O MEDO QUE A ELITE TEM DO POVO É MOSTRADO AQUI

A Universidade de Coimbra justificou da seguinte maneira o título de Doutor Honoris Causa ao cidadão Lula da Silva: “a política transporta positividade e com positividade deve ser exercida. Da poesia para o filósofo, do filósofo para o povo. Do povo para o homem do povo: Lula da Silva”

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Peço que, quem queira continuar acompanhando o meu trabalho, siga o novo blog.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Lech & Lula – do eletricista ao torneiro, o choque que moldou ideologias



Por Raul Longo(*)
Lá pro final do governo Lula distribui pela internet um texto (O Legado do Cara), onde abri comentando que desde Spartacus, nos anos 60 a. C., muitas lideranças populares de ambos os sexos fizeram por merecer o reconhecimento da humanidade, mas poucas foram tão distinguidas quanto o torneiro mecânico Lula da Silva.
Pra quê? Um tal de Marcus ou Marco Gutermann do blog do Estadão, entendeu ou quis entender que eu estaria comparando Lula a Spártakos (em grego) ou Spartacus (em latim) que o Gut aportuguesou para Espártaco (quando não em inglês, eles aportuguesam para facilitar aos seus ledores).
Daí foi uma borbulhante feira de indignações. Os ledores (leitor é classificação que não convém ao caso) do Estadão, boquiabertos, buscando fôlego ao que entenderam como uma comparação de Lula da Silva ao escravo romano da Trácia (atual Bulgária).
Peixes fora d’água! Se eu quisesse comparar Lula a algum herói das lutas populares, não iria buscar nos Balcãs e evocava mesmo era o Zumbi dos Palmares, ali de Alagoas, ao lado de Pernambuco. Só me referi ao Spartacus por ser o mais antigo líder popular de que tenho memória.
Os ledores do Estadão sempre foram assim mesmo: eruditos! Se chamar de puta, se ofendem. Mas chamou de messalina, ficam coquetes e oferecem o número do telefone.
Já pra quem é leitor de fato, não preciso nem explicar que liderança popular sequer precisa ser de esquerda, posto que as de direita também há. E deixa o blog atrasado do Estadão pra lá. Atrasado não de anacrônico, mas porque antigo, lá do ano passado. Embora desde antes do ano passado Lula já fosse uma das mais distinguidas lideranças populares da história da humanidade, querendo o Marcus Gutemberg e Guarabyra, ou não.
Hoje Lula sem dúvida alguma, é a mais citada, falada, documentada, honrada e premiada personalidade política, pra desespero do aquário.
E se for olhar no aquário do Estadão daqui a alguns dias, estará lá os bichinhos de guelras inchadas pelo título deste texto propondo comparação de Lula com o único líder popular da história que eles aplaudem depois do Spartacus. Walesa pelo que entendem de ideologia, o trácio pelo que creem por erudição. Já o brasileiro, nem debaixo d’água!
É uma calamidade, coitadinhos! O mundo capitalista se inundando de Lula e esses alevinos brasileiros no seco do abandono pelo cardume buscando em Lula o canal por onde sair do encalhe.
Que situação! Não bastasse os 96% de aprovação dos brasileiros e ainda vem o pessoal do Conselho de Davos a conferir ao homem o título de Estadista Global! Já aí o Estadão se confirmou estadinho, mas o Gut ainda insistiu ao me reprender pelo Spartacus que seria cedo para julgar se a herança lulista era bendita ou maldita.
Cedo pro Gutinho, porque Lula já era mais que bem agraciado por título honores causa do que se poderia ter imaginado cinco anos antes. Depois do Instituto Sciences, uma entidade da Sourbone, ficou ainda mais evidenciado que em menos de uma década a direita brasileira ficou mais de século atrás da direita do restante do mundo.
Marcel Proust foi um dos raros homenageados por este título que ao longo dos 140 anos de existência do Sciences só foi entregue a 16 personalidades internacionais, sendo a última e única da América Latina o brasileiro Luís Ignácio Lula da Silva. E o Guto preocupado com que eu esteja comparando Lula a Spartacus!
Esses caras não perderam… Eles despencaram do trem da história!
Quem mandou surfar onde não deve? Ora vejam! Eu é que moro no fim do mundo e o Mauricinho Gutterman é quem banca o suburbano.
E podis crê que vai pegar o bonde errado outra vez, assim que souber que falei do Lula e do Walesa. Mas a culpa não é minha! É do próprio Lech Walesa que ao entregar o prêmio “Lech Walesa” pro Luís Ignácio Lula da Silva pediu desculpas e deu explicações pelas críticas que fez ao colega brasileiro no passado, aquelas mesmas em que O Estadão insiste, apesar de — que eu saiba — só em setembro o mundo ter distinguido Lula com três grandes honrarias.
A última de que tive notícia foi em Iowa, nos Estados Unidos, mas teve a do eletricista de Gdansk que deu um choque na ideologia socialista nos anos 80.
Se O Estado de São Paulo me permiti, Lech Walesa possibilita interessante comparação com Lula e não apenas por ambos terem sido líderes da classe trabalhadora e presidentes de seus países, mas pela trajetória de cada um dentro do histórico das sociedades a que pertencem.
Durante 123 anos a Polônia foi dividida entre a antiga Prússia, a Rússia e a Áustria, se tornando independente em 1918. 21 anos depois, em 1939, foi invadida pelos nazistas e depois da Segunda Guerra ali se instalou um dos mais cerrados governos aos moldes soviéticos.
