O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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Peço que, quem queira continuar acompanhando o meu trabalho, siga o novo blog.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Buuu - Veríssimo responde brilhantemente quem tem medo do Lula

O texto abaixo, publicado hoje, é simplesmente a cara deste blog.




Buuu

Por Luis Fernando Verissimo – O Estado de S. Paulo
Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.
- É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior – tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.
v- A nova classe média nos descaracterizou?
- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada…
- Buuu para o Lula, então?
- Buuu para o Lula!
- E buuu para o Fernando Henrique?
- Buuu para o… Como, “buuu para o Fernando Henrique”?!
- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
- Sim. Não. Quer dizer…
- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
- Por quê?
- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
- Acho, mas…
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um cordel para a dita

Por Crispiniano Neto Dizem que a “dita” é a sorte
De um povo ou de uma pessoa,
Há “dita” ruim, “dita” boa,
“Dita” fraca ou “dita” forte,
“Dita” pra vida ou pra morte,
“Dita” suja e “dita” pura,
“Dita” clara e “dita” escura,
“Dita” maldita ou bendita,
Mas “dita” vira desdita
Na maldita DITAdura! Continue lendo 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mataram-me Albino Silva!

Por Raul Longo (*)
Houve época que tinha até me acostumado com a notícia, mas já não esperava que voltasse a acontecer. Pelo menos não aqui, no sul maravilha.
Pois foi aqui mesmo que me mataram na noite da última sexta-feira. Naquela que dizem ser a cidade mais civilizada do país.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Em vídeo recente, Lula fala sobre a Copa e deixa claro que a ausência no almoço com Obama foi questão de “simancol"

Bono Vox e “o destino” de Lula

Disse Bono Vox a Lula Você é nosso chefe! Nós temos 2 chefes. Nelson Mandela e (Desmond) Tutu, mas eles se aposentaram. Nós olhamos em volta e quem pode nos ajudar? Eu sugiro que o seu destino é pegar isso que você fez no Brasil e levar adiante. Eu tremo ao dizer isso, porque o senhor já poderia se aposentar, mas o senhor é um lutador e está pronto para a batalha. Continue lendo 

domingo, 17 de abril de 2011

“Por isso que ele é o cara” – Um cordel para Lula


Por Crispiniano Neto 
Lula ganhou, assumiu,
Começou a juntar caco,
Danou-se a tapar buraco
Levantando o que caiu…
Deu um basta nos desleixos
Botou o Brasil nos eixos
Apagou muita coivara
Provou de maneira incrível
Que outro Brasil é possível
Por isso que ele é o cara Continue lendo 

Cuba e a repórter da Folha: quem afunda?

Por Gilson Caroni Filho (*)
Alaine Gonzáles e Reinel Herrera são trabalhadores autônomos cubanos. Ambos foram escolhidos pela jornalista Flávia Marreiro, enviada especial da Folha de S. Paulo a Havana para cobrir o Congresso do Partido Comunista Cubano, como personagens errantes de uma economia em frangalhos. Seguindo um padrão de cobertura vigente há 50 anos, a repórter elabora um texto com pouca informação e direcionamento enviesado, não somente sobre o país, no sentido político e econômico, mas principalmente sobre o povo, sua história, sua cultura e seus hábitos. Clique aqui para continuar a ler.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

FHC e a “sociologia interesseira”

Por Máximo Lula é quem, de fato, consegue interpretar a massa difusa, desorganizada, sem, entretanto, mobilizá-la nos termos do populismo apenas pra garantir a própria condição de mediador privilegiado. O que o Lula fez, com o bolsa-família, o crédito popular, “minha casa, minha vida”, não só mobiliza e – mais do que organiza – dignifica a vida. FHC usa muito mal a sociologia. Continuar a ler 

Lula na Europa: críticas a FHC e elogios de Hobsbawm

Em visita a Londres nesta quinta-feira (14), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que afirmou que a oposição deveria esquecer o “povão”. “Sinceramente não sei como alguém estuda tanto e depois quer esquecer o povão. O povão é a razão de ser do Brasil. E do povão fazem parte a classe média, a classe rica, os mais pobres, porque todos são brasileiros.”, afirmou Lula, que, na quarta, se encontrou com Erick Hobsbawm, de quem recebeu elogios rasgados. Para o consagrado historiador britânico, Lula “ajudou a mudar o equilíbrio do mundo ao trazer os países em desenvolvimento para o centro das coisas” Continuar a ler 

