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A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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domingo, 15 de agosto de 2010

ISRAEL VERSUS IRÃ

ISRAEL VERSUS IRÃ


Laerte Braga


Um grupo de mulheres israelenses revoltadas com a decisão do governo de seu país de impedir o deslocamento de mulheres palestinas até um determinado ponto de terras palestinas ocupadas (roubadas) por Israel, furou o bloqueio dos soldados e levou as mulheres palestinas até aquele ponto. Ver o mar, chegar ao mar, era a proibição do Reich de Tel Aviv.

Mulheres palestinas, de um modo geral, só servem a soldados de Israel para serem estupradas. E depois mortas. O povo que se considera escolhido por Deus como eleito nessa hora não é tanto eleito assim, é boçal na essência.

O absoluto silêncio da mídia ocidental sobre as condições de vida em Gaza, submetida a um bloqueio odioso por parte de Israel não permite que as pessoas tenham consciência do nível de barbárie dos sionistas/nazistas contra palestinos.

E nunca é demais registrar que Gaza é governada pelo Hamas, como resultado de um acordo entre o então presidente dos EUA Bil Clinton e o primeiro ministro de Israel Itzak Rabin. O acordo previa, entre outros itens, a criação do Estado Palestino, a devolução das terras ocupadas (roubadas) e eleições livres na Palestina. O Hamas venceu as eleições em Gaza. Israel não aceitou o resultado.

Nos festejos comemorativos da paz um sionista fanático, ou judeu fundamentalista como se costuma dizer, matou Rabin e a partir daí a escalada da violência das SS de Israel tornou-se incontrolável.

O estado de Israel (terrorista) dispõe de armas nucleares, é o principal aliado dos EUA no Oriente Médio e em operações terroristas pelo mundo afora, como o assassinato de um líder do Hamas em Dubai. Agentes do MOSSAD, serviço secreto do nazi/sionismo usaram passaportes reais da Grã Bretanha, Alemanha e Itália com nomes falsos.

Mais que isso, bem mais, têm o controle de importantes grupos empresariais e bancos norte-americanos, ou pseudo-norte-americanos, além de profundas ligações com o Partido Republicano.

Deitam suas ações terroristas por todos os cantos do mundo em estreita colaboração com a CIA – serviço secreto dos EUA – o que os transforma, aos dois países numa espécie de organização terrorista dotada de um arsenal nuclear capaz de destruir o planeta cem vezes se necessário for.

O presidente Barack Obama fez um apelo a um site internacional que divulgou perto de noventa mil documentos secretos da guerra do Afeganistão onde fica clara e visível toda a natureza da guerra sórdida e terrorista que norte-americanos fazem naquele país.

Seqüestros, prisões sem culpa formada, assassinatos seletivos, eliminação sumária de civis considerados suspeitos (homens, mulheres e crianças). Os documentos ligam militares dos EUA aos tráficos de droga e mulheres passando pelo Oriente Médio e Europa.

Obama pede que novos documentos não sejam divulgados.

A Europa ocidental hoje é uma grande colônia dos EUA. Ocupada militarmente e sem condições de resistir a esse imperialismo. Antigas nações como Grã Bretanha, Alemanha, França, Espanha, nada mais são que bases do império norte-americano. Seus governos têm autonomia limitada. São usados para operações terroristas do complexo EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

A invasão e ocupação do Iraque no governo Bush se deu sob o pretexto da existência de “armas de destruição em massa” (expressão do governador geral da Grã Bretanha, Tony Blair), fato negado pelos inspetores das Nações Unidas e solenemente ignorado pelos EUA. O Iraque continua sendo um país ocupado e sua maior riqueza, o petróleo, está em mãos de companhias internacionais, dentre elas a BRITISH PETROLEUM, responsável pelo maior vazamento do chamado ouro negro em um oceano (danos irreparáveis ao meio-ambiente).

Não foram poucas as imagens de tortura e toda a sorte de violência em prisões iraquianas contra civis. Os torturadores eram os norte-americanos.

