A hora que o bandido fica a favor da lei é fogo - Tem um trem errado...
Por Laerte Braga (*)
Um antigo deputado da ex-UDN costumava dizer que “sou honesto por desonestidade, assim levo mais vantagem. Esse é o melhor emprego do mundo. O chato é ter que renovar de quatro em quatro anos, mas a aposentadoria compensa”.
E ia mais além. “Nunca desminto nada que a imprensa publica sobre mim. Mesmo que eu não tenha dito, ou que seja mentira. De repente, amanhã, nunca se sabe, posso precisar ter dito aquilo e vai estar lá, nos arquivos”.
Foi dessa maneira que José Bonifácio Lafaiete Andrada construiu sua carreira política, escorado no prestígio de Antônio Carlos Andrada, ex-governador de Minas e, completamente diferente do pupilo no que diz respeito a princípios, o que quer que seja.
Deputado, líder da ex-UDN, secretário geral da Câmara por anos a fio em dobradinha com Ranieri Mazzilli, ex-PSD, um de Minas, outro de São Paulo (Mazzilli era o presidente da Câmara), depois presidente da Câmara ungido pela ditadura e protagonista de um episódio que o dimensiona de forma precisa.
Num dos momentos mais graves vividos pelo Congresso Nacional à época da ditadura militar, pressionado a reagir à prepotência e arbitrariedade de um dos governos militares, ouviu de um deputado uma única frase que jogou por terra toda aquela empáfia de barão de Barbacena – “seja mais Andrada e menos Zezinho” –. Zezinho era como o tratavam.
Foi mimoseado por Carlos Castello Branco, colunista político anos a fio do JORNAL DO BRASIL, por uma contundente crítica depois de ter dito que sua realidade era sua base eleitoral e a partir dessa base é que pensava o resto. “Os eleitores que votam em mim”.
Toda a aparente brabeza, toda a aparente honestidade, disfarçava apenas um político que se curvava ao poder e não enxergava nada além dos limites de seu “curral” eleitoral, como se referia à sua cidade.
Os Andradas chegaram ao Brasil em navio chapa branca, na esquadra do almirante Pedro Álvares Cabral e foram um dos inventores do cartório, qualquer que seja o nome que se dê ao cartório. De títulos e documentos, de registro civil, de privilégios, de “boquinhas” em cargos públicos.
A propósito, um ex-deputado do antigo PTB, discrepando em meio a figuras de porte como San Thiago Dantas, Lúcio Bittencourt, Vieira de Mello e outros, ficou de tocaia à porta do Planaltinho (nome dado ao Palácio do Planalto à época da construção de Brasília), esperando o presidente Juscelino sair. Quando JK saiu e foi abordá-lo sobre se estava admirando a obra, ou pretendendo alguma coisa, o deputado disparou – “Juscelino, eu quero que você me nomeie chefe da Alfândega, quatro mil por mês, fora as bocas”.
JK colocou as mãos nos ombros do dito parlamentar e disparou – “façamos o seguinte, eu o nomeio presidente da República e você me nomeia chefe da Alfândega, até eu quero, concorda?” –. Matou ali a cara de pau do deputado.
Vários deputados e senadores que vestem ternos que parecem conferir credibilidade e honestidade estão se manifestando a favor da chamada Lei das Mãos Limpas. Quando mandam o tal terno à lavanderia a água que sai é fétida. As manchas invisíveis aparecem.
Tasso Jereissati, por exemplo. Nunca reagiu às denúncias do jornalista Hélio Fernandes que o alcunhou de corrupTASSO. Costuma passear indignação e revolta contra o que considera seja “nocivo” à moral e aos bons costumes na política.
É descendente de uma tradicional família de políticos e empresários no Ceará, mas com a maioria dos “negócios em São Paulo e fingindo estar brigado com o irmão Carlos Jereissati, levaram um dos filés da privatização dos serviços públicos de telefonia.. A antiga TELEMIG, depois TELEMAR, hoje nem mais sei o que.
Isso no governo de FHC, evidente.
Arthur Virgílo, o tal que queria dar uma tapa no presidente da República. Desviou verbas consignadas para a educação quando prefeito de Manaus, responde a processo por isso, fez o diabo para não ser envolvido na CPI do Menor (prostituição de menores) e veste um dos modelos do tal terno.
A senadora Kátia Abreu, responde a fieira de processos por práticas delituosas várias, vive colada em José Arruda Serra, sonha ser a vice do presidenciável tucano, luta diuturnamente pelos interesses de companhias multinacionais que controlam o latifúndio brasileiro (MONSANTO, uma delas).
Cito três exemplos, todos favoráveis à LEI DAS MÃOS LIMPAS, desde que com ressalvas que não explicam detalhadamente, mas de público e com apoio da GLOBO, são defensores intransigentes da dignidade no exercício da atividade política.
É aí que o negócio fica complicado. O bandido a favor da lei, da moral, de uma ética de bons costumes.