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Brasil de Lula e o fatalismo dos fracos

Por Ruy Braga Parece-me que o debate sobre o lulismo necessita urgentemente de uma boa dose de reflexão a respeito do “fatalismo dos fracos” a fim de examinar laboriosa e, sobretudo, dialeticamente, o significado racional dessa tal “satisfação” (momentânea) manifestada nas últimas eleições pelo subproletariado brasileiro. Caso contrário, podemos muito bem ser atropelados pela, na expressão do comunista sardo, “atividade empreendedora” dos subalternos. Definitivamente, não seria a primeira vez na história da sociologia… Continuar a ler 

sábado, 9 de abril de 2011

Sobre a diferença entre democracia e liberdade

Texto que escrevi como apresentação pro meu novo site: “Quem tem medo da democracia?” - clique aqui para acessar

Por Ana Helena Tavares

Democracia é uma praça cheia de gente.
Pessoas de todos os sexos, etnias e credos, que, dentro dos limites de uma Constituição representativa, que cria parâmetros e norteia, não têm medo de expressar suas opiniões e, ainda assim, convivem em harmonia, tolerando pacificamente o contraditório.
Seja a Cinelândia, das passeatas com milhares, seja aquela pracinha de sua cidade interiorana. Lá na velha Athenas, foi assim que a palavra democracia foi criada: para ser abrigada num púlpito público, localizado no centro da pólis (denominação dada às antigas cidades gregas que deu origem ao nome política), cujo objetivo era dar voz a todos, sendo respeitada a vontade soberana da maioria. Vale o que mais de 50 por cento acham bom.
Esta vontade, muitas vezes, pode ir contra nossa vontade. Quem mora, por exemplo, num condomínio, sabe bem o que é não ser livre para alterar a fachada de sua varanda. Mas, ao coro dos insatisfeitos, resta contentar-se e conseguir convencer os outros de suas idéias. Dá trabalho, claro. Ser déspota é imensamente mais fácil, porque prosperar numa democracia requer gasto de saliva e talento para o diálogo - palavrinha mágica.
Quanto mais vemos os outros sofrerem, mais gostaríamos que o mundo fosse assim: pessoas dialogando em paz. É, por assim dizer, um ato solidário, conflitante com o ódio (de desapego a si e à sua vontade, quando esta perde). E disto só os tiranos opressores têm medo. E como o mundo está cheio deles! Há até aqueles que querem discursar nas praças de outros países...
Liberdade é uma estrada rumo ao infinito.
Quando este rumo é roubado, tudo parece cansaço. Mas a liberdade é um raio de sol, onde nos apegamos e nos refazemos. É um oásis alucinógeno que nos faz caminhar sedentamente até ele. Mas, se acaso lá chegássemos, e nos deparássemos com muitos lagos, viria de certo a forte dúvida: em qual beber?
Liberdade não tem norte e é conflitante com o amor.
Senão vejamos... Consta que John Lennon, autor da frase - "Amo a liberdade, por isso deixo tudo o que amo livre" - morria de ciúmes de Yoko Ono.  E o que é o ciúmes senão o medo de perder o que se ama? E como amar sem ter ciúmes? E o que é o amor senão um "prender-se por vontade"? Seja a alguém, a algo ou a uma terra, quem ama cuida e quem cuida cria laços, elos de uma corrente imaginária mais forte do que as físicas.
Mas liberdade é também ter o direito de escolher a quem ou a que se prender. O problema nas ditaduras é que quem escolhe isso não é nem você nem a maioria - é a minoria "iluminada" e embebida de ódio. Tiranos têm raiva da própria incompetência e temem a democracia porque sabem que não conseguiriam se destacar não fosse pela força. Seu medo é gerado pelo ódio.
E o ódio nada mais é do que uma vontade de ter "licença para matar" ou destruir. O agente secreto da rainha inglesa tinha, mas seguia ordens.
Liberdade é um faroeste sem xerife.
É, no fundo, uma utopia. Não creio que tenha havido na história da humanidade alguém totalmente livre de amarras afetivas e sociais. Até os mais libertários revolucionários não estão a salvo de influências externas. Nesse sentido, a busca pela liberdade talvez se configure numa desesperada tentativa de fuga. Às vezes, uma fuga de si mesmo.
Como se pudéssemos enganar nossas dores, a liberdade é um querer intenso, que, quanto mais sofremos, mais queremos. É, por assim dizer, um desejo solitário (de desapego ao magnetismo do que está à sua volta), pois dá asas a todas as vontades individuais, sem observar as dos outros (tantas vezes conflitantes) arcando com o caos que isto pode gerar.
E, por mais saciado que este desejo nos pareça, sempre desejaremos mais liberdade. Este é o desejo de todos os desejos: desejar mais e mais. Porque, se não houver o que desejarmos, que graça tem o mundo? Apenas tédio e inércia.
Mas o problema é: o que desejar? Muitos não sabem nem querem saber. A prisão, não a física, mas a mental é cômoda. Libertar-se é perigosíssimo. E disto todo ser humano tem medo.
Eu tenho. É o novo ao seu alcance. É o mergulho no desconhecido. É a anarquia. "Graças a Deus", diria Zélia Gatai, uma anarquista de carteirinha que passou a vida defendendo a democracia. E que lindo era o amor dela pelo nosso Amado.
Sim, é preciso amar para ser democrata, mas a liberdade plena, como utopia que é, conflita tanto com o amor como com o ódio.
Senão vejamos... O ódio, expresso em palavras ou atos, num regime (verdadeiramente) democrático, te levará à cadeia; num mundo livre (caso existisse) te levaria a ser morto. É a (falta de) lei da selva.
O amor num mundo livre? Só quando a humanidade for reinventada.
Sugestão? Ame numa democracia.

