Por Raul Longo (*)
Compreendendo sua indignação, mas considerando-a um tanto desfocada, dei uma ajeitada na lente tentando sugerir outra ótica. A resposta saiu meio longa, como sempre, mas é como dizia Nietzsche: com isso de pensar não se pode ter muita pressa.
De qualquer forma resolvi repassar a quem interessar possa:
A breve mensagem:
Meus queridos amigos, não encontro outra palavra para designar o conteúdo, constante no vídeo abaixo, a não ser indignação.
Assistam ao vídeo, é um absurdo!
A minha extensa resposta:
Pois é Wera, veja você! Mas se a gente parar para pensar, para entender como é que chegamos a esse ponto, vamos encontrar a origem disso tudo nos próprios formadores de opinião do povo brasileiro.
Então, não basta se indignar com o despreparo do Tiririca. É preciso perceber que se existe um Tiririca, é porque temos um povo extremamente mal informado, manipulado e des-concientizado de sua própria realidade. E quem é que des-concientiza? Quem tem poder para isso?
Você sabe: toda sociedade é dirigida por 3 poderes. Primeiro o Executivo, que determinará as relações sócio/econômica e políticas desse povo, em âmbito nacional e internacional. Como os demais, esse poder se exerce nos três níveis: federal, estadual e municipal. Segundo o Legislativo: o Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais. Esses definirão as leis que determinam os direitos e deveres desta sociedade. Por fim o Judiciário, com capacidade de julgamento e punição à toda sociedade quando descumprida as leis definidas pelo Poder Legislativo. Julga, ou deveria julgar, inclusive aos integrantes do próprio Poder Legislativo que se desviam das leis que eles mesmos criam.
O Judiciário também pode e deve julgar e condenar o Executivo, mas quem o julgará ou tem poder acima desses 3 poderes? Quem pode deter o abuso desses 3 poderes? E se esses 3 poderes se unem para transgredir as leis e praticar crimes contra a sociedade, como tantas vezes acontece ao longo de nossa história?
Imediatamente pensamos nas Forças Armadas, não é? E quando essas Forças dissolvem ou impõe um Legislativo biônico ou pressionam o Judiciário, desviando-se ainda mais das leis que devem preservar os direitos de todos, igualitária e democraticamente? Nesse caso, qual Poder restaria?
Vamos pegar só um exemplo histórico para poder pensar melhor a respeito: o estado nazista instaurado na Alemanha no século passado. Ali as Forças Armadas controlaram os demais Poderes, como ainda hoje acontece em tantos países do mundo, através de governos que se perpetuam há muitas décadas sem serem ameaçados por qualquer outro que os julgue, apesar de praticarem grandes crimes contra seus povos.
O governo nazista praticou crimes contra cidadãos alemães que dele discordavam, mas como a opinião pública daquele povo foi condicionada e induzida pelos meios de formação de opinião a apoiar Hitler, muito poucos discordaram. Hoje, os filhos e netos dos alemães daquela época condenam seus pais e avós, e não acreditam que possam ter ignorado, como tentam se desculpar, os crimes cometidos contra judeus e ciganos.
No entanto, observe que ainda hoje a maior parte das pessoas, em todo o mundo, ignora que o extermínio de ciganos pelo estado nazista quase atingiu o mesmo macabro número de 6 milhões de pessoas. Por essa razão, ainda que igualmente não desculpe ao povo alemão daquela época, me pergunto se é correto julgarmos um povo manipulado por omissões e falsas informações?
Acho mais importante analisarmos aqueles que manipulam os povos, entender seus interesses. Por exemplo: por que nunca se fala dos ciganos executados pelo nazismo? Você sabe que assim como aqui no Brasil Adolfo Bloch foi dono da extinta Manchete, Victor Civita o dono da editora Abril, e Júlio Mesquita do O Estado de São Paulo, muitos descendentes de judeus são donos dos principais meios de comunicação em cada país. Mas não há nenhum cigano.