O governo do Afeganistão, tutelado pelos EUA, acaba de anunciar a descoberta de uma jazida de petróleo com reservas de um bilhão e oitocentos milhões de barris no norte do país. Segundo o ministro das Minas, Jawad Omar, “em breve começaremos a explorar a região. O próprio ministro declarou que os trabalhos de prospecção acontecem a seis meses e junto a geólogos norte-americanos.

O petróleo afegão vai para companhias internacionais. A maioria delas norte-americanas e outras tantas associadas.

O ministro das Minas havia anunciado dias antes que seu país iria começar a explorar jazidas de diferentes metais, algo no valor de “trilhões de dólares”. O NEW YORK TIMES anunciou que se tratavam de jazidas de ouro, lítio e outros minerais.

Obama luta até hoje, pouco mais de um ano e meio de governo, para de fato governar os EUA. Não se impôs, de saída não conseguiu fechar o campo de concentração de Guantánamo, eliminar as prisões secretas – muitas delas navios em alto mar – e pouco avançou em negociações de paz em qualquer parte do mundo que esteja em conflito, sobretudo Oriente Médio.

Tem um pepino nas mãos. O governo paralelo do Partido Republicano, que havia dado o sinal verde para o golpe militar em Honduras, a derrubada do presidente Manuel Zelaya (ação direta do senador John McCain, derrotado nas eleições por Obama), deu sinal verde a Israel para atacar o Irã e tentar destruir as instalações e usinas nucleares daquele país.

A hipótese que o Irã venha a construir armas nucleares e com isso mude a correlação de forças no Oriente Médio, acabando com a barbárie do estado terrorista de Israel, forçando negociações sérias de paz, ensejando a criação real e efetiva do Estado Palestino (decisão tomada pela ONU em 1948 e até hoje não cumprida), leva pânico ao bunker nazi/sionista em Tel Aviv.

A forma como a mídia ocidental trata o Irã, criminaliza a revolução islâmica, transforma-a em grande satã, tem, entre outros objetivos, o de propiciar um terreno favorável a Israel para uma ação terrorista desse porte.

Se milhões de pessoas morrem num conflito com essas proporções, o Irã tem defesas capazes de resistir a Israel, isso é o de menos desde que os negócios fiquem preservados. Tanto para norte-americanos como para os que governam Israel.

O caso da iraniana condenada a morte por adultério é um exemplo típico dessa criminalização. A pena de morte por apedrejamento foi e continua sendo vendida pela mídia. Quer simbolizar o atraso, o caráter medieval de um governo, uma Nação e estigmatizar mais ainda os muçulmanos.

O apedrejamento já foi suspenso e o anúncio oficial feito para todo o mundo. A pena de morte mantida pelo simples fato que a condenada em conluio com um outro homem foi responsável pela morte de seu marido. Centenas de crimes com esse viés acontecem no mundo inteiro. Um sem número de filmes mostrando esse tipo de situação já foram produzidos por Hollywood.

É evidente que apedrejar alguém até a morte por adultério é uma boçalidade sem tamanho. A pena de morte em si é a negação do ser humano como tal. E considerar adultério crime é outra estupidez.

Quando era governador do estado do Texas o ex-presidente George Bush não atendeu a nenhum pedido de clemência de dezenas de presos executados nas cadeias texanas. Hoje, com os avanços da genética, muitas famílias desses presos assassinados pelo estado estão recebendo indenizações monstruosas, pois os chamados exames de DNA comprovaram que boa parte era inocente.

O Ato Patriótico assinado por Bush, delírio nazista de um governante estúpido, permitia a tortura, entre elas a simulação de afogamento, para facilitar as políticas de combate ao terrorismo.

Se para combater o crime é preciso usar armas criminosas, um e outro são iguais.

A expressão terrorista vulgarizou-se no fanatismo nazi/sionista e imperialista dos EUA

Um eventual ataque de Israel ao Irã, a despeito dos apelos de Obama para que isso não aconteça, leva o mundo a riscos maiores que os já existentes e os já existentes estão exatamente no que Hans Blinx definiu como “embriaguês pelo poder militar”, referindo-se aos EUA em relação à guerra do Iraque. Blinx foi o inspetor chefe da ONU que declarou não existirem provas de armas químicas e biológicas no Iraque. Isso antes do ataque terrorista dos norte-americanos.

Israel é o câncer do Oriente Médio como está e como age.