Ana Helena Tavares

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Eu odeio esta escola

Por José Ribamar Bessa Freire* (escrito em 2007 sobre os EUA, qualquer semelhança com o Brasil de 2011 é mera coincidência, ou não...)
Era apenas um menino, de 14 anos, solitário e triste. Cursava a nona série numa escola de Ohio, nos Estados Unidos. Quase ninguém o chamava pelo seu nome de batismo: Asa H. Coon. Como mancava de uma perna, era mais conhecido por um apelido cruel, algo assim como “Deixa-que-eu-chuto”. Nessa quarta-feira, 10 de outubro, entrou na escola com dois revólveres, um em cada mão, como um caubói disposto a se fazer respeitar no faroeste. Fez muitos disparos. Feriu quatro pessoas. Depois, se suicidou.

Foi preciso morrer para conquistar outro apelido: “Deixa-que-eu-atiro”.

No dia seguinte, longe dali, em Filadélfia, Pensilvânia, outro adolescente, também de 14 anos, foi preso. A polícia, após descobrir que ele acessava um site na internet com instruções para fabricar bombas, encontrou em sua casa um arsenal com pistolas automáticas e granadas. O menino estava preparando um ataque à escola, de onde havia fugido para evitar humilhações. Queria se vingar da crueldade dos colegas, que o chamavam de ‘Baleia Prenha’, por causa de sua extrema obesidade.

A violência nas escolas americanas já fez dezenas de vítimas, desde a tragédia de Columbine, em 1999, quando treze pessoas foram assassinadas. Há seis meses, em abril, foi um sul-coreano que matou 32 estudantes na Universidade Virginia Tech, e deixou um manifesto se queixando das afrontas recebidas porque pertencia a uma ‘cultura estranha’ e falava uma língua diferente. Em outubro do ano passado, cinco meninas foram assassinadas numa escola religiosa anabatista, na Pensilvânia. Um mês antes, um menino de 15 anos, matou o diretor de seu colégio, em Wisconsin. E por aí vai.

A Polícia descobriu a pólvora e a roda, quando classificou os autores dessa violência como “portadores de problemas emocionais e psicológicos”. Tal juízo foi feito muito tarde e pela instituição errada. Trata-se não de um diagnóstico médico, mas de um laudo policial preconceituoso, elaborado a posteriori, que olha hoje o ‘desequilibrado’, como no passado se olhava o leproso. Ele é visto como um inimigo da sociedade, que deve ser isolado e punido, e não como alguém que precisa de tratamento.