E também não há nenhum estado cigano, como se criou o estado de Israel. Ciganos não são donos de grandes corporações financeiras como a família Rothschild ou a do Herbert Levy que, quando vivo, era sócio do Olavo Setubal no Banco Itaú. Estes em maioria senão na totalidade são os financiadores do regime sionista que mantém na Palestina o mesmo genocídio promovido pelos nazistas na Segunda Guerra.
Também nos escondem que desde o princípio do sionismo, muitos judeus de proeminência internacional foram totalmente contrários a esse sistema fundamentalista e intolerante. Um deles, para dar um exemplo, foi Einstein. Ainda hoje notáveis intelectuais judeus de Israel ou das mais diversas partes do mundo são radicalmente contrários ao sionismo ou ao crime praticado contra o povo palestino.
E um detalhe: não foi o poder econômico quem derrubou Hitler. Nem mesmo o dos judeus ricos do mundo.
Não sei se você sabe, mas o presidente Roosevelt teve grande dificuldade para convencer o Congresso norte-americano a aceitar a entrada dos Estados Unidos no combate ao nazismo, pois lá a influência dos grupos capitalistas na política é muito maior do que aqui e muitos capitalistas estadunidenses, como a família Bush, apoiaram Hitler economicamente mesmo depois dos Estados Unidos entrar na guerra. O que só aconteceu com o ataque japonês a Pearl Harbor em dezembro de 1941, mais de dois anos depois das cruentas invasões nazistas aos países da Europa e África.
E o mais triste é que mesmo hoje, apesar de toda a história, muitos norte-americanos ainda mantém opinião favorável ao nazismo. Inclusive cidadãos comuns, ainda influenciados pela formação de opinião da imprensa do país, na época.
Por essas razões é que mundialmente se considera a imprensa como um 4º Poder. Mas o que faz com que a Mídia detenha tal poder? Se não tem armas nem direitos de julgar ou estipular leis, de onde vêm tamanho poder?
Se analisar bem, querida, perceberá que o Poder da imprensa emana da mesma fonte, da mesma força que está acima de todas as outras. Do maior Poder de todos, pois não há arsenal que vença a determinação desse Poder. E esse Poder, essa força que permite e concede a existência e manutenção de todos os demais, somos nós.
Se Hitler e seus aliados não atacassem o resto do mundo, não teriam sido derrotados pelas Forças externas a seus países e se manteriam no poder até que seus povos se libertassem do condicionamento daqueles que manipularam suas consciências. E então teriam condições de derrubar o estado nazista, como nós, os brasileiros, começamos a derrubar a ditadura militar aqui mesmo em Florianópolis, na famosa Novembrada. Aquele governo de nítida e reconhecida orientação nazista começou a cair quando o povo desta cidade cercou e ameaçou João Batista Figueiredo e comitiva na esquina da Felipe Schmidt com a rua Trajano.
Aquele também foi o primeiro ato de libertação do povo brasileiro do condicionamento da imprensa que massivamente apoiava a ditadura, como mais tarde apoiou o governo ainda não eleito pelo voto popular, que substituiu a ditadura. Logo depois, a Mídia nos condicionou a eleger um político ainda menos conhecido e tão despreparado quanto o Tiririca: o Collor de Melo.
Graças ao Collor de Melo o povo brasileiro começou a perceber que o 4º Poder nunca foi nosso aliado, como se propaga por hipocrisia barata. Evidente! Não somos nós que pagamos para que manipulem nossa consciência, não se interessam nem querem que descubramos a força de nosso Poder, temem e evitam o momento em que descobriremos sermos o grande Poder sobre todos.
Por outro lado, por mais que adotem partidariamente este ou aquele grupo político, ou são por eles adotados como foram pelos ditadores das décadas de 60 à 80, não é só dos chamados Poderes Públicos que se enriquece a Mídia, mas tanto ela quanto aqueles Poderes Públicos nos usaram durante muitas décadas para transferir bens que eram nossos, bens realmente públicos, a um outro importante escalão e sistema de Poder: o Econômico.
