A HIPOCRISIA NAS SACRISTIAS PAULISTAS
Laerte Braga
Paulo Ogawa, contador de uma gráfica no bairro Cambuci, região sudeste da capital paulista disse ao site UOL que os panfletos que estavam sendo impressos ali contra a candidata Dilma Roussef foram encomendados pelo bispo de Guarulhos, D. Luís Gonzaga Bergonzini.
Os prospectos são idênticos aos distribuídos em Aparecida no dia 12 e Contagem, em Minas Gerais. O ponto principal dos panfletos é a crítica à descriminalização do aborto.
A notícia foi divulgada no site do UOL – UNIVERSO ON LINE – do grupo que edita FOLHA DE SÃO PAULO.
“Segundo relato feito à Folha por ex-alunas de Mônica no curso de dança da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) a então professora lhes contou em uma aula, em 1992, que fez um aborto quando estava no exílio com o marido”.
A colunista revela ainda que “a Folha tentou falar com Mônica Serra durante dois dias para comentar o relato das ex-alunas, sem sucesso”.
“Quando engravidou, teria relatado Monica à então aluna, o casal se viu numa situação muito vulnerável. "Ela não confessou. Ela contou", diz Sheila Canevacci. "Não sou uma pessoa denunciando coisas. Mas [ela é] uma pessoa pública, que fala em público que é contra o aborto, é errado. Ela tem uma responsabilidade ética.”
Seria um equívoco julgar a atitude de Mônica Serra no caso do aborto. É um tema delicado, complexo e as responsabilidades de uma decisão dessas, no caso da mulher de José FHC Serra, são dela e dele.
Ao contrário, não é um equívoco chamar Mônica Serra de mentirosa e destituída de respeito por si própria, a partir das declarações que fez no Rio sobre Dilma Roussef. Ou ao candidato José FHC Serra, seu marido, de mentiroso e hipócrita ao defender uma idéia que não é a sua, mas presta-se apenas a fins eleitorais.
O Brasil, com certeza, não quer um presidente mentiroso. José FHC Serra é mentiroso. Pior que isso, é cínico, parte do princípio que o fim justifica os meios, ou seja, faz qualquer coisa, ele e sua mulher, para alcançar o poder.
Como fica o bispo de Guarulhos nessa história toda?
De onde saiu o dinheiro para imprimir um milhão de prospectos no primeiro turno e mais um milhão no segundo turno, como revela o contador da gráfica (que aliás recusou parte da encomenda por não ter capacidade para atender o pedido no prazo exigido pelo bispo)?
Resultado da contribuição de fiéis para obras sociais, ou outras da Igreja, ou das igrejas sob a responsabilidade de D. Luís Gonzaga?
Por que de tal atitude se a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – em nota reiterada em diversas oportunidades condenou esse tipo de decisão?
Seria equivocado chamar o bispo de mentiroso? De cínico? De partidário? De usar o dinheiro de sua diocese para fins outros que não os anunciados? Nesse caso o bispo é honesto?
É claro que não. Nem o candidato José FHC Serra, nem sua mulher Mônica Serra, muito menos o bispo D. Luís Gonzaga.
Mentem, são hipócritas ao usar a religião e a fé do povo como instrumentos para alcançar objetivos eleitorais, ludibriam, enganam.
Qual o propósito do bispo de Guarulhos? Consciente, não é um idiota, que está mentindo, está enganando fiéis?
Usando a Igreja como disfarce para atividades no mínimo equivocadas, na verdade, criminosa.
O que há por trás de todo esse revoltante cinismo?
Quais interesses o bispo representa? Por que o candidato José FHC Serra é apoiado por um bispo num tema em que ilude a boa fé das pessoas? Por que Mônica Serra usou de um expediente tão baixo quando disse no Rio que Dilma “mata criancinhas”.
E ela?
Há algo mais que hipocrisia nas sacristias paulistas. Há corrupção. Há fascismo. Há um sórdido e mentiroso complô que nada tem a ver com fé, mas com interesses subalternos, mesquinhos, criminosos, tanto do bispo, como do candidato e sua mulher.
Não basta uma nota da CNBB sobre o assunto. Há um bispo mentiroso, usando a Igreja para fins outros que não os que lhe dão sentido.
Há um candidato e sua mulher que não mostram o menor respeito pelos brasileiros, por fiéis católicos, na mentira e no engodo de tentar o voto de qualquer forma.
D. Luís Gonzaga integra um braço da CNBB chamado de CNBB Regional Sul. É presidida por outro bispo, o de Santo André, D. Nelson Westrupp e o panfleto contendo a mentira está publicado no site da regional da CNBB.
Como escrevi acima não se pode julgar Mônica Serra pelo aborto. Quem presta contas de suas atitudes é ela. Mas perde ela o direito de falar o que tem falado e seu marido de defender o que tem defendido, até porque, o fato só veio a público através de uma terceira pessoa, terceiras, aliás, são ex-alunas dela. Por eles, na intenção que se mostra dolosa, criminosa, teria ficado oculto.
São uma espécie de resto podre da espécie humana. Não mostram respeito por nada que não seja a ambição política que nutrem. Para alcançar seus objetivos jogam foram vestígios de dignidade, todos eles, se transformam em pústulas lato senso.
Há alguns anos atrás ouvi que a Igreja Católica Romana sobrevivia há dois mil anos montada em princípios éticos que, malgrados erros confessos – a Inquisição, por exemplo – lhe davam força e presença entre os cristãos.
Há cerca de trinta anos existe um processo de desmonte da Igreja na ação de bispos como esses.
Saem figuras grandiosas como Hélder Câmara, Leonardo Boff, D. Demétrio, tantos que tombaram vítimas da brutalidade da ditadura militar, entram bispos destituídos de honra e respeito que com certeza não têm nada a ver com a cruz de Cristo.
Carregam a suástica, a mentira e em seus bolsos o dinheiro de fiéis ludibriados em sua fé. Se não existir outro dinheiro, o do caixa dois do engenheiro Paulo, o tal do apartamento de milhões que comprou por trezentos mil.
Gandhi quando perguntado sobre Cristo respondeu assim – “aceito o Cristo de vocês, mas não o cristianismo que praticam”.
Esses bispos, José FHC Serra e Mônica Serra são repugnantes.
A CNBB deve mais que uma nota desautorizando os bispos da Regional Sul.
É caso de Polícia.
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