Ohio que o parta

Afinal, o que está acontecendo? Por que meninos usam a escola como palco de ações homicidas? O que estão querendo nos dizer quando se suicidam, depois de matar e ferir colegas e professores? A gente não consegue entender o recado que nem eles mesmos desconfiam que estão mandando. Talvez fossem compreendidos se escrevessem um conto ou poema, pintassem um quadro, compusessem uma música. Mas usaram a linguagem das balas, predominante hoje nos EUA e na ocupação americana do Iraque. Quem sabe George Bush pode nos traduzir, pois essa parece ser a sua língua materna, digo paterna.

O menino de Ohio entrou na escola mancando, com duas armas, como John Wayne num filme de bang-bang ou como um soldado americano no Iraque. Estava vestido todo de preto: casaco, camisa Marilyn Manson e jeans, as unhas pintadas com esmalte escuro e o pescoço cheio de cadeias estilo gótico. O primeiro disparo atingiu um colega de turma, que o havia esbofeteado após uma discussão sobre a existência de Deus. Depois, feriu outro colega e dois professores. No meio da confusão, berrou, antes de se suicidar: “EU ODEIO ESTA ESCOLA”.

Esse grito fere a nós, professores, talvez tão profundamente quanto as balas, porque evidencia nosso fracasso. A instituição na qual acreditamos, longe de ser um lugar de reflexão, de liberdade e de convivência amistosa, torna-se um espaço insuportável de opressão e de negação da alteridade. A escola que pretende uniformizar as pessoas – e a farda é apenas um símbolo disso – revela que está despreparada para lidar com a diferença. Não ensina as regras de conviver com quem é diferente. O pernetinha, o surdo, o gordão, o cara de olho puxado, o índio, o caboco e o negro são estigmatizados.

A escola, como regra geral, não educa para a diferença em nenhum país. Acontece que ela dialoga sempre com a sociedade que a abriga. Nos EUA, num sistema extremamente competitivo, a escola ‘prepara’ os alunos para serem ‘winners’ (vencedores). Não há lugar para ‘losers’ (perdedores). Os fracassados são esmagados. Há ainda um agravante: a facilidade com que até um ‘loser’ pode comprar uma arma, o que possibilita que se faça, em escala menor, aquilo que Bush faz no Iraque em proporções gigantescas, assassinando milhares de pessoas.

Sociedade-caveirão

Quem está doente não é o “Deixa-que-eu-chuto” ou o ‘Baleia Prenha’. Doente é a relação deles com a sociedade através da escola. É essa relação enferma, produto da sociedade-caveirão, que deve ser tratada. Esses conflitos em instituições de ensino dos EUA nos permitem refletir sobre o modelo de escola e o papel do professor, bem como discutir o tipo de violência que acontece num país complexo como o Brasil. Um fato ocorrido recentemente no Rio de Janeiro pode servir de ilustração.

Uma professora carioca decidiu fazer um curso universitário depois de se aposentar. Hoje ela é minha aluna na UERJ. Contou, em sala de aula, um assalto que sofreu dentro de um ônibus, na Avenida Brasil, quando voltava pra sua casa, na Baixada Fluminense. Numa parada, entraram quatro jovens. Um deles, que parecia ser o chefe, botou um revólver na cabeça do trocador e gritou: “isso é um assalto”. Um segundo menino, também com uma arma na mão, ficou apontando pro motorista, enquanto os outros dois recolhiam, numa sacola, dinheiro, celulares e jóias dos passageiros.

Quando já não havia mais o que roubar, o chefe do grupo deu ordem pro motorista parar. Mas no momento de descer, a professora aposentada o identificou como seu ex-aluno no ensino fundamental. Não se conteve e deu um grito dolorido: “Vandernilson, que decepção! Tanto trabalho pra nada!”. Provavelmente, ela era a única pessoa, além da mãe, que o chamava pelo nome de batismo. ‘Pereba’, assim ele era conhecido, ordenou aos seus parceiros: ‘Sujou! Sujou! Devolve tudo’.

Enquanto o ônibus prosseguia no seu itinerário, eles iam devolvendo os pertences de cada um. Depois, Vandernilson, o Pereba, bastante constrangido, pediu desculpas à sua ex-professora e desceu provavelmente para assaltar outro ônibus. Os passageiros aplaudiram a mestra, cujo aluno podia até não gostar da escola, mas que ainda nutria afeto e respeito por uma de suas professoras.

