Síndrome de Estocolmo já teria ocorrido na França
Rui Martins* - do 63° Festival de Locarno, Suíça
O filme do cineasta francês Benoit Jacquot conta uma história, na região de Ardeches, na França, que revela já ter existido no passado uma espécie de Síndrome de Estocolmo, a atração dos sequestrados pelos seus sequestradores, após um período como reféns.
Nos Fundos dos Bosques foi o filme de abertura do Festival de Locarno e conta a história de uma jovem da classe média alta, no interior da França, em l865, violada por um vagabundo de passagem pela região, vivida pela atriz e também cineasta Izild Le Besco. Era um falso surdo-mudo, dotado – ao que parecia – do poder de magnetismo pelo qual teria subjugado e hipnotizado a jovem e a sequestrado, fazendo-a viver, durante algum tempo, sua vida de andarilho e vagabundo, papel vivido na tela pelo ator argentino Nahuel Perez Biscayart.
O filme com excelentes imagens confunde também os espectadores, pois o vagabundo consegue se infiltrar na casa da jovem, mostrando-se capaz de certos passes magnéticos ou de magia, que impressionam o anfitrião e sua família. Retornando no dia seguinte, quando a jovem está só, ele utiliza da hipnose para submetê-la aos seus desejos.
Violada diversas vezes, a bela e cultivada jovem não se revolta, mas segue o andarilho, dando mostras de ser subjugada pela sua força mental, como possuída, porém, mais tarde, quando seu sedutor corre o risco de gangrena na mão, por um ferimento, é ela quem sai à busca de médico e socorro.
Localizada pela polícia, que a procurava desde seu desaparecimento, a jovem seduzida, grávida, explica ter ficado o tempo todo sob o poder mental do vagabundo, que acaba sendo condenado à prisão. A jovem acaba se casando e vai viver em Paris, mas antes de partir com seu bebê, quer visitar seu sedutor na prisão, onde fica evidente existir um amor impossível entre os dois.
Benoit Jacquod desenvolve no filme a transformação da jovem seduzida em apaixonada pelo sedutor, que aceita deixar sua boa condição social para viver de maneira primitiva.
A razão principal seria o mundo fechado das mulheres de família da época e uma ignorância sobre seu corpo. A descoberta do sexo cria uma relação sadomasoquista, ela se satisfazendo em se submeter mesmo com a perda do seu status social. Encontrada pela polícia, colocada diante do pai, a jovem percebe ser impossível justificar sua atração pelo andarilho e simula ter sido hipnotizada por ele e deixado de ser dona de seus atos.
Jacquot diz ter feito pesquisa no hospital Salpetrière de Paris, onde existem muitos casos de simulações e as chamadas «histerias» femininas, provocadas geralmente pela abstenção sexual. São conhecidos casos, que já inspiraram filmes, com a histeria de mulheres em conventos, transformada em transes e alucinações, provocadas pela reclusão.
«Um dos grandes traços da histeria é o de ser difícil de diagnosticar, diz Jacquot, tanto que as histéricas da época do filme (l865) eram chamadas de simuladoras. Essa ambiguidade constante é interessante para o cinema e ainda mais para uma atriz. Para a atriz, que é também diretora de filmes, dei alguns fotos de ‘histéricas’, colhidos no hospital de Salpetrière, em Paris. Ela se inspirou nessas fotos para viver seu papel».
«A sociedade era de tal maneira, na época, que as mulheres interiorizavam seu desejo a ponto de apresentar comportamentos ‘histéricos’. Nessa época tratava-se tudo isso como fenômenos de histeria, como Charcot, e outros. Era uma questão de comportamento social, utilizava-se mesmo a hipnose para tratar a histeria.»
«Pode-se falar em histeria e tudo o mais, porém, no caso da época que encontrei nos arquivos, diz Benoit Jacquod, trata-se, sem dúvida, de uma história de amor, muito estranha, mas uma história de amor.»