É guerra hoje é um negócio fantástico para empresas desde que privatizadas, terceirizadas.

Na alienação vendida diariamente pela mídia mundial, nos EUA inclusive, tentando mostrar árabes, ou muçulmanos como terroristas, povos inferiores, atrasados, não se exibe, por exemplo, o concurso de língua mais comprida do mundo, realizado numa cidade norte-americana e com cobertura nacional da mídia, na demonstração indesmentível da mediocridade a que foram submetidos os habitantes do complexo terrorista EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

O imperialismo capitalista, selvagem, brutal, terrorista.

Essa denúncia, entre nós, é feita sistematicamente pelo secretário geral do PCB – Partido Comunista Brasileiro (não confundir PCB com a empresa PC do B S/A) – Ivan Pinheiro em cumprimento a decisões da Conferência Nacional do seu partido.

O governo do Irã é legítimo, produto de um processo revolucionário que pôs fim a um regime totalitário de décadas. O presidente é eleito pelo voto direto dos iranianos e a condenação à morte de uma mulher é repugnante por ser exatamente condenação a morte, mas o crime não é necessariamente adultério, é homicídio.

Quem dera que o JORNAL NACIONAL no histerismo mentiroso de William Bonner denunciasse todas as execuções em estados norte-americanos e todos os erros judiciários descobertos recentemente na barbárie que é intrínseca à sociedade norte-americana.

Um eventual ataque ao Irã será um ato de terrorismo puro e simples dos nazi/sionistas de Israel. Não diferem em nada de Hitler e seu Reich. São iguais.

E Obama, nessa história toda, é só um bobo que acha que é presidente dos Estados Unidos, que supõe, ele muitos, ser uma nação, mas é apenas uma grande empresa controlada por EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.

Combater o terrorismo na palavra dessa gente é tomar conta do petróleo, do ouro, do lítio no Afeganistão. No caso do Brasil, investir em José Arruda Serra para colocar de joelhos um país com dimensões continentais e trilhões de dólares em petróleo, nióbio, urânio, etc, etc.

Já o Irã é evitar que a revolução islâmica crie condições efetivas de vida digna para os palestinos, para o Estado Palestino, pondo fim ao saque sionista promovido a partir de um tumor canceroso na região, Israel.

O aniversário dos impossíveis

O aniversário dos impossíveis

Ao completar 84 anos, Fidel Castro voltou a se dedicar ao que parece ser seu passatempo predileto: desenganar os que o desenganam. Há quatro anos quando, por motivos de saúde, teve que se afastar do poder, não foram poucos os que o davam como um homem morto.

Por Gilson Caroni Filho (*)

Fidel Castro e Cuba se entrelaçam em uma metáfora perfeita. Como impossibilidades que se reinventam, desafiam analistas e inimigos políticos. Ao completar 84 anos, na sexta-feira passada, o líder cubano voltou a se dedicar ao que parece ser seu passatempo predileto: desenganar os que o desenganam. Há quatro anos quando, por motivos de saúde, teve que se afastar do poder, não foram poucos os que o davam como um homem morto.

Neste agosto de 2010, Fidel reapareceu em público, retomando a real e vigorosa crítica da política internacional, ao advertir sobre o grave perigo para a paz, caso Estados Unidos e Israel lancem ataques a instalações iranianas. Analisando o Oriente Médio, o Comandante volta a propugnar por mudanças radicais que permitam ao homem entrar na posse de sua dignidade. É na práxis, e não no isolamento de conspiratas, que o verdadeiro humanismo se reafirma. Sua estatura histórica é universalista por excelência.

Em 1991, com o colapso da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a gigantesca máquina de propaganda estadunidense prognosticou o fim do regime cubano. Passados 19 anos, Cuba, apesar do bloqueio econômico e comercial mantido pela potência imperialista, apresenta o menor índice de mortalidade infantil até o primeiro ano de vida, na América Latina. Além disso, registrou, em plena crise econômica mundial de 2009, aumento do PIB per capita.

Somando-se a estes índices a vantagem de um modelo societário que reconhece legal e concretamente o direito à educação e saúde para todos de maneira gratuita, estará descortinada a mais bela obra que uma sociedade pode desejar: uma nação independente e soberana.