Na véspera do Dia do Professor, homenageamos todos os mestres que procuram respeitar a diferença. Entre eles, alguns do Instituto de Educação do Amazonas e do Ginásio Amazonense na década de 1960, que compartilharam com seus alunos o que tinham de melhor: Orígenes Martins, Carlos Eduardo Gonçalves, Mercedes Ponce de León, Nathércia Menezes, Hilda Tribuzzi, José Braga, Isis Falcone, Garcitylzo Silva, Lurdinha Telles, Stélio Lobato, Afonso Nina, Manoel Otávio, Farias de Carvalho e tantos outros, que merecem a gratidão perene de seus ex-alunos.

*José Ribamar Bessa Freire é antropólogo, natural de Manaus e assina no “Diário do Amazonas” coluna semanal tida como uma das mais lidas da região norte.Reside no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e é professor da UERJ, onde coordena o programa “Pró-Índio”. Mantém o blogTaqui Pra Tie é colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"

Sobre a prisão dos manifestantes no ato contra Obama

Por Luciana Guedes, no site "Olhar Virtual"

A Faculdade de Direito (FD) da UFRJ realizou na última quinta-feira (31/03) um ato público em favor dos 13 presos políticos que protestavam contra a vinda de Barack Obama ao Brasil, no dia 20 de março. O ato também visa a promover as liberdades democráticas e a descriminalização dos movimentos sociais.

Flávio Alves Martins, diretor da Faculdade de Direito, comentou a prisão dos manifestantes. ”Ela feriu o direitos dos manifestantes. Eles foram presos de forma arbitrária, eles estavam amparados pela constituição federal, com direitos como a liberdade de expressão. O fato que levou à prisão foi o lançamento do ‘coquetel molotov’ (uma arma incendiária caseira). Ninguém identificou quem foi, ninguém provou de onde partiu, e nada foi encontrado com os presos”, completou o diretor.

O professor Martins entende que o atentado foi puramente relacionado a questões políticas. “Entendo que foi político. Os próprios pedidos feitos para eles serem colocados em liberdade foram negados. Todos eram identificáveis, sem passagem na polícia...” Os preso só foram liberados após a partida do presidente americano.

Entre os detidos estão dois alunos da UFRJ, um da Faculdade de Direito, Thiago Loureiro e outro da Faculdade de Letras, Gabriel de Melo. Gabriel esclarece os motivos para o protesto do dia 18: “Protestávamos contra o Obama, porque para nós a visita dele tem a ver com acordos com a presidente Dilma sobre o pré-sal, e, na verdade, é uma nova forma de Imperialismo.”

“A mídia tentou criar a ilusão de que todos estavam a favor”, completa o estudante. Gabriel diz que o grupo no qual ele estava se separou do restante e a prisão só aconteceu quase meia hora depois da confusão.

“Estávamos no meio do discurso fazendo o jogral (uma espécie de coro em resposta às falas daquele que discursa), finalizando o discurso. Foi aí que começamos a ouvir explosões. A maioria dos manifestantes correu para a Cinelândia e o meu grupo foi em direção à Avenida Beira Mar. Meia hora depois, quando voltávamos para a Cinelândia, fomos presos.”, disse o estudante. “Foi só pela PM que recebemos a informação de que o coquetel molotov fora jogado.”

Os ativistas, após serem levados para a delegacia e para o IML, foram encaminhados para presídios. Os homens foram para o presídio Ary Franco, em Água Santa. As mulheres foram levadas para a penitenciária em Bangu. O menor foi encaminhado à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Até domingo a saída dos detidos foi negada. Segunda-feira, quando o presidente norte-americano deixou o país, os 13 foram libertados.

Gabriel acredita que o protesto, organizado na FD-UFRJ, deve pressionar as autoridades para o arquivamento do caso. “Várias entidades se somaram para promover esse evento. Nossa visão sobre a vinda do Obama é diferente, nós temos direito a isso. Na democracia quem gosta bate palma, quem não gosta protesta, e eu protestei”.

Há um abaixo assinado para o imediato arquivamento do processo criminal preparado contra os 13 manifestantes que foram injustamente presos na noite do dia 18 de março. Segue o link: http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N8248

Realengo: Diante de nossa inabilidade com o antes, nos preocupemos com o após

Sugiro a leitura do texto da companheira Conceição Oliveira, do blog "Maria Frô". Link abaixo:

Realengo: Diante de nossa inabilidade com o antes, nos preocupemos com o após

Lula? "Provou que não precisa ser um doutor pra dividir o pão", diz a música...



