Por Ricardo Kotscho*
Tantas fizeram, em tão pouco tempo, uma atrás da outra, exagerando na dose, que a população está revoltada com os políticos em geral, sem fazer distinção entre as três instâncias de poder.
Aumentos generalizados de mais de 60% nos salários de deputados, senadores e vereadores, e aposentadorias vitalícias milionárias para governadores com pouco tempo de serviço, enquanto o país discute o aumento do salário mínimo para R$ 545, parece ter sido a gota d´água.
Para se ter uma idéia do tamanho da indignação popular, basta dar uma olhada nos quase 500 comentários (fora os que fui o obrigado a excluir) de leitores publicados no post anterior sobre quanto nos custa cada gabinete dos vereadores paulistanos (R$114,4 mil entre salários, assessores e despesas diversas).
A vitoriosa revolução egípcia em que o povo nas ruas levou apenas 18 dias para derrubar um ditador que estava há mais de 30 anos no poder animou muitos leitores a propor soluções radicais para “acabar com esta pouca vergonha dos políticos”.
“Vamos brasileiros, vamos tomar como exemplo o Egito, vamos nos organizar para acabar com estas safadezas”, escreveu Geraldo Pires, em comentário enviado às 20h48 de sexta-feira.
Pouco antes, às 20h29, Luiz Borges, escrevendo em nome de um Partido do Povo Brasileiro (PPB) propôs concentrações nas capitais no dia 28 de fevereiro e uma marcha a Brasília para protestar contra as mordomias dos políticos.
As imagens do Egito e a coincidência da discussão sobre o novo mínimo, no momento em que a imprensa a cada dia publica novas revelações sobre os megasalários e privilégios dos políticos, serviram para radicalizar o debate, com muita gente já falando em pegar em armas, apedrejar e botar fogo em tudo, chamar de volta os militares.
É este sempre o perigo que a nossa jovem democracia corre quando os principais responsáveis por defendê-la _ os representantes eleitos pela população nos diferentes níveis _ utilizam o poder em benefício próprio e se mostram indiferentes ao clamor popular, como aconteceu com Mubarak, embora a realidade brasileira nada tenha a ver com a do Egito, é claro.
Aqui vivemos em plena democracia e devemos todos lutar para preservá-la. Nestes momentos de ira, em que o eleitor se sente traído, sempre aparecem os nostálgicos da ditadura que querem fechar tudo, propor o voto nulo ou a pena de morte.
Há também um sentimento de orfandade, como se pode constatar no comentário enviado pro Acassia, às 12h09 de ontem: “Será que existe algum orgão digno, honesto neste país que poderia dar um jeito nesta pouca vergonha?”
Muitos atribuem a responsabilidade pela situação ao próprio eleitor que não sabe escolher seus representantes: “A culpa é nossa (do povo). Cada cachorro tem o osso que merece”.
Renato Pinto de Souza, às 13h50, foi ao extremo da indignação: “… proponho a pena de morte ao congresso, ao senado, às câmaras e assembléias de todo o país”.
Na outra ponta, Eliana, às 13h39, mostrou resignação: “É tão triste que não tenho nem palavras. O que eu vejo é de doer o coração e a alma”.
O leitor Fábio, às 13h09, mirou-se no exemplo do Egito: “Deveríamos fazer que nem no Egito, sair todo mundo pra rua e acabar com a festa que eles fazem com o nosso dinheiro”.
Valeria a pena que os políticos de diferentes partidos e latitudes dessem uma olhada nos demais comentários para entender melhor o sentimento dos seus eleitores e a realidade em que vivem.
3 comentários:
Não tenho coragem de me posicionar contrário a classe política. Por mais absurdas que possam parecer as atitudes de alguns deles. Ainda mais quando lembro do tempo em que nem pensar me era permitido. Foram todos eleitos. Nos foi dada a chance de impedir a chegada de cada um deles ao poder. Pelo menos em tese. Se a mídia hegemônica, concentrada e a serviço dos interesses pessoais de meia dúzia de famílias, mas com audiência(TV aberta), de 96,4% do povo brasileiro ajudasse no processo, tenho certeza que a coisa seria bem diferente. Será que é por mero acaso que não se tenha um só programa nos canais da TV brasileira, em que se possa ver políticos discutindo entre si os problemas da nação? De que forma pode o povo saber quem é quem na política nacional, quais são os projetos, as posições assumidas nas votações e nos debates realizados no Congresso? Por que políticos e política são vistos na TV apenas quando envolvidos em escândalos? Será que é porque os barões da mídia morrem de saudades dos tempos da ditadura em que não havia políticos para atrapalhar os seus negócios? Temos que democratizar a comunicação no nosso país e devolver o legítimo direito que todos temos de nos expressar livremente e de receber em nossas casas uma informação honesta, plural, imparcial, voltada para os nossos interesses e não mais apenas os de meia dúzia de empresários associados a outra meia dúzia de políticos.
Luiz, você sabe o quanto te respeito, mas discordo radicalmente. Tudo bem que não vivi a ditadura, mas tenho em casa quem a viveu intensamente. Não posso concordar que por termos tido uma ditadura tenhamos que nos calar na democracia. Logo na democracia, onde podemos falar. Não posso concordar que, porque os elegemos, não tenhamos o direito de nos decepcionar com alguns deles e o dever de denunciar o que vemos de errado. O mandato dos políticos é do povo e o povo tem que ser seu fiscal. Caso contrário, impossível um país ir pra frente. Se parte da mídia não colabora com isso, temos, claro, que lutar contra o mau jornalismo, mas sem jamais achar que é tudo culpa da mídia e que os políticos tem que ser poupados. E outra coisa: "informação imparcial" não existe nem no PIG, nem neste blog nem fora disso.
Ana Helena Tavares, minha musa, taí eu já concordo com tudo o que você disse. Acho mesmo é que não soube me expressar. O que eu não gosto na realidade é de campnha contra a classe política daquelas que põem todos como sendo "farinha do mesmo saco" como constantemente vemos na mídia comercial. Político só aparece na TV aberta se se envolver em algum escândalo. Não há um só programa nas grades de programação das TVs abertas que promova o debate político permitindo que a população possa separar o joi do trigo. Há uma expressão popular que explica muito bem esta atitude: " Se melhorar estraga". Este é o problema Ana Helena. O espectro analógico é dominado pela direita neoliberal e eles apoiaram e tem saudades do tempo da ditadura em que não havia políticos para atrapalhar os seus negócios. É só isso.
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