Como indicado pelo nome, esse Poder se baseia no capital Econômico. Mas de onde haverá de arrebanhar mais capital para aumentar seu poder? Só poderia mesmo ser de nós, do que é nosso. Juntam o pouco que a cada um cabe e somando tudo formam um grande capital através do qual alimentam os demais que por ele sugam nossas tetas.
Você me diria: “Bolas! Por que então não juntamos nós mesmos o pouquinho de cada um para constituir a força do nosso Poder e fazer com que os demais atendam nossos interesses e nos respeitem?”
E sabe que você tem razão! Aí está um bom assunto a ser pensado.
Mas como não me é muito fácil compreender como isso possa ser possível, deixe que tente entender um pouquinho mais como se desenvolveu nossa recente história quando, nas eleições seguintes a do desastroso Collor, elegemos outro governo apoiado pela mídia. Então nos entusiasmamos por uma maquiagem cambial que parecia conter a inflação, sem dúvida a principal ameaça à nossa estabilidade e evolução social e humana.
E essa inflação, eu lembro, vinha nos comendo todas as perspectivas como povo desde o início da década de 80, logo depois do final da Guerra do Vietnam, quando pelo envolvimento dos Estados Unidos naquele conflito nos sobrou uns arremedos de evolução de produção e consumo que até beneficiou à classe média, embora aumentasse a miserabilidade no país. Foram feitas grandes obras, como a Transamazônica e outras um pouco mais úteis e duradouras, mas que nos encheram de dívidas. Coloriram nossas TVs, nos viciaram em quinquilharias descartáveis e, então, vivemos o período chamado de “Milagre Brasileiro”. Sentíamo-nos felizes com toda aquela parafernália enquanto torturavam, matavam, estupravam ou exilavam nossos estudantes, operários, intelectuais homens, mulheres, crianças. Igual aos judeus e ciganos que os avós e pais dos meus amigos alemães dizem não ter ficado sabendo. E talvez não soubessem mesmo, pois aqui a Folha de São Paulo ainda hoje considera o crimes promovidos entre 64 e 85 como naturalidades de uma “ditabranda”.
Mas então foi acabar a Guerra do Vietnam com a derrota da mais poderosa Força Armada do mundo, pela determinação de um povo pobre e armado de lanças de bambu, e termos de pagar a conta da farra. Lembro como hoje, Wera, das tantas e tão coloridas páginas de jornais e revistas brasileiras comemorando as armas e os generais dos Estados Unidos. Lembro de quando diziam que o avião Phanton definiria a guerra. Depois o napalm. Mais tarde o muro-eletrônico. O agente laranja. Ah! Como a mídia brasileira se regozijava com a morte dos vietnamitas, Wera! Se não viu, precisava ter visto para melhor entender como se criam Stalones e Tiriricas.
Essa mesma Mídia (só falta as revistas da Bloch) que mesmo sem lutar como os vietcongs, nós brasileiros também começamos a derrotar e a nos libertar desde que nos percebemos enganados com o produto Collor de Melo. Uma luta igualmente difícil e paulatina, mas pela qual finalmente derrotamos os candidatos da Mídia que pertenciam aquele Poder Executivo que sob o apoio do Poder Judiciário engavetou nada menos do que 600 processos, mantendo, além do respaldo da imprensa, quase absoluto apoio Legislativo através da maioria de seus aliados no Congresso Nacional.
Compare o que éramos em 2002 com o que somos hoje, tanto em nossa significação como povo como em nossa significação como entidade nacional em relação ao mundo. Puxe pela memória e poderá tirar uma conclusão do que é capaz e do quanto evolui um povo que consegue libertar-se dos que manipulam sua consciência. Compare e veja que diferença! Impressionante o que as drogas fazem! Como alienam as pessoas de si mesmas, não é?
Conheci um viciado em crack que fazia exatamente igual. Roubava de si mesmo para dar ao traficante em troca de alguns momentos de mentiras e delírios com o falso, o fátuo.