"E tem um jogo de corpo melhor que Pelé e Tostão"...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Kadafi e o toque da trombeta da cavalaria americana


Kadafi e o toque da trombeta da cavalaria americana

Por Raul Longo (*)

Enviado pela poeta Maura Soares, segue uma análise para melhor compreensão das razões do ataque a Kadafi ou Gaddaf, antecedida por lembranças de exemplos históricos a serem considerados para a resposta de uma questão: quando os EUA promoveram alguma ofensiva de real interesse humanitário ou por alguma causa de fato justa ou justificável? Quando realmente se preocuparam em salvar vidas de civis?
Pearl Harbor é o primeiro exemplo que surge quando se ignora que os serviços de espionagem alemães não apenas tinham informações de possível rompimento da omissão estadunidense aos ataques nazistas na Europa, alguns efetivados por artefatos da indústria bélica norte americana e com investimento de instituições financeiras daquele país; como também sabiam que o conflito europeu seria usado como justificativa para a destruição das maiores cidades japonesas a partir da base militar de Pearl Harbor.
Alguns analistas da época, inclusive pela imprensa, exortavam a esse ataque como estratégia de domínio do extremo asiático para, pelo flanco oriental, se auxiliar Hitler contra o então considerado verdadeiro inimigo dos Estados Unidos: a U.R.S.S, com a qual o governo japonês mantinha acordo de neutralidade.
O ataque japonês à Pearl Harbor não foi uma precipitação, mas uma defesa prévia. De toda forma improfícua, pois o plano de ataque às maiores cidades japonesas foi consumado em 1945. Por seis meses os Estados Unidos destruíram 67 cidades. Só no  bombardeio à Tóquio em março de 45 o saldo foi mais de 100 mil mortos. Ao longo de três anos e meio desde Pearl Harbor, incluindo os combates em Europa, os Estados Unidos perderam durante todo o conflito 200 mil vidas.
Em Julho de 45, frente ao pedido de rendição do Japão, Henry Trumann fez redigir a Declaração de Potsdam que dobrava o inimigo à total subserviência. O governo japonês negociava termos mais honrosos quando em 6 de agosto o Enola Gay (nome da mãe do piloto do avião) despejou a “Little Boy” sobre Hiroshima, matando 80 mil pessoas instantaneamente. Eram as primeiras horas da manhãs e muitos pequenos garotos e garotas deixavam suas casas para ir à escola. Sobreviventes deste primeiro momento vieram a morrer ao longo dos anos futuros por contaminação nuclear e os de melhor sorte procriaram gerações de aleijões e doentes incuráveis.
A debilidade do Japão incentivou Stálin à quebra do acordo de neutralidade com o país e a meia noite do dia 9 de agosto as forças russas invadiram a Manchúria. Menos de 12 horas depois 80 mil vidas foram exterminadas em Nagasaki, como advertência ao líder soviético sobre o poder destrutivo dos Estados Unidos.
Entre Hiroshima e Nagasaki foram extintos diversos militares aliados ali mantidos como prisioneiros de guerra, por cuja liberdade o imperador japonês apostava no abrandamento dos termos de rendição impostos por Trumann. Esses oficiais também vitimados pelo bombardeio atômico em maioria eram estadunidenses, mas também havia britânicos, holandeses e australianos.
Para o Primeiro Ministro Britânico, Winston Churchill: “Seria errado supor que o destino do Japão tenha sido determinado pela bomba atômica.”
Para o General MacArthur, comandante das Tropas Aliadas  no Pacífico: “Não havia nenhuma necessidade militar de empregar a bomba atômica em 1945.”
Para Leo Szilard, um dos cientistas responsáveis pela criação da Bomba Atômica: “Se tivessem sido os alemães a lançar bombas atómicas sobre cidades ao invés de nós, teríamos considerado esse lançamento como um crime de guerra e sentenciado à morte e enforcado os alemães considerados culpados desse crime.”
Para as investigações promovidas pelos próprios Estados Unidos, as conclusões finais publicadas na United States Strategic Bombing Survey: “... o Japão ter-se-ia rendido mesmo se as bombas atômicas não tivessem sido lançadas, mesmo se a Rússia não tivesse entrado na guerra e mesmo se a invasão não tivesse sido planejada."
Com esta memória e lembrando das armas químicas de Sadam Husein, fica mais fácil compreender a matéria abaixo.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis (SC), onde mantém a pousada "Pouso Poesia". É colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".


