Paisagem da cidade de Tapuá no Amazonas |
Ai de ti, Amazonas!
Dia de eleição é dia de festa. Os ex-moradores que preferiram manter o título lá, na gloriosa 41ª seção da 2ª Zona, se deslocam de outros bairros em romaria à Aparecida e aí aproveitam para reencontrar pessoas que não viam há anos, antigos vizinhos, velhos amigos, ex-namorados. É o caso da Maria do Céu, atual moradora do Parque Dez, que em dia de eleição sempre encontrava o Petel, recentemente falecido, e hoje vai reencontrar o seu estepe, Inezildo Bate-Papo.
Por José Ribamar Bessa Freire (*)
Nos próximos anos, o que é que vai acontecer com o Brasil? Qual o nosso destino como nação? Sei lá. Aliás, ninguém sabe e quem disser que sabe está mentindo. Mas é possível, sim senhor, prever, pelo menos, quem vai nos comandar a partir de janeiro de 2011. Quando você quer fazer uma análise de sangue, precisa retirar os quatro litros que circulam pelas veias do corpo humano? Não. Bastam algumas gotinhas. Esse é o princípio da amostra representativa. Voto e sangue: tudo é a mesma coisa.
*José Ribamar Bessa Freire é antropólogo, natural de Manaus e assina no “Diário do Amazonas” coluna semanal tida como uma das mais lidas da região norte. Reside no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e é professor da UERJ, onde coordena o programa “Pró-Índio”. Mantém o blog “Taqui pra ti” e é colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.
Eis o que eu queria dizer: quem quiser conhecer o nome do próximo presidente, do governador e dos senadores do Amazonas, basta consultar o eleitor na fila de voto do Grupo Escolar Cônego Azevedo, no bairro de Aparecida, Manaus. As gotinhas de sangue estão lá, com uma amostra perfeita do país. Em termos percentuais, aquilo que a urna do Cônego diz, o Brasil inteiro confirma com precisão milimétrica. Foi assim nas quatro últimas eleições presidenciais. É um fenômeno até agora inexplicável. Mas é.
Nem há necessidade de consultar os 1630 eleitores das cinco seções do Cônego Azevedo. Bastam os 377 eleitores da 41ª Seção Eleitoral, que funciona na última sala. É lá que fica a famosa urna conhecida como “urna dos malucos”. Nela votam, entre outros, os respeitáveis cidadãos Rubem Rola, Ana Piu-Piu, Ângela Careca, Raimundo Mucura, Those-Those, Neide Pipoca, Dalva Manicure, Coisa-Feia, Pão Molhado, Cida, Cláudio Lampião e Bambi (minha irmã), todos eles comprovadamente malucos-beleza.
Não tem o colesterol bom? Tem. Pois é, da mesma forma tem o maluco-beleza. A voz do “maluco-beleza” é a voz do povo que, como todos sabem, é a voz de Deus. A sabedoria fala através dessa urna, onde votam ainda ex-moradores, moderadamente tantãs e relativamente despirulitados, que não mudaram de domicilio eleitoral porque não conseguem tirar o bairro de Aparecida do coração. Às terças-feiras vêm de longe assistir a novena e comer o pastel da feirinha, que desce melhor com o caldo de cana.
A urna dos malucos
Dia de eleição é dia de festa. Os ex-moradores que preferiram manter o título lá, na gloriosa 41ª seção da 2ª Zona, se deslocam de outros bairros em romaria à Aparecida e aí aproveitam para reencontrar pessoas que não viam há anos, antigos vizinhos, velhos amigos, ex-namorados. É o caso da Maria do Céu, atual moradora do Parque Dez, que em dia de eleição sempre encontrava o Petel, recentemente falecido, e hoje vai reencontrar o seu estepe, Inezildo Bate-Papo.