Tem um trem errado nisso..
Junta-se um bando de políticos notoriamente corruptos, ao maior grupo de comunicações do País, envolvido em práticas ilícitas desde o seu nascedouro, ou há dez mil anos antes, como diria Nélson Rodrigues e assim do nada essa turma começa a defender, com as mãos sujas, imundas, a LEI DAS MÃOS LIMPAS, tem um trem errado, com certeza que tem.
Ou descobriram um tira manchas perfeito, um daqueles desinfetantes inteligentes que torna o banheiro em local ideal para recepções, festas, etc, ou o pulo do gato ainda não foi percebido, está longe do alcance dos mortais comuns.
Aqueles que William Bonner, espécie de patife galã, chama de Homer Simpson. O tipo idiota que engole qualquer bobagem que o JORNAL NACIONAL (NACIONAL das empresas estrangeiras que controlam o esquema) fala diariamente.
Uma delas? O INSTITUTO VOX POPULI, ao lado do antigo IBOPE, hoje GLOBOPE, do DATA FOLHA e do INSTITUTO SENSUS, sempre tiveram suas pesquisas eleitorais divulgadas pela rede, falo da GLOBO. Sábado o VOX POPULI divulgou sua última pesquisa sobre intenções de votos nas eleições presidenciais deste ano e mostrou a candidata Dilma Roussef com 38% dessas intenções, contra 35% do tucano José Arruda Serra.
Não saiu na GLOBO. Devem estar preparando a toque de caixa as duas próximas pesquisas do GLOBOPE e do DATAFOLHA, para tentar mostrar uma realidade diferente da realidade real digamos assim. Como fizeram quando o SENSUS mostrou empate técnico entre os dois principais candidatos.
Ibrahim Sued, extinto colunista social do jornal THE GLOBE, na versão brasileira O GLOBO, costumava dizer que “olho vivo, cavalo não desce escada”.
Num sei se desce ou não, vou prestar atenção nos antigos faroestes norte-americanos, é possível que num dos filmes de John Wayne, premido pelas necessidades, um deles tenha descido escadas, ou algo semelhante. Pelo menos desciam morros inclinados, daqueles que você acha quer o mocinho vai cair a qualquer momento, mas não, ainda dava um jeito de laçar o bandido, pois o cavalo do bandido, esse caia.
Mas que tem um trem nessa lei, isso tem. Está parecendo a LEI DA ANISTIA. Aquela que foi mostrada aos brasileiros como gesto de generosidade dos ditadores, da ditadura em relação àqueles que não se curvaram à boçalidade do regime e na prática, lá no fundo, protegia os militares torturadores, estupradores, assassinos, assim tipo Brilhante Ulstra, Torres de Mello e um monte deles.
É comum, muito comum, determinadas expressões sugerirem uma determinada direção e quando se percebe, o cano da espingarda é curvo e o tiro sai pela culatra.
Se essa gente que nominei acima está a favor da LEI DAS MÃOS LIMPAS é preciso urgente olhar a tal lei, o texto, vale dizer o que está explícito, mas principalmente o que está implícito, pois os caras podem estar sendo honestos por desonestidade para levar vantagem, como dizia o Zezinho que usava o sobrenome Andrada.
A propósito, acho que Washington Luís, ou o seu ministro da Agricultura, um ou outro foi o autor da frase, na década de 20, final dessa década, “ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”. O dilema diante dos Andradas é esse. Não há um lugar no serviço público onde não tenha um deles. Praga resistente a qualquer inseticida.
Se bobearmos as MÃOS LIMPAS podem estar chegando sujas, mas assim que nem a tal bebida láctea (putz! Que nome sô!) da NESTLÉ, uma das maiores empulhadoras do mundo dos negócios, chamada de ALPINO, sugerindo a presença líquida do bombom do mesmo nome e quando examinada à luz dos laboratórios não tem nada de ALPINO, só embromação.
E assim o sendo fica tudo do mesmo jeito, até José Arruda Serra, pilantra de má catadura, consegue ser candidato a presidente da República.
Já prestou atenção nos anúncios da indústria automobilística que dizem ser nacional, mas é toda estrangeira? Carros que duram a vida inteira, não dão problema, garantem contra todo e qualquer tipo de acidente, até... Até o anúncio que os compradores devem se dirigir às revendedoras para um recall (palavrinha importada para parecer espetáculo, show no mundo da tecnologia, mas encobre é defeito mesmo, porcaria mesmo)? A tal lei pode ser a maior concentração de germes e bactérias da república, vendida como aquele odorizador (é o fim da picada isso) que faz a moça sair da cabine do pedágio (especialidade de José Arruda Serra) e pular para dentro do seu carro?
É exatamente isso. O problema não é a moça e você, mas a moça e o odorizador, você é apenas detalhe, todos acabamos sendo nesse esquema.
*Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no "Estado de Minas" e no "Diário Mercantil". É colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?".
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