Compreende-se a dificuldade de uma crítica individualista ao lidar com formação política em que o “dar-se à sociedade" ocupa o lugar mais alto em uma escala de valores morais. A tomada do poder em 1959, pelos guerrilheiros de Sierra Maestra, foi o meio para revolucionar as estruturas cubanas. Não foi um golpe de Estado para troca de guarda; para troca de grupos privilegiados, tão comuns na América Latina. Aqueles homens estavam dispostos a mudar as condições de vida da maioria absoluta da população, do amplo contingente desprovido de direitos.

É claro que modificar um país, organizado para servir aos interesses estrangeiros e a uma exígua minoria da sociedade nativa, acarreta toda sorte de problemas e um grande descontentamento nos que perdem privilégios atávicos. A execução dessas transformações – já difícil em circunstâncias normais – sob o bloqueio econômico tornou-se árdua e dependente de uma grande dose de sacrifícios.

Com Fidel aniversariaram as adolescentes que em 1961, ano em que a revolução se declarou socialista, subiram à serra para alfabetizar camponeses. Entoando versos como “Somos la Brigada Conrado Benítez, somos la vanguardia de la Revolución..." lembravam um mártir e, talvez sem entender muito bem tudo o que estava acontecendo, deslancharam o processo educativo da nova Cuba. Além delas, outros homens e mulheres, que viveram a história como fé apaixonada na capacidade do homem de lutar contra a injustiça, também festejaram a sexta-feira.

Aos que lutam pelo respeito aos direitos humanos, é bom recordar que a cultura é o que humaniza o homem. E nós só o humanizamos quando o colocamos no centro dos debates fundamentais, elevando sua qualidade de vida. As crianças reunidas no Parque Lênin, em Havana, não cantaram parabéns apenas para o líder cubano. Pessoas que viveram os tempos capitalistas e outras que nasceram após a revolução têm consciência das dificuldades a serem enfrentadas. Mas continuam acreditando no legado revolucionário por se sentirem participantes ativas do processo.

Como povo esclarecido, bem informado e politizado, o cubano é o verdadeiro crítico do seu regime. Critica e aponta saídas. Sabe que é preciso lutar para ampliar a esfera pública, mas tem consciência de que a propaganda orquestrada contra o governo socialista acaba por criar, como subproduto previsto e planejado, uma imagem distorcida de sua realidade. A volta ao capitalismo é impensável. Por isso cantam parabéns para a vontade férrea de não esquecer o significado de cada conquista. Na estreita vinculação, que deve existir entre os interesses do indivíduo e os da sociedade, permanece atual o que vinha escrito nas boinas dos pequenos “pioneros”: “seremos como el Che”. Uma promessa de renascimento permanente.

*Gilson Caroni Filho é sociólogo e mestre em ciências políticas. Nascido e residente no Rio de Janeiro, onde é professor titular de sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha). É colunista da Carta Maior, colaborador do Jornal do Brasil e do blog "Quem tem medo do Lula?".

As charges são uma cortesia do cartunista Carlos Latuff, também colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?". (Obs: Na charge do quadro-negro, o americano está escrevendo repetidamente pra si mesmo "Do not war", ou seja: Não faça guerra).

Segue uma reportagem sobre o alerta de Fidel a respeito de uma iminente guerra nuclear:

Para não falar com o espelho

Ao longo do texto, algumas fotos do evento citado,
todas de autoria da jornalista Carolina Maldonado.


Para não falar com o espelho

Por José Ribamar Bessa Freire (*)

Escrevo da aldeia Cachoeirinha, em Miranda (MS), onde acabo de presenciar uma operação arriscada. Vi como desmontaram o gatilho de uma arma infernal que já causou mortes e emudeceu vozes, criando um silêncio de cemitério. O gatilho assassino foi desarmado por dois Terena – a professora Maria de Lourdes Elias Sobrinho, ex-empregada doméstica, filha de um índio plantador de milho, arroz, feijão e banana - e seu colega, o professor Celinho Belizário, ex-cortador de cana.

