Mundo, vasto mundo
Por Mario Augusto Jakobskind (*)
Que semana movimentada, de Atenas a Nova York, passando pelo ninho tucano. Nem tudo são flores, muito pelo contrário. Mais uma vez, como acontece nestes momentos de nervosismo e abalos para certos setores do capital, analistas de sempre são convocados para dizer que, no caso da Grécia, os remendos a serem tentados vão superar a mais recente crise do modo de produção que no decorrer da história tem enfrentado outras de mediana ou grande envergadura.
A Grécia, que recebe injeção de bilhões de euros da Alemanha, França e outros países europeus, e até uma grana de menor porte do Brasil, parece encontrar-se nos estertores. O governo socialista de George Papandreus, de uma tradicional família grega que já dirigiu o país em outras ocasiões, seguiu radicalmente o modelo de austeridade propugnado pelo neoliberalismo. O povo, de muita tradição de luta mas que andava meio apático, teve de protestar nas ruas contra o rebaixamento dos salários e aumento de impostos. A repressão foi violenta com três mortes e muitos feridos.
E tudo isso para salvar o insalvável, ou seja, um modo de produção selvagem que levou a Grécia para o buraco sem retorno. Daqui a mais algum tempo o país será esquecido, mas lembrado em algumas ocasiões, sobretudo em função do aumento da violência urbana. Não é preciso nenhuma bola de cristal para prever. Basta olhar o que aconteceu em países onde esta fórmula de remendo foi adotada. É de remendo, porque em essência nada muda, muito pelo contrário. Injetam euros para evitar o estrangulamento imediato, mas o povo, que não teve responsabilidade pelos desmandos neoliberais, é intimado a pagar a conta.
O mundo globalizado já está na expectativa de que outros países europeus sigam o destino grego. Pode ser que a classe trabalhadora, digamos da Espanha e Portugal, países que podem virar a bola da vez, saiam também do estado de letargia em que se encontram e se organizem para enfrentar os arrochos das classes dominantes responsáveis de fato pela crise. Resta agora aguardar o desenrolar dos acontecimentos e prestar atenção aos vaticínios dos analistas de plantão.
Em Nova York, segundo muitos observadores, recomeçaram as ameaças com prisão de um paquistanês supostamente responsável por um atentado terrorista que acabou não acontecendo. Lá longe, no Afeganistão, o talibã assumiu a autoria do fracasso. Foi tão bandeiroso que dá até para desconfiar, ou seja, de que tudo teria sido uma farsa montada para reforçar o esquema do combate ao terrorismo. E a quem favorece a empreitada frustrada?
Seis dias depois do carro bomba sem detonação em Times Square, as principais televisões de todo o mundo mostraram, muitas delas ao vivo, um novo “capítulo da novela” esquema Bin Laden. Desta vez Times Square parou para assistir o esquadrão antibombas desarmar o nada, ou seja, uma ou duas bolsas suspeitas com roupas e um vasilhame de água. Em suma, em Nova York e todos os Estados Unidos voltou com toda a força o esquema paranoia do ar. Caso o ex-Ministro do Exterior do governo FHC, Celso Lafer, voltasse por lá teria de tirar os sapatos para ser revistado por funcionários da alfândega, como aconteceu depois do atentado nas Torres Gêmeas. Se como ministro aceitou de bom grado o vexame, imagina como cidadão comum?
Enquanto isso, por estas bandas, quando se aproxima a data da visita de Lula a Teerã, os tucanos, utilizando os mesmos argumentos do Departamento de Estado norte-americano, criticam duramente o Presidente da República. De antemão, seguindo a orientação pode-se imaginar de quem, estão a prever o isolamento internacional do Brasil. Lula vai ao Irã, como já foi a outros países dos mais variados regimes, ampliando a presença brasileira e o intercâmbio comercial. Mas para os subservientes do PSDB isso é ruim.
Na verdade, por sua subserviência à potência hegemônica, os tucanos, hoje jogando todas as suas cartas no candidato a Presidente José Serra, não se conformam com o fato de Lula ter indicado o caminho que o Brasil não precisa aceitar de antemão as ordens de Washington, como em outros tempos, inclusive nos da gestão FHC.
Esta é a grande verdade, que passa neste momento pela posição de independência do governo brasileiro. Serra já avisou que em matéria de política externa seguirá caminhos distintos aos de Lula. Já se posicionou contra o Mercosul e assim sucessivamente. Não será de se estranhar se em qualquer hora convocar o ex-chanceler Celso Láfer para desenhar os rumos da subserviência, aplicado quando ocupava o cargo que hoje ocupa Celso Amorim.
E ainda há quem diga que Serra, Lula, Dilma etc não diferem. Prestem atenção porque esta é a nova tática da direita que quer voltar a gerenciar este país continente chamado Brasil. FHC está de unhas afiadas porque também quer ocupar o lugar que entende merecer no ninho do tucanato subserviente. É por aí que a banda toca...
*Mário Augusto Jakobskind é jornalista, mora no Rio de Janeiro e é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de S. Paulo e editor de Internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do semanário Brasil de Fato. É autor, dentre outros livros, de "América que não está na mídia" e "Dossiê Tim Lopes - Fantástico / Ibope". É colunista do site "Direto da Redação" e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"
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