Herança maldita ou bendita?
Os defensores do governo demo-tucano de FHC, entre eles o PIG – Partido da Imprensa Golpista, evocam a estabilidade da moeda, o real, e o saneamento dos bancos através do Proer, como sendo os grandes responsáveis pelo sucesso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Tenho que reconhecer que conviver com inflações estratosféricas era uma loucura total, e que os maiores prejudicados eram exatamente os mais pobres. Alguma coisa teria que ser feita...
O Plano Real foi feito no governo Itamar Franco, anunciado enquanto FHC era o Ministro da Fazenda (de 19/5/1193 a 30/3/1994 - por 10 meses), e com uma equipe formada basicamente pelos mesmos economistas que haviam participado do Plano Cruzado de José Sarney.
Bom que tenham aproveitado uma experiência anterior, mas Itamar afirma que o grande mérito do Real foi de Rubens Ricupero, que foi quem de fato implementou o plano. Itamar acusa inclusive que foi uma irregularidade FHC ter assinado as notas da nova moeda, quando já não era mais ministro.
Desavenças à parte, fato é que o Plano Real elege FHC presidente do Brasil em 15 de outubro de 1994 e ele assume em 1 de janeiro de 1995, ou seja, foi indiscutivelmente beneficiado pelo governo anterior.
A 1ª crise econômica que o governo FHC teve que enfrentar (em 15 de março de 1995), não foi fruto de nenhuma crise internacional. O mercado mundial estava tranquilo e favorável aos países emergentes, mas o governo mexeu no câmbio amadoristicamente, ou irresponsavelmente, por "suspeita de volta da inflação", com consequências nefastas. Em uma semana o BC fez 32 leilões de câmbio torrando US$ 7 bilhões, elevou a cotação do dólar e aumentou brutalmente a taxa de juros. US$ 2 bilhões de investidores estrangeiros deixaram o país e Serra e Malan aumentaram a previsão da taxa de inflação anual. Para atenuar as mudanças cambiais que desagradaram aos investidores, o governo anunciou a privatização da Cia Vale do Rio Doce, considerada a mais eficiente das 136 estatais e o fim da reserva de mercado no setor bancário.
Depois disso, FHC teve que enfrentar a crise bancária, ocasionada pelo Plano Real, já que os bancos estavam viciados em auferir grandes lucros com a inflação alta, e em 20 de agosto de 1995 lançou o Proer.
Até o Bush, em sua operação salva-bancos foi mais honesto do que FHC. Bush reconheceu que o dinheiro era do contribuinte, já FHC garantiu que o Proer, não envolveria 'nenhum centavo' de dinheiro público. Mas a maior diferença, é que agora, o Obama está fazendo com que os bancos paguem o que receberam à guisa de empréstimo, o que aqui no Brasil foi doação. Os donos dos bancos "ajudados" por FHC deram o calote, e estão todos livres e vivendo no mesmo alto padrão de sempre.
Dentre os bancos "ajudados" estão o Banco Nacional, da nora de FHC (o que fraudava balanços); o Bamerindus, de José Eduardo de Andrade Vieira, ministro da Agricultura de FHC (grande financiador de sua campanha); e o Banco Econômico, de Ângelo Calmon de Sá, que por sinal já tinha sido socorrido pelo Geisel em 1976 (o da Pasta Rosa, que ajudava os "amigos dos banqueiros", dentre eles ACM, FHC, Serra e outros).
Em 2 de março de 1996, numa entrevista ao jornal O Globo, o então presidente do BC, Gustavo Loyola (tucano) afirma que FHC e Pedro Malan sabiam da existência das fraudes do Nacional, embora FHC tenha negado, e em 7 de junho de 1996, Loyola diz ao JB que o Banco Central falhou. Se tivesse atuado quando o problema surgiu, os prejuízos seriam significativamente menores.
Em 25 de outubro de 1997, Maurício Dias, jornalista, comenta no JB: 'A polêmica sobre as contas do governo de 1996 é café pequeno. Chumbo grosso mesmo são as conta de 1995 que, propositalmente, caíram num buraco negro no Congresso. Até hoje não foi designado sequer o relator. É o ano da graça do Proer'.