Claro que o 4º Poder há de alardear que se estabelece um estado totalitário! Essa interpretação de que a maioria é totalitária já era de esperar, pois é comum entre eles acusar ao que não atende aos seus exclusivos interesses e privilégios, de totalitário. Sempre foi assim! Sempre entenderam que o interesse da maioria é discurso totalitário. Se na verdade não é assim o que entendem, é o que sempre tentaram nos induzir a entender.
Me lembro perfeitamente do editor de um jornal com que colaborava, me perguntando na lata: “- Você é comunista!” Na época eu estava muito decepcionado com a União Soviética pela invasão de Praga e tinha dúvidas, não conseguia distinguir a diferença entre aquele sistema e o verdadeiro comunismo, mas mesmo que o soubesse não seria besta de admitir tal condição em plena ditadura militar e respondi que desejava um país onde os direitos humanos fossem respeitados igualitariamente, com iguais condições de dignidade, saúde, educação, alimentação, moradia, etc. Me mediu com desprezo e definiu: “- Típico pensamento de adepto de ideologias totalitárias.”
É isso mesmo. Para eles, quem não defende direitos exclusivos às minorias privilegiadas, é totalitário. Como sempre acreditei no Poder da maioria, nunca me dei bem nessa profissão e posso compreender com muita exatidão o quanto se sentem viúvos e saudosos da caserna do primeiro marido, lamentando as traições extraconjugais do segundo, e se desesperando por mantermos desempregados seus consortes do terceiro casamento. Sem seus maridos deixam de ser atrativos e perdem o fascínio para o verdadeiro amante de suas vidas, esses sim cheios da grana que desejam, como é natural a qualquer messalina.
Como me dizia um falecido amigo cafajeste, todo enciumado: “- Pode cantar minha mulher, mas não se meta com minha amante.” Assim é a Mídia, troca de cama, sempre que se troca o Poder político, mas é ciosa de seu único amante: o Poder Econômico.
As tropas se sentiram traídas quando no primeiro momento a Mídia renegou quem a manteve por todos aqueles anos, fechando os olhos para seus excessos e deslizes de compostura. Oportunista e desqualificada como aquelas que depois do programa e ainda ajeitando o sutiã se dizem ultrajadas por um tarado a quem deram o “suador” (e olha que a vítima era o dono da polícia!); a Mídia hoje grita por uma liberdade de expressão que jamais preservou, acusando uma censura que não mais existe. No entanto, qualquer que um tenha trabalhado nestes veículos quando o país era uma caserna, conheceu o fio da tesoura dos editores antes mesmo da de Dona Solange, a então chefe do Departamento de Censura Federal.
Para que faça ideia, conto que ingressei na profissão como roteirista de história em quadrinhos e para conseguir produzir algo que fosse publicado e rendesse algum pagamento por minha colaboração, primeiro tive de aprender o que entendiam por didática e sanidade infantil as pedagogas e psicólogas da Editora Abril. Era uma loucura e fiquei tão traumatizado que até hoje não consigo ler quadrinhos daquela editora nem no banheiro!
Através do Julinho da Adelaide, o Chico Buarque de Holanda conseguiu driblar os censores da ditadura, mas não passou pelos da Globo que o expurgaram de qualquer referência por mais de dez anos, apesar de já ser o mais popular dos compositores brasileiros aqui e no mundo. Nem se Roberto Carlos ou os Beatles gravassem musicas do Chico, seriam tocadas, apresentadas ou comentadas em qualquer veículo das Organizações Globo.
O mesmo aconteceu com diversos outros artistas e compositores populares. Jorge Benjor, então Jorge Ben, ficou rouco de tanto fazer sucesso em todas as rádios do Brasil, mas na Joven Pan ou velha Panamericana de São Paulo, esteve proscrito por anos a fio.
