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| Foto: José Cruz / Abr | 
Por Raul Longo (*)

Se  prevalecer o bom senso e a previdência que tem sido marcante nas administrações  e gerências da sucessora de Lula da Silva, o parecer do eminente cientista Paulo  César Simões Lopes, Biólogo PH. D. contratado pela Caruso Jr. para o primeiro  estudo de impacto ambiental de implantação e operação do Estaleiro Naval BN5,  será suficiente nos parágrafos em que anota:
“-  O empreendimento está deslocado do contexto sócio-econômico e cultural do  local, que combina beleza cênica, valor biológico e alto potencial turístico da  área”;
“-  O empreendimento fará sentir seus efeitos nocivos numa grande área de  influência, estando localizado numa zona extremamente crítica para  efeitos de conservação, a magnitude dos impactos são, em boa parte,  permanentes e irreversíveis não existindo assim, alternativas de  instalação do empreendimento no local ou mitigação destes  impactos”;
“-  Sugere-se, fortemente, a relocação do empreendimento para outra área,  onde já existam complexos portuários fora de baías ou enseadas, de  maneira que os efeitos nocivos não sejam potencializados como ocorre nas áreas  internas.” 
Não  inventei nada. Estou com a cópia aqui na mão e posso provar que os negritos e  sublinhagens são do próprio cientista. Como também os do último parágrafo no  qual arremata:
“Em  vista disto, o presente parecer sugere aos responsáveis que não  aceitem o risco do passivo ambiental, considerando assim a proposta da obra  na área referente ao Estaleiro BN5 como ambientalmente  inviável.”
Pois  apesar de tão categóricas e recalcadas, estas recomendações foram simplesmente  ignoradas tal como Fernando Henrique Cardoso ignorou as recomendações da então  Secretaria de Minas e Energia do Estado do Rio Grande do Sul sobre a eminência  de um apagão que ao país custou o prejuízo de R$ 45,2 bilhões de  reais.
Naquela  vez, do Rio Grande do Sul ao Paraná Dilma Rousseff livrou toda a região da  ameaça do corte energético, mas agora a determinação do homem mais rico do país  em sacrificar o único polo turístico internacional litorâneo entre a Terra do  Fogo e o Rio de Janeiro, arregimenta aloprados que chegam até a declarar  absurdos como ausência de atividade pesqueira na baía norte da Ilha de Santa  Catarina. 
Qualquer  dono de restaurante da região sabe ser a fonte de cerca de 70% do pescado e  frutos do mar comercializados no mercado local. Estas e outras tentativas de  desqualificação das constatações do cientista Simões Lopes, ratificadas pelo  parecer dos técnicos do ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente responsável  pela manutenção e pesquisa das três reservas ambientais na área da Baía Norte da  Ilha de Sta. Catarina; são ainda mais ridicularizadas por um grupo de  professores e pesquisadores encabeçado por Leopoldo Cavaleri Gerhardinger, doutorando em  oceanografia pela UNICAMP com especialização na Europa.
Estes  cientistas demonstraram que o relatório substituto das recomendações de Simões  Lopes: “não apresenta condições consideradas mínimas para a adequada  mensuração, dimensionamento e avaliação dos impactos do empreendimento sobre as  populações de peixes marinhos”, além  ser falho na “avaliação  dos impactos da obra e no funcionamento do  empreendimento”.
Mais  que isso, os cientistas acusam  a Caruso Jr., empresa de consultoria contratada  pela OSX, por apresentar “resultados  e conclusões negligentes e visíveis inconsistências com a literatura e  normatização científica (inclusive com os próprios resultados e dados empíricos  levantados) bem como argumentações tendenciosas”.  
Por  fim condenam a Caruso Jr. e a OSX concluindo que o relatório que apresentaram:  “é INCONSISTENTE [maiúsculas  no original] no  diagnóstico e análise de impacto ambiental do estaleiro”  e “INACEITÁVEL e PREOCUPANTE [maiúsculas  no original] a  baixa qualidade técnica de tal estudo diante da grande responsabilidade a que se  dispõem”,  declarando-se “temerosos de que (tal conduta) se torne padrão nos  processos de licenciamento ambiental na área marinha  brasileira”.
Pergunto-me  com que cara ficam os aloprados que tão acirrada e apressadamente saíram  espalhando aos quatro ventos que a Ameaça X seria a redenção econômica de Santa  Catarina? 
Eu  mesmo respondo: tão impassível quanto a de José Castelo Deschamps, prefeito de  Biguaçu pelo PP, ao anunciar 500 mil assinaturas em abaixo assinado favorável a  instalação do megaestaleiro no município de pouco mais de 55 mil habitantes e  ainda com a mesma infraestrutura dos anos 70, quando ali se vivia exclusivamente  da pesca, pecuária e agricultura. 
A  partir de meados dos anos 80, acelerada industrialização engordou alguns cofres  com o aumento da arrecadação no município, exatamente com que hoje se busca  justificar o interesse no empreendimento; mas igual impassibilidade dos  antecessores de Deschamps manteve inexistente a infraestrutura do município e  ineficiente o atendimento dos serviços públicos a uma população que se duplicou  em duas décadas.
