem um futuro ?


Hans Kung é um teólogo contestador que se poderia também dizer provocador. Não foi proibido de falar, como aconteceu com o nosso Leonardo Boff, mas há vinte anos, a Cúria romana lhe tirou o direito de ensinar a teologia católica na Universidade de Tubingen. Naquela época não se falava em pedofilia, mas num dogma duro de se engolir, mesmo para um teólogo católico apostólico romano – o da infalibilidade papal. Kung escreveu um livro contestando, lembrando que, no primeiro milenário cristão, isso não existia, mas que o absolutismo da Igreja veio bem depois.


Ao lhe aplicar a punição, a Igreja pensava ter aplicado uma pena inquisitorial capaz de silenciar o irreverente e reduzi-lo a um padre anônimo. Nada disso aconteceu. Kung recebeu o apoio dos estudantes, do governo alemão revoltado com a intromissão do Vaticano numa de suas universidades e até de teólogos protestantes, não só alemães mas de todo mundo. Deixou de ensinar teologia, mas a universidade criou a cadeira de ecumenismo e, enquanto o novo professor de teologia católica ficava com a classe às moscas, as aulas de Kung eram disputadas, ainda mais por já não terem um cunho confessional.


Durante a entrevista, Kung lembrou-se dos brasileiros que encontrou durante o Segundo Concílio do Vaticano, convocado pelo Papa João XXIII, para uma grande reforma na Igreja; Paulo Evaristo Arns, Aloísio Lorscheider, Helder Câmara e Sérgio Mendes Arceu.


Em pouco tempo, logo depois da morte de João XXIII e a eleição de Paulo VI, a Cúria Romana reassumiu o controle da situação e todas as reformas foram esquecidas, cometendo-se ainda outros absurdos como a encíclica contra os anticoncepcionais, justamente quando as mulheres descobriam a pílula. A chegada do polonês João Paulo II foi ainda mais contundente, acentuando o reacionarismo, fundamentalismo e o mediavelismo de uma Igreja, hoje rejeitada pelo jovens e cedendo rapidamente terreno aos evangélicos na América Latina.


O livro de Hans Kung conta com pormenores a época em que Joseph Ratzinger, convidado por Kung, veio também lecionar em Tubingen. Ambos despontavam como jovens teólogos da Igreja, porém, pouco a pouco foram se distanciando ideologicamente a ponto de estarem, hoje em posições opostas.


O Papa Bento XVI nada tem a ver com o jovem Ratzinger que também participou com Kung dos encontro do Vaticano II. A Igreja Católica de hoje vive num impasse e para sobreviver precisa rever alguns de seus dogmas e posições, como o celibato clerical, o absolutismo Papal e sua pretensa infalibilidade, o dogma da assunção de Maria, a questão dos anticoncepcionais, sua posição diante do ecumenismo e o próprio papel da mulher dentro da Igreja.


Kung argumentou num artigo no jornal Le Monde que o celibato clerical criou problemas no clero católico e é uma das principais causas da pedofilia dentro da Igreja e das instituições dirigidas pela Igreja. Enfim, a Igreja – segundo ele – tem ainda seu futuro mas os bispos e os fiéis precisam agir, durante este Papado, ou na eleição do próximo Papa, a fim de se retornar aos princípios do Vaticano II.


Resumindo, a hora é grave para a Igreja, que insiste em não querer ver o mundo no qual vivem seus fiéis. Muitos bispos não estão dispostos a continuar aceitando os escândalos, mesmo se o Vaticano substituiu todos os cardeais e bispos reformadores por reacionários não só no Brasil mas em todo mundo.


Rui Martins é jornalista. Foi correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. É autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criador dos "Brasileirinhos Apátridas" e da proposta de um Estado dos Emigrantes. É colunista do site "Direto da Redação" e vive em Berna, na Suíça, de onde colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, e com o blog "Quem tem medo do Lula?"

Filmes - "Capitalismo: Uma história de amor"


A vitória do bom senso


Michael Moore mostra a realidade das pessoas comuns que foram expulsas de suas casas como bandidos e passaram a sentir na pele a crueldade do sistema capitalista também nos EUA.


Michael Moore é um sujeito admirável. Não tem medo de colocar a cara para bater e de denunciar as mazelas que assolam seu país, virando alvo do ódio de fundamentalistas da extrema direita estadunidense e de seus capachos mundo afora.


Seu novo documentário, “Capitalismo: Uma História de Amor”, é uma porrada em quem ainda defende esse sistema econômico injusto e desumano que tem levado a humanidade cada vez mais perto do abismo. Sempre de maneira bem humorada, Moore mostra como o capitalismo criou uma bolha de ilusão nos Estados Unidos a partir do fim da II Guerra Mundial, gerando uma classe média próspera e feliz sobre os escombros de outras grandes potências como Japão, Alemanha e Inglaterra cujo parque industrial encontrava-se totalmente destruído. E foi exatamente esse modelo de “capitalismo dos sonhos” que os EUA exportaram durante décadas para o resto do mundo como se fosse o ideal de sociedade passível de ser atingida por todos.


Mas o que o bom senso já dizia ser mentira, a história confirmou. A nova crise do sistema, iniciada pelo estouro da bolha imobiliária nos EUA que gerou a quebra de vários bancos e financiadoras, jogou a classe média daquele país numa situação de penúria, digna dos chamados países do “terceiro mundo”. Famílias inteiras, convencidas por peças de marketing mentirosas a investir suas casas no cassino da bolsa de valores, perderam tudo e viram suas vidas serem destruídas em questão de dias.


Michael Moore mostra no filme um pouco da realidade dessas pessoas comuns, que foram expulsas de suas casas como bandidos e passaram a sentir na pele a crueldade do sistema capitalista, enquanto os bancos e empresas que quebraram receberam ajudas bilionárias do governo, as quais foram usadas na maioria dos casos para pagar polpudos bônus a seus executivos.