Os “heróis” de Benghazi e as mentiras e omissões da mídia grande

23/03/2011

(Chico Villela)
Thomas C. Mountain é ativista pela paz e editor. Em 1987 foi membro da I Delegação de Paz enviada pelos EUA à Líbia. Boa parte de sua vida foi passada na região, em missões na Eritréia, Somália etc. Há cerca de 25 anos acompanha os acontecimentos líbios e da região. Assim, Mountain coloca na mesa questões que aclaram muito além da falsificação da mídia grande que, agora, clama ser Gaddafi um ditador sanguinário e os resistentes, heróis no combate pela liberdade. Nem Gaddafi sempre foi execrável, nem os resistentes são anjos do bem.
Um ano antes, em abril de 1986, os EUA haviam bombardeado o complexo residencial de Gaddafi em Tripoli, ferido familiares e matado sua filha adotiva de 15 anos. Haviam bombardeado também um complexo residencial civil afastado de qualquer base militar, matando muitos moradores, a maioria crianças. Mountain cita que domingo dia 20 de março passado assistiu na TV a uma família líbia enterrando sua filha de três anos, morta pelos ataques dos EUA iniciados no sábado.
O coronel Muammar al-Gaddafi subiu ao poder na liderança partilhada com outros de um golpe que depôs o rei Idris, único da história líbia, que reinou de 1951 a 1969. Idris pouco antes havia passado o poder ao filho, por razão de doença. Aliado do Ocidente na Segunda Guerra, colocou os poços de petróleo à disposição do Reino Unido e dos EUA, país que também mantinha uma base aérea próximo a Trípoli, sem compensações vantajosas ao país, o que acirrava os ânimos dos nacionalistas. Sua capital era Benghazi, maior cidade da Cirenaica, região em que reinava; a Líbia atual abrange mais duas regiões.
golpe de Gaddafi expulsou as petroleiras britânicas e outras do país e nacionalizou o petróleo. De família tradicional, Gaddafi à época posava como um entre os vários nacionalistas  que haviam se espelhado no coronel egípcio Gamal Abdel Nasser, criador e inspirador do pan-arabismo. Apoiou movimentos e grupos contrários a monarquias e à presença ocidental. Radical islâmico, implantou medidas como fechamento de bordéis e proibição de jogos e bebidas alcoólicas.
Gaddafi, a par de seu apoio a grupos extremistas nacionais e do exterior, como os Black Panthers dos EUA, e de seu ódio a Israel, foi responsável por muitos avanços sociais no país. Em nome do ‘socialismo árabe’, posteriormente transformado em doutrina própria, colocou as rendas do petróleo a serviço da população, promoveu as mulheres, expandiu o sistema educacional e implantou sistema de saúde considerado dos melhores entre os países árabes. Isso explica o grande apoio que ainda tem no país.
Hoje a Líbia é um dos países em desenvolvimento mais bem classificados. No ranking do IDH, situa-se na posição 53, o que a coloca na primeira posição entre os países africanos e acima de Rússia (65), Brasil (73) e Tunísia (81). A expectativa de vida cresceu incríveis 20 anos durante o longo regime de Gaddafi.
Por ocasião da invasão do Iraque, Gaddafi guinou para o lado do Ocidente e reaproximou-se dos EUA, e abandonou seu apoio a terroristas e suas pretensões nucleares. Passou, assim, a ser tolerado, mas nunca foi considerado verdadeiro aliado dos EUA e seus parceiros, embora tenha aberto as portas do país para dezenas de corporações estrangeiras. E, como é natural em quem exerce o poder por longo tempo, aos poucos aprofundou suas arbitrariedades de ditador e exerceu forte repressão contra seus próprios dissidentes, tendo sofrido golpes e sido ferido numa tentativa de assassinato.
Mas, para Mountain, apenas isso não é suficiente para explicar a resistência dos atuais dissidentes, principalmente os mais celebrados, de Benghazi, onde se iniciou a revolta. Mountain anota que nenhuma mídia grande do mundo toca num espinhoso assunto: Benghazi , por ser um ponto do continente africano próximo da Europa, tornou-se de uns quinze anos para cá o “epicentro da migração africana para a Europa”, da ordem de cerca de 1 mil por dia.
