O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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Peço que, quem queira continuar acompanhando o meu trabalho, siga o novo blog.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Lulismo seduz América Latina, mas é difícil de copiar

Na imagem, Lula aparece ao lado de ex-presidente de Gana. Os dois foram laureados recentemente com um prestigiado prêmio internacional pela contribuição no combate à fome.
Abaixo, análise publicada pelo "Diário de S. Paulo" sobre a sedução do "Lulismo"

Foi uma peregrinação política que não surpreendeu ninguém. Poucos dias depois de ser eleito presidente do Peru, Ollanta Humala viajou ao Brasil para aprender mais a respeito do sucesso do país na última década, e também para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que inspirou o próprio Humala em sua trajetória da esquerda radical para o centro do espectro político.
A vitória eleitoral de Humala foi mais um sinal da propagação internacional da receita adotada por Lula, que mistura políticas de mercado e programas sociais para os pobres, e que é vista como responsável por transformar o Brasil em uma potência econômica. É o chamado Consenso de Brasília, ou simplesmente lulismo.
O ex-sindicalista estabeleceu uma invejável fórmula eleitoral ao conseguir impressionantes avanços no combate à pobreza durante seus oito anos no poder, mas sem desagradar os banqueiros de Wall Street, e elevando o Brasil e seu grande mercado à mesma estatura de potências emergentes como China e Índia.
Em 2009, o esquerdista Mauricio Funes conquistou a presidência de El Salvador à frente de um partido formado por ex-guerrilheiros marxistas, ao convencer suficientes eleitores de classe média de que ele se inspirava mais em Lula do que no venezuelano Hugo Chávez.
Na América do Sul, vários líderes trilharam o caminho do lulismo. O caso mais notável é o de José "Pepe" Mujica, ex-guerrilheiro eleito em 2009 para a presidência do Uruguai.
O paraguaio Fernando Lugo também se esquivou de copiar políticas esquerdistas mais radicais desde sua eleição, em 2008.
Hoje em dia, citar Lula como modelo é uma manobra política inteligente para qualquer candidato esquerdista latino-americano desejoso de afastar uma imagem de radical junto ao eleitorado.
"O Brasil é a estrela guia, a referência para muitos governos como um exemplo de sucesso", disse Michael Shifter, presidente da entidade Diálogo Interamericano, de Washington.
"Há vastas diferenças entre o Brasil e outros países latino-americanos, mas parece haver uma fórmula, um consenso que tem produzido resultados reais."
FALAR É FÁCIL
Mas copiar a fórmula lulista pode ser mais fácil na teoria do que na prática -- algo que Humala talvez perceba nos próximos meses.
Os dois mandatos de Lula -- que terminaram em 1o de janeiro, com a posse de sua apadrinhada Dilma Rousseff -- foram construídos com base em uma longa transição do PT até o centro do espectro político, de um "boom" no preço global das commodities e do carisma pessoal do próprio Lula.
Já a adesão de Humala às políticas de centro-esquerda é bem posterior, e seu partido não tem a mesma força institucional do PT. O Peru, que vem de governos anteriores de centro-direita, alinhados com países como Chile, Colômbia e México, tem um orçamento público pequeno, o que limita sua capacidade de ajudar populações carentes em áreas pobres e/ou rurais.
"Qualquer emulação enfrentará sérias limitações", disse Matias Spektor, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.
