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A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sobre pirotecnias, corrupção e lamentos


Tivesse segurado a ânsia de dar um “furo” que não tinha, tivesse conseguido uma entrevista com Lula ou esperado para ouvir a entrevista que uma rádio de Goiás conseguiu no exato dia da publicação do jornal, teria ouvido dele um belo – e paradoxal – título para sua matéria: “Prisão de Arruda deve ser exemplo contra corrupção.”


Por Ana Helena Tavares (para o "Observatório da Imprensa")

Nos últimos tempos, de uma grande imprensa com credibilidade em queda livre, o Jornal do Brasil tem sido um oásis. Em meio a tantos veículos de comunicação exercendo, em regra, o desserviço da desinformação tendenciosa, de maneiras as mais sujas possíveis, é bom que se registre esse fator positivo. O JB tem sido um jornal onde se pode encontrar uma pluralidade de idéias exemplar e pouco vista entre os concorrentes de seu porte, tanto a nível estadual (Rio de Janeiro) como a nível nacional. Dito isso, sinto-me à vontade para lembrar, porém, que a perfeição não existe. E na sexta-feira, 12 de Fevereiro, o JB deu um escorregão lamentável que, no seu caso, chama a atenção justamente pelo fato de constituir uma exceção à regra.


Na editoria “País”, página A6, um jornalista sério, com os dados escassos de que dispunha, jamais faria uma matéria com o seguinte título: “Governador se entrega à PF e Lula lamenta a prisão”. Quem lê a matéria inteira encontra, só e somente só no penúltimo parágrafo, as seguintes suposições, sim suposições, sobre o pensamento de Lula a respeito do caso: “Um assessor próximo ao presidente Luís Inácio Lula da Silva disse ontem que o presidente ficou “abatido” com a prisão de Arruda. Lula teria lamentado o episódio dizendo que isso “não era bom para o Brasil nem para a política”. O presidente também teria recomendado ao novo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, que a Polícia Federal tomasse cuidado com a exposição da imagem do governador”. Vai daí que, nas palavras de um inominado “assessor próximo”, e no “teria lamentado o episódio” parou o trabalho de apuração do repórter. Por que então afirmar no título que Lula lamentou a prisão?


As palavras têm um poder manipulador imensurável – e jornalistas sabem disso. Boa parte dos leitores de jornais só lê os títulos – jornalistas também sabem disso. E é exatamente a imagem de um presidente corrupto que aquele título faz saltar aos olhos. Afinal, quem lamentaria a prisão de um político corrupto senão quem se considera igual ao preso? Não é preciso nenhum vasto conhecimento de mundo para que se saiba que lamentar a prisão de alguém é algo deveras diferente de se lamentar o episódio que levou à prisão. Parece claro que todo cidadão consciente, aquele que luta por um país mais justo, lamenta a corrupção, episódio que levou à prisão de Arruda. Já lamentar a prisão é coisa que fica a cargo de quem concorda com o método dele, quem teme ser também pego em flagrante por atos parecidos, quem tinha a certeza da impunidade e já não a tem, quem crê que não há mal algum em se levar vantagem em tudo.


O problema é que em nenhum momento Lula disse lamentar a prisão de Arruda. O título é mentiroso e sensacionalista, prefiro crer que nascido da simples ânsia de chamar a atenção para o texto. Tivesse escrito tão somente “Governador se entrega à PF” teria sido verdadeiro, mas quantos se interessariam em ler mais um dentre tantos textos sobre o mesmo assunto? Tivesse segurado a ânsia de dar um “furo” que não tinha, tivesse conseguido uma entrevista com Lula ou esperado para ouvir (*) a entrevista que uma rádio de Goiás conseguiu no exato dia da publicação do jornal, teria ouvido dele um belo – e paradoxal – título para sua matéria: “Prisão de Arruda deve ser exemplo contra corrupção.”


E teria ouvido mais: “Obviamente que eu fico chocado quando eu vejo as denúncias de corrupção nesse país, fiquei chocado quando apareceu aquele filme do Arruda recebendo dinheiro, é uma coisa absurda a gente imaginar que no século XXI isso acontece no Brasil. Agora, a prisão foi decretada pelo poder Judiciário. Ou seja, de 15 juízes, 12 ou 13 votaram pela prisão dele. O que a Polícia Federal fez foi aceitar um pedido do próprio Arruda que pediu para se entregar sem precisar sair de casa algemado. Ou seja, como também a polícia Federal não está mais disposta a fazer pirotecnia com mais ninguém, foi uma atitude correta.”


Ou seja (como costuma dizer o próprio Lula), o que o presidente lamentou e quem fez pirotecnia?


É melhor acreditar que foi só pirotecnia, porque o JB ainda merece meu voto de confiança e não conheço o jornalista que escreveu a matéria. Então, como não costumo jogar sem dados, prefiro crer que ele não se inclui na já vasta lista de jornalistas corruptos que não se contentam em ser corruptos sozinhos. Precisam cravar nos governantes a imagem da corrupção. Seu Eldorado é derrubar um presidente que tem a popularidade que eles lamentam não ter.


Ana Helena Tavares é escritora e poeta eternamente aprendiz. Jornalista por paixão e futura jornalista com diploma, é colunista da “Revista Médio Paraíba”, colaboradora do "Observatório da Imprensa" e editora/administradora do blog “Quem tem medo do Lula?”.


(*) Clique aqui para ouvir.

Um comentário:

Traços de Estilo » Sobre pirotecnias, corrupção e lamentos disse...

[...] Quem tem medo do Lula? criado por Ana Helena Tavares    19:15:33 — Arquivado em: Artigos, O dia-a-dia — Tags:Arruda, corrupção, JB, jornalismo, lamento, Lula, pirotecnia, política — [...]

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