Em 1980 Lech Walesa liderou o movimento grevista considerado precursor da queda do regime soviético não apenas na Polônia, mas em todo o leste europeu. Aclamado como herói no Ocidente (inclusive pelo Estadão) e sobretudo na Polônia, recebeu o insofismável apoio do patrício e Papa Carol Wojtyla; além do Prêmio Nobel da Paz em 1983. Em 1990 foi eleito o primeiro presidente da história da Polônia, com ampla maioria de votos.
Apesar de todo esse embasamento, Walesa não conseguiu se reeleger em 95 e nas eleições do ano 2000 obteve apenas 1% dos votos. Em 2006 rompeu com o Solidariedade, o sindicato que havia criado.
Como presidente do sindicato de metalúrgicos de São Bernardo do Campo, em 1977 Lula liderou movimento grevista por reposição salarial. Em 1980 fundou o Partido dos Trabalhadores e em Diadema organizou o 1º comício pela redemocratização do país. O movimento se estendeu pelo ABC paulista, mas sem adesão de convidados de outros partidos políticos.
Por fim, em 83 o Senador Teotônio Vilela lança o Movimento das Diretas Já por um programa da TV Bandeirantes e com a participação de todos os partidos de oposição as manifestações se espalharam pelo país ao longo de 2 anos, finalizando com uma passeata no centro de São Paulo que se constituiu na maior manifestação pública da história do país: hum milhão e meio de participantes.
No entanto, os oposicionistas acordaram com os militares mais uma eleição indireta. O PT absteve-se de participar desta eleição e somente em 1989, quando depois de 25 anos o povo brasileiro pôde voltar a escolher seu presidente, Lula concorre com um político que apesar de desconhecido em pouco mais de um ano foi transformado pela mídia brasileira em mítico caçador de marajás.
Dois anos depois o caçador é cassado por um impeachment e, substituindo-o no cargo, Itamar Franco indica o sociólogo Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Economia. A mesma equipe que já formulara anteriores planos econômicos para o Brasil e a Argentina cria nova moeda congelando o câmbio e os salários. Dessa forma se obteve imediato controle da inflação que, então, era o mais agudo problema da economia popular. O entusiasmo pelo Real garantiu a vitória de Fernando Henrique sobre Lula em 1994 e o efeito se manteve em 1998, após a emenda constitucional que possibilitou sua reeleição.
Neste segundo mandato do que se chamou de “Era FHC” o custo do Real foi cobrado em privatização de grandes empresas estatais e serviços estratégicos. Reflexos de crises financeiras de países de outros continentes agravaram a fragilidade econômica do Brasil e se deu uma triplicação da dívida externa. O país estagnou e os níveis de desemprego cavaram profunda crise social. Fatores que garantiram a vitória de Lula em 2002, por reduzida margem de votos acima do candidato de Fernando Henrique: José Serra.
Apesar de desde a campanha de 1989 o ex metalúrgico ser apontado como anacrônico trânsfuga do regime soviético, “ralé e besta quadrada que se chegar ao poder o país vai virar uma grande bosta” (Paulo Francis); indicado como racista que abandonou a própria filha (Miriam Cordeiro); e seu partido, o PT, ser responsabilizado pelo sequestro do empresário Abílio Diniz (Pão de Açúcar), entre centenas de outras acusações; ao longo dos primeiros 4 anos de seu governo se conseguiu intensificar e rebaixar ainda mais o nível dessas críticas. Se propôs impeachment, se o acusou de bêbado, apedeuto, anta (Diogo Mainardi) e se o ameaçou de tapas na cara em plenário do Senado (Arthur Virgílio) e da Câmera Federal (Antônio Carlos Magalhães Neto).
No entanto, apesar da maior concentração de esforços dos meios de comunicação para a derrubada de um presidente de que já teve notícia no mundo, Lula foi reeleito em 2006 e desde aí seu nome atingiu projeção internacional entre as mais diversas correntes ideológicas. Apontado por Barack Obama como o mais popular presidente entre as nações, Lula terminou seu segundo mandato com 96% de aprovação, elegendo sua sucessora, também vitimada pelo mesmo teor de acusações e ofensas pessoais.
Ao contrário do previsto em 1989 pelo então presidente da maior entidade patronal brasileira, a FIESP, Lula não espantou os empresários do país. Apesar de se assumir como socialista desde o início de sua militância política, hoje é o conferencista mais bem pago e mais convidado pelas maiores empresas do mundo.
Exatamente no socialismo de Lula o ex-líder de Gdansk baseou suas desculpas pelas críticas do passado, lembrando que, então, a Polônia buscava uma saída ao socialismo proposto pelo líder do ABC paulista, mas que hoje entende que o modelo de socialismo de Lula é bem outro do o que se impôs àquela nação.
Ou seja, se os ledores do blog do O Estado de São Paulo pretendem continuar chocados, que o fiquem com o Walesa. Mas se querem saber quem tem andado por aí, da África à Europa e América do Norte, dando sugestões para se moldar o ocidente e todo um mundo melhor, que se tornem leitores e busquem por outras fontes de informações porque eu não tenho nada a ver com isso.
Só gosto de me divertir um pouquinho como os Gutos da mídia brasileira.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Lula no World Food Prize: “Democracia não é apenas gritar que tá com fome, democracia é comer”

