Fale com o colunista
Por Urariano Mota (*)
Recife (PE) - Há duas colunas passadas, celebrei a liberdade na web e, num exagero de felicidade, comparei a internet aos jornais livres de Cartagena e Barranquilla, na Colômbia de 1950. Eu pensava que sim. Mas o exagero a realidade pune, sempre.
A semana passada, no uso da indignação e liberdade de pensamento, publiquei aqui o texto “A nova hipocrisia contra Israel”. Quando republicado mais adiante, houve quem comentasse que o título do texto não era bom, pois a sua ironia não alcançava o comum das pessoas, com exceção, é claro, de quem comentou. (Quem comenta, aqui e ali, se acha dono de um entendimento que os outros, menos esclarecidos, não têm.) Paciência. Os títulos ainda não trazem um balãozinho com a legenda “ironia do colunista”.
O pior viria mais adiante. Depois de publicado “A nova hipocrisia contra Israel”, recebi um número recorde de mensagens, todas vinculadas ao título “Fale com o Colunista”. A maioria, de concordância com os pontos de vista expressos na coluna, a minoria em discordância, algumas até com autores de nomes árabes inventados. Outros houve de franca defesa do Estado de Israel e de seus crimes contra os palestinos terroristas (pelo que diziam). Houve até mesmo um muito educado que chamou este colunista de simplificador estúpido, mas “com todo o respeito”. Tudo bem, faz parte.
Mas nada se comparou, em nível de agressividade e insulto homicida, ao de uma senhora, cujo nome fake retiro para melhor transcrever sua raiva :
“O fato de o senhor ser ou pensar ser jornalista ou o que for não lhe dá o direito de referir-se deste modo a autoridades de outros países. O senhor é um cidadão brasileiro e nem ao menos conseguiu consertar as coisas por aqui, como é que se atreve a tal? Cadê o dinheiro que Lula mandou, dinheiro nosso, dos NOSSOS pobres, sem escola, sem trabalho? Tomara que ele imite o Ahmadinejad e quando não gostar do que você escreve te pendure em uma corda. Vai te catar f. d. p.”
O nosso colunista Mário Jakobskind, judeu de origem e de toda humanidade no coração, também recebe das suas e me aconselhou a não responder a patada. Muito bem. O diabo é que a furiosa chegou a exigir a minha cabeça antes de me ver pendurado em uma corda. Escreveu a nosso editor Eliakim Araújo, na esperança de que o colunista fosse empregado do Direto da Redação:
“É ultrajante, vil, sem palavras, ser surpreendida por tamanha barbaridade escrita por este jornalista de meia tigela urariano mota. Há modos e modos de se fazer criticas a quem quer que seja, mas um artigo desta natureza, é de uma baixeza poucas vezes vista na imprensa nacional. Pasmo ver um profissional de seu gabarito permitir tamanho festival de asneiras, de preconceitos infundados. Não tenha a menor dúvida que o assunto não irá ficar assim. Pode ser que este seu funcionário continue no cargo, mas que uma intensa campanha será feita no sentido de que todos cancelem a assinatura, até que providências sejam tomadas será feita...”
A isso, Eliakim respondeu com extrema educação e elegância:
“Permita-me esclarecer alguns pontos sobre o Direto da Redação que a senhora talvez desconheça por ser uma assinante recente. O DR é um tradicional espaço democrático - vai completar 9 anos no dia 3 de agosto próximo - onde os colunistas não são remunerados e possuem ampla liberdade de expor suas idéias e submetê-las aos leitores. Nenhum colunista é meu funcionário ou funcionário do portal. Escrevem pelo prazer do debate democrático de idéias....”
Para quê? A essa cordialidade, a senhora fulminou:
“Sua resposta e justificativa conseguem ser piores que o artigo em si. Este senhor, que não conheço nem a seu trabalho, se é que ele existe, pode sim e tem sim o direito de dizer o tanto de sandices que desejar, pois existe liberdade de imprensa no país. Mas você aceitar?????? ... se eu escondo um marginal em minha casa, posso não ter cometido diretamente o crime, porém me torno imediatamente seu cúmplice, não é mesmo?????...” Para concluir no fim: “Meus pêsames.”
Lá no começo escrevi que a realidade pune o exagero. Agora completo: pune com outro exagero. Pois a furibunda senhora desejou o colunista morto, enforcado e desempregado, nessa ordem.
*Urariano Mota é jornalista e escritor. Autor do livro "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do Cabo Anselmo, executada pela equipe de Fleury com o auxílio de Anselmo. Urariano é pernambucano, nascido em Água Fria e residente em Recife. É colunista do site "Direto da redação" e colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"
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