Nessa sexta-feira, 13 de agosto, cada um deles defendeu sua dissertação de mestrado na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) de Campo Grande (MS), que abriu seu Programa de Pós-Graduação em Educação para formar pesquisadores indígenas, com apoio da Fundação Ford.

No entanto, a defesa aconteceu – o que é inédito no Brasil - não no campus universitário, mas dentro da própria aldeia. Fomos nós, os professores da banca de avaliação, que nos deslocamos até lá, num movimento que não se limitou a uma simples troca de espaço, mas implicou mudança de perspectiva: a universidade desceu de suas tamancas e com isso ampliou seu universo de conhecimentos.

Maria de Lourdes fez a apresentação oral, toda ela em língua terena, para compartilhar sua pesquisa com os índios ali presentes. Na medida em que falava, o data-show ia projetando o texto da tradução ao português, permitindo que a banca e o público não-indígena acompanhassem sua fala. O trabalho escrito também é, em grande medida, bilíngue em terena e português. Essa foi, talvez, a primeira vez no Brasil que um índio não precisou renunciar à sua língua para ter um diploma reconhecendo aquilo que sabe.

O boi baba

A pesquisa de Maria de Lourdes procura identificar, justamente, os mecanismos engatilhados contra a língua terena, buscando um escudo para protegê-la. Através desse caso particular, é possível entender o extermínio, em cinco séculos, de mais de mil línguas indígenas, que deixaram de ser faladas no Brasil. Cerca de 180 delas continuam ainda resistindo, como a língua terena. De que forma foi possível silenciar tantas vozes que enriqueciam o patrimônio cultural da humanidade, sepultando com elas cantos, narrativas, poesia, músicas e saberes?

As tentativas de sufocar a língua terena – um crime de glotocídio - foram testemunhadas pela própria Maria de Lourdes, em sua infância. “Da primeira até a quarta série do Ensino Fundamental, cursei na Aldeia Cachoeirinha de 1968 a 1972, minha professora era purutuye (branca). Quando cheguei à sala de aula, meu primeiro impacto foi com a questão da língua, isto é, eu, falante da língua terena e a professora da língua portuguesa. Quando ela começou a explicar a matéria, parecia que eu estava em outro mundo, pois não entendia nada do que ela estava falando”.

Lourdes se lembra de sua primeira cartilha – O caminho suave – onde lia que “o boi baba”, em voz alta, mas não entendia bulhufas. “Em 1976, na cidade de Miranda, fui para uma escola pública cursar a 5ª série à noite. Numa das aulas, a professora pediu para eu ler um texto de história. Li. Depois ela me pediu para explicar aos colegas o que tinha lido. Sem dizer nada, comecei a chorar, pois não sabia o que o texto dizia, eu não falava a língua portuguesa”.

Lourdes chegou a estudar num convento de freiras, em 1975. Lá, “era tudo estranho, a começar pela língua. Não entendia o que as freiras falavam comigo. Lembro quando uma freira me pediu água. Fiquei parada na cozinha sem saber o que ela tinha pedido. Eu não perguntava o que ela queria, pois não sabia nem como perguntar. A minha comunicação com elas era bom dia, boa tarde e boa noite. Essas foram as primeiras palavras que me ensinaram”.

Quando saiu do convento, Lourdes foi trabalhar como empregada doméstica. “Trabalhava de dia, e à noite estudava o segundo grau numa escola pública, mas tinha vergonha de falar a língua terena no meio dos brancos, isto porque não queria que eles percebessem que eu era índia, pois quando percebiam me isolavam do grupo”. Com a língua, ela silenciou também brincadeiras infantis, danças, benzimentos, cantos, pajelança e até a culinária terena, especialmente o lapâpe – uma massa de mandioca aberta como uma pizza e preparada na frigideira quente.


Lourdes foi atingida no próprio corpo pelos disparos de uma arma letal, que assassina almas e emudece vozes. Dessa forma, descobriu o mecanismo de extermínio, que começa com a discriminação da língua indígena considerada pelo senso comum preconceituoso como “inferior” ou “pobre”. Depois vem a proibição de falar essa língua, o que significa enxotar da escola os conhecimentos tradicionais que ela veicula. Em seguida, a obrigação de aprender a ler em português, uma língua desconhecida. Por último, o falante se automutila, na medida em que é obrigado a esconder sua identidade.