Lula recebeu o prêmio em Iowa (EUA), junto ao ex-presidente de Gana, John Agyekum Kufuor.O ex-presidente Lula recebeu na noite desta quinta-feira (13) o prêmio internacional World Food Prize, um reconhecimento aos esforços do seu governo no combate à fome e à pobreza no Brasil. Além do título deste post, destaco dois trechos do discurso:
-  "Lutar pela vida e não pela morte. Porque a fome é a arma de destruição de massas mais poderosa e mais perigosa que qualquer outra arma no mundo. A fome mata crianças. Esta é a guerra que os governantes de todos os países deveriam declarar."
- "A fome não leva à revolução, mas à submissão"

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Reação provinciana às condecorações de Lula

Por Paulo Moreira Leite*, em sua coluna "Vamos combinar", na revista "Época"
Confesso que o esforço de determinados políticos, observadores e acadêmicos para reclamar das condecorações internacionais recebidas por Luiz Inácio Lula da Silva já passou o limite da boa educação, do bom gosto e até do ridículo.
Lula recebeu sua mais nova condecoração há duas semanas em Paris. Até hoje a imprensa continua publicando textos que procuram convencer o leitor, basicamente, do seguinte: os pobres intelectuais do mundo desenvolvido são tão despreparados, tão ignorantes e tão incultos, que não sabem quem é Lula, nunca ouviram falar das mazelas de seu governo e só por isso insistem em lhe dar títulos honorários.
Num artigo publicado no Estadão, hoje, um professor do interior de Minas Gerais tenta convencer o público que os intelectuais europeus estão confundindo Lula com a reencarnação do “bom selvagem,” aquele mito da obra de Jean-Jaques Rousseau.
É até preconceituoso, quando se recorda que o “bom selvagem” não tinha um conteúdo de classe social, mas era uma referencia a civilizações consideradas primitivas pelo pensamento colonial europeu.
É preciso apostar alto na ignorancia do leitor para imaginar que ele vai acreditar que os intelectuais dos países desenvolvidos vivem na Idade da Pedra, sem internet e sem uma imprensa de qualidade, que nos últimos anos tem feito reportagens extensas e profundas sobre o Brasil.
Posturas deste tipo são apenas mesquinhas e provincianas.
Mesquinhas, porque envolvem interesses menores e inconfessáveis, frequentemente eleitorais, apenas disfarçados por um palavrório de tom indignado.
Provincianas, porque a condecoração de um presidente da Republica por instituições respeitadas, como a Ecole de Sciencies Politiques, de Paris, que, com afetada intimidade, alguns comentaristas chamam de Siencies Po, deveria ser motivo de orgulho para qualquer brasileiro.
Outro ponto é que o aplauso acadêmico internacional pelas realizações do governo Lula contém um ensinamento importante para um pais desigual e hierarquizado, onde a boa educação só é acessível a uma minoria.
Estou falando de um preconceito antigo e mal disfarçado contra brasileiros e brasileiras que não puderam frequentar a escola como se deve, na idade em que seria preciso, não tem o domínio perfeito da língua, não respeitam normas cultas, cometem erros de concordancia e exibem um vocabulário muitas vezes limitado.
Com frequencia, essas pessoas costumam ser tratados como cidadãos de segunda classe, pré-destinados a ocupações inferiores e que nada devem fazer além de ganhar a vida em atividades braçais.
Ao premiar um presidente que teve pouca educação formal, mas foi capaz de obter um reconhecimento popular como nenhum outro na história recente do país, as universidades estrangeiras informam que é recomendável enxergar além do estererótipo.
Talvez por isso as condecorações irritem tanto a tantos. O reconhecimento é uma advertencia contra aqueles que valorizam demais os diplomas que conseguiram pendurar na parede. Não faltam motivos concretos para se fazer uma crítica política a Lula e a seu governo. Todo cidadão bem informado tem sua lista de críticas e sua análise.
Mas o esforço para criticar as condecorações internacionais é esforço inglório.
Nem os brasileiros foram convencidos por estes argumentos, como se viu na campanha presidencial e também pelas pesquisas de opinião, que sugerem que Lula está próximo do nível da santificação junto ao eleitorado. Vencidos em casa, seus adversários querem ganhar a eleição no exterior. Além de feia, é uma batalha perdida.
*Paulo Moreira Leite é jornalista desde os 17 anos. Foi diretor de redação de ÉPOCA e do Diário de S. Paulo. Foi redator chefe da Veja, correspondente em Paris e em Washington.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Globo derrota Lula

Por Raul Longo (*)