"Isto posto, o que Humala parece estar fazendo é perceber que há uma mensagem para os partidos progressistas na região, de que você precisa de estabilidade financeira com algum grau de redistribuição (de renda). Não se trata de as pessoas irem às ruas combaterem a velha elite, trata-se de uma redistribuição em níveis mínimos."
O próprio Lula saudou a vitória de Humala como um passo adiante para a esquerda progressista na América Latina, na qual ele incluiu o socialista Chávez e seus principais discípulos -- o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa.
LULA OU CHÁVEZ?
Mas há uma clara e tradicional divisão entre o chavismo, com seu estilo radical e de embate frontal contra os EUA, e o lulismo, mais moderado. E ultimamente este vem se sobrepondo àquele.
Nos países chavistas, a economia tem enfrentado dificuldades. A Venezuela tem sido incapaz de domar sua inflação na casa dos dois dígitos anuais, e seu crescimento econômico é oscilante. O setor privado encolheu, empresas nacionalizadas apresentam mau desempenho, e há frequente escassez de produtos básicos.
Chávez também vem perdendo o apoio entre cidadãos comuns da América Latina nos últimos anos por causa de políticas agressivas, como ao ameaçar o controle dos meios de comunicação, segundo Yehude Simon, um ex-esquerdista que atuou como primeiro-ministro no governo do conservador Alan García, atual presidente do Peru.
"O Chávez de 2006 não é nada em comparação ao Chávez de 2011. Ele cometeu uma série de erros", disse ele. "Chávez pode ser muito amistoso e charmoso, mas às vezes é muito autoritário."
No Peru, Humala aproveitou-se repetidamente de táticas eleitorais de Lula, chegando inclusive a contratar dois experientes quadros do PT - Luis Favre e Valdemir Garreta - para ajudar no comando da sua campanha.
Eles aconselharam Humala -- derrotado por uma estreita margem na eleição de 2006, quando apresentou uma plataforma ultranacionalista que assustou investidores -- a apresentar uma "carta ao povo peruano" em que se comprometia a combater a inflação e manter o equilíbrio fiscal.
Foi a mesma coisa que Lula fizera em 2002 na sua "Carta ao Povo Brasileiro", um marco na sua conversão da esquerda radical para o centro político, após três derrotas sucessivas na disputa para o Planalto.
Humala também se propõe a copiar outro pilar do lulismo, as políticas de distribuição de renda que, no Brasil, ajudaram a tirar milhões de pessoas da pobreza e a criar uma vibrante classe média.
INFLUÊNCIA CHINESA
O futuro presidente peruano propôs taxar os lucros das grandes mineradoras para financiar um fundo que ajude os peruanos pobres, que são um terço da população. Críticos dizem, no entanto, que esse modelo só irá funcionar enquanto o preço das matérias-primas continuar elevado.
"Humala vai precisar de muita habilidade para manter as empresas estrangeiras e peruanas investindo aqui, ao mesmo tempo em que gerencia as exigências das províncias por melhores programas sociais", disse Simon.
O Peru e outros países da região têm orçamentos federais muito menores que o do Brasil, o que limita a capacidade dos governos de copiar os enormes investimentos sociais da era Lula.
As economias desses países também são bem menos diversificadas que a do Brasil, tornando-se assim mais vulneráveis a choques econômicos causados por uma queda no preço das commodities, por exemplo. Num cenário desses, eles podem ter dificuldades para manter os mercados financeiros e seus cidadãos satisfeitos ao mesmo tempo.
E, afinal de contas, pode ser a China comunista -- já a principal parceira comercial do Brasil, e segunda maior do Peru -- que irá determinar o sucesso do lulismo dentro e fora do Brasil.
"Se a economia da China sofrer uma desaceleração, será um problema para Humala", disse Simon. "Grande parte da América Latina é dependente da China."