A  arrecadação sem dúvida crescerá em algum cofre e também a população com a  inevitável importação de mão de obra experiente de áreas onde operários do setor  sejam excedentes. Somando-se aos vindouros e previsíveis autônomos prestadores  de serviços correlatos ao empreendimento, somarão aí por volta de cinco mil  almas num primeiro momento, até que mais tarde comecem a chegar os filhos,  parentes e dependentes, para contribuir com futuro crescimento  vegetativo.
Novos  tempos, novos costumes e intercâmbio cultural com emigrantes de zonas portuárias  onde a arrecadação tampouco é suficiente para atender a demanda do conglomerado  populacional a se estender por favelas. Mas até aí, quando eventuais problemas  advierem, é só encostar a culpa no Judas da vez.
Se  o tradicional “letinho” eleger Ângela Amim novamente, certamente não será de  quem a mídia monopolizada pelo grupo RBS se recordará como integrante da força  tarefa dos candidatos ao governo de Santa Catarina que se reuniram no gabinete  do Ministério do Meio Ambiente para desqualificar o parecer dos técnicos do  ICMBio. Pelo menos nunca foram às licitações de linhas e terminais em sua  administração municipal a que responsabilizaram pelos protestos contra as mais  abusivas tarifas de transporte coletivo do Brasil. E, sim, ao “vandalismo” e “má  educação” dos estudantes.
Tampouco  será de Raimundo Colombo que lembrarão, se o eleito for o candidato do grupo de  Luís Henrique da Silveira, Leonel Pavan e Dário Berger. Da mesma forma que à  Operação Moeda Verde computaram excessos da PF a incomodar o fluxo das verbas  publicitárias de empreendimentos em reservas ambientais, costeiras, áreas  públicas, de preservação permanente, ou de e da  Marinha.
Já  Ideli Salvati, se eleita, por alguma razão assoprada pelas últimas décadas de  convivência com a mídia de todo o país, tem tudo para ser o alvo assim que  começar a malhação pelo aumento do custo da alimentação diária, pela necessária  importação do ingrediente básico da dieta regional: pescados e frutos do mar  que, hoje, estão aí a um lance de rede ou anzol, ou algumas poucas  remadas.
Se,  como é de se esperar de uma governante do Partido dos Trabalhadores, a  Presidente Dilma Roussef impedir a extinção dos meios de subsistência e de  trabalho de pescadores, maricultores, nos setores de gastronomia, comércio e  turismo da região; ambas serão acusadas por inviabilizar 4 mil empregos mesmo  sabendo-se que, se tantas, não ultrapassarão 500 vagas para uma população  inexperiente numa atividade especializada que aqui nunca  existiu.
No  entanto haverá quatro anos de governo pela frente e muita água a passar por sob  a ponte Hercílio Luz que, admirando seu perfil à distância, em momentos de  poesia chamo de Tênue Ponte da Luz. Mas ponte sobre águas pútridas, por mais  iluminada que seja, não faz poesia alguma e se a Ameaça X deixar de ser ameaça,  efetivando-se os estragos previstos pelos peritos, sem dúvida também se  efetivará a praga dos que queriam acabar com a raça do PT por 30  anos.
Não  o conseguiram no Brasil de Lula e Dilma, mas certamente o conseguirão no estado  para cujo governo cheguei a pensar em votar no candidato do PSOL que se  posicionou contrário a Ameaça X, diferentemente dos demais que em suas peças e  programas de campanha eleitoral sequer se referem ao empreendimento que tão  acirradamente defenderam contra o bom senso dos técnicos e cientistas. Mas qual  a chance do PSOL ser eleito?
Entre  os três possíveis futuros governadores de Santa Catarina, dois são inegavelmente  interessados na efetivação do estrago e indubitavelmente não medirão esforços  para influir em todos os níveis de Poder, pela Câmara, pelo Senado, pela Mídia e  por onde mais encontrem caminho para tal aumento de arrecadação a qualquer  custo, por mais que custe à população que, em troca, de seus governos sempre  recebeu tão pouco.
Para  esses, depois é só tirar o corpinho de cena e jogar à culpa pra Presidente, como  erro de responsabilidade federal que não são tontos de assumir em suas mensagens  eleitorais.
Já  Ideli Salvati, apesar de me ter deixado com o voto na mão, como a tantos  eleitores e colegas militantes que ainda se dizem decididos em anular, creio já  ter melhor avaliado suas próprias anteriores posições a respeito do  assunto.
Não  tenho dúvidas de que a essas alturas Ideli já terá reconhecido que, se eleita, a  Ameaça X não é apenas à possibilidade de sua reeleição em 2014, mas sim à nossa  raça inteira por todo o futuro de Santa Catarina. 
Por  essas e outras cheguei a uma conclusão. Meu voto é da Ideli porque só ela poderá  nos livrar dessa praga de megaestaleiro em Biguaçu, o local mais errado a ser  escolhido segundo o Doutor Paulo César Simões  Lopes.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis (SC), onde mantém a pousada “Pouso da Poesia“. É colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.


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