Enfim, tudo aquilo que os que lutam contra esse sistema brutal vem denunciando há tempos, agora exposto da maneira didática e corrosiva de Michal Moore. É o tipo de filme que todo mundo deve assistir, inclusive aqueles que precisam rever seus conceitos com urgência.


Cotação: * * * *


André Lux que, em seu blog "Tudo em cima",  se autodenomina como o "famigerado crítico-spam", é jornalista, presta assessoria na área de Comunicação Social e colabora com o blog "Quem tem medo do Lula?".

Um namoro etnodigital



Um namoro etnodigital


Deitado na rede de fibra de tucum, cada um dos dois se embalava, sozinho, nas noites quentes de Rondônia. Já sonhavam um com outro? Quem sabe? O certo é que nunca tinham se visto. Estavam separados por rios e florestas, numa distância de 350 km. Ele morava em Cacoal, ela em Alta Floresta do Oeste. Até que recentemente, com o apoio da filha, ela o adicionou como amigo no Orkut e eles, então, se conheceram virtualmente. Foi aí que deitaram e rolaram, dessa vez juntos, no fundo de outra rede: a net.


Durante um ano, trocaram mensagens que atravessaram o ciberespaço, permitindo que afinassem o violino. “No começo era só amizade, depois ele quis mais”- ela contou ao jornalista Marcos Lock. Segredos e confidências eram cochichados pelas pontas dos dedos. O relacionamento evoluiu para conversas frequentes através do MSN Messenger. Os papos foram revelando afinidades e construindo cumplicidades. Pa-papinho vai, pa-papinho vem, quando caíram em si, já estavam namorando. Por enquanto, virtualmente.


Aí deu vontade de um contato pessoal face to face. Marcaram um encontro. Em abril do ano passado, Tori, que é índia Tupari, saiu de sua aldeia, na Terra Indígena Rio Branco, e foi visitar em Cacoal o índio Gasodá, que pertence ao povo Paiter Suruí. Não deu outra. Os dois se casaram no início do ano, num evento que foi registrado pela Folha de Rondônia: “Namoro pela web leva casal indígena rondoniense ao altar” (25/03/2010).


A Maloca Digital


O namoro e casamento de Gasodá e Tori é apenas uma das tantas consequências da crescente atuação dos índios no ciberespaço, que marca a apropriação por eles das tecnologias digitais. Nos últimos anos, os índios criaram sites, blogs, portais, comunidades virtuais, facebooks, fotologs, onde trocam experiências e informações e publicam textos, fotos, desenhos, notícias, músicas, vídeos.


No Brasil, índios de diferentes línguas e etnias foram estimulados a usar a internet por organizações governamentais e não governamentais. Embora a situação ainda seja bastante precária, inúmeras das 2.698 escolas indígenas existentes nas aldeias, frequentadas por mais de duzentos mil alunos, foram dotadas de computadores. Ali onde isso não foi possível, os computadores dos postos de saúde da FUNASA foram disponibilizados dentro dos ‘Pontos de Cultura’ no Programa GESAC – Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão.


Essa situação permitiu que logo surgissem, em 2001, os primeiros sites indígenas, segundo Eliete Pereira, do Centro de Pesquisa Atopos, da ECA/USP, que andou mapeando a presença indígena na net, ainda bastante irregular. Ela encontrou três tipos de sites: os sites de organizações indígenas, os sites de etnias e os sites pessoais.


Os primeiros são mantidos na rede por organizações com abrangência local, regional ou nacional e estão associados à luta por direitos pela terra, pela educação bilíngue, pela saúde, constituindo-se em ferramentas de reivindicação política. É o caso, por exemplo, do portal da COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, ou o da FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro.


Já os sites de etnias são criados para dar maior visibilidade étnica frente à sociedade nacional e internacional e para mostrar a arte de cada grupo, a produção do artesanato, os padrões gráficos, as narrativas, a língua. É o caso dos Baniwa, do Rio Negro (AM), ou dos Ashaninka, do Acre e de tantos outros, que participaram, em 2005, do I Seminário Rede Povos da Floresta, realizado no Rio de Janeiro, para discutir o acesso deles à tecnologia da informação e a conexão à internet.


O terceiro tipo são os sites pessoais e individuais, que utilizam a internet de forma inovadora, como o do escritor Daniel Munduruku, que apresenta os seus livros e dialoga com leitores, ou o da escritora Eliane Potiguara. Os índios que participam dos cursos de formação de professores indígenas ou de cursos universitários aprendem a lidar com o computador, trocam informações via e-mails, orkut, msn, skype. Eles estão agora lutando para demarcar um novo tipo de território no ciberespaço.


O Ciber Território

Nesses territórios, os usuários indígenas da internet divulgam noticias sobre seus problemas, articulam redes de apoio e acabam sendo mediadores de conflitos indígenas junto aos canais e veículos tradicionais de informação e às próprias instituições governamentais. Essa nova prática tem permitido alguns grupos a fiscalizar com maior empenho a gestão pública dos recursos destinados às populações indígenas e a denunciar as violações aos direitos constitucionais dos índios.


Foi no ciber território que Gasodá e Tori se conheceram. Eles vivenciaram experiências diferentes com a internet. Para Gasodá, que tem mais de 650 amigos no Orkut, a rede ajuda a fazer amizades e a “quebrar o gelo” entre pessoas desconhecidas: “Eu conheço muita gente através da internet, porque conversamos sobre assuntos indígenas pelo MSN. E quando a gente se encontra pela primeira vez, parece que já se conhece há muito tempo e aí é só chegar e cumprimentar: ah, você é que é o fulano, dá um abraço. É como se fosse uma amizade antiga”.


Já Tori vive numa aldeia onde os jovens e adultos “não conhecem muito a internet”, mas quando se fala em computadores, eles ficam muito animados, têm vontade de saber mais. “Quando vão à cidade, eles vão e ficam olhando, não chegam a tocar, eles têm receio de tocar e quebrar”.