Tudo isso até o dia em que o clamor da multidão que enchia as avenidas e praças do país atravessou a acústica da alcova de Roberto Marinho e, talvez por alguma lembrança das guilhotinas da Revolução Francesa, o velho oligarca redigiu o editorial de seu jornal, dando o período dos militares por encerrado.
Quepe debaixo do braço, os milicos foram pra casa e trocaram a farda pelo pijama, mas bom soldado não perdoa traição e os que o substituíram devem ter aprendido a lição. Hoje sabem que essa gente da imprensa são os primeiros a correr quando a coisa aberta. Mas não é justo dizer que tenha sido por mera covardia, pois na verdade nunca lhes interessou censura ou liberdade de expressão alguma. O que lhes importa é o michê ou, mais apropriadamente, o jabá! Disso e para isso vivem e respiram.
Mas resta a pergunta: vendendo o quê? De fácil resposta: e alienação, a deformação de nossa opinião. Mas isso leva a outra pergunta: quem paga? Quem compra?
Talvez melhor perguntar: quem tem dinheiro para isso?
Se o atual governo resolve distribuir melhor a verba, dirimindo os privilégios, evidente que vai tomar pau, mas ainda resta o Poder Econômico. Acontece que para azar do 4º Poder, alguém pôs em prática aquela sua ideia de juntarmos nossos pouquinhos. E veja como você estava certa, pois se lembrarmos bem, se pararmos para pensar o que cada um foi adquirindo nesses últimos anos, perceberemos que apesar de ainda não serem atendidas todas as carências populares, bastante mais cada um já alcançou daquelas tantas coisas que Mídia nos mandava comprar, mas à maioria jamais tinha condições.
Ainda melhor do que nós, quem realmente percebe isso é o Poder Econômico: os industriais, os comerciantes, os prestadores de créditos e serviços. Até os médios, pequenos, micros e pseudo empresários como eu.
A princípio o Poder Econômico estava muito preocupado e chegaram até a dizer que todos os empresários abandonariam o país. Mas apesar da Mídia fazer de tudo para manter seu velho caso, aventando fofocas de que inflacionaríamos, levaríamos seus amantes à falência, roubaríamos e tudo sucumbiria na crise de um enorme tsunami, não teve jeito. Viúva do Poder das Forças Armadas e com o atual marido desempregado, a Mídia foi desmascarada em toda sua coqueteria e salto alto, revelando-se uma perdulária amante de bem poucos dotes. O Poder Econômico vem descobrindo que no dia a dia, no cotidiano, é tudo mero enchimento e silicone mal ajambrado.
Cada vez mais o Poder Econômico vem percebendo que é melhor ser nosso sócio, do que pagar pela droga malhada da qual reclamava o Cazuza. Claro que sempre se tratará de um conflito de interesses entre distintas classes sociais, mas é perceptível que o Poder Econômico vem entendendo que apesar de distintos, esses interesses não são tão diferentes assim, pois para termos uma vida digna só precisamos ter acesso a exatamente aquilo que o Poder Econômico quer nos vender.
E não é tão estúpido a ponto de jamais perceber que não adianta fomentar desejos de consumo em quem não tem esse acesso, pois isso só vai produzir bandido, afinal se o rato é induzido a querer e não se lhe oferece oportunidade de satisfazer o desejo incutido, vai acabar arrumando uma forma de assaltar a dispensa do Pavlov. Isso é cabal, evidente e universal!
Posso estar errado, mas mesmo não confiando no descomedimento da ganância dos capitalistas, tenho a impressão de que os empresários desse país finalmente estão compreendendo que é só nos dar alguma condição que preparamos uma festa muito mais memorável e substanciosa do que os pastéis de vento do folhear colorido de imagens vazias e ainda de menor conteúdo do que o Tiririca.