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Vídeo antológico: Globo chega à conclusão que Lula é Lula



O vídeo acima mostra uma retrospectiva, com imagens pinçadas do próprio noticiário da TV Globo. Mostra os erros dos 8 anos de governo Lula, mas prova que os acertos foram muito maiores. Ou seja, se a Globo quisesse fazer um noticiário fidedigno, ela faria com seu próprio material. Se você é do tipo que não acredita em manipulação midiática, apenas me responda: Por que a Globo não coloca essa retrospectiva no ar?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Oscar de Lula


Saiu no jornal "Valor Econômico" de hoje.


Quem foi João Ferrador?
“Com a aparência de um metalúrgico, João Ferrador foi uma ilustração criada em 1972 para apresentar as reivindicações da categoria na Tribuna. Ao driblar a censura que o regime militar impunha à imprensa, o personagem era o porta voz dos trabalhadores. As Cartas do João Ferrador, publicadas entre 1972 a 1980 e dirigidas ao governo militar, denunciavam as condições de vida e a exploração do trabalho.” (Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) 

Abaixo, segue um vídeo com um trecho do discurso dele:

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Buuu - Veríssimo responde brilhantemente quem tem medo do Lula

O texto abaixo, publicado hoje, é simplesmente a cara deste blog.




Buuu

Por Luis Fernando Verissimo – O Estado de S. Paulo
Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.
- É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior – tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.
v- A nova classe média nos descaracterizou?
- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada…
- Buuu para o Lula, então?
- Buuu para o Lula!
- E buuu para o Fernando Henrique?
- Buuu para o… Como, “buuu para o Fernando Henrique”?!
- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
- Sim. Não. Quer dizer…
- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
- Por quê?
- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
- Acho, mas…
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um cordel para a dita

Por Crispiniano Neto Dizem que a “dita” é a sorte
De um povo ou de uma pessoa,
Há “dita” ruim, “dita” boa,
“Dita” fraca ou “dita” forte,
“Dita” pra vida ou pra morte,
“Dita” suja e “dita” pura,
“Dita” clara e “dita” escura,
“Dita” maldita ou bendita,
Mas “dita” vira desdita
Na maldita DITAdura! Continue lendo 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mataram-me Albino Silva!

Por Raul Longo (*)
Houve época que tinha até me acostumado com a notícia, mas já não esperava que voltasse a acontecer. Pelo menos não aqui, no sul maravilha.
Pois foi aqui mesmo que me mataram na noite da última sexta-feira. Naquela que dizem ser a cidade mais civilizada do país.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Em vídeo recente, Lula fala sobre a Copa e deixa claro que a ausência no almoço com Obama foi questão de “simancol"

Bono Vox e “o destino” de Lula

Disse Bono Vox a Lula Você é nosso chefe! Nós temos 2 chefes. Nelson Mandela e (Desmond) Tutu, mas eles se aposentaram. Nós olhamos em volta e quem pode nos ajudar? Eu sugiro que o seu destino é pegar isso que você fez no Brasil e levar adiante. Eu tremo ao dizer isso, porque o senhor já poderia se aposentar, mas o senhor é um lutador e está pronto para a batalha. Continue lendo 

domingo, 17 de abril de 2011

“Por isso que ele é o cara” – Um cordel para Lula


Por Crispiniano Neto 
Lula ganhou, assumiu,
Começou a juntar caco,
Danou-se a tapar buraco
Levantando o que caiu…
Deu um basta nos desleixos
Botou o Brasil nos eixos
Apagou muita coivara
Provou de maneira incrível
Que outro Brasil é possível
Por isso que ele é o cara Continue lendo 

Cuba e a repórter da Folha: quem afunda?

Por Gilson Caroni Filho (*)
Alaine Gonzáles e Reinel Herrera são trabalhadores autônomos cubanos. Ambos foram escolhidos pela jornalista Flávia Marreiro, enviada especial da Folha de S. Paulo a Havana para cobrir o Congresso do Partido Comunista Cubano, como personagens errantes de uma economia em frangalhos. Seguindo um padrão de cobertura vigente há 50 anos, a repórter elabora um texto com pouca informação e direcionamento enviesado, não somente sobre o país, no sentido político e econômico, mas principalmente sobre o povo, sua história, sua cultura e seus hábitos. Clique aqui para continuar a ler.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

FHC e a “sociologia interesseira”

Por Máximo Lula é quem, de fato, consegue interpretar a massa difusa, desorganizada, sem, entretanto, mobilizá-la nos termos do populismo apenas pra garantir a própria condição de mediador privilegiado. O que o Lula fez, com o bolsa-família, o crédito popular, “minha casa, minha vida”, não só mobiliza e – mais do que organiza – dignifica a vida. FHC usa muito mal a sociologia. Continuar a ler 

Lula na Europa: críticas a FHC e elogios de Hobsbawm

Em visita a Londres nesta quinta-feira (14), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que afirmou que a oposição deveria esquecer o “povão”. “Sinceramente não sei como alguém estuda tanto e depois quer esquecer o povão. O povão é a razão de ser do Brasil. E do povão fazem parte a classe média, a classe rica, os mais pobres, porque todos são brasileiros.”, afirmou Lula, que, na quarta, se encontrou com Erick Hobsbawm, de quem recebeu elogios rasgados. Para o consagrado historiador britânico, Lula “ajudou a mudar o equilíbrio do mundo ao trazer os países em desenvolvimento para o centro das coisas” Continuar a ler 

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Brasil de Lula e o fatalismo dos fracos

Por Ruy Braga Parece-me que o debate sobre o lulismo necessita urgentemente de uma boa dose de reflexão a respeito do “fatalismo dos fracos” a fim de examinar laboriosa e, sobretudo, dialeticamente, o significado racional dessa tal “satisfação” (momentânea) manifestada nas últimas eleições pelo subproletariado brasileiro. Caso contrário, podemos muito bem ser atropelados pela, na expressão do comunista sardo, “atividade empreendedora” dos subalternos. Definitivamente, não seria a primeira vez na história da sociologia… Continuar a ler 

sábado, 9 de abril de 2011

Sobre a diferença entre democracia e liberdade

Texto que escrevi como apresentação pro meu novo site: “Quem tem medo da democracia?” - clique aqui para acessar