Yakuy Tupinambá, integrante do Projeto Índios Online, diz que a internet está promovendo a abertura de horizontes, o que contraria o pensamento daqueles interessados em manter os índios amordaçados. “A internet trouxe-nos novos significados, sem que isso implique no abandono das nossas tradições. Conectar-se ao mundo através da internet é ter direito a ter um rosto, e fazer ouvir nossa voz, abrindo uma janela para o mundo” – completa Yakuy.


Os índios confirmaram essa posição em junho de 2005, durante a Conferência Regional da America Latina e Caribe sobre Sociedade da Informação. Nesse evento, eles aprovaram a Declaração Indígena do Rio de Janeiro, onde afirmam que estão preparados para o inevitável encontro entre os conhecimentos tradicionais e a modernidade, “caminho a ser percorrido para nossa sobrevivência física e cultural, que nos assegura direitos de acesso aos novos conhecimentos e à informação”.


A Caixa da língua


A presença indígena na internet contribuiu para o surgimento de algumas questões relacionadas ao uso da língua e à afirmação da identidade. Se Gasodá, por exemplo, enviasse suas mensagens em língua Paiter Surui, um idioma da família linguística Mondé, provavelmente não haveria namoro e casamento, porque a língua de Tori – o Tupari - pertence à outra família linguística e eles não se entenderiam.


Por isso, quando índios de línguas diferentes se comunicam, usam o português, aliás, uma deliciosa variedade do português escrito, que pode ser apreciada, por exemplo, na comunidade colaborativa de aprendizagem Arco Digital, onde mais de 100 índios de diferentes etnias interagem, com programação diária de vários chats temáticos. Eles brincam com a língua, sem medo de errar e sem censura, detonando regras normativas de ortografia, de pontuação e de sintaxe, como estão fazendo na internet os jovens nativos de qualquer língua.


Essa é uma das características da comunicação mediada pelo computador, que deu origem a uma língua denominada de netspeak pelo linguista irlandês David Crystal. Ele observa que os e-mails, por exemplo, têm sido chamados de ‘fala escrita’, de ‘cruzamento entre conversa e carta’ porque misturam a escrita com a fala. “No geral, o netspeak é mais compreendido como uma linguagem escrita que foi empurrada em direção à fala do que uma linguagem falada que foi escrita”.


Talvez por isso, os índios, que pertencem a sociedades ágrafas, com forte tradição oral, se sintam atraídos por esse novo campo do discurso, no qual se desenvolvem com muita agilidade, porque nele reencontram a aldeia cibernética, marcada por traços da oralidade e pela comunicação através de imagens.


Essa aldeia cria também um novo espaço social para o uso das línguas indígenas. No curso que ministro para professores guarani no Paraná, eles aproveitam as horas vagas para ocupar o laboratório de informática, e lá se comunicam por e-mail com outros índios da mesma etnia em língua guarani. Os guarani do Rio de Janeiro, por isso, denominaram o computador de ayvu ryru, que significa, ‘caixa de guardar a língua’.


Aqueles que aceitam as contínuas mudanças na sua própria cultura, mas acham que as culturas indígenas devem permanecer congeladas para serem “autênticas”, acreditam ingenuamente que o uso da internet pelos índios compromete a identidade étnica.


Os índios, no entanto, aprenderam a conviver com esse processo contínuo de tensão entre o tradicional e o novo. Eles estão permanentemente recriando a tradição, introduzindo novos sentidos e novos símbolos. E é claro, não deixam de ser índios, ou então os brasileiros, que usam a internet, ferramenta que não é tecnologia nacional, deixariam também de ser brasileiros.


P.S.1 – Quem quiser saber mais sobre o tema, vale a pena ler Eliete da Silva Pereira: “Nos meandros da presença étnica indígena na rede indígena” In: DI FELICE, M. (org) Do público para as redes – a comunicação digital e a novas formas de participação social. São Caetano do Sul: Editora Difusão, 2008, pp. 287-333.


P.S. 2 - Agradeço a interlocução com a mestranda Renata Daflon, do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO, que desenvolve pesquisa sobre “Memória Criativa na Blogsfera: contribuições para pensar o ‘patrimônio em rede’”, orientada pela doutora Vera Dodebei.


José Ribamar Bessa Freire é antropólogo, natural de Manaus e assina no "Diário do Amazonas" coluna semanal tida como uma das mais lidas da região norte. Reside no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e é professor da UERJ, onde coordena o programa "Pró-Índio".  Mantém o blog "Taqui pra ti" e é colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Argentina: Sombras sobre o Caso Silvia Suppo


Argentina: Sombras sobre o Caso Silvia Suppo


Acima, algumas das 12 fotos da passeata de repúdio ao assassinato de Silvia Suppo na cidade de Rafaela (Santa Fe, Argentina), no dia 2 de abril, que foram publicadas neste site.


Por Carlos LungarzoQuando, no dia 29 de março, a testemunha Silvia Suppo foi assassinada em sua loja de Rafaela (Argentina), as organizações locais de DH reagiram com calma: ficaram em estado de alerta e exigiram justiça, mas não se deixaram dominar pelo pânico. Pairava a forte crença de que o crime tinha sido executado pelo terrorismo de estado.  As ONGs mantiveram uma abertura para outras hipóteses, como latrocínio, apesar de saber que essas alternativas eram quase impossíveis. Esta atitude contrasta com a “entusiasta” reação da polícia. Logo de conhecer o crime, os policiais declararam que aquilo era um assalto e, em pouco mais de um dia, tinham o caso “resolvido”. Já o MP, a magistratura e os políticos se mantiveram mais discretos, porém apoiando a tese do crime comum.