O que segundo FHC não atingiria 1% do PIB chegou a 12,3%, sem contar o Proer da mídia que no final do ano de 2000 custou US$ 6 bilhões, sob pretexto de "ajuste de contrato". Afinal, era necessário dar um cala-boca na imprensa, para que ela fizesse "vista-grossa" para tantas "irregularidades".
Em 12 de maio de 2008, Antonio Fernando de Souza, Procurador Geral da República, interpõe Agravo Regimental para anular a decisão de Gilmar Mendes (STF), de arquivar a sentença que condena Serra, Malan e Pedro Parente, pelos prejuízos causados pelo Proer.
No dia 14 de junho de 2002, Rudiger Dornbusch, economista do MIT - Massachusetts Institute of Technology e especialista em América Latina culpa o presidente FHC pela crise financeira que abala a credibilidade brasileira no exterior. "Se estamos buscando um especulador para culpar pela situação do Brasil, esse especulador é Fernando Henrique Cardoso", prevendo um colapso da economia brasileira até dezembro (que de fato aconteceu, e o Brasil, mais uma vez, recorreu ao FMI). Segundo Dornbusch, FHC teria utilizado as privatizações para financiar sua reeleição e vai deixar uma enorme dívida social para o próximo governo.
A questão não está no fato louvável de sanear os bancos e "derrubar" a inflação, mas em 31 de dezembro de 2002, quando FHC deixou o governo, ela estava em ascensão, chegando a 12,53% e a taxa de juros Selic média do ano em 24,9%.
O que cabe aqui é perguntar é a que preço?
Se você comprou um carro de um Mauricinho que vendeu barato para trocar por um caro zero, você fez um excelente negócio (porque se foi para tirar proveito de um enforcado, você não presta), mas se você comprou um carro e pagou o dobro ou o triplo do que ele vale, ou você é burro ou então o dinheiro não saiu do seu bolso.
Existem ainda economistas que afirmam que não foi o Proer que saneou os bancos, mas a mordomia que lhes permite mal remunerar o dinheiro que captam de seus correntistas e cobrar juros extorsivos pelo dinheiro que emprestam: os monumentais "spreads bancários". E FHC ainda piorou a situação desses correntistas, quando permitiu que vários serviços, antes gratuitos, como extratos, talões de cheque etc começassem a ser cobrados, com valores estipulados livremente pela própria instituição financeira, aumentando-lhes ainda mais os lucros.
FHC privatizou 76% do patrimônio público, foi o presidente na história contemporânea mundial, que mais aumentou a carga tributária (cerca de 10% do PIB), faliu o país por 3 vezes tendo que pedir socorro ao FMI. Não investiu em infra-estrutura, como ferrovias, rodovias, aeroportos, energia (vide apagão), não reajustou salário dos funcionários públicos, militares, aposentados e pensionistas, não reajustou a tabela do Imposto de Renda.
Aumentou a dívida interna de R$ 61 bilhões para R$ 850 bilhões e a externa de US$ 120 bilhões a US$ 250 bilhões.
Alguém conhece alguma obra feita no Brasil com o dinheiro das estatais vendidas?
Donde se conclui que FHC "saneou os bancos", fez o Plano Real, nós pagamos um preço absurdo pela forma com que fez, e ainda querem que reconheçamos "seus méritos".
Se os demo-tucanos e o PIG querem nos enganar, que o façam de uma forma inteligente, mas que não pretendam nos chamar de burros.
Sônia Montenegro é analista de sistemas e mora no Rio de Janeiro. Mantém o blog “Farmácia de Pensamentos” e é colaboradora do blog “Quem tem medo do Lula?”
A charge é uma cortesia do cartunista Bira Dantas, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".
Um comentário:
Sônia Montenegro
Para uma analista de sistema, você entende muito de economia. Indico como primeira lição sobre crises um olhar mais abrangente que inclua a conjuntura mundial na década de 1990. Uma leitura mais diversificasda sobre o tema também é aconselhável. Aquelas que eliminam chavões como PIG, demo-tucano. Depois, tente dar os primeiros passos na nova carreira. Se precisar de bons conselhos sobre macroeconomia, recorra ao tucano Henrique Meirelles.
Helena Valente
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