Foto: Agência Brasil |
Não sei se ali no cara a cara com O Cara eu diria, mas aqui eu digo: “- E até quando vamos ter de aguentar a conversinha burra e barata desses Custe o Que Custar da vida? Quando voltaremos a ter humoristas de verdade nesse país? PQP! Isso de CQC e outros besterois é muita perda de tempo!”
Por Raul Longo (*)
Justo hoje recebo convite para formular alguma pergunta para entrevista que amanhã será cedida pelo Presidente da República a um grupo de blogueiros. Digo justo hoje (23 de novembro, terça-feira), porque ontem assisti um quadro do besteirol da BAND: “Custe o que Custar”.
Apesar da embalagem diferente, o programa já vai se fazendo tão exaustivo quanto seu correlato carioca: “Casseta e Planeta”. Além da apresentação diferenciada, a equipe do Marcelo Tass “inovou” copiando o figurino do “Blues Brothers” (Os Irmãos Cara de Pau), produção cinematográfica de 1980, dirigida por John Ladis, onde Dan Aykroyd e John Belushi vestem terno preto e óculos escuros.
O “Blues Brothers” é uma comédia genial, mas a cara de pau dos protagonistas do CQC mais faz lembrar o grupo de neo-nazistas satirizados no filme. E antes que alguém me acuse de leviano por comparar a aparente inconsequência dos comunicólogos brasileiros com o nazismo, lembro que a estratégia de comunicação empregada por Goebbels era a repetição da mentira para se colar como verdade.
E foi isso que vi no quadro do CQC em que desperdicei meu tempo. Desperdicei, pois qualquer tempo utilizado para desinformação é sempre um tempo perdido de um ou de ambos os lados. Se conseguirem desinformar, a perda de tempo será exclusivamente de quem foi desinformado, pois a esse acarretará não só o tempo perdido para assimilar a desinformação e o longo tempo necessário para que aquela desinformação se desminta, mas também o tempo para que adquira e compreenda a informação verdadeira e correta.
Já quando não nos desinformam, a perda de tempo ao menos é compartilhada entre o que perdeu seu tempo para ouvir a bobagem que, mesmo não o tendo desinformado, já ocupou seu tempo que poderia ser mais bem empregado em algo proveitoso; e aquele que tentou desinformar e, não o conseguindo, apenas perdeu tempo que poderia ser usado para algo mais honesto, proveitoso e inteligente.
O saudoso Older Cazarré, com o talento que o destacava tanto no drama como na comédia, bem dizia que isso de humor é muito mais difícil em todos os sentidos, porque no dramático se vai envolvendo o espectador com uma historinha triste qualquer, condimentada com um pouco de sensualidade, algo pitoresco, quem sabe algum elemento romântico ou o que for que promova alguma emoçãozinha barata a ser complementada no próximo capítulo. Daí o sucesso fácil das novelas entre os que a elas entregam seus tempos.
Mas no humor, se não der pra ser honesto, o que de fato é praticamente impossível quando se trabalha para um Marinho ou um Saad, há de ser inteligente como os “Big Brothers” originais porque se cair nos mesmos preconceitos, nas mesmas tapeações do modelo carioca, fica patinando no tempo perdido e não adianta a nova roupagem paulista que vai acabar enfarando de todo jeito.
Foi numa escorregada dessa que a moça do CQC (diferentemente da do Casseta e Planeta, é morena) me sugeriu uma pergunta ao Presidente Lula: quando e onde Lula declarou ou autorizou que declarassem em seu nome a pretensão de ser indicado como Secretário Geral da ONU?
Mesmo sem pretender fazer humor jornalístico, como tenta se aparentar o CQC, na verdade não cometeria a besteira de perguntar isso ao Lula, pois sei que Lula jamais sequer pensou em ser indicado ao cargo, conforme pretendeu ironizar a morena do Casseta paulista. Pretendeu, mas não foi feliz porque até para a ironia requer alguma informação. Do contrário é só ignorância mesmo.
Lula nunca pensou em ser Secretário Geral da ONU e o mundo inteiro sabe disso porque o mundo inteiro sabe que Lula sempre pleiteou para o Brasil uma cadeira como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. E o mundo inteiro também sabe que os únicos critérios usados pelo Conselho de Segurança da ONU para indicar um nome ao cargo são apenas dois:
1 - o do rodízio geográfico. Ou seja, após Ban Ki-moon o próximo Secretário pode ser de qualquer continente, menos da Ásia.
2 – o de que o indicado a Secretário não seja originário de um dos países membros do conselho permanente. Ou seja: não dá para querer integrar o conselho e ao mesmo tempo desejar ser Secretário.
A da Casseta e Planeta é que é loira e a coitada da morena do CQC é que passou por burra, pois só a produção do programa acredita ou quer fazer me fazer acreditar que Lula pretenda ser o Secretário Geral da ONU.
Por serem desinformados ou pensar que o sou, perderam o meu tempo e o deles e se colocaram no inverso de uma reclamação do Ronald Golias quando o público de uma cidade de interior não riu de sua dúvida sobre os judeus serem o povo escolhido de Deus, já que ao criar o mundo pôs todo o petróleo do outro lado da fronteira. Na época Golias concluiu que a piada era boa, mas, por ser desinformado sobre as questões do Oriente Médio, o público não pôde entendê-la.
