Celso Lungaretti (*)
Um bom amigo me perguntou se eu não estaria sendo precipitado, ao concluir que o impulso dado à candidatura demotucana pela surpreendente sobrevida já está exaurido. Colocou em dúvida a confiabilidade do instituto Vox Populi.
Respondi que, independentemente da pesquisa e de quem a fez, era isto que eu intuia desde o debate Folha/Rede TV.
José Serra -- a quem caberia aplicarmos o título do livro/filme de Clive Barker, Renascido das Trevas (Hellraiser, 1987) -- teria de aproveitar o que porventura ainda restasse do seu momento favorável, levando Dilma Rousseff às cordas naquele debate.
Uma pesquisa por ninguém questionada, a do DataFolha, já revelava que a sangria de votos de Dilma havia sido estancada e a situação estabilizara-se novamente, num patamar ainda seguro para a candidata oficial.
Serra teria de produzir algum impacto na noite de domingo, para voltar a crescer a partir da 2ª feira. Negou fogo.
Então, deduzi, a tendência era de que a altíssima aprovação do governo atual e a popularidade do presidente Lula voltassem a fazer a diferença, já que nenhum candidato sobrepujava nitidamente o outro -- como, aliás, vinha se constatando desde o início da campanha.
Então, das quatro semanas entre um turno e outro, na primeira Serra tentou e não conseguiu decolar; na segunda houve imobilismo; a terceira tende a ser de Dilma; e a possibilidade de que o quadro sofra uma grande reversão na quarta é das mais remotas.
Com o que isto se parece? Com a eleição de 2006, claro! Pois:
- tudo levava a crer que Lula liquidaria a fatura no 1º turno;
- a tendenciosidade da mídia, produzindo na enésima hora um factóide providencial, salvou Geraldo Alckmin;
- este, entretanto, não conseguiu embalar na 1ª semana;
- Lula segurou a onda, voltando a crescer nas duas semanas seguintes;
- chegou à 4ª com a vitória consolidada, de tal forma que o resultado das urnas (ele colocou uma vantagem de 21%, mais de 20 milhões de votos, em cima de Alckmin) foi apenas a confirmação do que todos esperavam.
Analista político que se preza tem de acreditar nas suas avaliações e intuições. Eu não fico em cima do muro, teclo-as e divulgo.
Uma notícia desta 4ª feira (20) da Folha de S. Paulo, Campanha de Serra vê perda de fôlego e traça mudanças, vem ao encontro da minha sensibilidade, como se constata nestes trechos:
"O comando da campanha de José Serra (PSDB) avalia que houve uma perda de fôlego nos últimos dias e estuda como manter a candidatura em ascensão.
Um reflexo disso foi o abandono do tema do aborto e de questões religiosas pelo tucano...
"O tema (...) já começa a ser visto com potencial negativo pelo PSDB, especialmente depois que a mulher de Serra, Monica, acabou incluída involuntariamente no noticiário...
"Ontem, o partido demonstrou publicamente uma contrariedade em grau ainda não manifestado em relação a uma pesquisa do Vox Populi que apontou crescimento da vantagem de Dilma Rousseff (PT) sobre o tucano...
"A pesquisa deu início a um procedimento raro na campanha de Serra. O presidente do PSDB e coordenador da campanha, Sérgio Guerra, decidiu conceder entrevista coletiva com o objetivo de desqualificar o instituto e os números da pesquisa...
"Guerra fez um pronunciamento de nove minutos recheado de duros ataques ao instituto. Apesar das críticas, ele não anunciou nenhuma medida judicial em relação à pesquisa ou ao instituto.
"Um tucano também afirmou ontem que a expectativa do partido é que a próxima pesquisa Ibope, que deve ser divulgada hoje, também aponte um crescimento de Dilma, interrompendo a trajetória ascendente de Serra". [os grifos são todos meus]
Nas entrelinhas, o que se percebe é o desespero de quem vê a derrota chegando.
Caso a expectativa em relação ao Ibope se confirme, como eu acredito que se vá confirmar, a candidatura de Serra voltará a fazer água.
* Jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog não está subordinado a nenhum partido. Lula, como todo ser humano, não é infalível. Quem gosta dele (assim como de qualquer pessoa), tem o dever de elogiá-lo sem nunca deixar de criticá-lo. ---------------------------------------------------------------------------------------------------- Todas as opiniões expressas aqui, em conteúdo assinado por mim ou pelos colaboradores, são de inteira responsabilidade de cada um. ----------------------------------------------------------------
Comentários são extremamente bem-vindos, inclusive e principalmente, as críticas construtivas (devidamente assinadas): as de quem sabe que é possível e bem mais eficaz criticar sem baixo calão. ----------------------------------------------------------------------------------------------
Na parte "comentar como", se você não é registrado no google nem em outro sistema, clique na opção "Nome/URL" e digite seu nome (em URL, você pode digitar seu site, se o tiver, para que clicando em seu nome as pessoas sejam direcionadas para lá, mas não é obrigatório, você pode deixar a parte URL em branco e apenas digitar seu nome).-----------------------------------------
PROCURO NÃO CENSURAR NADA, MAS, POR FAVOR, PROCUREM NÃO DEIXAR COMENTÁRIOS ANÔNIMOS. NÃO PODEMOS NOS RESPONSABILIZAR PELO QUE É DITO NESSES COMENTÁRIOS.
Att,
Ana Helena Tavares - editora-chefe