Mountain: “A indústria de tráfico humano, um dos mais selvagens e desumanos negócios do planeta, cresceu para cerca de 1 bilhão de dólares anuais em Benghazi. Uma grande, viscosa máfia do submundo deitou fundas raízes em Benghazi, emprega milhares em várias atividades e corrompe a polícia e líbia e funcionários do governo. Foi apenas no ano passado que o governo líbio, com apoio da Itália [destino de boa parte dos migrantes], finalmente adquiriu controle desse câncer.
“Com seu meio de vida destruído e muitos dos seus líderes na prisão, a máfia do tráfico humano tem estado à frente em financiar e apoiar a rebelião líbia. Muitas das gangues de tráfico e outros elementos lumpen de Benghazi são conhecidos por pogroms racistas contra trabalhadores africanos de fora, enquanto na década passada eles regularmente roubavam e assassinavam africanos em Benghazi e seus arredores. Desde que a rebelião estourou em Benghazi, algumas centenas de trabalhadores sudaneses, somalis, etíopes e eritreus têm sido roubados e assassinados pelas milícias racistas rebeldes, fato bem omitido pela mídia internacional.
“Benghazi tem sido também um bem conhecido centro de extremismo religioso. Fanáticos líbios que passaram algum tempo no Afeganistão concentram-se lá e um certo número de células terroristas tem realizado bombardeios e assassinatos de funcionários governamentais nas últimas duas décadas. Uma célula, auto-intitulada Grupo Islâmico Guerreiro, declarou-se afiliado à Al Qaeda em 2007. Essas células foram as primeiras a empunhar armas contra o governo líbio”.
Outro problema apontado por Mountain é que os jovens educados nas escolas líbias recusam trabalhos considerados ‘sujos’, exatamente como os cidadãos dos EUA, que empregam nesses gêneros de trabalho os ‘chicanos’ latino-americanos. Assim, o desemprego é mais grave ainda entre a juventude líbia, e os trabalhadores desqualificados de outros países africanos enfrentam oposição. Exatamente como os imigrantes latino-americanos são vistos por grupos de direita dos EUA como o Tea Party. O ócio forçado leva muitos jovens líbios para álcool e drogas.
A primeira medida dos rebeldes de Benghazi foi invadir as prisões de segurança máxima e libertar seus chefes, e assim passou-se a atacar contingentes e órgãos do governo. À parte Mountain, deve-se ter em  mente que no Kosovo os EUA e a OTANcolocaram no poder os chefes da máfia e do tráfico regional, e que Hashin Thaçi, o homem no poder, é hoje acusado por corte da União Européia até mesmo de assassinar prisioneiros e adversários para traficar órgãos humanos.
O apoio de grande parte da população líbia ao ditador Gaddafi levou os EUA e alguns membros sempre fiéis da OTAN a atacar Gaddafi para evitar a derrota dos opositores baseados em Benghazi. À mídia grande coube o eterno papel de justificar as ações do império e ridicularizar o governante líbio de todas as formas. Inda mais que Gaddafi manda em boa parte do petróleo consumido pela Europa, o que o torna insuportável, pela sua independência, aos olhos dos governantes e das corporações de negócios.
As alegações são sempre as mesmas falsidades. Na hora líbia, o pretexto é “evitar a morte de civis nas mãos de Gaddafi”. Para tanto, acionam-se mísseis e aviões com bombas superpoderosas, que matam civis sem conta, omitidos convenientemente pela mídia grande. Assim, a única intervenção armada das forças ocidentais dá-se contra um governo que, entre as mais de dez odiosas ditaduras árabes, sempre foi o único que se opôs aos desígnios do império. Com o coro subserviente da mídia grande. É de dar asco, por mais repelente que seja Muammar al-Gaddafi.
Mountain, como muitos outros analistas, perguntam-se sobre os desdobramentos da questão. As revoltas legítimas que ocorrem nas ditaduras apoiadas pelos EUA e aliados ainda estão em seu início. O massacre da Líbia pode incendiar ainda mais os ânimos dos revoltosos em todos os países, que se opõem às elites que, como no Egito e na Tunísia, tentam perpetuar-se com outros agentes, inclusive militares. É uma aposta arriscada, esta do malabarista BHObama. Pode ir contra as intenções do império.

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