Mas quem é Tiririca? Quem fez Tiririca? Quem o criou? Francisco Everaldo Oliveira é um homem pobre e de pouca instrução que criou um personagem, mas não foi nem poderia ter sido quem daria ao Tiririca a significação que alcançou. Para aceitarmos isso, teríamos de concluir que talento, inteligência, dedicação, sensibilidade, esforços e todas as demais qualidades que formam um verdadeiro artista, são totalmente inúteis. Claro! Pois o talento de Bïa Krieger, a inteligência que expressa em seus livros, a dedicação à produção de suas apresentações, a sensibilidade das músicas que compõe e canta encantando belgas, franceses, estadunidenses, italianos, canadenses, etc.; certamente inviabilizariam a existência de todos os Tiriricas.
E você me perguntará: “Mas quem é Bïa Krieger!” Natural o espanto. Eu também nunca tinha ouvido falar nem lido nada a respeito dessa moça na Folha ou no Estado de São Paulo, na Veja, na Caras, na Globo e em nenhum dos meios de comunicação e formação de opinião que fizeram do palhaço Tiririca significação de uma cultura popular que não existe, que foi inventada, imposta e criada por esse execrando 4º Poder.
Quando nos libertarmos totalmente das Folhas de São Paulo, RBS e Globos da vida, todos saberemos quem é Bïa Krieger que tanto agrada ao público da Europa e da América do Norte e aqui não temos sequer ideia de quem se trata. Pergunto às pessoas daqui de Florianópolis se sabem quem seja, e ninguém faz a menor ideia sequer das poesias compostas em português (compõe em diversos idiomas) em homenagem e declaração de amor a esta Ilha onde nasceu e para onde retorna todos os finais de ano para visitar a família.
Não sei se alguma vez o Tiririca esteve aqui, mas qualquer pessoa das ruas dessa cidade sabe quem é Tiririca porque os que o criaram têm interesse em divulgá-lo por toda a parte desse país, já que através de produtos como o Tiririca ou Collor de Melo, manipulam, induzem, condicionam a sociedade a brasileira.
Mas aos poucos estamos nos libertando, Wera. Estamos sim, pois ainda na semana retrasada, quando comprei a passagem da Viação Litorânea para ir de São Paulo à Ubatuba, o rapaz do guichê me ofereceu um exemplar do jornal O Estado de São Paulo. Quando ia dizer que não pago para que tentem manipular minha consciência, percebi ao seu lado uma dessas estantes de jornais indicando ser de distribuição gratuita.
Aceitei e durante a viagem li, nos comentários aos resultados das pesquisas atestando a eminente eleição de Dilma Rousseff, os mesmos lamentos de todos os outros. O Notícias Populares de São Paulo e O Dia do Rio de Janeiro faziam escorrer sangue, mas dessa vez foi o Estadão que me molhou. De lágrimas.
Pois ontem fui ao centro da cidade e me deram um exemplar da Isto É, dizendo ser uma promoção de não sei o quê. Na capa, chamada para matéria sobre as assombrações adotadas como estratégia de campanha pelo Serra. O mesmo medo da Regina Duarte que o levou à derrota em 2002.
Se o eleitor não parece disposto a repetir os erros ao qual foi induzido no ainda recente século passado, pois bem sabemos quanto aquelas décadas nos custaram, têm políticos que ainda não aprenderam que repetir o erro deixa de ser humano e os veículos da grande Mídia se desviam na mesma contramão, acomodando-se na carona da distribuição gratuita a estudantes de escolas públicas estaduais e municipais, como as do estado de São Paulo. Evidente que alguém paga a conta do jornaleiro e é fácil deduzir quem seja, mas ainda assim ficar chorando na beira da estrada da amargura como Madalena arrependida é de ir em frente e deixar pra trás sem dar tchauzinho nem pelo retrovisor. “Amanhã!” Só pra não dizer nunca mais e adeus!
Muitos podem pensar que é porque o brasileiro não lê, mas ainda ontem minha editora escreveu felicitando pela crescente encomenda de meu livro à distribuidora. Foi lançado a apenas duas semanas e apesar de ser para a faixa juvenil, não tem gravuras nem brinquedinhos. Não acomodei nem simplifiquei a linguagem. Busco ser didático quando escrevo aos adultos, que têm maior dificuldade de compreensão, mas jovens e adolescentes gostam de desafios e a eles estimulo a reflexão sobre nossa condição como integrantes de uma comunidade planetária, à busca e à pesquisa, à consulta. Inclusive dos dicionários.