Da mesma forma a morena do CQC, por ser desinformada sobre os critérios de indicação ao cargo de Secretário da ONU, não conseguiu fazer graça e só ficou repetindo uma mentira que não colou.
Mas o que sobra de interessante nessa ilação de que Lula cogite o cargo de Secretário Geral da ONU, é a evidência da significação do Presidente do Brasil perante o cenário internacional, reconhecida até mesmo pelos que pretendem ironizá-lo.
Quem que, mesmo por ironia, cogitaria o Secretariado Geral da ONU para o Fernando Henrique Cardoso? Talvez, o Henry Kissinger, quem sabe? Mas por entusiasmo ou ironia?
Mais engraçado do que a morena foi a ingenuidade do Severino Cavalcanti, cogitando que após a presidência Lula usufruirá tranquilamente de sua aposentadoria. Naquela classificação de Brecht sobre os bons, os muito bons e os imprescindíveis, por pouco tempo Dona Marisa usufruirá das exclusividades do marido, pois Lula, digamos, caiu no gosto do mundo tanto quanto FHC caiu no esquecimento.
Já são 00:48 da quarta-feira, tive de interromper diversas vezes esse texto e não dará mais tempo para formular pergunta alguma a ser feita ao Presidente, mas se pudesse não lhe perguntaria nada a respeito do mundo. Apenas o lembraria da posse de primeiro mandato, quando prometeu que faria o possível e tentaria fazer o impossível. Acabou fazendo mais do que parecia impossível, inclusive ao elevar o nível de informação do povo brasileiro através dos resgatados da miséria pelo Bolsa Família, através dos formandos do Pro Uni e da política de cotas universitárias, da implantação de universidades e institutos de ensino técnico. Tudo em quantidades que pareciam impossíveis e inimagináveis.
Mas há algo que o Presidente Lula não fez e talvez seja realmente muito impossível para um presidente democrático como ele, conseguir essa realização. No entanto, gostaria de perguntar a Lula se não acha que, deixando o cargo de Presidente, lhe seja possível chamar os Saad, os Marinhos, os Civita, Mesquitas e Frias, para uma conversinha sobre a progressão das exigências de informação do público brasileiro e a regressão do nível de informação ou o aumento da desinformação de seus empregados.
Sei o que iria responder. Até posso ouvir sua voz roufenha:
- Veja bem companheiro: como Presidente ou como ex-presidente não posso nem devo dizer para os empresários dos meios de comunicação o que é que têm de fazer. Que têm de se preparar para o público mais informado e inteligente que está se formando aí. Isso são eles que têm de perceber. São os anunciantes deles que têm de sentir para quem estão vendendo mais e aplicar a verba publicitária na programação com a qual o público melhor se identifique ou não se sinta agredido pela falta de informação dos que pretendam informá-lo. Mas, presidente ou não, eu sou é um trabalhador. Minha origem é de trabalhador, não de empresário. É como eu disse pro Maluf uma vez, quando quis discutir comigo sobre greve. Eu falei pro Maluf: “- Pera lá Maluf! Aqui quem entende de greve sou eu!” Então não posso bancar o sujeito que quer ensinar o padre a rezar a missa. Sinto muito companheiro, mas não vou me meter a ensinar o Pelé a jogar bola.
Não sei se ali no cara a cara com O Cara eu diria, mas aqui eu digo: “- E até quando vamos ter de aguentar a conversinha burra e barata desses Custe o Que Custar da vida? Quando voltaremos a ter humoristas de verdade nesse país? PQP! Isso de CQC e outros besterois é muita perda de tempo!”
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis (SC), onde mantém a pousada “Pouso da Poesia“. É colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog não está subordinado a nenhum partido. Lula, como todo ser humano, não é infalível. Quem gosta dele (assim como de qualquer pessoa), tem o dever de elogiá-lo sem nunca deixar de criticá-lo. ---------------------------------------------------------------------------------------------------- Todas as opiniões expressas aqui, em conteúdo assinado por mim ou pelos colaboradores, são de inteira responsabilidade de cada um. ----------------------------------------------------------------
Comentários são extremamente bem-vindos, inclusive e principalmente, as críticas construtivas (devidamente assinadas): as de quem sabe que é possível e bem mais eficaz criticar sem baixo calão. ----------------------------------------------------------------------------------------------
Na parte "comentar como", se você não é registrado no google nem em outro sistema, clique na opção "Nome/URL" e digite seu nome (em URL, você pode digitar seu site, se o tiver, para que clicando em seu nome as pessoas sejam direcionadas para lá, mas não é obrigatório, você pode deixar a parte URL em branco e apenas digitar seu nome).-----------------------------------------
PROCURO NÃO CENSURAR NADA, MAS, POR FAVOR, PROCUREM NÃO DEIXAR COMENTÁRIOS ANÔNIMOS. NÃO PODEMOS NOS RESPONSABILIZAR PELO QUE É DITO NESSES COMENTÁRIOS.
Att,
Ana Helena Tavares - editora-chefe