Por Ana Helena Tavares

Democracia é uma praça cheia de gente.
Pessoas de todos os sexos, etnias e credos, que, dentro dos limites de uma Constituição representativa, que cria parâmetros e norteia, não têm medo de expressar suas opiniões e, ainda assim, convivem em harmonia, tolerando pacificamente o contraditório.
Seja a Cinelândia, das passeatas com milhares, seja aquela pracinha de sua cidade interiorana. Lá na velha Athenas, foi assim que a palavra democracia foi criada: para ser abrigada num púlpito público, localizado no centro da pólis (denominação dada às antigas cidades gregas que deu origem ao nome política), cujo objetivo era dar voz a todos, sendo respeitada a vontade soberana da maioria. Vale o que mais de 50 por cento acham bom.
Esta vontade, muitas vezes, pode ir contra nossa vontade. Quem mora, por exemplo, num condomínio, sabe bem o que é não ser livre para alterar a fachada de sua varanda. Mas, ao coro dos insatisfeitos, resta contentar-se e conseguir convencer os outros de suas idéias. Dá trabalho, claro. Ser déspota é imensamente mais fácil, porque prosperar numa democracia requer gasto de saliva e talento para o diálogo - palavrinha mágica.
Quanto mais vemos os outros sofrerem, mais gostaríamos que o mundo fosse assim: pessoas dialogando em paz. É, por assim dizer, um ato solidário, conflitante com o ódio (de desapego a si e à sua vontade, quando esta perde). E disto só os tiranos opressores têm medo. E como o mundo está cheio deles! Há até aqueles que querem discursar nas praças de outros países...
Liberdade é uma estrada rumo ao infinito.
Quando este rumo é roubado, tudo parece cansaço. Mas a liberdade é um raio de sol, onde nos apegamos e nos refazemos. É um oásis alucinógeno que nos faz caminhar sedentamente até ele. Mas, se acaso lá chegássemos, e nos deparássemos com muitos lagos, viria de certo a forte dúvida: em qual beber?
Liberdade não tem norte e é conflitante com o amor.
Senão vejamos... Consta que John Lennon, autor da frase - "Amo a liberdade, por isso deixo tudo o que amo livre" - morria de ciúmes de Yoko Ono.  E o que é o ciúmes senão o medo de perder o que se ama? E como amar sem ter ciúmes? E o que é o amor senão um "prender-se por vontade"? Seja a alguém, a algo ou a uma terra, quem ama cuida e quem cuida cria laços, elos de uma corrente imaginária mais forte do que as físicas.
Mas liberdade é também ter o direito de escolher a quem ou a que se prender. O problema nas ditaduras é que quem escolhe isso não é nem você nem a maioria - é a minoria "iluminada" e embebida de ódio. Tiranos têm raiva da própria incompetência e temem a democracia porque sabem que não conseguiriam se destacar não fosse pela força. Seu medo é gerado pelo ódio.
E o ódio nada mais é do que uma vontade de ter "licença para matar" ou destruir. O agente secreto da rainha inglesa tinha, mas seguia ordens.
Liberdade é um faroeste sem xerife.
É, no fundo, uma utopia. Não creio que tenha havido na história da humanidade alguém totalmente livre de amarras afetivas e sociais. Até os mais libertários revolucionários não estão a salvo de influências externas. Nesse sentido, a busca pela liberdade talvez se configure numa desesperada tentativa de fuga. Às vezes, uma fuga de si mesmo.
Como se pudéssemos enganar nossas dores, a liberdade é um querer intenso, que, quanto mais sofremos, mais queremos. É, por assim dizer, um desejo solitário (de desapego ao magnetismo do que está à sua volta), pois dá asas a todas as vontades individuais, sem observar as dos outros (tantas vezes conflitantes) arcando com o caos que isto pode gerar.
E, por mais saciado que este desejo nos pareça, sempre desejaremos mais liberdade. Este é o desejo de todos os desejos: desejar mais e mais. Porque, se não houver o que desejarmos, que graça tem o mundo? Apenas tédio e inércia.
Mas o problema é: o que desejar? Muitos não sabem nem querem saber. A prisão, não a física, mas a mental é cômoda. Libertar-se é perigosíssimo. E disto todo ser humano tem medo.
Eu tenho. É o novo ao seu alcance. É o mergulho no desconhecido. É a anarquia. "Graças a Deus", diria Zélia Gatai, uma anarquista de carteirinha que passou a vida defendendo a democracia. E que lindo era o amor dela pelo nosso Amado.
Sim, é preciso amar para ser democrata, mas a liberdade plena, como utopia que é, conflita tanto com o amor como com o ódio.
Senão vejamos... O ódio, expresso em palavras ou atos, num regime (verdadeiramente) democrático, te levará à cadeia; num mundo livre (caso existisse) te levaria a ser morto. É a (falta de) lei da selva.
O amor num mundo livre? Só quando a humanidade for reinventada.
Sugestão? Ame numa democracia.

