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A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Para que lado sopra o futuro?


Há os mais sensíveis, mais sensíveis que as melhores serpentes. Adotam um comportamento sensato, que jamais falha: eles não radicalizam posições políticas, e melhor, bem melhor, jamais serão sectários. Porque eles sabem que os muito radicais, em qualquer movimento, serão os primeiros destinados ao sacrifício. Radicais lideram, de imediato, mas deles jamais será o dom de governar, que por vezes se confunde com o dom de contemporizar, dialogar com contrários, administrar conflitos. 

Por Urariano Mota (*) 

Houve um tempo em que o socialismo era o destino infalível, uma poderosa força da natureza, o destino último e de redenção de todos os povos. Tão forte era esse destino, e tão determinado e inescapável o seu realizar, que alguns de nós chegamos a pensar que o capitalismo cairia de podre. Outros, mais artísticos, julgávamos que a nova humanidade viria como uma metamorfose natural, da crisálida morta para a borboleta rubra. Esse futuro passou. Houve um tempo em que o futuro era a paz idílica, sentimental, onde todas as feras passeariam ao lado de mansas ovelhas, em concórdia. Esse futuro é passado.


Houve um tempo em que o amor era a resposta certa e fraterna a todas vilezas do homem. Mais que uma resposta, o amor era a solução, a insígnia, a bandeira contra todos os canalhas humanos, muito humanos, demasiadamente humanos. Esse futuro é pretérito. Houve um tempo em que a simples visão da flor, da orquídea, da cornucópia de pétalas nos jardins, deixava prenhe o peito de um sentimento bom, de alegria, de felicidade, a ponto de suavizar o semblante, de amolecer os músculos, de fazer úmidos os olhos. Esse futuro é perfeito passado. Houve um tempo em que a fé e a crença nas palavras, no seu poder de fogo, na sarça que ardia como nos dez mandamentos, sintetizados neste impositivo supremo, homem, fala a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade, homem, fala, que o céu será teu, o céu e toda a riqueza do mundo, fala. Esse futuro é mais que perfeito passado. O futuro de coisas extraordinárias, imarcescíveis, murchou. O maravilhoso rascunho, bosquejo de possibilidades elevadas ao sonho, é pretérito. Então, que futuro nos resta? Que impossíveis paraísos são possíveis? Pior, que prováveis infernos o vento sopra?

Os jovens mais sensíveis, os jovens mais sensíveis e angustiados, perguntam-nos: o senhor acha que ainda é possível um golpe de Estado no Brasil? E na América Latina? – Não sei, não sabemos, é o que nos vem. Quem sabe é o vento, dá vontade de responder. Mas só o dizer “não sei” para eles é motivo de espanto. Entendemos a razão. Os jovens confundem cabelos brancos com sabedoria. Talvez nem saibam que os idiotas também amadurecem, nas cãs. Talvez nem percebam que esse pesadelo do golpe nos acompanha todas as noites, como um ente amado de sinal invertido. Pois o que são os pesadelos senão um estimado irmão contra nós? Um inimigo íntimo, indissolúvel? Um jogo de dados onde está inscrito “foste derrotado”, um resultado que buscamos?

Quando nos perguntamos para que lado sopra o futuro, queremos consultar as cartas, o baralho, a sua predição, em um sistema de racionalidade. Antes que digam que tal pretensão é loucura rematada, esclarecemos, queremos saber a tendência do tempo em curso, queremos investigar o mar subterrâneo que vem crescendo. Rematada loucura mais uma vez, dirão. E dizem mais, os incrédulos: nenhum homem é serpente, que adivinha terremoto com antecedência de 5 dias. Pois lhes respondo, para melhor fortalecimento do diagnóstico da loucura: o homem é mais fino e arguto que as serpentes. A partir mesmo do veneno. Mirem por quê.

Há os mais sensíveis, mais sensíveis que as melhores serpentes. Adotam um comportamento sensato, que jamais falha: eles não radicalizam posições políticas, e melhor, bem melhor, jamais serão sectários. Porque eles sabem que os muito radicais, em qualquer movimento, serão os primeiros destinados ao sacrifício. Radicais lideram, de imediato, mas deles jamais será o dom de governar, que por vezes se confunde com o dom de contemporizar, dialogar com contrários, administrar conflitos. E por isso na zona de bruma prosseguem, a caminhar entre as formas indefinidas, até o dia em que serão uma forma definida, ao fim e enfim.

No entanto nós, maioria sem o talento de tais serpentes, queremos apenas saber como o nosso destino será inscrito no destino de toda a humanidade nos próximos 30, 20, 10, 8, 2 anos, vá lá, nos próximos 30 dias, vá, nas vizinhas 48 horas, está bem, nos próximas 24, e basta, porque de pouco desejar, nesse passo e progressão nem chegaremos a terminar esta frase. Já que a concluímos, podemos adicionar: se o futuro que se quis se faz no presente, se o futuro imediato se faz ao fim deste presente fugaz, então o mais longe, que bem desejamos, não será feito sem a intervenção da nossa vontade.

Nós já estamos na humanidade. Iremos para onde ela for. Para nossa desgraça ou felicidade, nem tão rápido, nem tão prematuro. Quem sabe, talvez com aquele sentimento que ainda se perturba com o perfume do jasmineiro.

*Urariano Mota é jornalista, professor de português e escritor. Autor do livro “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. Urariano é pernambucano, nascido em Água Fria e residente em Recife. É colunista do site “Direto da redação” e colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”

=> Artigo publicado originalmente no site "Direto da Redação" 

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