Rito de passagem

Quando Lourdes se formou no Curso Normal Superior Indígena e foi lecionar na primeira série do ensino fundamental, na Aldeia Cachoeirinha, constatou que apesar das garantias constitucionais e do direito dos índios de serem alfabetizados em suas línguas maternas, a escola continuava fazendo com as crianças aquilo que havia feito com ela. As crianças não aprendiam a ler em terena, apresentando alto índice de repetência e evasão escolar.

Foi aí que Lourdes decidiu romper esse círculo vicioso, organizando a resistência ao desmontar os mecanismos que acabariam com sua língua materna. Como coordenadora pedagógica da escola, ela elaborou e implantou em 2007 o projeto de alfabetização e produziu a cartilha “Ler e Escrever na Língua Terena”. O português passou a ser ensinado como segunda língua.

A pesquisa de Lourdes no mestrado teve como objetivo analisar essa experiência. Ela realizou testes de leitura e compreensão de texto com crianças terena alfabetizadas na língua indígena e com outros alfabetizados em português. Os resultados foram surpreendentes: no primeiro caso, as crianças que liam e escreviam em Terena, se expressavam com mais fluência inclusive em português e interpretavam textos com mais facilidade nas duas línguas.


As duas pesquisas – a de Lourdes e a de seu colega Celinho, que analisou o projeto político pedagógico da escola – se apropriaram das teorias e dos conceitos dos autores nacionais e estrangeiros indicados por seus respectivos orientadores: a doutora Adir Casaro e o doutor Antônio Brand da UCDB. No início não foi fácil: “O Homi Bhabha não queria conversar comigo” – disse Lourdes, com humor, referindo-se ao teórico indo-britânico, que analisou o confronto de sistemas culturais e cuja noção de entre-lugar como local da cultura acabou se tornando familiar a ela.

Alguns autores brasileiros como Aryon Rodrigues, Ruth Monserrat e Roberto Cardoso de Oliveira, serviram aos dois pesquisadores que, além disso, realizaram observações na aldeia e na escola. Entrevistaram velhos, professores, alunos, pais de alunos, registraram as falas nas reuniões de trabalho, consultaram os textos de autores indígenas de outras línguas como Higino Tuyuka, Chiquinha Pareci e Darlene Taukane, cruzaram as fontes orais com as fontes escritas. Enfim, produziram uma pesquisa de qualidade, como assinalou a doutora Marta Azevedo, da Unicamp, membro da banca.

“Os Terena estão buscando novas formas de sobreviver em meio a essa cruzada de flechas e às novas e gigantescas colunas de fogo que se alastram em direção a nós, vindas do entorno regional” - escreveu Celinho, que definiu sua pesquisa como “a semente de um sonho”, porque “outros pesquisadores indígenas continuarão essa reflexão”.

Na ocasião, duas cerimônias foram realizadas pela comunidade terena para celebrar o nascimento dos novos mestres. Lourdes entrou no recinto, acompanhada dos membros da banca, passando no meio de duas fileiras formadas por meninas que dançaram o Xiputrena, animadas por um tocador de pife (oxoti étakati) e um tocador de tambor (ixúkoti pepêke). Já Celinho foi recebido com o Kohitoxi Kipâhi ou dança do bate-pau, numa fileira meninos com os corpos pintados de vermelho e na outra, de azul. Tinha algo de belo e de sagrado na reverência daquelas crianças aos novos suportes do saber.

Há alguns anos, o último falante de uma língua indígena foi considerado doido, porque conversava em língua xetá com sua imagem projetada no espelho, como uma forma dramática de manter sua identidade e sua memória. As pesquisas dos dois novos mestres fazem parte de uma estratégia, uma esperança para que nenhum terena jamais precise conversar com o espelho. Que Orekajuvakai nos ouça!
*José Ribamar Bessa Freire (terceiro da esquerda para a direita, na foto acima) é antropólogo, natural de Manaus e assina no “Diário do Amazonas” coluna semanal tida como uma das mais lidas da região norte. Reside no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e é professor da UERJ, onde coordena o programa “Pró-Índio”. Mantém o blogTaqui pra ti e é colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.

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