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FILME RETIRADO DA AUSTRALIA, POR PORNOGRAFIA, COMPETE EM LOCARNO
Liberdade de expressão exige, o filme gay, Zombie (de Los Angeles) compete na seleção internacional do Festival de Cinema de Locarno, mesmo se foi retirado do Festival de Cinema de Melbourne por pornografia.
Para incluí-lo na seleção, o novo diretor do Festival de Locarno abriu duas exceções – limitou o público a maiores de 18 anos em exibições noturnas em salas menores.
O enredo do filme, bastante simples, pode provocar repulsa e mal-estar nos expectadores, pois as principais cenas do zumbie, vindo do oceano e que perambula por Los Angeles, o revelam como detentor de um poder mágico – possui um enorme pênis com o qual copula com mortos, trazendo-os à vida, uma versão diferente, portanto, dos snuff-films, do mercado negro criminal, no qual são filmadas pessoas sendo assassinadas.
Bruce LaBruce, cineasta canadense, já foi premiado no Festival de Sundance, em 91, com um longa No Skin of My Ass. O provocador Hustler White foi exibido, em 96, no mesmo Sundance. Seu primeiro filme pornográfico, em 98, feito em Londres, mostra um grupo de neozistas invadindo a casa de um casal gay burguês.
Comentando a proibição do filme na Austrália, depois de já programado, Bruce LaBruce diz haver «um novo conservadorismo que está levando a própria comunidade gay a aceitar instituições como o casamento e o serviço militar» E diz que os escritores Poe e Baudelaire já haviam também se servido do romatismo necrófilo.
Explicando seu roteiro, um zombie vagabundo, triando coisas tiradas do lixo que coloca num carrinho de supermercado, Bruce LaBruce diz que a maioria dos vagabundos de Los Angeles, segundo pesquisa, apresenta distúrbios mentais e que 70% deles têm distúrbios esquizofrênicos. Bruce diz que viveu em Los Angeles e fez mesmo um filme sobre prostituição masculina. Ao retornar a Los Angeles percebeu que o número de vagabundos, pessoas sem abrigo e sem domicílio fixo e pessoas com comportamentos extravagantes, que vivem em barracas, mobil-homes, tinha dobrado, a maioria circulando com um carrinho de supermercado carregado de bugigangas retiradas do lixo, de onde a ideia do zombie. O cineasta cita uma sua amiga que, depois de ver o filme, declarou-o moralmente indefensável, mas com direito de ser projetado por ser uma obra artística.
Diante do tamanho do pênis, o diretor explicou ter sido feito uma prótese com efeito especial dotado de uma bomba para a ejaculação.
Explicando sua reação diante da proibição na Austrália, Bruce disse ter ficado surpreso, pois seu outro filme, Hstler White, recebera boa aceitação e chegou mesmo a ter sucesso. Ele acha que, mesmo moralmente indefensável, existem muitos filmes com cenas de tortura sem qualquer proibição em filmes de terror. Para ele, a proibição deu publicidade ao filme e será positiva.
«A pornografia é uma arte, diz Bruce, acho artificial a separação entre arte e pornografia. O que existem são filmes pornográficos mais ou menos artísticos, bem feitos ou mal feitos. A arte é uma criação. A versão proibida na Austrália é a versão soft, imagine-se como seria com a versão hard ».
Por sua vez, o novo diretor do Festival de Locarno, Olivier Père, afirmou não haver qualquer problema em mostrar um filme em competição em horário diferente e com restrição aos menores de idade.
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*Ex-correspondente do Estadão e da CBN, após exílio na França. Autor do livro “O Dinheiro Sujo da Corrupção”, criou os Brasileirinhos Apátridas e propõe o Estado dos Emigrantes. Vive na Suíça, colabora com os jornais portugueses Público e Expresso, é colunista do site Direto da Redação. Colabora com a Agência Assaz Atroz e com este "Quem tem medo do Lula?".
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
Agência Assaz Atroz
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