A equipe para América do Sul de Anistia Internacional está no local realizando discretas investigações, mas suas conjeturas e resultados são, por enquanto, confidenciais. Este texto contém apenas informações de domínio público e opiniões minhas.



Contexto: O Papel da Mídia


Quero tecer alguns comentários sobre a mídia argentina, para entender o clima de informações confusas sobre o caso. Os que se assustam da Revista Veja ou da Folha de S. Paulo ainda não viram nada.


Os jornais mais antigos e tradicionais da Argentina pertencem a famílias aristocráticas que os fundaram no século 19 para defender seus interesses e ideologia. O mais típico, La Prensa, apesar de sua raiz oligárquica bem definida, em alguns momentos da história tem mantido certo principismo na defesa da liberdade de imprensa. Sendo Argentina um dos países onde o poder da Igreja é mais hegemônico, os jornais laicos, mesmo de direita, devem confrontar-se com a censura e com pressões constantes.


O outro jornal clássico da oligarquia, La Nação, e os diários mais modernos surgidos do  capitalismo do século 20, se adaptam ao poder clerical-militar com total subserviência. A exceção é Página/12, de esquerda moderada, que começou a publicar-se em 1987 estimulado pelo “surto” de democracia. Os outros veículos se limitam a reproduzir boletins da polícia, e parecem não ter tomado conhecimento de algo chamado “o direito ao contraditório”.


A cultura jornalística argentina se caracteriza desde suas origens pelo estilo panfletário e derrogatório, que nos veículos de pior qualidade (quase todos os do interior) se manifesta em sarcasmos, ironias e xingamentos contra as opiniões opostas, alternadas com mensagens de ódio e ameaças. Isto também é aplicável às grandes emissoras de rádio e às redes de TV. É importante ter em conta que a mídia argentina é bastante singular na América do Sul e talvez na totalidade do continente: mantém uma estreita dependência com grupos militares, policiais e clericais que em alguns casos fazem parte de seus diretórios. Isto ajuda a explicar seu rígido alinhamento com o genocídio dos anos 70/80, que foi muito além de uma cumplicidade oportunista, como no Brasil.


Por tanto, além de Página/12, as fontes confiáveis são as dos órgãos de ONGs de DH e de alguns grupos de esquerda.



A Evolução dos Fatos


Desde a morte de Silvia, os fatos evoluíram em alta velocidade. A vítima também promovia a investigação pela desaparição do namorado de sua juventude, Reinaldo, que fora seqüestrado em 1977, um pouco antes de ela fosse presa e torturada. Vários dos indiciados por todos estes crimes moram na mesma cidade.


Os Fatos do Dia 30


A principal advogada das vítimas declarou no começo do dia 30 que era inaceitável a hipótese de assalto. Lembrou que o fato aconteceu poucos dias depois do dia 24 de março, aniversário do golpe dos criminosos militares. Nos últimos anos, quando a investigação dos crimes dos militares foi reaberta, os membros do terrorismo de estado “cantam parabéns” com ataques e sabotagens, porém não tão cruentos. Além disso, Silvia Suppo tinha recebido infinidade de ameaças, e era provocada de maneira contínua por pessoas à paisana que passavam perto de sua loja. Tudo isto foi informado às autoridades pelas ONGs de DH, que pediram proteção e cuidados especiais, sem resultado nenhum.


Ainda no dia 30, o diretor do Programa de Proteção a Testemunhas do MJ manifestou que Silvia não tinha aceitado entrar nesse sistema. De fato, a proteção do programa é mais perigosa que a falta dele, pois os agentes do mesmo são os próprios policiais.


Comparando com outros países, deve ter-se em conta que existe na Argentina uma continuidade muito estreita entre as atuais gerações policiais/militares e àquelas que atuaram no genocídio dos anos 70/80. Por um lado, depois do fim do terrorismo do estado, estes grupos se voltaram a atividades como chantagem e intimidação e se misturaram ao tráfico de armas e drogas que foi muito próspero durante o governo neofascista de Carlos Menem.


Por outro lado, as corporações mantiveram um rigoroso culto à sua tradição genocida. Ao orgulho de suas atrocidades (algo que na história argentina começa com os massacres dos caudilhos numa época tão remota como 1829), adiciona-se o ressentimento por ser questionados e julgados. Como se tudo isto fosse pouco, a polícia, que sempre foi integrada por lumpen sádicos e corruptos, atingiu seu ponto de maior brutalidade massiva com as faxinas sociais (tanto em favelas como nas ruas) estimuladas desde o governo de Menem.


No final do dia 30, a polícia, confirmando suas profecias, teria detido a dois jovens acusados dos crimes, num bairro marginal da capital da província. Esta informação, porém, se contradiz com outra que diz que o arresto foi realizado na parte da tarde do dia 31.


As informações não coincidem nem mesmo na idade dos detidos. Enquanto alguns dizem que tinham 19 e 22 anos, outros dizem que tinham 18 e 19. Veja mais detalhes aqui.


Os Fatos do Dia 31


Uma das versões policiais diz que os dois rapazes eram primos, mas a menção a este fato não foi repetida depois. Mais consistente é a afirmação de que o mais jovem era conhecido na cidade e, apesar de morar fora dela, trabalhava como lavador de carros perto da loja de Silvia Suppo.


Durante o dia 31, a polícia também afirmou que o mais jovem tinha numerosos antecedentes por roubo, e que na casa onde morava havia alguns dos objetos roubados na loja. Informação mais detalhada cobrindo todos os aspectos do crime, bem como opiniões de diversas pessoas pode encontrar-se aqui.


A Passeata de 2 de Abril


Página/12 foi também o único que deu espaço amplo à notícia da passeata do dia 2 de abril, quando familiares e amigos de Silvia e ONGs de DH manifestaram sua indignação pelo crime, e rejeitaram a comédia montada pela polícia e a magistratura. O jornal calcula mais de 1200 pessoas, que percorreram 800 metros sob a chuva.