Todo mundo sabe que a primeira vitória da Globo sobre Lula se deu em 1989, quando a emissora elegeu “O Caçador de Marajás”. Então a Globo ganhou e o Brasil perdeu, tal qual se confirmou 2 anos depois.
Dr. Roberto Marinho explicou à uma reportagem da BBC que ele elegeu Fernando Collor de Melo quando quis e o tirou quando quis. Qualquer semelhança com os grandes chefes da Máfia e outras entidades do crime organizado internacional, não é mera coincidência. Apenas questão de estilo.
E mantendo seu estilo e padrão – o então consagrado Padrão Global – em 1994 a Globo mais uma vez derrotou Lula, conquistando a Presidência da República através de outro Fernando. O Henrique Cardoso. Daquela vez o Brasil parou a inflação.
Inflação que a própria Globo criou em seus governos anteriores quando, através dos militares, construiu a maior hidroelétrica do mundo para as multinacionais não terem problemas de fornecimento de energia, paga pelo brasileiro através da escalada das tarifas da prestação do serviços. Depois de Itaipú, a Ponte Rio Niterói e a Transamazônica as mais portentosas obras das 2 décadas de ditadura e uns quantos mortos, desaparecidos e mutilados pelas torturas.
Seria ingratidão não lembrar que teve também uns kms. de Metrô no Rio e em São Paulo que ainda é considerada como a mais desassistida por este serviço entre as grandes capitais do mundo. Pois com essas e algumas outras, os governos da Globo durante e pós ditadura militar promoveram uma das maiores inflações do planeta.
Mas é como no dizer do Dr. Roberto: o que a Globo põe a Globo tira. Ou para. E parou a inflação para derrotar Lula pela segunda vez.
Parou a inflação e o país todo. Só não parou o índice de desemprego. Esse não parava de subir.
Mas as máquinas pararam, os salários pararam, a infraestrutura parou. Parou tudo!
Só que, então, o que importava é que a inflação parasse e assim a Globo derrotar Lula pela 3ª vez, novamente com o mesmo Fernando, o Henrique Cardoso.
No 1º Fernando com que a Globo ganhou do Lula, o Brasil perdeu. No 2ª Fernando com que a Globo ganhou do Lula, o Brasil parou. E na 3º Fernando com que a Globo ganhou do Lula, o Brasil parou e perdeu ao mesmo tempo.
A praga é dos Fernandos ou da Globo?
Mas é preciso retocar porque parar, na verdade a partir de 98 o país não parou, porque para parar precisaria estar em movimento. Como já vinha quase parando em anteriores governos da Globo e estancou de vez no 2º Fernando, não é que parou. Apenas continuou parado.
Agora, perder perdeu muito! Nunca, em nenhum dos tantos governos da Globo, desde lá o início da ditadura militar, o Brasil perdeu tanto! E olha que nos governos da Globo, o Brasil foi das nações que mais perdeu pros especuladores internacionais em todo o planeta. Mas na fase FHC da governança da Globo, o país perdeu até as calças!
E não é força de expressão, não! Pra fazer ideia é só lembrar que o chanceler (o mais alto representante de uma nação junto às demais) Celso Lafer teve de se submeter à revista no aeroporto internacional de Nova Iorque e o mandaram tirar os sapatos. E tirou!
Meu! Quando um chanceler de um país tem de tirar sapato para pisar num aeroporto tão internacional quanto o de Nova Iorque, cidade sede da Organização das Nações Unidas; é porque o país está mais sem dono do que fiofó de bêbado! Depois dessa não tinha mais o que o Brasil perder.
Pra quem não tem mais o que perder, só resta ganhar, não é mesmo? Pois foi só então, em 2002, que Lula ganhou da Globo. E aí o Brasil ganhou o resgate da dignidade e da imagem internacional.
Começou a ganhar no dia em que o novo Chanceler, o Celso Amorim, bateu o pé e não tirou o sapato. Os americanos ficaram muito brabos e pra se vingar criaram mil empecilhos para todos os brasileiros que passavam por aquele país. Aí não teve dúvida, criou-se empecilho para os cidadãos norte-americanos em nossos aeroportos também. E desde então o Brasil começou a ganhar respeito no mundo.
A Globo não gostou nada disso! Reclamou, esbravejou, rugiu, runhiu e reuniu a cambada toda e se não vai por bem vai por mal. Tentou derrotar Lula a 4ª vez, com o impeachment pelo mensalão do Roberto Jefferson.
Lula peitou, foram pro braço de ferro. De um lado os Marinho e todas as demais famiglias reunidas num esforço de execução e extermínio (racial, segundo Jorge Bornhausen) de fazer inveja a qualquer Al Capone. Do outro, um pernambucano, ex-pau de arara, ex engraxate, ex torneiro mecânico, ex líder sindical e, enfim, Presidente do Brasil inteiro.
Pois não é que o cabeça chata ganhou? Ganhou gente! A Globo pôs general, pôs sócio em transmissão de imagens de TV, pôs playboy, pôs poliglota; e não conseguiu tirar o Lula, perdendo pela segunda vez!
Mas como essa foi uma derrota extra, não oficial, nem vamos contar. Faz de conta que não teve! Até porque o próprio Roberto Jefferson já confessou pro STF que aquela história de mensalão era tudo mentirinha. E já que o impeachment não deu certo, não tem mais sentido ficar discutindo mentira que o próprio mentiroso desmentiu. Vamos ser humanos, compreensivos e nada de tripudiar da Globo.
Inclusive porque até ali, à mentira do mensalão, o Brasil também já tinha ganho um monte com o pagamento da dívida externa. Aliás, só o Brasil não, também os netos de todos os brasileiros que, segundo diziam, já nasceriam devendo. Muito gente não queria nem ter filho para evitar ser avô de caloteiro internacional. Hoje, com a derrota da Globo pro Lula, desse risco já não se corre mais.
No entanto, nem por isso o padrão Global mudou e continuou no mesmo estilo, só que ainda assim em 2006 a Globo perdeu pro Lula outra vez.
E o Brasil ganhou aumento de salário, de oportunidades de emprego, vagas em universidades, abertura política, plena liberdade real de expressão, diminuição de injustiça e de miséria. Virou país importante de economia forte. Saiu dos índices das calamidades e descalabros sociais e entrou no meio das lideranças regionais, hemisféricas e até globais.
Se há aí algum exagero, não é meu, mas sim do Conselho de Davos, na Suíça, que é dos mais, se não o mais conceituado do mundo capitalista. Pois foram eles que deram ao Lula o título de Estadista Global.
Nunca houve disso nem nunca vi nada igual. Presidente do Brasil quando era chamado no exterior era pra prestar conta de dívidas. Todos os presidentes dos governos da Globo que viajaram para o exterior ou iam pra tomar empréstimo ou pra pedir prorrogação de pagamento. De repente o mundo se bota contra a Globo e chama o Lula pra Doutor Honoris disso, Estadista daquilo, Líder de não sei o quê.
Claro que isso foi irritando, dando nervoso, deixando o Merval Pereira, o Arnaldo Jabor, as Meninas do Jô, a Miriam Leitão, o Sardemberg, o hipotético Ali Kamel e muitos outros da Globo e demais famiglias numa situação de péssimo hálito. Ninguém mais conseguia dormir sossegado e a expectativa de que os Marinhos tomassem uma atitude era muito grande!
Pois hoje tomou. Quem assistiu o Jornal Nacional viu que hoje a Globo tomou uma atitude inequívoca! Enfrentou Lula e ganhou mais uma vez.
