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domingo, 14 de novembro de 2010

Padres, pastores, despachantes



Padres, pastores, despachantes

  

E os emigrantes na África ? Nenhum representante, os candidatos do Japão e do Líbano levaram tudo. Não vi a foto de todos os eleitos, mas me parece – posso estar errado – não tem negro e nem mulato, embora a grande maioria dos emigrantes brasileiros tenha um pé na África.

 

Por Rui Martins (*)


Há algum mal nisso em ser um Conselho com maioria de religiosos e comerciantes ? Não, a maioria das associações de emigrantes brasileiros é religiosa – os católicos mais voltados para a filantropia, os evangélicos para o missionarismo. E existem também as associações de serviços prestados, reunindo despachantes, advogados, doleiros, comerciantes, agências de viagens e promotores de shows.


Todo esse pessoal vive com os emigrantes e disso vive. Não há mal nenhum nisso.

O mal é o Ministério das Relações Exteriores ter criado uma política de emigração ( seria da competência do MRE?) de ponta-cabeça. Para evitar que tais representações dos emigrantes ocorressem, primeiro deveria ter sido criada a Secretaria de Estado dos Emigrantes, encarregada de lançar primeiro a base política. Isso incluiria apoiar uma emenda constitucional criando parlamentares emigrantes, circunscrições eleitorais emigrantes e, em seguida, daí sim, um amplo Conselho de Emigrantes.

Qual seria a diferença ? A Secretaria de Estado dos Emigrantes ou Ministério das Migrações, englobando migração, imigração e emigração, seria laica e não comercial. A criação de parlamentares emigrantes provocaria a implantação dos Partidos brasileiros junto aos emigrantes com programas e ideologia. E todas as associações, grupos religiosos e comerciais seriam representados num amplo Conselho emigrante, reunido anualmente para fazer valer suas reivindicações.

No esquema minimalista aplicado pelo Itamaraty houve uma enxurrada de candidatos individuais, para se criar um Conselho consultivo e de assessoria, cada um com sua proposta pessoal. E, na falta de partidos ou programas, os mais fortes se apoiavam em igrejas, ordens católicas e escritórios comerciais.

E os resultados ? Um Conselho de Emigrantes (CRBE) que, na maioria não é laico, e seus compromissos com escritórios e grupos de empreendimento nos levam a considerar esse Conselho como uma resposta privada e neoliberal aos anseios dos emigrantes. Ou seja, o governo de Lula, aplicando uma política social dentro do Brasil e por isso com nosso apoio, criou para os emigrantes uma absurda fórmula neoliberal-religiosa.

No meu último comentário, propunha-me abandonar o tema emigrante se fosse derrotado, mas ocorre que, eleito primeiro-suplente pela Europa, com um agressivo programa pela emancipação dos emigrantes, não me considero derrotado. Existem emigrantes apoiando nosso projeto de um órgão institucional laico e autônomo, separado do Itamaraty ligado diretamente à Presidência, e, por isso, vamos continuar a luta pela autodeterminação dos emigrantes.

Nesse Conselho eleito por voto não universal, e reunindo uma elite de emigrantes classe A, pois só votava emigrante com computador ou sabendo usar computador (mas quem não tinha e não sabia podia ser aconselhado ou orientado por associações, como se fazia no interior, ajudando-se as pessoas a escrever o nome de seus candidatos!), existem algumas coisas para se meditar – na América do Norte só foram eleitos representantes dos EUA e todos, com exceção de um suplente, são da costa Leste. E o Canadá?

E os emigrantes na África ? Nenhum representante, os candidatos do Japão e do Líbano levaram tudo. Não vi a foto de todos os eleitos, mas me parece – posso estar errado – não tem negro e nem mulato, embora a grande maioria dos emigrantes brasileiros tenha um pé na África.

Mas foram os eleitores que assim quiseram podem me dizer. Porém, se de 3,5 milhões votam só 18 mil com computador, que representatividade se pode esperar ? Isso lembra os Conselhos de Cidadãos, criados no governo FHC, que reunia só gente fina, para se tomar uísque provavelmente, como diretores da Varig, do Banco do Brasil, da Vale do Rio Doce e escritórios brasileiros de advocacia. Eram os representantes dos nossos emigrantes!

Podem também aparecer uns palestranstes do discurso social (o Itamaraty quebrou sua imparcialidade distribuindo medalha a estreante em emigração) e falar em democracia participativa, para justificar a opção do MRE de começar com um Conselho, antes de estruturar sua política de emigrantes voltada para toda população. Que democracia participativa é essa, quando a grande maioria dos emigrantes carece do apoio do Estado, mas acaba ficando na mão de religiosos e associações ?

Dia 3 de dezembro, nosso presidente Lula vai dar posse a esse Conselho, mas meu conselho presidente, de quem tem apoiado seu governo é o de mudar seu discurso na hora de falar. Dizem que esse Conselho é apenas a primeira etapa e, por isso, pode ter seus defeitos. Por que, então, não levaram a sério uma Comissão de Transição para evitar esses erros ? Se é para se fazer só um show para presidente ver, então, chamem o Carlos Borges e, em lugar de uma Conferência de emigrantes sob a tutela do Itamaraty, se faça um Focus Brazil sem a chateação de atas consolidadas, que afinal não levam a nada. Afinal, o Focus Brazil já é semi-oficial e vai estrear mesmo em Londres, por que não no Itamaraty ?


*Rui Martins é jornalista. Foi correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. É autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criador dos "Brasileirinhos Apátridas" e da proposta de um Estado dos Emigrantes. É colunista do site "Direto da Redação" e vive em Berna, na Suíça, de onde colabora com o blog "Quem tem medo do Lula?".

=> Artigo publicado originalmente no site "Direto da Redação".

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