Por Rita Barreto
A Folha de São Paulo/UOL de hoje tem na primeira página a chamada: "Comparação - Lula é discípulo de Margaret Thatcher, diz dono do 'Wall Street Journal'.
No qual o "empresário Rupert Murdoch, dono do império de mídia News Corporation e conhecido pelas idéias conservadoras, disse na quinta-feira (21) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é discípulo de Margaret Thatcher, premiê britânica do fim dos anos 70 até o início dos 90 e conhecida como "a dama de ferro".
..."Sem orgulho, as pessoas não prosperam. Sem um bolo maior, as porções ficam menores -e as [pessoas] mais vulneráveis são as que vão sofrer mais", afirmou.
"Quantas pessoas esqueceram tão rapidamente que ela não só mudou o Reino Unido como, ao lado de Ronald Reagan, mudou o mundo para muito, muito melhor", enfatizou o empresário australiano, que é dono de jornais britânicos como o "Times" e "The Sun".
Bem, estes são alguns trechos do discurso do empresário inglês que consegue colocar no mesmo prato, as políticas de Thatcher, Lula e Ronald Reagan. Fazer jornal não implica em entender o que está escrito. Ou melhor, fazer jornal significa entender o que está escrito e colocar ideologia em cada frase. Vamos aos fatos. Thatcher combateu a política dos Trabalhistas, diminuindo o número de empregos; Reagan reduziu as políticas sociais e fortaleceu os mercados especulativos no início de um ciclo que redundou na crise de capitais. E Lula, o operário, criou 14,5 milhões de novos empregos, tirando da miséria 28 milhões de pessoas. De início se vê que a comparação entre os três está errada.
A diferença entre todos é o lastro: origem social e geoeconômica. A comparação pode provocar orgulho em algumas pessoas, vá lá, mas o empresário da comunicação cheio ou não de boas intenções, como a maioria dos jornalistas estrangeiros que vêm para cá, tem uma visão conturbada. Lêem a História e Fatos na luz do método Sapucaniano. Explico: um local onde os egipcíos de cá criaram um palco, que por milagre dos homens, nele trafegam passado, presente e futuro, em simulações, em que é possível encontrar Napoleão chupando Manga, Voltaire e Moliére comandando o espetáculo. Reis, rainhas e súditos na mesma pista em volteios oníricos, dando ao espectador a sensação de proximidade com a História. Este local chama-se Marquês de Sapucaí.
Somente lá e na cabeça do dono do Wall Street, Reagan, Thatcher e Lula fazem a mesma política.
Nos EUA, por conta da reagonomic, política econômica americana de Reagan, os negros ficaram isolados, o sonho americano foi se diluindo até tornar-se um pesadelo, vide o filme Beleza Americana. Thatcher, conhecida como a Dama de Ferro, causou sérios problemas internos com sua política. A Inglaterra da Rainha Elizabeth tem mais súditos paquistaneses, indianos e africanos que qualquer lugar da Europa. Isolados socialmente. O que vemos no Brasil vai na contramão das soluções conhecidas pelos velhos senhores que governam a política mundial e suas velhas saídas.
O mesmo diapasão usado pelo dono do Wall Street Journal do “bolo aumentado para que todos possam usufruir” foi o argumento usado pelo nosso Delfim tupiniquim, ministro da Ditadura, e contra o qual Lula, o operário do ABC se insurgiu em 1979 reclamando o seu pedaço naquela hora. O que se faz agora é resgatar do fosso da História os que foram sacrificados pelo modelo de formação deste País, pelo qual pagamos a conta até hoje, com as diferenças sociais que implicam miséria extrema de um lado e fausto do outro. É preciso retirar da miséria 35 milhões de pessoas e lembrar a elite que deve conter a sua verocidade.
O que vemos neste senhor inglês e nas suas considerações políticas sobre o Brasil, - país até há pouco tempo considerado de Terceiro Mundo, e por isso, não levado a sério, - é de que o Brasil estabelece a idéia de que o mundo é desigual por vontade dos homens. O interesse repentino pelo Brasil revela cobiça dos ingleses que viram seu parceiro, os EUA, tido como inabaláveis cometer as maiores bobagens, e levando seus fiéis para uma crise sem precedentes. Há poucos dias o dono de outro jornal inglês o Financial Times defendia a candidatura Serra, pois segundo ele traria mais estabilidade ao País.
Brasileirinhos conterrâneos não baixemos a nossa guarda: os ingleses agora estão vendo potencial no Brasil e devemos tomar cuidado com eles levando em conta o que disse Shakespeare em Ricardo III e Henrique VIII, no qual o Rei manda matar sua mulher, a rainha Catarina de Aragão, para poder casar-se com uma das irmãs amantes, Ana Bollena que não lhe deu sucessor, mas a sua irmã, e também amante, Maria Bollena, mãe de Elizabeth I, de quem a rainha Elizabeth descende (ver o filme A Outra). Shakespeare dizia que a Inglaterra faz qualquer coisa pelo poder.
Acreditamos piamente. Vide as implicações do Iraque, a aliança com Bush filho e Tony Blair, e a morte do cientista David Kelly, em 2003, que teria denunciado falhas no dossiê que justificou a participação da Inglaterra na guerra do Iraque. Em entrevista à BBC, o Iraque, segundo o cientista, estava fazendo enriquecimento de urânio. Depois ele voltou atrás e pagou com a vida. Jean Charles*, o inocente, é a prova de que devemos ficar desconfiados dos elogios ingleses. Por conta dos interesses velados serviu de bode expiatório.
Vamos ficar de olho.
E não calar a pergunta: - Por que somente agora nos fazem tantos elogios?
* vide filme Jean Charles
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