E bem no dia em que o Lula recebeu uma das mais importantes e raras honrarias do mundo. Pra ter ideia, essa honraria é concedida hà mais de um século, mas só 15 personalidades internacionais a mereceram antes do Lula.
Então vejam que não é pouca coisa, não! Mas a Globo peitou, foi lá e deu uma nota rápida dizendo que Lula é o primeiro latino americano a receber o título de Doutor Honoris Causa da Sciences Po de Paris. E pronto! Matou o assunto.
Matou o assunto e já chamou pro grande prêmio que a Globo recebeu pela ocupação do Complexo do Alemão. A chamada criou a expectativa pro próximo bloco e o próximo bloco, inteiro, do noticiário da Globo, foi sobre qual notícia?
A Globo!
Sim! A Globo foi a grande notícia da Globo! Discorreu sobre todos seus prêmios como melhor TV do mundo das TVs, mas no centro da questão de tamanha relevância, a maior obra da Globo nos últimos tempos: a ocupação do Complexo do Alemão.
Quem até hoje pensava que aquela ocupação foi obra do governo do estado do Rio de Janeiro, ou de ação conjunta entre Exército e Polícia com apoio da população do Complexo, hoje viu que não é nada disso. Foi a Globo! A Globo quem ocupou o Complexo do Alemão para vingar a morte de seu primeiro combatente caído nessa guerra. Para vingar o Tim Lopes, a Globo foi lá e fez o que fez e isso de UPP não quer dizer nada, porque o certo mesmo é OG – Organizações Globo.
Agora, se você é um desses que não suporta ver a Globo sair vitoriosa e está mais preocupado com coisas supérfluas, premiozinhos de obá-obá pra promover jogadas de marketing, merchandising, show bussines, coisa e loisa; então deixo aí os agradecimentos o Presidente ao título de Doutro Honoris Causa da tal Sciences Po.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do "Quem tem medo da democracia?", onde mantém a coluna "Pouso Longo".
Discurso de Luiz Inácio Lula da Silva - Doutor Honoris Causa – Sciences Po - Paris, França - 27 de setembro de 2011
Minhas amigas e meus amigos,
É uma grande honra, para mim, receber o título de Doutor Honoris Causa do Instituto de Ciências Políticas de Paris. Honra que se torna ainda maior por eu ser o primeiro latino-americano a recebê-lo.
Estou profundamente grato à direção da Sciences Po e a todos os seus professores, funcionários e alunos por me conferirem uma láurea tão prestigiosa.
Esta casa, a um só tempo humanística e científica, é reconhecida e admirada no mundo todo por seus elevados propósitos e pela excelência do seu corpo docente e discente.
É uma instituição que representa de modo exemplar o compromisso da França com a liberdade intelectual, a dignidade da política e o aperfeiçoamento permanente da democracia.
Representa essa França consciente de suas conquistas materiais e espirituais, ciosa de seus valores civilizatórios, mas nem por isso menos aberta a povos e mentalidades diferentes, à compreensão do outro.
Essa França insubmissa e libertária que, durante séculos, inspirou – e continua, de alguma forma, inspirando – a trajetória de muitos países, entre eles o Brasil.
Essa França que, desde o século 18 até os dias atuais, é tão relevante para o Brasil, seja no terreno das ideias políticas e sociais, seja na esfera da educação e da cultura, seja no que se refere às parcerias produtivas e tecnológicas.
Minhas amigas e meus amigos,
Mais do que um reconhecimento pessoal, acredito que este título de Doutor Honoris Causa é uma homenagem ao povo brasileiro, que nos últimos anos vem realizando, de modo pacífico e democrático, uma verdadeira revolução econômica e social, dando um enorme salto histórico rumo à prosperidade e à justiça. Depois de prolongada estagnação, o Brasil voltou a crescer de modo vigoroso e continuado, gerando empregos, distribuindo renda e promovendo inclusão social.
Deixamos para trás um passado de frustrações e ceticismo. Os brasileiros e as brasileiras voltaram a acreditar em si mesmos e na sua capacidade de resolver problemas e superar obstáculos, por mais difíceis que sejam.
Graças a um novo projeto de desenvolvimento nacional, com forte envolvimento da sociedade e intensa participação popular, conseguimos tirar 28 milhões de pessoas da miséria e levamos 39 milhões de pessoas para a classe média, no maior processo de mobilidade social da nossa história.
Em oito anos e meio foram criados 16 milhões de novos empregos formais. O salário mínimo teve um aumento real de 62%, e todas as categorias de trabalhadores fizeram acordos salariais com ganhos acima da inflação.
Além disso, implantamos vários programas de transferência direta de renda, dos quais se destaca o Bolsa Família, que é o principal instrumento do Fome Zero e, no final do ano passado, beneficiava 52 milhões de pessoas.
Dessa forma, a desigualdade entre os brasileiros atingiu o menor patamar em 50 anos. Nos últimos dez anos, a renda per capita dos 10% mais ricos aumentou 10%, enquanto a dos 50% brasileiros mais pobres teve um ganho real de 68%.
O consumo se ampliou em todas as classes, mas no segmento popular cresceu sete vezes.
Os pobres passaram a ser tratados como cidadãos. Governamos para todos os brasileiros e não apenas para um terço da população, como habitualmente acontecia.
Acreditamos firmemente que o desenvolvimento econômico precisa estar a serviço da redução das desigualdades sociais, sem paternalismo, promovendo a inclusão das pessoas mais pobres à plena cidadania.
Acreditamos, igualmente, que isso pode, deve e será feito sem que se descuide do equilíbrio macroeconômico, combatendo com firmeza a inflação.
Minhas amigas e meus amigos,
Ao mesmo tempo que resgatávamos grande parte de nossa dívida social, trabalhamos para modernizar o país, preparando-o para os desafios produtivos e tecnológicos do século 21.
Investimos fortemente em educação, pesquisa e desenvolvimento. Orgulho-me de ter criado 14 novas universidades federais e 126 extensões universitárias, democratizando e interiorizando o acesso ao ensino público.
Também lançamos o Reuni, um programa para fortalecer o ensino público universitário, com a valorização dos docentes.
Ele contribuiu para que dobrássemos o número de matrículas nas instituições federais.
Mas não ficamos restritos a isso e instituímos o Prouni, um sistema inovador de bolsas de estudo em universidades particulares. Com ele, garantimos que 912 mil jovens de baixa renda pudessem cursar o ensino superior.
E a oportunidade não foi desperdiçada: os jovens com bolsas do Prouni têm-se destacado em todas as áreas, liderando em muitos casos os exames nacionais de avaliação feitos pelo Ministério da Educação. Ou seja, bastou uma chance e a juventude brasileira deu firme resposta ao mito elitista segundo o qual a qualidade é incompatível com a ampliação das oportunidades.
Também me orgulho muito de termos inaugurado 214 novas escolas técnicas federais, que criaram possibilidades inéditas de formação profissional para a juventude.
A boa qualidade do ensino na rede de escolas técnicas federais também abre as portas para as universidades, mesmo para quem trabalha durante o dia inteiro, porque durante o meu governo aumentamos o número de vagas nos cursos universitários noturnos.
Esses jovens têm que continuar sonhando, têm que lutar para conquistar o doutoramento, para trabalhar nos diversos centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico que existem no Brasil.