Ana Helena Tavares

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Eu odeio esta escola

Por José Ribamar Bessa Freire* (escrito em 2007 sobre os EUA, qualquer semelhança com o Brasil de 2011 é mera coincidência, ou não...)
Era apenas um menino, de 14 anos, solitário e triste. Cursava a nona série numa escola de Ohio, nos Estados Unidos. Quase ninguém o chamava pelo seu nome de batismo: Asa H. Coon. Como mancava de uma perna, era mais conhecido por um apelido cruel, algo assim como “Deixa-que-eu-chuto”. Nessa quarta-feira, 10 de outubro, entrou na escola com dois revólveres, um em cada mão, como um caubói disposto a se fazer respeitar no faroeste. Fez muitos disparos. Feriu quatro pessoas. Depois, se suicidou.

Foi preciso morrer para conquistar outro apelido: “Deixa-que-eu-atiro”.

No dia seguinte, longe dali, em Filadélfia, Pensilvânia, outro adolescente, também de 14 anos, foi preso. A polícia, após descobrir que ele acessava um site na internet com instruções para fabricar bombas, encontrou em sua casa um arsenal com pistolas automáticas e granadas. O menino estava preparando um ataque à escola, de onde havia fugido para evitar humilhações. Queria se vingar da crueldade dos colegas, que o chamavam de ‘Baleia Prenha’, por causa de sua extrema obesidade.

A violência nas escolas americanas já fez dezenas de vítimas, desde a tragédia de Columbine, em 1999, quando treze pessoas foram assassinadas. Há seis meses, em abril, foi um sul-coreano que matou 32 estudantes na Universidade Virginia Tech, e deixou um manifesto se queixando das afrontas recebidas porque pertencia a uma ‘cultura estranha’ e falava uma língua diferente. Em outubro do ano passado, cinco meninas foram assassinadas numa escola religiosa anabatista, na Pensilvânia. Um mês antes, um menino de 15 anos, matou o diretor de seu colégio, em Wisconsin. E por aí vai.

A Polícia descobriu a pólvora e a roda, quando classificou os autores dessa violência como “portadores de problemas emocionais e psicológicos”. Tal juízo foi feito muito tarde e pela instituição errada. Trata-se não de um diagnóstico médico, mas de um laudo policial preconceituoso, elaborado a posteriori, que olha hoje o ‘desequilibrado’, como no passado se olhava o leproso. Ele é visto como um inimigo da sociedade, que deve ser isolado e punido, e não como alguém que precisa de tratamento.

Ohio que o parta

Afinal, o que está acontecendo? Por que meninos usam a escola como palco de ações homicidas? O que estão querendo nos dizer quando se suicidam, depois de matar e ferir colegas e professores? A gente não consegue entender o recado que nem eles mesmos desconfiam que estão mandando. Talvez fossem compreendidos se escrevessem um conto ou poema, pintassem um quadro, compusessem uma música. Mas usaram a linguagem das balas, predominante hoje nos EUA e na ocupação americana do Iraque. Quem sabe George Bush pode nos traduzir, pois essa parece ser a sua língua materna, digo paterna.

O menino de Ohio entrou na escola mancando, com duas armas, como John Wayne num filme de bang-bang ou como um soldado americano no Iraque. Estava vestido todo de preto: casaco, camisa Marilyn Manson e jeans, as unhas pintadas com esmalte escuro e o pescoço cheio de cadeias estilo gótico. O primeiro disparo atingiu um colega de turma, que o havia esbofeteado após uma discussão sobre a existência de Deus. Depois, feriu outro colega e dois professores. No meio da confusão, berrou, antes de se suicidar: “EU ODEIO ESTA ESCOLA”.