Tentei, e espero ter conseguido, formular uma proposta sincera e séria. E quando minha amiga e editora me conta que isso está dando resultado e atraindo leitores, só posso concluir que o povo brasileiro não se nega a ler, apenas está se libertando do condicionamento e se interessando em formar uma consciência própria da realidade. Da nossa verdadeira realidade.
Acredito, Wera, que estamos próximos de perceber que a verdadeira razão de nossa indignação não é o Tiririca, mas sim os que criam essas e outras “celebridades”. Aqueles que manipulam fatos, como, por exemplo, a Barbara Gancia quando na mesma Folha de São Paulo publicou uma montagem de foto da cara do Zé Dirceu num corpo de homem sobre uma motocicleta Halley Davidson. Depois teve de pedir desculpas, pois não podia sequer provar se Zé Dirceu tem carteira de habilitação para conduzir o tipo veículo que jamais pilotou.
Você deve achar que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas se refletirmos um pouco vamos encontrar estreita relação entre a deformação de fatos e esvaziamento de realidades para a criação de buracos nas consciências dos que votam em Tiriricas, Josés Arruda ou Serra, Alckmins ou Pitas. Foi assim que se construiu presidentes como Jânio Quadros e Collor de Melo, se manteve um FHC ou um Maluf. E, na Alemanha dos anos 30 e 40, um Adolf Hitler.
Não fosse isso, não teria porque o dono da mesma Folha de São Paulo também ter de pedir desculpas por publicar na capa daquele jornal uma montagem grosseira de uma ficha do DOPS de Dilma Rousseff. Percebe como esse tipo de atitude não é impensada, não é um escorrego, um “sem querer”, algo provocado pela pressa do fechamento da edição?
A medida que formos construindo nossa capacidade de raciocínio, seremos capazes de deduzir coisas simples como a de que qualquer pessoa com uma atividade mediamente rentável, como a de um amigo pescador da Lagoa da Conceição que certamente afere menos do que o escritório de advocacia do Zé Dirceu, pode ter uma moto igualzinha à usada na montagem publicada pela Barbara Gancia. Quando por nós mesmos formos capazes de entender que se a tal ficha do DOPS fosse verdadeira, só comprovaria que Dilma Rousseff foi mesmo uma heroína como são considerados heróis em seus países todos aqueles que lutaram contra as ditaduras fascistas, tanto na Europa quanto as do nosso continente; aí sim seremos capazes de nos indignar contra quem realmente merece nossa indignação.
Quando todos nos libertarmos desse 4º Poder, Wera, descobriremos quem realmente tem sido o verdadeiro palhaço dos meios de comunicação desse país. Quando desenvolvermos essa consciência por e de nós mesmos, aí sim consolidaremos o único Poder que pode e deve estar acima de todos os outros: o nosso.
A partir daí, amiga, mereceremos usufruir o mesmo que usufruem aqueles povos que se encantam com o talento e a sensibilidade de nossa Bïa Krieger que desconhecemos como desconhecemos a tantos outros de nossos talentos e sensibilidades a quem o 4º Poder do Brasil não cede o mínimo espaço nem nos permite qualquer acesso, entulhando-nos de Tiriricas.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis (SC), onde mantém a pousada “Pouso da Poesia“. É colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.
Um comentário:
PARABÉNS POVO PAULISTA! O voto mais acertado nas eleições foi o voto no tiririca. Assim mostramos aos magistrados que (apesar de não ter “estudo”) não somos burros e cegos como eles imaginam, em minha opinião o tiririca deve ir ao congresso vestido de palhaço todos os dias, para não deixar cair no esquecimento a insatisfação do povo brasileiro com a conduta de seus representantes.
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