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terça-feira, 30 de novembro de 2010

O comunista Monteiro Lobato pergunta: vão censurar o pirlimpimpim?

Na imagem (retirada do Pablog do Sítio), Pedrinho foge dos monstros graças ao pó de pirlimpimpim, um presente de Peter Pan à Turma do Sítio.

Nota do QTML?: É com muita honra que reproduzo aqui o texto abaixo, da Profª. Dra. Luci Ruas Pereira, publicado originalmente no site da UFRJ. Além de ter sido sua aluna na disciplina de Literatura Comparada, fui também sua orientanda em projeto de pesquisa sobre a obra de Eça de Queiroz. Gabarito ela tem de sobra e o texto está simplesmente magistral.
Ana Helena Tavares

Já vi Lobato ser acusado de tudo: de comunismo, de divulgar a droga, com o pó de pirlimpimpim.

Por Luci Ruas

Sempre li Monteiro Lobato desta forma: como escritor e homem combativo e visionário, polêmico e, muitas vezes, contraditório. Assim era e continua a ser, para mim, o seu Sítio do Pica-pau Amarelo: um lugar de aventura, de busca do conhecimento, de trocas e disputas, de discussão e de democráticas decisões (veja-se – ou melhor, leia-se nos livros quantas decisões foram tomadas a partir de plebiscitos). Essas características nunca me impediram de ler Monteiro Lobato, como nunca me impediram de ler nada. Fui compreendendo melhor o largo horizonte da obra de Lobato à medida que fui também amadurecendo e adquirindo novos conhecimentos. Não li Lobato pelas versões que a TV nos apresentou e agora mais uma vez nos apresenta. Por isso, é como leitora, e não como telespectadora, que posso me pronunciar.

Não estou de acordo com a decisão do Conselho Nacional de Educação – a meu ver equivocada – que acolhe por unanimidade o parecer da Conselheira Relatora Nilma Lino Gomes, ratificando a denúncia de Antonio Gomes da Costa Neto que entende Caçadas de Pedrinho como ‘manifestação de preconceito e intolerância de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas’; e aponta ‘menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos do livro analisado e exige da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura’. Espanta-me que desqualifique o professor na sua capacidade de refletir e de construir a leitura como objeto de reflexão e o leitor como sujeito crítico, capaz de refletir, subestimando, assim, o aluno, ao mesmo tempo em que o transforma em sujeito incapaz de se posicionar frente à realidade.

Monteiro Lobato foi um homem do seu tempo e, como tal, sujeito às contradições da sua época. Se, em Caçadas de Pedrinho, observam-se referências estereotipadas contra os negros, como quer confirmar o parecer, com o qual já disse que não concordo, é possível, em O Saci, ver com que respeito é tratado o Tio Barnabé, tanto por Dona Benta, quanto pelas crianças. Em A reforma da natureza, logo ao primeiro capítulo, quando o narrador diz que a guerra estava acabada e a Europa precisava discutir a paz, um dos reis ali presentes afirma que é preciso “convidar para a conferência alguns representantes da humanidade”. Esse mesmo rei afirma, depois de conversar com o General De Gaulle: “- Só conheço – disse ele – duas criaturas em condições de representar a humanidade, porque são as mais humanas do mundo e também são grandes estadistas.” E o Duque de Windsor aprova o convite, apontando a ‘sabedoria’ de Dona Benta e o ‘bom senso’ de Tia Anastácia. Para além desses episódios, é preciso considerar que as personagens mais instigantes e mais questionadoras do Pica-pau Amarelo são a Emília e o Visconde, ambos criações de Tia Anastácia. Em Memórias da Emília, a boneca atrevida e espevitada reafirma o seu carinho por Tia Anastácia, aquela que lhe muda os olhos todas as vezes em que cansa de ver as coisas da mesma forma. Se há razões para afirmar algum racismo em Lobato, sobretudo nas expressões que dizem estereotipadas, por outro lado, ao contradizer esses estereótipos, Lobato os esvazia.

É empobrecedora qualquer leitura que cerceie o direito de o leitor escolher o caminho que mais lhe interessa para sua leitura. Não é essa a postura que, como educadores, pretendemos do leitor crítico que desejamos formar. Será que vamos reeditar o Index Librorum Prohibitorum? Que triste ensaio!!! Vetar sem permitir discussão é o mesmo que censurar. E aditar notas explicativas ao texto é direcionar, sim, a leitura.