Deixamos de considerar a educação como um gasto para tratá-la como investimento que muda a vida das pessoas e do país. Por isso, em meus dois mandatos, triplicamos o orçamento do Ministério da Educação, que saltou de 17 bilhões de reais para 65 bilhões de reais em 2010.
Essas mudanças eram imprescindíveis, pois a garantia de acesso à educação de qualidade, da pré-escola aos cursos de pós-graduação, é um dos principais instrumentos para promover a igualdade social, combater a pobreza e assegurar um desenvolvimento econômico, científico e tecnológico sustentável em longo prazo.
A educação foi colocada como prioridade estratégica para o país. O investimento público direto em educação passou de 3,9% do Produto Interno Bruto em 2000 para 5% em 2009. E, agora, a presidenta Dilma Rousseff assumiu o compromisso de ampliar o investimento em educação progressivamente até atingir 7% do Produto Interno Bruto.
Minhas amigas e meus amigos,
O Brasil já tem muito a mostrar no segmento de pesquisa e desenvolvimento. A Lei da Inovação, aprovada em dezembro de 2004, incentivou as universidades a compartilhar seus projetos de pesquisa e desenvolvimento com as empresas públicas e privadas, para alavancar a inovação tecnológica no ambiente produtivo.
O número de cientistas envolvidos em pesquisa e desenvolvimento passou de 126 mil em 2000 para 211 mil em 2008. E o número de patentes depositadas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) cresceu de 21 mil em 2000 para 280 mil em 2009.
Além disso, o governo federal destinou 41 bilhões de reais ao setor de pesquisa e inovação no período de 2007 a 2010, através do Programa de Aceleração do Crescimento.
Minhas amigas e meus amigos,
Uma das preocupações do meu governo – e que continua a ser um firme compromisso da presidenta Dilma – foi garantir que o crescimento econômico e os investimentos estruturantes fossem sustentáveis do ponto de vista ambiental.
Nos últimos anos, o Brasil superou a falsa contradição que opunha o desenvolvimento à sustentabilidade ambiental. Nesse período, a taxa de desmatamento caiu 75%.
Em nosso governo, fixamos como meta reduzir as emissões de CO2 entre 36% e 39% até 2020. Esse compromisso foi incorporado à Política Nacional de Mudanças Climáticas, apresentada em Copenhague, em dezembro de 2009, e posteriormente transformada em lei pelo Congresso Nacional.
O Brasil é uma referência no enfrentamento dos desafios ambientais do século 21, pois é responsável por 74% das unidades de conservação criadas no mundo desde 2003. Também alcançamos recentemente o menor nível de desmatamento dos últimos 22 anos.
Minhas amigas e meus amigos, os avanços que conquistamos nos últimos anos foram possíveis porque praticamos intensamente a democracia. Não nos limitamos a respeitá-la – o que é um dever –, mas levamos suas possibilidades ao limite, promovendo um amplo processo de participação social na definição das políticas públicas.
Estabelecemos uma nova relação do Estado com a sociedade, na qual todos os setores sociais foram ouvidos, mobilizados, e puderam discutir não somente com o governo, mas também entre eles próprios. Multiplicaram-se os canais de interlocução da sociedade com o Estado, o que contribuiu de modo decisivo para que crescimento econômico e desenvolvimento social caminhassem juntos.
Para tanto, realizamos 74 conferências nacionais entre 2003 e 2010, precedidas por reuniões em níveis municipal e estadual, que contaram com a presença de cerca de 5 milhões de pessoas.
Discutimos e aprofundamos nessas conferências temas importantes: do meio ambiente à segurança pública; dos transportes à diversidade sexual; dos direitos dos indígenas às políticas de telecomunicações; da igualdade racial à política nacional de saúde, dentre muitos outros.
Conselhos de políticas públicas, com ampla representação popular, foram criados junto a todos os ministérios.
Em outras palavras, apostamos decididamente na política. Porque sempre acreditamos na força da política como promotora da emancipação individual e coletiva.
A participação política é o melhor antídoto contra a alienação e as tentações autoritárias.
Eu próprio sou produto da política. A luta sindical me deu a convicção de que era necessário incorporar os trabalhadores às decisões políticas.
Foi por isso que, em 1980, criamos o Partido dos Trabalhadores, que em menos de 20 anos tornou-se o maior partido de esquerda da América Latina e chegou à Presidência da República. Também construímos a maior a central sindical da América Latina, a Confederação Única dos Trabalhadores.
Tenho a plena convicção de que os problemas da sociedade só podem ser resolvidos com mais democracia e mais envolvimento da sociedade no exercício do poder.
Minhas amigas e meus amigos,
O Brasil não está sozinho nessa trajetória virtuosa, que reuniu democracia, desenvolvimento econômico e justiça social.
A esperança progressista do mundo, hoje, navega no vento que sopra do Sul.
A América do Sul não é mais o estuário dos problemas do mundo, e sim a mais promissora fronteira da luta pela justiça social em nosso tempo.
Sem os países em desenvolvimento, não será possível abrir um novo ciclo de expansão que combine crescimento, combate à fome e à pobreza, redução das desigualdades sociais e preservação ambiental.
No momento em que se está constituindo um mundo multipolar, a América do Sul afirma a sua presença no plano internacional, renovando a confiança em si e na capacidade de seus povos de construir um destino comum de democracia e crescimento econômico com inclusão social.
Vivemos numa região de paz. Não há ódio religioso entre nós. Os governantes de todos os nossos países foram eleitos em pleitos democráticos e com ampla participação popular. A democracia é o nosso idioma comum.
Minhas amigas e meus amigos,
Avançamos muito no Brasil nos últimos anos. Ampliamos a inclusão social e a democracia se fortalece cada vez mais. Elegemos, pela primeira vez na nossa história, uma mulher para a Presidência da República.
Fizemos muito, mas ainda há muito por ser feito. E o governo da presidenta Dilma Rousseff assume esta responsabilidade.
Lançou o programa Brasil sem Miséria para erradicar totalmente a extrema pobreza.
Fortaleceu a área da educação, ao ampliar o programa e ensino técnico e aumentar o número de bolsas de estudos no exterior.
O lançamento de uma nova política industrial, com o programa Brasil Maior, fortalecerá a inovação e a competitividade.
Por último, quero enfatizar que o conhecimento e a informação são cada vez mais importantes para o aprimoramento espiritual da Humanidade e também para viabilizar o progresso econômico e o bem-estar dos povos.
O governante que não enxerga isso, não está preparado para governar uma Nação. Governante que não sonha não transmite esperança. Agradeço novamente à Science Po por ter sido agraciado o título de Doutor Honoris Causa e estou honrado por fazer parte do seleto grupo de pessoas que mereceram esta honra.
Muito obrigado.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Lulismo seduz América Latina, mas é difícil de copiar