Esse grito fere a nós, professores, talvez tão profundamente quanto as balas, porque evidencia nosso fracasso. A instituição na qual acreditamos, longe de ser um lugar de reflexão, de liberdade e de convivência amistosa, torna-se um espaço insuportável de opressão e de negação da alteridade. A escola que pretende uniformizar as pessoas – e a farda é apenas um símbolo disso – revela que está despreparada para lidar com a diferença. Não ensina as regras de conviver com quem é diferente. O pernetinha, o surdo, o gordão, o cara de olho puxado, o índio, o caboco e o negro são estigmatizados.

A escola, como regra geral, não educa para a diferença em nenhum país. Acontece que ela dialoga sempre com a sociedade que a abriga. Nos EUA, num sistema extremamente competitivo, a escola ‘prepara’ os alunos para serem ‘winners’ (vencedores). Não há lugar para ‘losers’ (perdedores). Os fracassados são esmagados. Há ainda um agravante: a facilidade com que até um ‘loser’ pode comprar uma arma, o que possibilita que se faça, em escala menor, aquilo que Bush faz no Iraque em proporções gigantescas, assassinando milhares de pessoas.

Sociedade-caveirão

Quem está doente não é o “Deixa-que-eu-chuto” ou o ‘Baleia Prenha’. Doente é a relação deles com a sociedade através da escola. É essa relação enferma, produto da sociedade-caveirão, que deve ser tratada. Esses conflitos em instituições de ensino dos EUA nos permitem refletir sobre o modelo de escola e o papel do professor, bem como discutir o tipo de violência que acontece num país complexo como o Brasil. Um fato ocorrido recentemente no Rio de Janeiro pode servir de ilustração.

Uma professora carioca decidiu fazer um curso universitário depois de se aposentar. Hoje ela é minha aluna na UERJ. Contou, em sala de aula, um assalto que sofreu dentro de um ônibus, na Avenida Brasil, quando voltava pra sua casa, na Baixada Fluminense. Numa parada, entraram quatro jovens. Um deles, que parecia ser o chefe, botou um revólver na cabeça do trocador e gritou: “isso é um assalto”. Um segundo menino, também com uma arma na mão, ficou apontando pro motorista, enquanto os outros dois recolhiam, numa sacola, dinheiro, celulares e jóias dos passageiros.

Quando já não havia mais o que roubar, o chefe do grupo deu ordem pro motorista parar. Mas no momento de descer, a professora aposentada o identificou como seu ex-aluno no ensino fundamental. Não se conteve e deu um grito dolorido: “Vandernilson, que decepção! Tanto trabalho pra nada!”. Provavelmente, ela era a única pessoa, além da mãe, que o chamava pelo nome de batismo. ‘Pereba’, assim ele era conhecido, ordenou aos seus parceiros: ‘Sujou! Sujou! Devolve tudo’.

Enquanto o ônibus prosseguia no seu itinerário, eles iam devolvendo os pertences de cada um. Depois, Vandernilson, o Pereba, bastante constrangido, pediu desculpas à sua ex-professora e desceu provavelmente para assaltar outro ônibus. Os passageiros aplaudiram a mestra, cujo aluno podia até não gostar da escola, mas que ainda nutria afeto e respeito por uma de suas professoras.

Na véspera do Dia do Professor, homenageamos todos os mestres que procuram respeitar a diferença. Entre eles, alguns do Instituto de Educação do Amazonas e do Ginásio Amazonense na década de 1960, que compartilharam com seus alunos o que tinham de melhor: Orígenes Martins, Carlos Eduardo Gonçalves, Mercedes Ponce de León, Nathércia Menezes, Hilda Tribuzzi, José Braga, Isis Falcone, Garcitylzo Silva, Lurdinha Telles, Stélio Lobato, Afonso Nina, Manoel Otávio, Farias de Carvalho e tantos outros, que merecem a gratidão perene de seus ex-alunos.

*José Ribamar Bessa Freire é antropólogo, natural de Manaus e assina no “Diário do Amazonas” coluna semanal tida como uma das mais lidas da região norte.Reside no Rio de Janeiro há mais de 20 anos e é professor da UERJ, onde coordena o programa “Pró-Índio”. Mantém o blogTaqui Pra Tie é colaborador do blog "Quem tem medo do Lula?"
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