O argentino e prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel escreveu um artigo, "A contaminação informativa", que pode ser lido no site Carta Maior, no qual reafirma a necessidade da Lei de Meios Audiovisuais, aprovada pelo parlamento argentino, por romper os monopólios da informação, gerar o pluralismo jornalístico e recuperar a liberdade de imprensa.
A leitura do artigo de Esquivel se encaixa perfeitamente à realidade brasileira, da América Latina e do mundo, onde a concentração da informação em pouquíssimas mãos distorceu completamente os conceitos de liberdade de expressão. A informação passou a ter donos que a manipulam ao seu bel prazer. Isso ficou evidente a nível global no endosso midiático às esfarrapadas justificativas para a guerra do Iraque, e sobressai na América Latina, particularmente durante os períodos eleitorais.
Com o avanço das forças populares na América Latina, este monopólio da informação passou a se sentir ameaçado. Depois de ditar as regras nos últimos 50 anos, elegendo e derrubando governos, conspirando e fomentando golpes de Estado, os meios de comunicação, impressos e eletrônicos, começaram a enfrentar a reação da sociedade e de seus governantes. Hugo Chávez, que chegou a ser retirado do Palácio de Miraflores por um golpe civil-midiático, retomou o poder pelo apoio popular, e, legitimado por ele, passou a enfrentar os meios de comunicação, o que antes seria inconcebível. Concessões públicas, como são emissoras de rádio e tevê, deixaram de ser renovadas automaticamente por sua atitude de oposição e conspiração frontal ao governo, sem o compromisso com a informação verdadeira.
Evo Morales também enfrenta os monopólios e fomenta o surgimento de novos veículos que diversifiquem a informação. E Lula levou adiante a 1ª Conferência Nacional de Comunicação, bombardeada pela mídia nativa, que deixou uma série de indicações a serem consideradas pelo Congresso e futuros governos. É o aprofundamento destas reformas que preocupa os monopólios. Sob o falso discurso de uma censura à imprensa, tentam impedir que a sociedade avance no debate do papel dos meios de comunicação, que sempre definiram de acordo com seus critérios.
No Brasil, a mídia é controlada por cinco famílias. Elas se consideram as legítimas representantes do direito à informação do povo brasileiro, como se estivessem desvinculadas dos seus interesses de classe. No processo eleitoral brasileiro desde o fim da ditadura militar, invariavelmente se posicionaram contra os interesses populares. Antes mesmo do fim da ditadura, boicotaram a campanha das "Diretas Já". Em 1982, antes ainda que os brasileiros pudessem escolher seu presidente, tentaram inviabilizar a eleição de Leonel Brizola no Rio de Janeiro. Em 1989, na primeira eleição direta para presidente, ocorreu a notória edição do debate entre Lula e Collor pela TV Globo. Em 1998, evitaram qualquer menção crítica à sobrevalorização cambial para reeleger Fernando Henrique Cardoso, que explodiria no ano seguinte levando o país mais uma vez ao FMI e ao aumento de seu endividamento externo.
A mídia adiou enquanto pode uma vitória de Lula. Para tanto, recorreu a dossiês, arapongagens e outros recursos espúrios, que se repetem agora na disputa entre Dilma e Serra. Na contramão do sentimento nacional, empresta seu apoio e solidariedade justamente ao que o povo não deseja. O candidato tucano vive hoje um isolamento até dentro de seu próprio partido. Mas tem a solidariedade incondicional da mídia, que promete se manifestar até o último momento na esperança de evitar uma derrota anunciada.
A preocupação da mídia se explica. A vitória de Dilma será mais uma vez a sua derrota. E a cada derrota ela se enfraquece, pois aumenta o espaço para o rompimento do monopólio e o surgimento de uma comunicação mais plural e democrática. Como observou Esquivel, "nenhum meio informativo é asséptico, mas deve basear-se na ética e em valores a serviço dos povos e não para se servir dos mesmos."
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