Na imagem, Lula aparece ao lado de ex-presidente de Gana. Os dois foram laureados recentemente com um prestigiado prêmio internacional pela contribuição no combate à fome.
Abaixo, análise publicada pelo "Diário de S. Paulo" sobre a sedução do "Lulismo"

Foi uma peregrinação política que não surpreendeu ninguém. Poucos dias depois de ser eleito presidente do Peru, Ollanta Humala viajou ao Brasil para aprender mais a respeito do sucesso do país na última década, e também para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que inspirou o próprio Humala em sua trajetória da esquerda radical para o centro do espectro político.
A vitória eleitoral de Humala foi mais um sinal da propagação internacional da receita adotada por Lula, que mistura políticas de mercado e programas sociais para os pobres, e que é vista como responsável por transformar o Brasil em uma potência econômica. É o chamado Consenso de Brasília, ou simplesmente lulismo.
O ex-sindicalista estabeleceu uma invejável fórmula eleitoral ao conseguir impressionantes avanços no combate à pobreza durante seus oito anos no poder, mas sem desagradar os banqueiros de Wall Street, e elevando o Brasil e seu grande mercado à mesma estatura de potências emergentes como China e Índia.
Em 2009, o esquerdista Mauricio Funes conquistou a presidência de El Salvador à frente de um partido formado por ex-guerrilheiros marxistas, ao convencer suficientes eleitores de classe média de que ele se inspirava mais em Lula do que no venezuelano Hugo Chávez.
Na América do Sul, vários líderes trilharam o caminho do lulismo. O caso mais notável é o de José "Pepe" Mujica, ex-guerrilheiro eleito em 2009 para a presidência do Uruguai.
O paraguaio Fernando Lugo também se esquivou de copiar políticas esquerdistas mais radicais desde sua eleição, em 2008.
Hoje em dia, citar Lula como modelo é uma manobra política inteligente para qualquer candidato esquerdista latino-americano desejoso de afastar uma imagem de radical junto ao eleitorado.
"O Brasil é a estrela guia, a referência para muitos governos como um exemplo de sucesso", disse Michael Shifter, presidente da entidade Diálogo Interamericano, de Washington.
"Há vastas diferenças entre o Brasil e outros países latino-americanos, mas parece haver uma fórmula, um consenso que tem produzido resultados reais."
FALAR É FÁCIL
Mas copiar a fórmula lulista pode ser mais fácil na teoria do que na prática -- algo que Humala talvez perceba nos próximos meses.
Os dois mandatos de Lula -- que terminaram em 1o de janeiro, com a posse de sua apadrinhada Dilma Rousseff -- foram construídos com base em uma longa transição do PT até o centro do espectro político, de um "boom" no preço global das commodities e do carisma pessoal do próprio Lula.
Já a adesão de Humala às políticas de centro-esquerda é bem posterior, e seu partido não tem a mesma força institucional do PT. O Peru, que vem de governos anteriores de centro-direita, alinhados com países como Chile, Colômbia e México, tem um orçamento público pequeno, o que limita sua capacidade de ajudar populações carentes em áreas pobres e/ou rurais.
"Qualquer emulação enfrentará sérias limitações", disse Matias Spektor, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.
"Isto posto, o que Humala parece estar fazendo é perceber que há uma mensagem para os partidos progressistas na região, de que você precisa de estabilidade financeira com algum grau de redistribuição (de renda). Não se trata de as pessoas irem às ruas combaterem a velha elite, trata-se de uma redistribuição em níveis mínimos."
O próprio Lula saudou a vitória de Humala como um passo adiante para a esquerda progressista na América Latina, na qual ele incluiu o socialista Chávez e seus principais discípulos -- o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa.
LULA OU CHÁVEZ?
Mas há uma clara e tradicional divisão entre o chavismo, com seu estilo radical e de embate frontal contra os EUA, e o lulismo, mais moderado. E ultimamente este vem se sobrepondo àquele.
Nos países chavistas, a economia tem enfrentado dificuldades. A Venezuela tem sido incapaz de domar sua inflação na casa dos dois dígitos anuais, e seu crescimento econômico é oscilante. O setor privado encolheu, empresas nacionalizadas apresentam mau desempenho, e há frequente escassez de produtos básicos.
Chávez também vem perdendo o apoio entre cidadãos comuns da América Latina nos últimos anos por causa de políticas agressivas, como ao ameaçar o controle dos meios de comunicação, segundo Yehude Simon, um ex-esquerdista que atuou como primeiro-ministro no governo do conservador Alan García, atual presidente do Peru.
"O Chávez de 2006 não é nada em comparação ao Chávez de 2011. Ele cometeu uma série de erros", disse ele. "Chávez pode ser muito amistoso e charmoso, mas às vezes é muito autoritário."
No Peru, Humala aproveitou-se repetidamente de táticas eleitorais de Lula, chegando inclusive a contratar dois experientes quadros do PT - Luis Favre e Valdemir Garreta - para ajudar no comando da sua campanha.
Eles aconselharam Humala -- derrotado por uma estreita margem na eleição de 2006, quando apresentou uma plataforma ultranacionalista que assustou investidores -- a apresentar uma "carta ao povo peruano" em que se comprometia a combater a inflação e manter o equilíbrio fiscal.
Foi a mesma coisa que Lula fizera em 2002 na sua "Carta ao Povo Brasileiro", um marco na sua conversão da esquerda radical para o centro político, após três derrotas sucessivas na disputa para o Planalto.
Humala também se propõe a copiar outro pilar do lulismo, as políticas de distribuição de renda que, no Brasil, ajudaram a tirar milhões de pessoas da pobreza e a criar uma vibrante classe média.
INFLUÊNCIA CHINESA
O futuro presidente peruano propôs taxar os lucros das grandes mineradoras para financiar um fundo que ajude os peruanos pobres, que são um terço da população. Críticos dizem, no entanto, que esse modelo só irá funcionar enquanto o preço das matérias-primas continuar elevado.
"Humala vai precisar de muita habilidade para manter as empresas estrangeiras e peruanas investindo aqui, ao mesmo tempo em que gerencia as exigências das províncias por melhores programas sociais", disse Simon.
O Peru e outros países da região têm orçamentos federais muito menores que o do Brasil, o que limita a capacidade dos governos de copiar os enormes investimentos sociais da era Lula.
As economias desses países também são bem menos diversificadas que a do Brasil, tornando-se assim mais vulneráveis a choques econômicos causados por uma queda no preço das commodities, por exemplo. Num cenário desses, eles podem ter dificuldades para manter os mercados financeiros e seus cidadãos satisfeitos ao mesmo tempo.
E, afinal de contas, pode ser a China comunista -- já a principal parceira comercial do Brasil, e segunda maior do Peru -- que irá determinar o sucesso do lulismo dentro e fora do Brasil.
"Se a economia da China sofrer uma desaceleração, será um problema para Humala", disse Simon. "Grande parte da América Latina é dependente da China."