Foram lidas adesões de grupos políticos e sindicais, mas sua presença física foi escassa. Além disso, as autoridades do governo se omitiram explicitamente, deixando circular um boato sobre o caráter “politizado” da manifestação. Embora Rafaela seja uma cidade fortemente conservadora, dominada por ruralistas trogloditas, o assassinato de uma testemunha contra a ditadura deveria ter promovido a assistência de pessoas de todos os locais próximos do país. A cidade está a uns 600 Km de Buenos Aires. Mais detalhes aqui.


As Confissões do 3 de Abril


Segundo o juiz, os jovens suspeitos confessaram fluidamente seus alegados crimes e forneceram todos os detalhes. Armados com facas teriam exigido a entrega do dinheiro da caixa, mas a lojista teria resistido, o que seria a causa do crime. Entretanto, em outro parágrafo do depoimento, atribui-se a execução ao temor de serem identificados. Também, negaram que a morte de Silvia tivesse sido encomendada. Este esclarecimento “espontâneo” foi útil demais para a polícia.


O mais esquisito é a ênfase das autoridades no caráter marginal e sofrido daqueles meninos, filhos de pais alcoólicos. Uma versão policial ressalta um fato inusitado: o mais novo seria tão miserável que não sabia nem mesmo o dia de seu aniversário.


Esta observação compassiva sobre a desgraça social dos alegados executores parece contraditória com a tradição de crueldade e sadismo da polícia argentina, que ao longo de décadas destacou-se sempre como especialmente feroz com as pessoas menos protegidas. (Ex presos políticos têm relatado que, nas prisões, o maior sadismo era exercido contra velhos, doentes, mulheres e crianças.)


Como expressão retórica, o juiz e o promotor se referiram várias vezes a que era necessário “continuar investigando”, porque eles não queriam que ninguém ficasse com dúvidas. Esta ênfase de policiais e magistrados em tirar as dúvidas da família parece uma advertência para que seja aceita a hipótese de latrocínio e acabem as críticas.



A Situação Atual


Os familiares se manifestavam dispostos a exigir uma pesquisa profunda sobre a possibilidade de motivação política, mas até o dia 7 não tiveram nenhum acesso às autoridades nem à leitura do processo. Todas as informações foram recebidas através da mídia. Os filhos da vítima, Marina e Andrés, foram aceitos finalmente como parte querelante no caso, mas não se apresentaram a declarar na oitiva marcada. Em seguida, as fábricas de lixo informativo começaram a ironizar sobre o fato de que a família de Silvia não tinha argumentos para aduzir crime contra a humanidade, e deveria aceitar a hipótese do assalto.



Detalhes Suspeitos


Atualmente, parece a polícia chegou a uma versão única para vender a todos, mas no começo circularam dados incompatíveis. Relataram que a vítima tinha recebido 3 facadas. Depois se falou de 12, de 9, e de um número indefinido entre 7 e 9. No dia do crime, disse-se que várias pessoas tinham visto que um homem entrou na loja e fechou a porta, mas, quando a polícia lançou a novidade dos dois assaltantes, esse suspeito solitário foi esquecido.


Os filhos de Silvia, Marina e Andrés, desmentiram várias afirmações da polícia. Eles dizem que é totalmente falsa e tendenciosa a versão de que o suspeito mais novo, o lavador de carros, lavasse com freqüência o carro da vítima. Negaram que a vítima, que foi conduzida em agonia até um hospital e morreu logo depois, tivesse dito algo como “foi um roubo”. Também negaram que ela pudesse ter-se defendido.


O jornal eletrônico italiano Prensamare.com.ar critica veementemente a perícia policial no lugar dos fatos. Os agentes não adotaram precauções mínimas conhecidas nos lugares mais atrasados do planeta, como obstruir o entorno de local do crime. Fontes complementares (como Página/12) reproduzem a declaração dos familiares, segundo a qual, numerosos vizinhos e curiosos entraram na loja, e tocaram e pisaram em toda a área durante um tempo prolongado, sem que a polícia fizesse esforços para afastá-los.


Logo após chegada dos policiais, com um raciocínio muito rápido, qualificaram o fato como roubo seguido de morte, e até deduziram que os culpados eram dois. Ninguém viu quando a polícia percebeu a falta de dinheiro nem algumas bijuterias.  O jornal faz notar que a loja de Silvia vendia objetos populares baratos, que ninguém pensaria em roubar.


Mais esquisito ainda foi que nem a polícia, nem o MP nem a magistratura procuraram à família da vítima, que era muito conhecida na pequena cidade. A justiça recém abriu um processo depois que os parentes de Silvia comparecem espontaneamente ao fórum, mas, até o dia 07, os filhos não tinham sido recebidos pelo juiz nem tinham visto o processo.


Alguns meios afirmam que na rica cidade, com baixo índice de desemprego, não havia um assalto desde 1999. Mas, o Pensamare vai além: desde a fundação da cidade de 1881, não se registra nenhum roubo seguido de morte com requintes de crueldade. Ou seja: o único crime cruel em 129 anos, cuja vítima era odiada pelo terrorismo policial, se produziu 5 dias depois de completar-se mais um aniversário do golpe militar.


O jornal também coloca em dúvida o comportamento da justiça e do governo provincial (estadual). A matéria afirma que a melhor hipótese é de que a polícia teria marcado uma área livre de repressão para criminosos de baixo cacife, com a obrigação de executar alguns crimes que a própria polícia encomendava. Essa é uma prática antiga na Argentina, especialmente nas províncias mais ricas, onde a brutalidade policial escancarada se torna mais difícil em épocas de democracia. A totalidade da matéria pode ser lida aqui.


O jornal Página/12 menciona outros aspectos suspeitos:


1.       A família rejeitou a afirmação policial do roubo de 10 mil pesos (5 mil reais). Faturar essa soma numa manhã seria impossível para este tipo de negócio.