O voto é secreto, mas estou autorizado a revelar publicamente o voto de um dos eleitores da chamada “urna dos malucos”, até porque Rubem Rola se finge de doido e percorre as ruas do bairro anunciando seus candidatos aos quatro ventos. Filho da Marina, uma viúva que era arquivista da Seduc e fabricava broa, ele vai votar na própria mãe, como declara em tom profético, cofiando sua enorme barba:
- Meu povo de Aparecida! É minha mãe Marina! É Marina na cabeça! O mundo acabou a primeira vez com um dilúvio! A segunda será pelo fogo! Só Marina salva! Ela vai salvar a Amazônia do fogo e do desmatamento! Não acreditem nos boatos, meu povo! Ainda é tempo de mudar, Bambi: Marina na cabeça!!!
Rubem Rola se recusa a votar em apenas dois senadores. Jura que vai votar em três. Como? Não sei. Mas ele insiste, justificando que se a Dilma tem dois candidatos a governador do Amazonas, por que ele, Rubem Rola, não pode ter três para o senado?
- Meu povo de Aparecida! Vamos votar no Arthur, na Vanessa e na Marilene. Arthur é oposição, se acabar a oposição, desaparece a democracia. Lula tá se achando, meu povo! Arthur nele! A Vanessa é de luta, tem história. A Marilene foi uma boa reitora. Não vote no Dudu Braga, ele ficou podre de rico com o dinheiro do povo.
Segundo Rubem Rola, seus irmãos Fátima, Paulo Gaina, Amélia e Jorge, todos filhos de Marina Pereira, vão votar na Marina Silva, assim como seus tios e primos: Paulo Tripa, Rui, Tupá e Irene – a famosa Miss Broa. E para governador do Amazonas, em quem votar? Rubem Rola não vacila, declara seu voto e justifica.
Farinha do mesmo saco
- Meu povo de Aparecida! A Santíssima Trindade são três pessoas, mas um só Deus. No Amazonas, são dois candidatos – Omar e Alfredo – mas uma só filiação: Amazonino Mendes. É tudo farinha do mesmo saco. Deus, meu Deus, como é que a dona Dilma está apoiando os dois em um só? Cadê o Babá que não denuncia isso no Taquiprati? O Babá se acovardou, agora só fica falando de índio... Babá, faz que nem o Mengão, Babá, faz um gol de honra aos 48 minutos do segundo tempo...
O discurso do Rubem Rola ficou ainda mais radical depois que ele assistiu o debate entre os candidatos a governador. Ele achou que o debate foi uma baixaria de acusações mútuas de corrupção, com os dois candidatos falando a verdade um do outro, mas com uma abordagem superficial sobre os problemas de transporte, educação, saúde, segurança, emprego e renda. Omar – diz Rubem – esteve ao lado de Eduardo Braga por oito anos e nada fez pelo interior. Alfredo foi ministro dos Transportes e não resolveu os problemas das estradas, a Br-174 e a Br-319 continuam em condições precárias.
O Amazonas está em 23º lugar no ENEM. O índice que mede a desigualdade social, calculado a partir dos censos do IBGE mostra que o Amazonas está em penúltimo lugar, só tem desigualdade pior em Alagoas.
- Ai de ti, Amazonas! Ou vota no 6 ou vota no Meia dúzia! – exclama Rubem Rola pelas ruas do bairro de Aparecida. Assim mesmo, por causa do Serafim (PSB), vice de Alfredo, Rubem Rola vai votar com o nariz tapado, rezando para que o Alfredo ganhe e renuncie. “Se o Babá esculhambar o Omar e o Alfredo, eu voto no índio que ele indicou pra deputado estadual”.
P.S. – Rubem Rola está servindo de “laranja” para três leitores que enviaram cartas e cujas identidades estão aqui preservadas.
Link para a cronica Meu amigo Rubem Rola - http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=212*José Ribamar Bessa Freire é antropólogo, natural de Manaus e assina no “Diário do Amazonas” coluna semanal tida como uma das mais lidas da região norte. Reside no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e é professor da UERJ, onde coordena o programa “Pró-Índio”. Mantém o blog “Taqui pra ti” e é colaborador do blog “Quem tem medo do Lula?”.
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