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Vídeo antológico: Globo chega à conclusão que Lula é Lula



O vídeo acima mostra uma retrospectiva, com imagens pinçadas do próprio noticiário da TV Globo. Mostra os erros dos 8 anos de governo Lula, mas prova que os acertos foram muito maiores. Ou seja, se a Globo quisesse fazer um noticiário fidedigno, ela faria com seu próprio material. Se você é do tipo que não acredita em manipulação midiática, apenas me responda: Por que a Globo não coloca essa retrospectiva no ar?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Oscar de Lula


Saiu no jornal "Valor Econômico" de hoje.


Quem foi João Ferrador?
“Com a aparência de um metalúrgico, João Ferrador foi uma ilustração criada em 1972 para apresentar as reivindicações da categoria na Tribuna. Ao driblar a censura que o regime militar impunha à imprensa, o personagem era o porta voz dos trabalhadores. As Cartas do João Ferrador, publicadas entre 1972 a 1980 e dirigidas ao governo militar, denunciavam as condições de vida e a exploração do trabalho.” (Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) 

Abaixo, segue um vídeo com um trecho do discurso dele:

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Buuu - Veríssimo responde brilhantemente quem tem medo do Lula

O texto abaixo, publicado hoje, é simplesmente a cara deste blog.




Buuu

Por Luis Fernando Verissimo – O Estado de S. Paulo
Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.
- É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior – tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.
v- A nova classe média nos descaracterizou?
- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada…
- Buuu para o Lula, então?
- Buuu para o Lula!
- E buuu para o Fernando Henrique?
- Buuu para o… Como, “buuu para o Fernando Henrique”?!
- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
- Sim. Não. Quer dizer…
- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
- Por quê?
- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
- Acho, mas…
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um cordel para a dita

Por Crispiniano Neto Dizem que a “dita” é a sorte
De um povo ou de uma pessoa,
Há “dita” ruim, “dita” boa,
“Dita” fraca ou “dita” forte,
“Dita” pra vida ou pra morte,
“Dita” suja e “dita” pura,
“Dita” clara e “dita” escura,
“Dita” maldita ou bendita,
Mas “dita” vira desdita
Na maldita DITAdura! Continue lendo 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Mataram-me Albino Silva!

Por Raul Longo (*)
Houve época que tinha até me acostumado com a notícia, mas já não esperava que voltasse a acontecer. Pelo menos não aqui, no sul maravilha.
Pois foi aqui mesmo que me mataram na noite da última sexta-feira. Naquela que dizem ser a cidade mais civilizada do país.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Em vídeo recente, Lula fala sobre a Copa e deixa claro que a ausência no almoço com Obama foi questão de “simancol"

Bono Vox e “o destino” de Lula

Disse Bono Vox a Lula Você é nosso chefe! Nós temos 2 chefes. Nelson Mandela e (Desmond) Tutu, mas eles se aposentaram. Nós olhamos em volta e quem pode nos ajudar? Eu sugiro que o seu destino é pegar isso que você fez no Brasil e levar adiante. Eu tremo ao dizer isso, porque o senhor já poderia se aposentar, mas o senhor é um lutador e está pronto para a batalha. Continue lendo 

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