2.       Os filhos se queixaram da lentidão do juiz para instalar o processo e sua demora para chegar ao lugar dos fatos, tendo em conta a importância do crime.


3.       Um dos acusados relatou que Silvia foi esfaqueada junto ao balcão e depois deslocada para um lugar da loja onde não pudesse ser vista de fora. A perícia, porém, nega a existência de sangue nesse trajeto, e de rastos de desordem.


4.       Depois, os acusados deram uma nova versão. O ataque teria sido executado em duas etapas: facadas “preparatórias” e, depois, facadas terminais no pescoço.


5.       Os acusados disseram que a vítima foi morta porque resistiu. A polícia repetiu isso em vários boletins, mas a autópsia não encontrou feridas defensivas.


6.       Alguns policiais disseram que o celular da vítima foi encontrado na casa dos acusados, mas outros policiais revelaram tê-lo encontrado na casa de um parente, sem o chip. Os agentes se irritaram quando os filhos não souberam reconhecer esse telefone.


7.       A polícia declarou o roubo de jóias, mas só puderam mostrar bijuterias baratas, que no teriam comprado no mercado de produtos roubados. Ora, a vítima (que também morava na loja) tinha objetos pessoais de valor que não foram tocados. Aliás, não houve interesse em dinheiro que Silvia guardava para uma próxima viagem à França.


8.       As fontes policiais disseram que o alvo do assalto foi escolhido ao esmo. É um fato bem conhecido que ladrões jovens sem experiência preferem furtar em lojas de eletrônicos ou telefones, cujos produtos têm comprador imediato no circuito de objetos roubados.


9.                Poucas horas após o crime, falava-se de um detido e dois foragidos. Mas, a polícia também falava de dois culpados. É totalmente evidente que o relatório policial, confirmado pela justiça, foi forjado e, num primeiro momento, ainda não havia harmonização entre as diversas mentiras. Veja mais informação aqui.


Finalmente, uma observação pessoal: é curioso que os garotos não tenham sido torturados, pois ninguém passa por uma delegacia argentina sem receber alguma dose de tortura, mesmo que esteja decidido a confessar. Foi dito que declaram com grande entusiasmo, caprichando nos detalhes com espontaneidade e eficiência.



Crime Imperfeito


Seria natural perguntar-se por que a polícia montou uma farsa tão frágil, cheia de detalhes inconsistentes. Não será que a maioria vai considerar inacreditável? O desleixo na montagem deste circo possui uma explicação na psicologia dos terroristas de estado da Argentina, e em sua longa história de crimes e aberrações.


A polícia não se importa se as pessoas acreditam ou não em suas “descobertas”.


Embora seja um assunto difícil de explicar (e não desejo fazê-lo aqui), boa parte da opinião pública argentina é nostálgica da ditadura e inimiga dos DH. Isso, por sua vez, explica a extrema coragem e eficiência dos militantes de DH, algo que fascina os estrangeiros. É frequente encontrar visitantes que comparam os grupos de DH do Brasil, com o extremo dinamismo de grupos equivalentes na Argentina. Mas isso decorre também da necessidade de sobrevier da enorme perseguição da direita civil, militar e judicial, o que acontece no Brasil com uma intensidade infinitamente menor.


Aqui, os crimes políticos personalizados (como o de Chico Mendes e Dorothy Stang) acabam sendo descobertos e, embora fiquem muitas vezes impunes (como Carajás e Carandiru), os detalhes se tornam públicos. Na Argentina, queimas de arquivo e vinganças percorrem o tecido social no meio a um silêncio cúmplice. Dos milhares de genocidas dos anos 70, apenas algumas dúzias foram a julgamento.


No caso de Silvia Suppo, a polícia deve dar alguma explicação para “preencher” a formalidade, e também para deixar contente à população, que a prestigiosa jornalista italiana Oriana Fallaci (1929-2006) qualificou de fascista. Em 1982, após a Guerra das Malvinas, Oriana descobriu com espanto o militarismo popular argentino e deveu suportar críticas e ameaças por tomar-se a liberdade de ser sincera. (Ela foi combatente antifascista já aos 10 anos de idade, e recebeu uma condecoração ao valor aos 14. Mas, num comentário à imprensa, reconheceu que tinha conhecido o “verdadeiro” fascismo na Argentina.)


A polícia de Santa Fé está ajudando ao típico pequeno burguês argentino a dizer: “Estão vendo? É um simples roubo, não tem nada a ver com política. São mentiras de subversivos, judeus e intelectuais”. De fato, hoje seria difícil que mesmo esta maioria reacionária tenha coragem de aplaudir o assassinato publicamente; portanto, é melhor atribuir-lo a criminosos.


Além disso, a polícia não deseja alarmar a classe média, porque esta se debate num conflito entre o desejo e o medo. Enquanto sonha com os tempos dos militares (quando Argentina ganhou a copa, a moeda nacional era mais forte que o dólar, e a esquerda tinha sido “limpada”), também tem medo. Com efeito: os militares não hesitaram em arrebentar pessoas que os admiravam porque, por algum acaso, se tornaram suspeitas, ou porque tinham o número de telefone de alguém comprometido com a esquerda.


Então, a polícia de Santa Fé usa um termo médio: simula resolver o crime para “acalmar” a sociedade. Ao mesmo tempo, manda um recado a todos os defensores de Direitos Humanos: “Fiquem calados, seus filhos da p...., porque as lojas de vocês também podem ser assaltadas!”


Finalmente, uma reflexão: a presidente Kirchner ameaçou várias vezes com recorrer a organismos internacionais para apressar os processos que a justiça obstrui de maneira sistemática. Todos sabem que os organismos internacionais são lentos e indiferentes, e que sua visão dos DH se mistura com os interesses políticos dos países representados neles. Entretanto, de vez em quando tomam algumas decisões justas, e o caso da Argentina preocupa, às vezes sinceramente, a muitos magistrados internacionais.