Não aceito policiamento de leitores. Como poderão fazer suas escolhas, se desde cedo virem sua privacidade invadida pelo pensamento alheio? E como debater e defender ideias, se suas ideias forem, desde sempre, conduzidas pela pobreza da leitura única? Nós sabemos que um mesmo objeto pode ser lido e compreendido de modos diversos em épocas também distintas. Que seria da ciência se tivesse fincado os pés na ideia de que a Terra era plana e que a Terra era o centro do universo? Que seria da ciência se não tivesse descoberto que a verdade é mutável? Que será da Literatura sem a possibilidade de denunciar e de criar? E que será dessa Literatura, sem um leitor para dar à letra fria a vida necessária ao texto? E que será dos leitores, se não tiverem a possibilidade de escolher, de imaginar, de comparar, de analisar, de tirar suas próprias conclusões? Se ela é perigosa, é tão perigosa como viver (já o disse Guimarães Rosa).

Já vi Lobato ser acusado de tudo: de comunismo, de divulgar a droga, com o pó de pirlimpimpim. Sei que seus livros, como outras bibliotecas pelo mundo, foram queimados. Já li críticas de toda ordem. Mas não soube que os livros de Lobato tenham sido censurados. E não se perderam. Que não se perca mais uma vez a oportunidade de discutir abertamente os textos de Monteiro Lobato. E, sobretudo, não se subestime nem a inteligência da criança, nem a sensibilidade do educador.

3 comentários:

Luiz Claudio Cunha Souza disse...

Na minha infância li toda a coleção inclusive os mais chatos sobre matemática, gramática etc.Adoro Monteiro Lobato, não o da TV mas o dos livros. Houve uma queixa por parte de uma professora quanto a um texto estar gerando chacotas contra negros na escola e o MEC resolveu acrescentar nos livros uma notinha apenas alertando quando a um possível conteúdo racista. Não houve censura, os livros continuarão sendo enviados poelo MEC, sendo lidos e debatidos. O que o governo faz é enfrentar o racismo do jeito e melhor maneira que pode no que deveria ser ajudado por todos nós. ainda não vi em nenhum lugar o teor desta nota que será acrescentada ao livro em questão. E nem nada sobre o que aconteceu na escola.

Marcia Eloy disse...

Minha mãe lia para mim e para minha irmã, toda noite, um capítulo dos livros de Lobato.Eu me maravilhava com suas histórias e em criança já achava Emília inteligente mas um pouco atrevida e sem censura no falar, enquanto o Visconde era o seu oposto, sábio e ponderado. Tia Nastácia, representava a empregada da época, totalmente devotada aquela familia, mas sem cultura para entender determinados assuntos. Se eu nos meus 5 ou 6 anos de idade pude captar a idéia de Lobato porque as crianças de hoje não conseguiriam? Lobato é um escritor além de sua época, um homem admirável que lutou por causas nobres, tanto que até hoje é lido. Eu acho que essas pessoas que o criticam deveriam ter mais atenção no lixo que a TV brasileira apresenta às crianças.

Maria Lúcia Araujo. disse...

Conheci Monteiro Lobato antes doa meus 5 anos... O melhor presente que eu recebia era um dos seus livros... Ia para um canto e começava a ler... Naquela época não havia televisão nem computador. Só rádio e nem sempre a produção era adequada às crianças...A melhor coisa do mundo prá mim, era um livro... Dos meus 4 até aos 10 anos lí toda a coleção do "Tesouro da Juventude" e os livros de Monteiro Lobato. Hoje acusam Lobato de comunista, de racista, coisas assim... Não o vejo desta maneira, ele era sim brasileiro e patriota... As relações da turma do sítio e da vovó Benta com a velha empregada tia Nastácia eram um reflexo da época. Não era recismo e nem entendido como tal chamar alguém de negro naquele tempo. O negro era negro mesmo e pronto... Deveria e deve se orgulhar disto. Nasci em 1941, apenas 43 anos após a liberdade da escravidão no Brasil. Tia Nastácia era um personagem querido por todos e na verdade toda a casa de família tinha sua "nastácia", tal e qual hoje ainda tem. As nastácias de hoje são chamadas de faxineira, de babá, de acompanhante, etc, mas na verdade é uma pessoa que colabora com os cuidados da casa, que nos ajuda a cuidar e educar nossos filhos e com isto colabora tsmbém com o sustento e a educação da sua família... Amo Monteiro Lobato, os personagens que ele criou, e lamento muito que as crianças de hoje não tenham a mesma oportunidade que eu e meus filhos tivemos... Tenho um neto de 20 anos e um outro de 3 anos de idade... Creio que nem um nem outro sabem sequer quem é Monteiro Lobato.
Se até hoje amo ler e isto colabora em muito por manter-me ativa aos 69 anos, devo em primeiro ligar aos livros de história que eu li em criança especialmente a este escritor brasileiro fantástico... Depois viriam outras leituras, mas aí já é outra hiostória...
Maria Lúcia Araujo, 69 anos, Rio de Janeiro.

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