De fato, a punição dos genocidas argentinos foi, desde o começo, um problema de caráter internacional, tanto pela universalidade dos DH, como pela desaparição de estrangeiros e a conexão existente entre o genocídio e as aventuras belicistas dos militares.


A intervenção internacional já era imprescindível há 20 anos, e a ameaça de utilizar-la (porém sem concretizar-se nunca), apenas serve para aumentar a convicção de impunidade dos hiper-criminosos do aparato policial-militar.


Carlos Alberto Lungarzo é professor e escritor, autor do livro "Os Cenários Invisíveis do Caso Battisti". Para fazer o download de um resumo do livro clique aqui. Residente em São Paulo, é membro da Anistia Internacional e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A tragédia no Rio de Janeiro

Por Laerte Braga*

A jornalista Lúcia Hipólito, discípula de Miriam Leitão no mau caratismo, tentou de todas as formas culpar o Governo Federal pela tragédia que se abate sobre o Rio de Janeiro num programa de variedades da GLOBONEWS, entre 14 e 15 horas, no dia oito de abril.

Tanto ela como a apresentadora do programa, qualquer coisa Beltrão, orientadas a partir de um ponto (aquele negocinho que fica no ouvido), iam conduzindo as entrevistas segundo as conveniências da empresa. Um dos entrevistados foi um dos grandes especuladores imobiliários do Rio, Pedro Bogossian. Quando se fala em especulador imobiliário vale dizer predador.

O ponto, registre-se, é indispensável em se tratando das duas senhoras em questão. Se soltas e aos seus respectivos talantes não vão conseguir sequer dar boa tarde. No máximo, registrar as grosserias da veneranda senhora Susana Vieira que, opinando sobre Caruaru, PE, disse que comunicação ali é “tambor ou sinal de fumaça, não estou agüentando mais”. Versão Regina Duarte para 2010.

Francisco Negrão de Lima, mineiro de Nepomuceno, ministro dos governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, foi o último prefeito do Rio de Janeiro enquanto capital do Brasil. Criou a SURSAN – SUPERINTENDÊNCIA DE URBANIZAÇÃO E SANEAMENTO –. Um dos primeiros, se não foi o primeiro, projetos de planejamento a curto, médio e longo prazos para uma cidade do porte do Rio e já considerando a cidade a partir da transferência da capital para Brasília.

Nasceram com a SURSAN projetos de erradicação das favelas, do Aterro do Flamengo, do Viaduto dos Marinheiros, expansão do sistema de adutoras, enfim, tudo o que se deve pensar para uma cidade de milhões de habitantes e que, naquele momento se transformava em mais um estado da Federação. Àquela época o Brasil era quase uma Federação de fato, para além do papel.

José Sette Câmaras, ministro do governo JK, foi nomeado governador provisório do estado da Guanabara com a transferência da capital para Brasília. Naquele mesmo ano Carlos Lacerda foi eleito governador do estado derrotando Sérgio Magalhães, um dos mais completos parlamentares da história dos parlamentos brasileiros.

Lacerda nomeou Enaldo Cravo Peixoto, um engenheiro sanitarista para a direção da SURSAN e quase todos os projetos desenvolvidos desde Negrão de Lima e em desenvolvimento foram realizados justiça seja feita. Dentre eles, inclusive, a Rodoviária Novo Rio.

Em 1965 Francisco Negrão de Lima foi eleito governador da Guanabara derrotando o candidato de Lacerda, Flecha Ribeiro. Tomou posse em 1966 e uma tragédia semelhante se abateu sobre o Rio com desabamentos, deslizamentos de morros, mortes, nada diferente do que acontece hoje.

Negrão retomou os projetos de contenção de encostas, de urbanização de favelas, de construção de moradias populares e ao término de seu mandato, em 1971, saia do palácio sozinho dirigindo um Lafer conversível até sua casa na região da Lagoa Rodrigo de Freitas. Ao parar nos sinais luminosos durante o trajeto era aplaudido pelas pessoas que o reconheciam e quase todas o reconheciam.

Numa dessas paradas, na esquina de Miguel Lemos com Nossa Senhora de Copacabana, o cantor e compositor Carlos Imperial – estava na calçada aguardando a hora de atravessar a rua – pediu licença para dar-lhe um beijo na testa e sob o aplauso das pessoas gritou “aqui está o homem que resgatou a Cidade Maravilhosa”. Meio sem jeito Negrão sorriu, acenou e assim que o sinal abriu engatou a primeira e seguiu.

A tragédia do Rio de Janeiro começou com a eleição – indireta – de Chagas Freitas. Um dos governos mais corruptos do antigo estado da Guanabara. Uma das quadrilhas mais eficientes em saques a cofres públicos.

Teve continuidade com a decisão do general Ernesto Geisel de promover a fusão entre o estado do Rio de Janeiro e o estado da Guanabara por motivos de ordem política. A oposição, à época o MDB, vencia todas as eleições na Guanabara. Nomeou para o governo do estado o brigadeiro Faria Lima, um homem que não metia a mão no bolso de ninguém, mas tratou de montar um novo estado da extinta Federação, vivíamos a ditadura militar e governadores eram capatazes, para produzir capatazes.

A fusão em si não representaria prejuízo algum se a tarefa de Faria Lima não fosse a de esvaziar a cidade do Rio de Janeiro, ainda que essa viesse a ser, como é, a capital do então novo estado.

Faria Lima foi sucedido por Chagas Freitas e o Rio vítima de novos saques.

Em 1982 Leonel Brizola derrota contra a vontade da ditadura, da GLOBO, da PROCONSULT (empresa contratada para totalizar os votos e ligada à ditadura e a GLOBO) a candidatos do porte de Sandra Cavalcanti (lacerdismo), Miro Teixeira (Chagas Freitas) e Wellington Moreira Franco (ditadura militar). Brizola vence as eleições por larga margem de votos no Rio e Grande Rio e perde no interior do estado, ganha na soma.

A cidade retoma sua trajetória de Maravilhosa. O governo Brizola constitui-se no primeiro grande momento do Rio de Janeiro pós ditadura, no seu reencontro com sua história e suas características (e Brizola era gaúcho, fora governador do Rio Grande do Sul). Segundo a GLOBO – que tentou fraudar as eleições no esquema PROCONSULT, era parte do processo – o governador era a encarnação do demônio.

Cheios de orgulho os habitantes da cidade do Rio de Janeiro e de todo o estado do Rio respondem à rede mentirosa e à mediocridade do então presidente José Sarney, que decidira cumprir as determinações de Roberto Marinho e isolar o Rio de todo e qualquer benefício ou direito que pudesse vir a ter, como forma de asfixiar o governo Brizola.

Numa das épocas de chuvas Sarney estava no exterior e Ulisses Guimarães, presidente interino, foi ao Rio, determinou a imediata liberação de verbas e como o ministro da Fazenda fizesse corpo mole, deu-lhe um prazo de vinte e quatro horas para o dinheiro chegar e o dinheiro chegou. Foi nesse período que no destrambelhamento de se achar um faraó, em visita a antiga União Soviética, que Sarney proclamou do alto de sua mediocridade corrupta –“sou eu promovendo a abertura no Brasil e o Gorbachov aqui –. Incrível que o Kremlin não tivesse desabado diante de tamanha cretinice.

É o tempo dos CIEPs, do Sambódromo, de obras de infra-estrutura nas favelas, de retomada de projetos de reurbanização, enfim, com imperfeições lógico, mas um saldo positivo que valeu a Brizola à volta ao governo em 1990, já na esquema de dois turnos e ganhando direto no primeiro turno.

Pós Brizola, Marcelo Alencar (cria de Brizola que voltou-se contra o criador), Garotinho (idem) e Rosinha. Não há lugar nenhum no mundo que possa sobreviver a um trio desses, ainda mais levando em conta que a cidade do Rio de Janeiro, por duas vezes, foi assolada pelo prefeito César Maia (produto do brizolismo também, mas voltou-se contra o ex-governador).

Seria irresponsabilidade julgar neste momento o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes. Tem sido digno o comportamento de ambos na tragédia que se abate sobre a cidade. Pelo menos o que se tem visto.

Tragédia semelhante se abateu sobre São Paulo e a GLOBO em momento algum culpou dois pilantras da política, José Collor Arruda Serra (que usou e usa o estado como trampolim para tentar chegar à presidência da República) e o notório corrupto Gilberto Kassab.

Para Lúcia Hipólito pouco importa que tenham morrido duzentas ou trezentas pessoas. Importa que é preciso culpar os adversários, passar no caixa e receber o cachê. Depois tomar umas e outras e pronto.

Para a GLOBO a cobertura das tragédias que se abateram sobre as duas maiores cidades do Brasil tem que ser diferenciada. Em São Paulo os governos municipal e estadual são aliados e no Rio, adversários, apóiam Lula, o grande alvo num ano eleitoral.

Quando no cúmulo da irresponsabilidade a comentarista afirma que o então ministro Geddel Lima liberou verbas em grande quantidade para o seu estado, a Bahia, por ser candidato ao governo estadual, se esquece que as verbas foram para as mãos de Jaques Wagner, adversário de Geddel e que vai disputar as eleições com o ex-ministro.

Pensa que todo mundo é idiota.

O governador Leonel Brizola, um homem digno, de coragem, costumava dizer que “o Rio é o tambor do Brasil. O que bate aqui ecoa em todo o País”.

Era de fato, já não é tanto assim.

A forma irresponsável, leviana e cretina como a GLOBO cobre a tragédia que se abate sobre o povo fluminense é marca registrada da canalhice dos que querem transformar o Brasil num mero adereço sul-americano do império norte-americano, os EUA.

Bonner e seu jornalismo marrom sonham apresentar o JORNAL NACIONAL em inglês, com legendas em português para os nativos, assim que José Collor Arruda Serra for empossa na presidência da República.

Para que isso, cada vez mais difícil, aconteça, mentem, distorcem, exploram a dor do povo, forjam dossiês, toda a sorte de canalhices possíveis porque são apenas isso, canalhas.

Saudade não é saudosismo. Mas saudades do Rio de Antônio Maria no Le Rond Point ou esculhambando Carlos Lacerda e de dedo em riste. De Sérgio Porto e Alegria contando casos a noite inteira na Figueiredo de Magalhães (onde por sinal JK tinha um apartamento). Do Rio de Nelson Rodrigues e “a vida como ela é”, descobrindo as excelências virtuosas do palavrão (transformou um centro-avante mediano do Fluminense – Rodrigo – em “EL CID”).

O Rio não é Arnaldo Jabor, não é William Bonner, nem Boninho jogando água suja naquelas que acha “vagabundas”, muito menos Lúcia Hipólito. Essa é a geração GLOBO, BBB, Susana Vieira, a turma que leva cachorrinho ao cabeleireiro de helicóptero para que o bichinho não tenha stress no trânsito.

O Rio é maior que todos eles e saberá dar a resposta a essa corja. Fazer com que o tambor ecoe em todo o Brasil. Só faltou, no afã da campanha por José Collor Arruda Serra, dizer que Lula “matou” as vítimas das chuvas que caíram sobre a cidade e o estado.

Como eu disse, só sabem ser canalhas.

*Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no "Estado de Minas" e no "Diário Mercantil". É colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".
Creative Commons License
Cite a fonte. Todo o nosso conteúdo próprio está sob a Licença Creative Commons.

Arquivo do blog

Contato

Sugestões podem ser enviadas para: quemtemmedodolula@hotmail.com
diHITT - Notícias Paperblog :Os melhores artigos dos blogs